História Décimo Primeiro Andar - Tensão

Trabalhar para um homem que provava ser muito atraente a cada dia não foi tarefa fácil para Jimin. Na primeira semana, ele conseguiu evitar olhar muito ou pensar demais, mas na segunda semana aquilo se tornou muito difícil. Ao decorrer dos dias, Yoongi aparecia no escritório cada vez mais lindo e cheiroso, e às vezes Jimin sentia como se estivesse fazendo parte de um teste para saber até onde ele aguentava.

Em uma semana e meia trabalhando no décimo primeiro andar, Jimin aprendeu algumas coisas sobre as pessoas com quem dividia o espaço. Primeiro de tudo, Yoongi era muito amigo dos chefes de Hoseok, a ponto de às vezes ficar mais tempo na sala deles do que na própria sala. Segundo, ele realmente era um homem ocupado. Estava sempre viajando para diversos lugares na Coreia, nunca ficava mais do que meia hora sentado em sua mesa, e chegava extremamente cedo de manhã para alguém que saia da empresa tão tarde. Jimin ficava um pouco preocupado com a saúde do homem, mas não o conhecia direito para fazer um comentário ou perguntar alguma coisa.

Hoseok era elétrico, simpático, sorria para tudo e todos (uma vez Jimin o pegou desejando um bom dia à planta de plástico no hall de entrada), mas tinha seus momentos de quietude e reflexão. Jungkook comentou que era difícil vê-lo daquela maneira durante o expediente enquanto ele e Jimin pegavam café na máquina, então era melhor deixá-lo quieto que uma hora ele voltaria ao que sempre mostrava ser. Ele também era muito dedicado ao seu trabalho, e sempre dava seu melhor para manter as pessoas ao seu redor confortáveis. Não foi à toa que ele e Jimin se tornaram colegas tão rápido.

Jungkook ainda era um mistério para Jimin, mas parecia ser uma pessoa de bom coração. Ele não gostava muito de contato físico, mas não se importava quando Hoseok passava um braço por seu ombro, ou quando ele limpava o canto de sua boca enquanto almoçavam. Jungkook era o mais novo deles, mas mesmo assim parecia que tinha anos de experiência em sua área de trabalho. Ele sorria pelos cantos, mas demorava um pouco para ganhar sua confiança e conhecer seu lado mais divertido.

Quanto aos outros diretores, Jimin não os conhecia muito bem. O chefe de Jungkook era um mistério para todos, mas Kim Namjoon e Kim Seokjin, chefes de Hoseok, estavam por lá sempre que podiam. Eles eram novos assim como praticamente todos que trabalhavam naquele andar, e Yoongi passava uma boa parte de seu tempo falando com eles, fosse sobre negócios, fosse sobre a vida num geral. Hoseok se sentia confortável perto deles – palavras do próprio – e não podia ser mais grato por trabalhar com pessoas tão legais.

Não tinha como se livrar do estresse, isso era impossível. Às vezes Jimin cometia erros, às vezes Hoseok cometia erros, e aquilo fazia com que eles ficassem correndo de um lugar para o outro, subindo e descendo andares, tudo para resolver seus problemas. No final do dia, ainda que estivessem cansados, eles se reuniam e conversavam enquanto arrumavam suas coisas para ir embora.

Por mais que fosse rotina, Jimin não estava infeliz com sua vida. Ele gostava de seus companheiros de trabalho, tinha amigos ótimos, uma família que o apoiava acima de tudo e ele não poderia ser mais grato.

Jimin descobriu na segunda semana de trabalho que as reuniões com japoneses eram as mais demoradas, mas as reuniões com outros países do mundo eram nos horários mais inconvenientes. Ou ele precisava chegar cedo demais no trabalho, ou precisava sair tarde demais, às vezes dando a ele tempo de sobra para organizar suas coisas ou ficar de papo furado com Hoseok e Jungkook.

“Esse não é Kim Taehyung?” Jungkook olhou para a foto que estava em cima da mesa de Jimin e franziu o cenho.

Era quase nove horas da noite em uma quinta-feira, e Jimin finalmente arranjou tempo para arrumar suas coisas que estavam dentro da caixa. Hoseok e Jungkook estavam por perto conversando com ele enquanto isso, e quando Jimin colocou a foto com seu melhor amigo ao lado da foto com sua família em cima da mesa, o homem mais novo não perdeu tempo em fazer sua pergunta.

