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História Décimo Primeiro Andar - Indiferença


Escrita por: zettai

Notas do Autor


O capítulo saiu mais cedo, surpresa. :-)
Perdoem qualquer erro que eu possa ter deixado passar e boa leitura! <3

Capítulo 4 - Indiferença


Segunda-feira foi mais cruel do que Jimin esperava.

Milhares de pensamentos passaram por sua cabeça durante o domingo, e ele sabia que não conseguiria nenhuma resposta para suas perguntas. Taehyung tinha ouvido suas reclamações, mas nada parecia fazer sentido para ele. Jimin sabia que tinha ultrapassado algumas barreiras, mas Yoongi estava permitindo que ele mapeasse seu corpo como bem quisesse. Eles sabiam que o que quer que fosse acontecer ficaria entre eles, então por que, de repente, Yoongi parecia tão irritado e tão indiferente a tudo que havia acontecido?

Com o sorriso caloroso de Hoseok pela manhã e o agradecimento tímido de Jungkook por ter comparecido ao seu aniversário, Jimin se esqueceu por alguns segundos de seus problemas. Seu coração estava batendo de forma regular e ele estava feliz por ter conquistado mais alguns amigos de verdade, formando até alguns planos em sua cabeça de convidá-los para almoçar qualquer fim de semana que tivessem disponível. Seu sorriso desmanchou por completo quando viu Yoongi sentado em sua cadeira, pernas cruzadas e expressão séria no rosto, como no primeiro dia de Jimin no décimo primeiro andar.

“Você está cinco minutos atrasado.” Yoongi disse com a voz dura, fazendo Jimin engolir em seco e ignorar a dor que sentiu em seu coração. Ele se levantou com um suspiro debochado saindo de sua boca, e deu espaço para que Jimin se sentasse. “Eu tenho uma reunião agora, mas não sei com quem é ou em que sala vai ser porque você não me enviou minha planilha da semana por e-mail sexta-feira passada.”

“Perdão, Yoongi hyung.” Jimin disse com a voz baixa, sentando-se em sua cadeira e digitando a senha de seu computador o mais rápido que seus dedos trêmulos permitiram. “Eu já vou–”

“Senhor Min.” Yoongi o interrompeu com a voz ainda séria, e Jimin estava prestes a chorar. No entanto, ele engoliu suas lágrimas – e sua raiva – e procurou a planilha de seu chefe em seus documentos. “Em ambiente de trabalho você tem que me chamar de Senhor Min, Park. Nada de brincadeiras.”

Jimin digitou furiosamente o nome do arquivo, quase quebrou o mouse com a força que clicou no botão de imprimir, levantou-se e entregou a folha de papel ainda quente nas mãos de Yoongi, que não deu a mínima para a agressividade do homem. Senhor Min apenas agradeceu com um grunhido, olhou seu horário e saiu pela porta de vidro em direção aos elevadores com passos fortes. Jimin se jogou em sua cadeira novamente e nem reparou que algumas pessoas ao redor estavam olhando, tentando entender o que estava acontecendo. De raiva, Jimin imprimou mais duas cópias da planilha – uma para colocar na porta da sala de Yoongi e outra para colocar em cima de sua mesa – e fez questão de enviar cinco e-mails com o mesmo arquivo exatamente iguais como se tivesse enviado um monte por acidente.

Ele devia ficar preocupado com seu emprego, mas sabia que aquilo não se tratava de trabalho.

Cinco minutos já haviam se passado e Jimin ainda estava irritado. Ele sentia a raiva em seus braços, sentindo a necessidade de socar algo, e em sua garganta, querendo mais do que tudo gritar e xingar Min Yoongi e sua atitude estúpida. Hoseok o observava de longe, preocupado, mas tentando se manter focado em seu trabalho. Seokjin também estava o observando de dentro de sua sala, mas não tinha intimidade o suficiente para perguntá-lo o que tinha acontecido. Sabia, pelo menos, que podia contar com Yoongi para descobrir depois.

