História Deceived - Deceived

Só preciso esperar e deixar que o tempo faça seu trabalho. Um dia irei esquecê-lo e ele não significará nada para mim, apenas uma memória embaçada que ficará no passado.

Assim espero.

Pode demorar um pouco, já que não me lembro de ter amado alguém tanto quanto amo Lee Donghae. Sempre confiei a ele meus segredos e dediquei todo meu tempo, amor e atenção à pessoa que, mais tarde, só conseguiu me causar decepções.
Eu já havia desconfiado da proximidade entre ele e aquele rapper sem graça, mas preferi fechar meus olhos diante das dúvidas escolhendo acreditar que tudo se tratava de trabalho entre colegas do mesmo grupo.

Errado.

Eu estava imensamente errado, pois mais uma vez deixei que meus sentimentos abafassem a voz da razão que insistia em gritar no meu ouvido, me alertando e tentando me proteger.

Não consigo ficar irritado ou com planos de vingança me cegando, talvez porque sempre fiz parte do lado que dá mais amor do que realmente recebe e não tenho coragem de devolver na mesma moeda.

Eu só quero que Donghae seja feliz, e se ao meu lado isso não é possível, será melhor libertá-lo de minha super proteção e deixar que faça suas próprias escolhas, mesmo que esse fato signifique perdê-lo para meu melhor amigo:

Hyukjae.

Não sei se ainda posso chamá-lo de amigo, não depois do que aconteceu. Nunca entendi o que ele pode ter de tão incrível, muito menos como ele pôde ser melhor que eu a ponto de tirar Donghae de meu alcance. Hae nunca se importou com aparências, tampouco com a classe social ou os números na conta bancária de alguém. Ele nunca ficou comigo por interesse, apenas por amor, e era isso o que eu mais admirava em sua pessoa.

O que fiz de errado para que ele me trocasse por outro?

Talvez eu não devesse tê-lo mimado tanto com meus caprichos, pois sei que ele não gosta. Eu deveria ter levado-o mais vezes ao cinema, e prolongado nossas conversas noturnas ao telefone. Devo ter exagerado na hora de escolher seus presentes, e provavelmente fui muito clichê em minhas declarações. Acho que não sou tão carismático e bem humorado como Hyukjae, muito menos espontâneo e divertido.

Será isso o que faltava para que eu pudesse ser perfeito aos olhos de Hae?

Ainda não tenho certeza se devo me orgulhar ou me arrepender da atitude que tomei naquela noite. Confesso ter agido de maneira infantil, mas foi porque não quis sair perdendo e parecendo um fraco na frente deles. Fiz aquilo para tentar mostrar que não me importava, e que meu 'namorado' não passava de um simples caso sem futuro, assim como sei que sou para ele: alguém insignificante.

Ele não é mais nada para mim.

Atualmente essa sentença pode não ser verdade, mas sei que algum dia irei acostumar com as mentiras que insisto em contar a mim mesmo, e talvez eu acabe me convencendo de tais palavras.

《《《

Eu estava parado em frente a uma porta de madeira, encarando os números à minha frente.

34.

Se minhas suspeitas se confirmassem, eu não esqueceria daqueles dígitos tão cedo: era o número do quarto de um motel ao qual eu já possuía pleno conhecimento, pois se tratava do lugar onde eu havia frequentado algumas vezes com a pessoa que amava. Naquele momento, me encontrava paralisado com uma chave entre meus dedos, tentando decidir qual seria meu próximo passo.

1. Eu poderia simplesmente me virar, voltar à entrada e pedir desculpas à recepcionista pelo meu comportamento estranho.

2. Eu poderia colocar aquela chave na fechadura e finalmente descobrir se tudo era - ou não - apenas uma paranóia que provinha de meu ciúmes exagerado.

A possibilidade de não haver ninguém lá dentro também poderia ser considerada, e pelo menos essa seria a única opção que me causaria alívio. 

O arrependimento já havia tomado conta de mim no momento em que pisei no corredor, mas como tinha percorrido todo o caminho até ali, não faria sentido apenas desistir e ir embora. Um pouco nervoso, eu estava ciente de que possuía poucos minutos antes que meu pequeno crime de roubar a cópia da chave fosse descoberto. Eu havia conseguido essa façanha graças à camareira (essa é a melhor parte de se ter contatos) mas sabia que se vacilasse, acabaria ficando encrencado. Precisava agir depressa, e ficar congelado no mesmo lugar não estava ajudando em nada.

Mas afinal, a que ponto o ciúmes descontrolado havia me levado?