“É ele sim.” Jimin abriu um sorriso largo encarando a foto, e acabou não vendo Jungkook e Hoseok trocando um olhar. “Nós nos conhecemos há anos e moramos juntos, achei justo colocar uma foto dele aqui. Tae também tem uma foto minha na mesa dele.”

“Vocês se conhecem há anos?” Hoseok perguntou com as sobrancelhas levemente arqueadas, e Jimin assentiu na hora. “E estão... Juntos?”

“Sim, nós moramos juntos desde que começamos a faculdade, às vezes ele me irrita um pouco, mas até que–” Enquanto Jimin falava, ele não tinha reparado na expressão de surpresa no rosto de seus colegas – praticamente amigos – e abriu sua boca em um formato oval quando entendeu o sentido da pergunta de Hoseok. “Não! Não é assim, nós não estamos juntos, ele só é meu melhor amigo!”

“Tem certeza?” Jungkook arqueou uma sobrancelha, fazendo Jimin negar com a cabeça na mesma hora. “Se vocês forem namorados, casados ou sei lá, não tem problema, eu e Hoseok hyung não temos nada contra isso.”

“Não!” Jimin sacudiu suas mãos, um pouco desesperado. “Tae é só meu amigo, nós fazemos muitas coisas juntos, mas eu realmente não tenho nada com ele.”

Hoseok e Jungkook assentiram na mesma hora, abriram um sorriso e ficaram alguns segundos esperando Jimin continuar o que estava fazendo. No entanto, ele não continuou e ficou encarando os dois homens que estavam a sua frente. Jimin nunca tinha parado para pensar se o ambiente de trabalho seria ruim para ele quando se tratava de sua sexualidade, ele simplesmente não compartilhava com ninguém o que acontecia em sua vida pessoal, e de repente, receber aquele tipo de apoio o fez sorrir.

“Mas obrigado.” Jimin deu uma risada fraca e viu Hoseok franzir seu cenho. “Tae não é meu namorado nem nada, mas é bom saber que vocês não têm nada contra mim.”

Demorou alguns centésimos de segundos para eles entenderem o significado que aquela frase carregava, e sem dizer nada, Hoseok piscou um olho e mudou de assunto na mesma hora. Jimin ficou contente com aquilo. Ele não queria prolongar, queria apenas agradecer o apoio mesmo que não intencional.

Jimin estava começando a se acostumar a ser um dos últimos a sair do prédio, até mesmo depois de seus mais novos amigos. Às vezes ele se pegava andando de um lado para o outro, mexendo em seu celular, checando trinta mil vezes se a agenda de Yoongi estava organizada, verificando se a planta de plástico do hall de entrada era mesmo de plástico, fazendo qualquer coisa para matar o tempo enquanto esperava Yoongi sair de uma reunião.

Hoseok e Jungkook já tinham ido embora, sua mesa já estava arrumada, e o teto era a distração escolhida por Jimin naquela noite. Ele ouviu o som familiar do elevador chegando no andar, ouviu os passos leves de Yoongi no carpete, ouviu seu suspiro cansado, e se ajeitou na cadeira para se levantar e começar a arrumar suas coisas para finalmente ir para casa e relaxar.

“Você sempre está aqui quando eu saio de uma reunião.” Yoongi, como ele andava fazendo ultimamente, começou a afrouxar o nó de sua gravata com seus dedos longos, e Jimin precisou se forçar a olhar para cima ao invés daquela ação. “Não importa se está sozinho ou não, você sempre está aqui.”

“É.” Jimin abriu um pequeno sorriso tímido e assentiu, sem saber exatamente o que deveria dizer. Era o trabalho dele, o que mais ele poderia fazer a não ser ficar ali? “Sempre estou.”

“Sabe de uma coisa, Jimin?” Yoongi suspirou pesadamente e passou as mãos pelo rosto. Ele parecia tão exausto quanto Jimin se sentia. “Quando eu ficar até muito tarde assim, você pode ir para casa. Isso é cansativo demais, e eu sei que às vezes você fica sem fazer nada aqui.”

“Mas–”

“Por favor?” Yoongi arqueou a sobrancelha, e se Jimin não estivesse tão cansado, ele não acharia que o leve biquinho que seu chefe fez tinha sido uma ilusão de ótica. “Não é sempre, só... De vez em quando. Eu sei que às vezes você fica atolado de trabalho, mas hoje eu te vi do lado de fora. O teto estava interessante?”