Jimin sabia que precisava fazer ligações, marcar viagens, conversar com representantes de diversos países, organizar em ordem alfabética a porra da lista que Yoongi havia o passado de locais de venda, mas ele não conseguia focar em nada quando seus olhos estavam começando a arder e ele sabia que a qualquer momento começaria a chorar. Então Jimin chutou a parte de baixo de sua mesa e empurrou sua cadeira para trás, cada movimento seu evidenciando sua irritação. Ele andou com passos fortes até o banheiro do andar e assim que entrou no ambiente frio de paredes brancas, Jimin segurou seu cabelo com força e começou a chorar.

Ali estavam saindo todas as frustrações que o atormentaram no domingo. Ali, enquanto Jimin se segurava para não socar as portas das cabines, estava saindo toda a raiva que ele sentiu de seu chefe depois que ele começou com seu tratamento de indiferença. Não era justo. Yoongi tinha o chamado para ir até aquela maldita varanda, Yoongi tinha deixado que Jimin o tocasse, Yoongi estava respondendo aos toques maliciosos de Jimin. Não era justo que ele o tratasse daquela forma depois de tudo que havia acontecido.

“Ei, Jimin.” Hoseok entrou no banheiro de forma cautelosa, sem querer chamar mais atenção do que Jimin provavelmente já estava chamando. O homem mais novo estava respirando pesadamente, as lágrimas ainda molhadas em sua bochecha, seus olhos levemente inchados. “Ei, não fique assim. Eu estou aqui, ok? Vamos conversar, você precisa se acalmar.”

“Hoseok hyung, eu não sei o que eu fiz para ele me tratar assim.” Jimin disse com a respiração um pouco cortada, aos poucos tentando voltar ao normal. “Quer dizer, eu sei o que eu fiz, mas eu não esperava que ele fosse me tratar dessa forma.”

“Eu não quero saber detalhes do que aconteceu, acho que eu nem posso saber, mas eu preciso que você entenda que o Yoongi prioriza o trabalho dele acima de tudo.” Hoseok disse com a voz serena, aproximando-se de Jimin para lhe dar um abraço, fazendo tudo o que podia para acalmá-lo. “Ninguém na frente do cargo dele, ninguém na frente do emprego dele, ninguém na frente de seu trabalho. Entendeu?”

“Eu nunca quis ser prioridade, hyung.” Jimin disse com veneno em sua voz. Ele não queria o coração de Yoongi, não queria que ele lhe desse flores e chocolate. Jimin só queria que seu chefe o fodesse, apenas isso. Não queria ser prioridade. “Eu nunca demonstrei isso, não quero isso, esse homem que é um completo babaca de achar que eu gosto–”

“Não estou falando só das questões do coração, Jimin.” Hoseok arqueou as sobrancelhas, finalmente entendendo do que aquele drama todo se tratava. Jimin sentiu seus ombros relaxarem na hora, ao mesmo tempo em que sentiu uma dor leve em seu peito. “Qualquer coisa, a prioridade do hyung é o trabalho. De qualquer forma, acho que você não fala sério quando diz essas coisas.”

O banheiro ficou em silêncio por alguns segundos e eles puderam ouvir o som de telefones tocando ao fundo. Seria relaxante se Jimin não estivesse se acalmando de qualquer crise que tenha sido aquela. 

“Eu não posso sentir coisas, hyung.” Jimin murmurou e Hoseok abriu um pequeno sorriso, tentando ser simpático. “Não posso me dar esse luxo. Eu tenho que me convencer de que–”

“Eu sei, Jimin.” Hoseok o interrompeu para não correr o risco de alguém entrar no banheiro e ouvir aquela conversa. As paredes têm ouvidos, era o que sua mãe sempre dizia. “Você consegue, eu sei que consegue. Por enquanto, vá jogando esse jogo do Yoongi. Até o final de semana ele pede desculpas do jeito dele, você vai ver.”

Jimin sorriu, deu um abraço em Hoseok e se sentiu incrivelmente leve quando voltou para sua mesa – ‘você não sai desse banheiro antes de lavar o rosto, anda, Hoseok disse – e começou seu trabalho. Yoongi ainda estava indiferente quando voltou de sua reunião, tratando Jimin ainda pior do que tratava quando o homem havia começado a trabalhar ali, mas ele ouviu o conselho de Hoseok e simplesmente jogou o jogo de seu chefe. Respostas curtas para perguntas grosseiras, Senhor Min para lá e para cá, para cima e para baixo, e a execução exemplar de suas tarefas.