Eu li as mensagens de Hae, confisquei sua agenda e acabei por descobrir planos românticos que não eram para mim. Ele havia convidado alguém para aquele lugar, naquele mesmo quarto, mas a pessoa não era eu. Segundo algumas das minhas conclusões, naquele momento ele poderia estar bem atrás daquela porta... ou não;  Eu tinha 50% de chances de fazer papel de idiota.

Sem conseguir esperar que uma solução caísse dos céus, fiz o que me pareceu mais certo. Inseri a chave, destranquei e empurrei a porta, na esperança de me sentir envergonhado por interromper algum casal desconhecido.

Aliás, eu até preferia que fosse esse o caso.

Haviam duas pessoas abraçadas sob os lençóis, que se sentaram bruscamente na cama ao me ver. Os rostos com expressão assustada que me olhavam naquele momento não eram de desconhecidos, muito pelo contrário. Um deles pertencia ao meu namorado - assim como eu imaginava - e o outro era ninguém menos que Lee Hyukjae.

1 a 0 para a minha intuição.

A primeira reação foi de choque ao ver que eles estavam se beijando antes de minha intromissão, mas não deixei isso transparecer. Tentei manter uma expressão de indiferença e agradeci mentalmente pelo meu talento nato em atuação estar me ajudando, na expectativa de que fosse convincente o suficiente para que eles acreditassem.

- Que cena linda... será que estou atrapalhando o casalzinho aí? - perguntei, disfarçando o nervosismo na voz.

- Siwon? O que você... mas... - Hae tentava encontrar palavras para justificar o que eu estava presenciando, mesmo sabendo que nada mudaria minha mente.

Hyukjae levou sua mão de encontro à dele para que ficassem com os dedos entrelaçados, demonstrando que o protegeria de qualquer imprudência que eu cometesse. Admito que senti náuseas ao assistir um teatrinho daqueles bem na minha frente.

- Você só pode estar de brincadeira... então é aqui que acontecem suas "reuniões importantes" que te deixam atrasado pra chegar em casa? - retornei a dizer, vendo que nenhum dos dois se prontificava a me responder.

- Quem te deu permissão para entrar aqui? - Hyukjae finalmente resolveu falar alguma coisa, com um tom de desafio - Você não muda mesmo, hein Siwon? Está sempre se intrometendo nos assuntos dos outros. Não é a toa que o meu Donghae resolveu encontrar coisa melhor.

Estremeci diante daquelas palavras que me atingiram subitamente. 'Meu Donghae'? E desde quando?

Senti meu sangue ferver ao ouvir tamanha ousadia vinda do de cabelos descoloridos. Ele nunca perdeu a oportunidade de tentar ser superior aos outros, e sempre tinha alguma resposta engraçadinha na ponta da língua. Mas se ele pensava que iria me deixar para baixo assim tão fácil, estava muito enganado. Eu não iria desistir, mesmo que minha verdadeira vontade fosse sair logo dali e ir chorar em um canto.

- Primeiramente, não estou falando com você, Hyuk. Mas já que tocou no assunto, é melhor não ficar se gabando muito porque, do mesmo jeito que Hae me trouxe aqui outras vezes e me prometeu o céu, quem garante que ele não fará o mesmo com você para depois tirar seu chão?

- Tenho certeza que isso não vai acontecer. Ele encontrou em mim o que faltava, então não é culpa minha se você não é bom o suficiente. O que temos agora é muito diferente desse namorozinho ridículo que vocês mantiveram por tanto tempo. Já se perguntou se era isso mesmo que ele queria? Já parou pra pensar que talvez só você se sentia feliz nesse relacionamento sem sentido?

- Já chega, Hyukie! Os dois, parem de brigar... - Donghae interrompeu nossa pequena discussão antes que ela tomasse um rumo mais sério. Eu podia ver claramente o quanto ele se arrependia de ter sido pego em flagrante, principalmente pois o olhar desconcertado em seu belo rosto o denunciava.

Percebi que ele olhava meio perdido para os lados, tentando encontrar suas peças de roupa que estavam todas espalhadas pelo chão do quarto (o que era um grande desperdício de energias, já que não havia mais nada para esconder de mim).

- Não precisa se vestir, já vi tudo que eu tinha que ver aqui. - me direcionei ao moreno, que parou com o que fazia para me encarar - Vai dizer que agora está com vergonha? Não pensou nas consequências?

Sem saber o que dizer, ele simplesmente desviou o olhar e abaixou a cabeça, me impedindo de decifrar o que se passava pela sua mente naquele instante. Mesmo depois de anos, Hae ainda era uma caixinha de surpresas que eu não podia prever.

- Vai continuar aqui nos incomodando? Já que nosso relacionamento não é mais um segredo pra você, sugiro que nos dê licença pois viemos aqui para ter um momento a sós. - Hyuk tentou me expulsar dali, vendo que minha presença deixava ambos desconfortáveis.