“Não.” Jimin abriu um pequeno sorriso e ouviu a risada fraca de Yoongi ecoando pelo andar vazio. “Ok. Eu vou embora quando meu trabalho não for necessário.”

Yoongi abriu um pequeno sorriso e assentiu. Jimin conseguia ver pela sua aparência que além de estar fisicamente cansado, seu lado emocional também parecia estar desgastado. Aquilo o levava a perguntar, será que Yoongi fazia seu trabalho porque tinha que ser feito ou porque ele gostava? Jimin sempre o via no escritório, muitas vezes chegava depois de seu próprio chefe, mas isso não queria dizer que ele gostava do que fazia, apenas que era dedicado. Ele sentia como se conhecesse algumas ações de Min Yoongi, mas não o conhecesse por completo.

E a julgar por como o coração de Jimin bateu um pouco mais rápido enquanto Yoongi sustentava seu olhar, ele ainda ia querer descobrir mais.

“Já que você ainda está aqui, quer me esperar um pouco?” Yoongi abriu um sorriso simpático, apontou para sua sala e começou a andar até lá. “Eu vou só pegar minhas coisas e depois descer. Menos de um minuto.”

Jimin assentiu e começou a arrumar suas próprias coisas. O silêncio no andar era confortável – era possível ouvir o som de folhas de papel se mexendo, o som do computador desligando, o som de seus sapatos batendo no carpete. Ele não detestava ficar ali até tarde, mas era fato que preferia sua casa. A quietude o ajudava a pensar.

Cada segundo que Jimin passou ao lado de Yoongi dentro do elevador, a caminho da estação de metrô, cada respiração dele estava o deixando inquieto. Ele não sabia dizer o que era, só sabia que queria sair correndo para bem longe para não ter que lidar com aquela sensação esquisita.

“Você não precisa ficar tão tenso ao meu lado.” Yoongi abriu um sorriso cansado, e por estarem sentados um ao lado do outro no metrô, Jimin conseguiu enxergar suas olheiras de perto. “No final do dia nós somos iguais. Pode relaxar.”

“Senhor Min, não me leve a mal... Eu cuido de coisas muito pessoais suas, incluindo sua conta bancária, e nós definitivamente não somos pessoas iguais.” Jimin disse com um semblante sério no rosto, mas se sentiu incapaz de mantê-lo quando viu seu chefe sorrindo tão abertamente por conta de seu comentário. “Seria legal ser igual a você.”

“Você entendeu o que eu quis dizer.” O sorriso de Yoongi diminuiu, e sua atenção voltou à voz feminina anunciando qual seria a próxima estação. Ele se espreguiçou no banco e se levantou, algumas pessoas ao redor fazendo o mesmo. “E sem essa de senhor Min, eu fico feliz só com Yoongi. Hyung. Yoongi hyung, é.”

“Não sei se isso será possível, senhor Min.” Jimin abriu um pequeno sorriso. “Eu ainda trabalho para você, afinal de contas.”

O metrô finalmente parou na estação, mas Yoongi não se moveu de onde estava, mesmo com a fila de pessoas para sair já formada. Quando o vagão começou a esvaziar, Yoongi soltou uma risada fraca e assentiu sem dizer nada, deixando Jimin sozinho com seus pensamentos ali. 

***

O dia oficial do estresse no décimo primeiro andar era terça-feira.

No sexto andar costumava ser segunda – bem clichê, bem normal –, mas lá em cima, todos ficavam à beira de arrancar seus cabelos quando chegava a terça-feira. Jimin já estava trabalhando ali havia um mês e só então percebeu aquilo, quando viu Hoseok gritar com Jungkook por um motivo provavelmente banal. Não era como se ele estivesse ouvindo a conversa dos dois, mas o tom de voz elevado do homem com certeza atraiu a atenção de quem estava por perto.

Jungkook franziu o cenho e voltou para sua mesa batendo pé. Hoseok se deu conta do que tinha feito, suspirou e deslizou uma mão pelo rosto, mas, sem tempo para fazer um pedido de desculpas, discou um número em seu telefone para pedir a alguém para ir até o banco pagar uma conta ou algo do tipo. Depois do incidente tudo parecia mais quieto. O som de dedos batendo no teclado, vozes suaves falando com outras pessoas de grande renome, até mesmo a máquina de café parecia mais quieta.