Aquilo ainda era parte do joguinho perigoso deles, Jimin sabia.

Dias em que Yoongi viajava eram os favoritos de Jimin, pois ele conseguia ir para casa no mesmo horário que Taehyung, aproveitando a viagem curta para conversar e contar de como havia sido seu dia. Era como se a crise no banheiro nem tivesse acontecido, Jimin se sentia quase como se fosse uma nova pessoa. Agora que Hoseok havia o ensinado a jogar, sentia que tinha muito mais poder em suas mãos para trilhar o caminho para sua vitória.

Os próximos dias seriam interessantes.

**

Longe de Seul, Yoongi não tinha como mandar em Jimin a cada respiração que ele desse, não tinha como pedir coisas estúpidas para ele – como deletar e-mails inúteis de sua caixa de entrada, sério, ele era incapaz de fazer até isso? – ou pedir que Jimin procurasse online por presentes para cachorros com preços razoáveis. Quando Yoongi não estava no escritório, Jimin tinha muito mais tempo para fazer seu trabalho de verdade, e por ter mais tempo, não precisava ficar preso ali até horários absurdos.

Só que, àquela altura do jogo, Jimin já sabia que as viagens para Daegu de Yoongi eram as mais curtas, e quarta-feira de manhã ele já tinha a ilustre presença de seu chefe no escritório. Infelizmente.

Jimin já estava sentado em sua cadeira teclando furiosamente quando Yoongi chegou no andar com a gravata mal arrumada, os olhos um pouco arregalados, e uma fina camada de suor em sua testa. Ele limpou sua garganta, tentou ajeitar seus acessórios como pôde, e caminhou em direção à sua sala com o nariz empinado, claramente pronto para ignorar Jimin e viver sua vida.

“Bom dia, senhor Min. O senhor tem uma reunião marcada às oito e meia da manhã com representantes das Filipinas na sala 1337, creio que já estejam te esperando...” Jimin olhou em seu relógio de pulso, exalando todo o deboche que um ser humano era capaz de demonstrar. Ele ia ganhar aquele jogo, custe o que custasse. “Já que são oito e trinta e cinco. E a reunião começou há cinco minutos.”

Yoongi piscou seus olhos, assentiu e saiu correndo pela mesma porta que havia entrado, sem deixar nenhum de seus pertences em sua sala. Jimin conseguiu ouvir a risada baixa de Hoseok e sorriu vitorioso, sabendo que havia vencido pelo menos aquela batalha.

Obviamente, Yoongi não deixaria aquilo barato. Assim que teve tempo de parar em sua sala para fazer qualquer coisa, ele pediu que Jimin o trouxesse um café. Depois que fosse em outro andar buscar um envelope, depois que o trouxesse outro café, e mais um monte de tarefas que o atrapalhariam de seu trabalho de verdade. Jimin estava irritado, mas se recusava a mostrar. Ele sorria, chamava-o de ‘senhor Min’ e ia jogando o jogo de acordo com as regras.

Talvez pelo cansaço da viagem, Yoongi começou a arrumar suas coisas bem mais cedo do que geralmente fazia. Jimin soltou um suspiro de alívio quando viu a hora e viu seu chefe pegando suas coisas para sair, já se preparando para pegar seu celular para avisar a Taehyung que eles iriam para casa juntos, quando Yoongi fez sua última jogada do dia.

“Tem um representante da Inglaterra, amigo meu, que está vindo para a Coreia pela primeira vez e quer conhecer alguns pontos turísticos depois de trabalhar.” Yoongi disse olhando para seu celular como se estivesse desinteressado no assunto, mas por dentro Jimin sabia que ele estava rindo como se fosse o vilão de um desenho animado. “Queria saber se você poderia fazer um documento com lugares que ele pode visitar, preços, essas coisas, sabe? Eu não tenho tempo e estou muito cansado da viagem.” Yoongi guardou seu celular no bolso e deu um sorriso tão falso que Jimin quis arrancar seus cabelos. “Preciso disso até sexta de manhã, que é quando ele chega.”