- Você não consegue manter um diálogo civilizado sem deixar seu jeito arrogante de lado? Tenho certeza qu-

- Ele está certo, Siwon. - Hae me interrompeu de maneira rígida, gesto do qual desacreditei - Não podemos continuar com isso. Ok, sei que fui muito longe ao sair com ele pelas suas costas, mas a verdade é: já faz um tempo que eu não te amo mais, só que não tive coragem de dizer. Agora que você descobriu, não tem porquê manter essa farsa.

Senti minha garganta se fechar, e subitamente, tudo o que eu planejava dizer se perdeu em uma confusão. Algo em meu peito se tornou pesado, e minha cabeça começou a latejar.

Era tudo mentira.

Todas as vezes em que ele disse que me amava, que saímos juntos nos fins de semana e trocamos carícias acompanhadas de juras de amor...

Tudo não passava de uma ilusão.

Naquele momento eu desejava que ele desse seu melhor sorriso para mim, pedisse desculpas e dissesse que era tudo uma brincadeira sem graça. Mas no fundo, estava ciente de que esse pensamento não passava de um sonho distante, e eu teria de lidar com a realidade aterradora.

Meus olhos arderam e pisquei repetidamente, tanto para absorver a situação como para afastar as lágrimas teimosas que começaram a embaçar minha visão. Seria um erro deixar que elas rolassem livremente pelo meu rosto, então fiz o máximo de esforço que consegui para segurá-las e manter uma expressão cínica. Dei um sorriso de canto para disfarçar e respirei fundo, juntando forças para falar a primeira coisa que me veio à mente:

- Não sei se a minha vontade é de acertar a cara dele ou de bater em você, mas me recuso a sequer pensar nisso pois não vou me rebaixar a esse nível. Aliás, peço licença para me retirar pois minha intenção não é atrapalhar sua noite de prazer com Hyukjae, já que vocês pareciam estar se divertindo bastante - eu dizia tudo de uma vez, sem dar trégua para que eles respondessem - Se você me amou algum dia ou não, acho que não faz diferença já que realmente "não tem porquê manter essa farsa". Pensando bem Hae... vocês se merecem. Ah, já ia me esquecendo.

Sem medir minhas ações, em um ato repentino puxei a carteira do bolso e tirei de lá uma nota, jogando-a sobre os lençóis bagunçados da cama:

- Aqui estão 50.000 won, deve ser o suficiente para pagar os serviços desse cavalheiro e o amor que você fez questão de me alugar. Pode ficar com o troco, pois eu duvido que tudo custe um valor mais alto que isso.

Para não tornar aquilo um momento mais longo e doloroso do que já estava sendo, dei as costas e saí do quarto a passos rápidos, evitando sentir o perfume de Donghae que parecia estar impregnado por toda a parte.

Lidando com um conflito mental e emocional, eu não tinha a menor idéia de onde havia tirado aquele discurso dramático, mas pelo menos estava agradecido por ele ter me salvado de uma possível humilhação.

Tudo à minha volta parecia fora do lugar e, enquanto voltava pelo corredor, eu só conseguia enxergar imagens desfocadas. Não me lembro de muitos detalhes, mas sei que consegui devolver a chave no lugar e sair como se nada tivesse acontecido.

Em pouco tempo eu já havia chegado no estacionamento, sendo acolhido pela paz da noite fria e silenciosa.

Entrei no meu Audi R8 mas não dei partida, apenas me encolhi no banco e fitei o teto de maneira pensativa por tempo indeterminado, sem ter realmente um objetivo. Eu não tinha um lugar específico para ir, e naquele dia da semana minha agenda estava tão vazia quanto meu coração havia ficado.

Permaneci desse jeito pelo que pareceu uma eternidade, e até tive o "privilégio" de assistir quando o casal saiu do motel de mãos dadas, aos beijos e sorrisos.

Encostei a cabeça no volante e suspirei, sentindo minhas defesas se transformarem em ruínas. O nó preso em minha garganta finalmente se desfez e eu não consegui me controlar, tentando estabilizar a respiração - cada vez mais descompassada - à medida que as lágrimas inundavam meus olhos. Tentei fechá-los para amenizar a dor mas isso só agravou meu problema, já que flashes de meus momentos com Hae, do rosto perfeito dele e da cena anterior passavam a toda velocidade, trazendo à tona uma leve dor de cabeça.

Limpei o rosto com as costas da mão e me repreendi por estar em uma situação daquelas, parecendo um pobre indefeso. Eu precisava seguir em frente, pois sabia que ficar lamentando como um fraco não iria trazer minha felicidade de volta num estalar de dedos.