Na hora do almoço não foi diferente. Jungkook e Hoseok estavam sentados um ao lado do outro, dividindo a mesa com Jimin e Taehyung, mas não trocavam um olhar, sequer uma palavra. Os melhores amigos se entreolhavam, sem ter certeza se seria rude ou não começar uma conversa mesmo com o clima pesado, mas resolveram ficar quietos.

Era como se todos no andar sentissem o ar diferente no ambiente, como se o simples grito de Hoseok com Jungkook tivesse abalado a vida de todos. Jimin não sabia explicar porquê, mas estava acontecendo com ele também.

Ele estava teclando furiosamente, respondendo um e-mail mal-educado de uma representante da Indonésia da forma mais elegante possível, quando Yoongi grunhiu seu nome e o chamou para sua sala apenas com um movimento rápido de sua cabeça. Jimin sentiu todo o sangue sair de seu rosto, pensou que estava prestes a ser chutado para a rua, reviu todas as suas atitudes desde o momento em que tinha colocado os pés ali, e chegou à conclusão que talvez não fosse demitido. Será que Yoongi tinha o visto comendo um sanduíche de atum no corredor quando ele devia estar respondendo e-mails na semana passada?

“Aconteceu alguma coisa, senhor Min?” Jimin perguntou em sua voz mais suave, mais doce, quase como se estivesse tentando seduzir seu chefe. Talvez ele estivesse mesmo, já não sabia mais dizer. “O que houve?”

“Feche a porta e sente-se.” Yoongi apontou para trás de si enquanto caminhava em direção à sua mesa, e Jimin tinha certeza de que estava pálido. Um mês no andar da diretoria e ele já seria demitido, como contaria aquilo à Taehyung?! “Eu quero falar sobre um assunto... Sigiloso.”

Da forma mais silenciosa possível, Jimin fechou a porta de vidro da sala de seu chefe, caminhou até sua mesa e se sentou na cadeira que tinha bem em frente a ela. Não era tão cara ou bonita quanto a de Yoongi, mas ainda assim conseguia ser mais confortável que a que passava boa parte de seu dia sentado.

“Jimin.” Yoongi disse com o olhar sério, seu cenho levemente franzido. O homem colocou suas duas mãos em cima da mesa, e Jimin achou que ia desmaiar ali mesmo. De repente, uma de suas sobrancelhas se arqueou e Yoongi inclinou sua cabeça levemente para o lado, quase como se fosse um cachorro confuso. “O que aconteceu com Hoseok e Jungkook?”

Se a mente de Jimin fosse como um computador convencional, ele teria ouvido o som da máquina se desligando de forma brusca. O homem ficou em silêncio por vários segundos sem nem piscar, absorvendo a pergunta. Yoongi endireitou sua postura, passou a mão em seu rosto, tentou até olhar seu reflexo na mesa, mas não encontrou um motivo para aquela reação. Jimin finalmente piscou, respirou fundo, e abriu sua boca em um formato oval com o dedo indicador levantado.

“O quê?!”

Yoongi arregalou os olhos e balançou suas mãos em frente ao rosto de Jimin, pedindo-o desesperadamente para que ficasse quieto. Algumas pessoas que estavam do lado de fora olharam para a cena (eu falei que as paredes de vidro eram uma má ideia, Yoongi pensou) mas Jimin não disse mais nada. Sua expressão de confusão era impagável, no entanto, e o diretor pensou em pegar seu celular para tirar uma foto.

“Desculpa, senhor Min–”

“Já falei que é para me chamar de hyung–”

“Senhor Min, mas que tipo de pergunta é essa?” Jimin franziu o cenho e precisou se segurar para não bater seu punho na mesa. “Você me chamou aqui com a expressão mais séria que eu já vi em toda minha vida, entrou nessa sala e mandou eu me sentar da forma mais autoritária possível apenas para me perguntar se eu sei o que aconteceu com meus colegas de trabalho?!”

“Eu te assustei?” Yoongi disse com os olhos ainda arregalados, e Jimin assentiu com força, fazendo Yoongi sacudir sua cabeça. “Não era minha intenção, eu só senti o clima pesado no andar, e isso só acontece quando Hoseok e Jungkook brigam. Não acontece tem um tempo, então eu queria–”

“Eles brigaram.” Jimin suspirou aliviado, feliz de saber que ainda tinha mais um dia de seu emprego garantido. “Quer dizer, Hoseok gritou com ele mais cedo e foi isso, eles não se falaram mais. Nem no almoço, e olha que eles dividem a mesa.”