Hoseok estava ouvindo tudo atentamente de seu lugar, e as mensagens de Jimin já estavam abertas no contato de Taehyung. Yoongi continuava com o sorriso no rosto, sobrancelhas arqueadas e um ar irritante de vencedor ao seu redor esperando uma resposta. Jimin abriu seu melhor sorriso falso e concordou com a cabeça, fazendo questão de usar sua voz mais doce para responder.

“Claro, senhor Min.” Jimin bloqueou a tela de seu celular e pegou em seu mouse, pronto para começar a escrever a droga do documento naquele instante. “Pode deixar que eu entrego isso até sexta, talvez até amanhã.”

“Muito bom, Park.” Yoongi assentiu com a cabeça e começou a andar para trás em direção à porta, em momento algum tirando seus olhos de seu secretário. “Você sempre mostra ser um funcionário exemplar. Continue assim.”

Hoseok soltou uma risada baixa assim que a porta do elevador se fechou, claramente se divertindo muito com aquele joguinho. Jimin pode ter perdido uma batalha, mas ele estava disposto a vencer a guerra.

Taehyung reclamou quando Jimin chegou em casa às nove horas da noite naquela quarta-feira, dizendo que o amigo ia acabar adoecendo do jeito que estava levando a sério toda aquela palhaçada. Jimin deu de ombros e se arrastou até a cozinha, querendo comer algo para depois se deitar na cama e dormir até que seu despertador tocasse no dia seguinte. Metade do documento já estava pronto – a última vez que ele tinha se dedicado tanto a um trabalho tinha sido na faculdade, e alguns anos haviam se passado desde então. Talvez, se ele focasse um pouco de seu tempo durante o dia para terminar tudo, Jimin conseguiria entregar o produto final à Yoongi no final da tarde.

“Ei, Chim.” Taehyung deu um leve cutucão no ombro do amigo, que estava sentado na mesa da cozinha encarando o chão como se nele estivesse todas as respostas para seus problemas. “Eu sei que hoje é quarta, mas acho que você precisa relaxar um pouco.”

Na mão de Taehyung estava um copo com bebida dentro, e pelo cheiro característico, Jimin sabia que era uísque. Ele não costumava beber muito, mas gostava de sentar com o amigo no sofá para conversar e sentir o álcool forte deixar seu corpo mais relaxado, deixar sua língua mais solta e seus movimentos mais lentos. Talvez ele precisasse daquilo para desestressar um pouco e conseguir dormir uma boa noite de sono.

Mesmo depois de anos se conhecendo e morando juntos, Jimin e Taehyung tinham assuntos inacabáveis. Taehyung sempre conseguia arrancar um riso fácil do amigo, e Jimin não precisava fazer muito esforço para ver sua alma gêmea platônica abrir um sorriso enorme. A relação deles era fácil, sem estresse. Cada um dava o que o outro precisava, cada um entendia o que o outro precisava. Ambos se sentiam gratos por terem uma pessoa assim na vida deles, e deixavam muitos indignados quando eles diziam que não eram um casal.

“Eu nunca fiquei tão frustrado, Tae.” Jimin disse encarando o fundo de seu copo, a segunda dose de uísque deixando sua fala já um pouco arrastada. Taehyung estava deitado com a cabeça encostada no braço do sofá, uma perna encolhida para que seu amigo tivesse espaço para se sentar. “E é idiota porque às vezes só uma masturbação resolve, mas dessa vez está impossível, e eu não tenho mais tempo para sair e procurar alguém para fazer essas coisas.”

“Park Jimin, você não me engana.” Taehyung soltou uma risada baixa que fez Jimin suspirar. Era claro que seu melhor amigo tinha lido suas intenções em questão de segundos. “Por mim, tudo bem. Nós não fazemos isso há um tempo, mas tudo bem. Eu só quero saber como você vai ficar.”

“Eu vou ficar ótimo.”

“É, em partes você vai.” Taehyung se levantou e ficou de frente para Jimin, pegando em seu queixo e aproximando seus rostos lentamente. “Mas acho que você precisa parar de achar que isso é só carnal, devia começar a pensar mais no que seu coração está lhe dizendo.”

“Eu posso pensar nisso depois.” Jimin sussurrou, e, delicadamente, beijou a boca de Taehyung.