Yoongi ficou em silêncio, mexendo sua cabeça para cima e para baixo, como se estivesse pensando em toda aquela situação. Jimin não sabia o que fazer ou dizer, então ficou sentado esperando alguma ordem de seu chefe. Ele o mandaria voltar ao trabalho? Mandaria falar mais sobre o clima pesado no andar graças à briga de Hoseok e Jungkook? Afinal de contas, por que o humor daqueles dois tinha uma influência tão grande sobre tudo que acontecia na diretoria?

“Bem que Jin hyung falou.” Yoongi murmurou, e se não estivesse prestando atenção, talvez Jimin não teria o ouvido. “Certo, volte ao trabalho. Eu tenho mais uma reunião marcada hoje, né?”

Jimin não pensou duas vezes antes de se levantar da cadeira, dando uma resposta positiva para a pergunta de Yoongi. Ele se curvou uma porção de vezes, saiu da sala e se sentou em seu lugar, respirando fundo e deixando seu corpo relaxar mesmo que fosse por apenas alguns segundos.

Ao seu lado, ele conseguia sentir o mau humor emanando de Hoseok. Jimin tinha reparado que o clima estava ruim, tinha sentido a diferença no ambiente, mas não tinha notado que estava tão palpável. Isso porque só Hoseok estava em seu campo de visão, imagina se Jungkook também estivesse? Ele não queria nem imaginar como seria, e estava rezando para todos os deuses de todas as religiões que eles dois se resolvessem até a hora de ir embora. Jimin não sabia se queria lidar com aquilo por mais algumas horas até chegar em casa.

Já era final de expediente, grande parte das pessoas que trabalhavam no décimo primeiro andar já tinham ido embora, e Yoongi tinha dito que Jimin podia ir também antes da reunião acabar. Então lá estava ele arrumando suas coisas em silêncio e de costas para Hoseok, quando sentiu a presença de Jungkook no ambiente. Se antes a tensão estava insuportável, agora ele não tinha certeza se existia uma palavra para explicar como estava.

“Você não falou comigo o dia inteiro.” Jungkook disse, voz seca.

“Eu sei.” Hoseok respondeu em uma voz baixa, como se estivesse se sentindo culpado. Jimin franziu o cenho, mas não falou nada, preferindo continuar escutando a conversa deles. “Desculpa.”

“Você gritou comigo sem motivo algum.” Jungkook disse de novo, dessa vez seu tom de voz um pouco mais severo do que antes. Jimin conseguiu imaginar Hoseok se encolhendo em sua cadeira, sem dúvidas envergonhado do que tinha feito. “Todo mundo viu, todo mundo falou sobre o que aconteceu. O que eu fiz?”

“Nada,” Hoseok ficou quieto por alguns segundos. Jimin já tinha terminado de arrumar suas coisas, mas não queria interromper o momento dos dois. Ele sentia como se qualquer movimento mínimo fosse fazê-los parar de conversar, e Jimin sabia que eles precisavam ter aquela conversa. “Nada, eu só estava estressado por conta do trabalho e acabei descontando em você, desculpa.”

“Sabe que eu não gosto quando você faz isso.” De repente, o tom severo de Jungkook foi embora, e sua voz estava muito mais suave. Jimin só estava rezando para aquilo acabar logo, eles se resolverem, e finalmente irem para casa como faziam todos os dias. “Eu sou mais do que seu companheiro de trabalho, hyung. Não gosto quando me trata assim.”

“Eu sei.” Hoseok deu uma risada fraca, e Jimin ousou colocar seus membros para funcionar, lentamente se virando para trás e vendo os dois conversando. Ambos estavam com pequenos sorrisos de canto no rosto, apenas se encarando sem dizer nada, nem notando a presença de Jimin ali. “Eu vou melhorar por você, tudo bem?”

Num piscar de olhos, ambos notaram que Jimin estava os encarando, e deram uma risada baixa. O homem ficou sem saber o que fazer e abriu o melhor sorriso que conseguiu (apesar dele ter quase certeza de que tinha saído terrível), e logo em seguida apontou para a porta sem dizer nada, com medo de sua voz falhar. Ainda em silêncio, eles saíram do prédio com a lua brilhando no céu, o clima da noite agradável.

Jimin reparou que Hoseok e Jungkook ainda estavam testando as águas para realmente saber se estava tudo bem entre eles, mas o tom de voz baixo dos dois e as poucas palavras sussurradas um para o outro fizeram da sua volta para casa muito melhor do que ele estava esperando que fosse.