A relação deles era fácil, sem estresse, e nada ficava esquisito depois que eles atendiam às necessidades do corpo. Jimin precisava de uma distração naquele momento, e seu melhor amigo era a melhor opção que ele tinha. Depois, quando a noite já tinha terminado e ambos estavam em suas respectivas camas prontos para dormir, Jimin reparou que transar com seu melhor amigo não adiantou de nada – apenas aumentou sua frustração por não ter sido Min Yoongi.

No dia seguinte, o chefe de Jimin já estava em sua sala mexendo em alguns papéis quando ele chegou para trabalhar. Assim que se sentou e abriu o documento que precisava entregar até a manhã seguinte, Yoongi apareceu ao seu lado para pedir um café e saiu andando em direção ao banheiro. Jimin respirou fundo e fez como lhe foi mandado – um funcionário exemplar, como Yoongi já havia dito tantas vezes.

A briguinha infantil durou o resto do dia, mas Jimin estava disposto a ganhar. Quando Yoongi tentava iniciar uma conversa, por mais que fosse relacionada ao trabalho de fato, tudo que Jimin fazia era lhe entregar um pedaço de papel que continha todas as respostas para suas dúvidas. Hoseok ainda observava tudo de longe, e lançava dedões positivos para o amigo sempre que sentia que ele havia ganhado uma ‘batalha’. Era um pouco irritante porque apesar de tudo, Jimin sentia falta dos pequenos toques e da voz suave que seu chefe usava para falar com ele antes do incidente na casa de Hoseok.

Às quatro horas da tarde, faltando uma hora para finalmente poder ir embora, Jimin terminou de revisar pela quarta vez o documento que tinha feito para o amigo de Yoongi. Estava tudo perfeito, ele até havia pedido para Hoseok e Jungkook revisarem também só para ter certeza de que seus olhos não haviam o enganado no meio do caminho. Estava tudo tão lindo e organizado que ele quase fez questão de imprimir as páginas com a melhor impressora do andar para entregar a Yoongi, mas ele simplesmente escreveu um e-mail curto dizendo que já estava pronto.

Já tinha passado de sua hora de ir embora, mas o andar ainda estava meio cheio e Jimin ainda tinha trabalho para fazer. Hoseok estava concentrado na tela do computador à sua frente mesmo depois de Namjoon e Seokjin terem ido para casa, e Yoongi sairia de uma reunião a qualquer momento. Taehyung havia o perguntado se ele já estava saindo poucos minutos antes, mas Jimin precisou negar e voltou a teclar furiosamente uma planilha que Yoongi havia o pedido para que fizesse.

“Já está indo para casa?”

Jimin não tinha visto quando Yoongi tinha chegado ali, mas não deixou sua surpresa transparecer quando percebeu que era a primeira pergunta que ele fazia em dias que não tinha um tom de deboche ou irritação. Ele deu de ombros e continuou digitando, mas Yoongi não saiu do seu lado. Foram alguns segundos de silêncio com Jimin ignorando a presença de seu chefe até que ele falasse de novo.

“Obrigado por escrever o documento. Ficou muito bom, ele disse que mal pode esperar para conhecer os pontos turísticos que você indicou.”

“De nada.”

Mais silêncio. Yoongi ainda estava ali parado, e Jimin queria sorrir. Ele havia ganhado. Finalmente tinha conseguido fazer com que seu chefe o tratasse normalmente de novo.

“Eu... vou para casa.”

“Tenha uma boa noite, senhor Min.”

Yoongi ficou parado por mais alguns segundos, suspirou, murmurou um ‘certo’ e saiu do andar com cara de derrotado. Assim que ficaram sozinhos, Hoseok soltou uma risada alta e Jimin o acompanhou, mal acreditando no que tinha acabado de acontecer. Ele não esperava que o tratamento de indiferença fosse durar tão pouco, já estava pronto para ficar naquela mesmice por semanas apesar do que Hoseok havia dito, mas tudo tinha ido conforme ele não esperava.

“Boa noite, campeão.”

Hoseok deu uma piscadela e saiu do metrô com Jungkook logo atrás dele, que sorria também depois de saber de tudo que tinha acontecido. Jimin estava contente.

Ele estava prestes a se tornar um vencedor.

**

Era sexta-feira, último dia da semana, mas Jimin estava estressado. Ele tinha se atrasado com algumas coisas depois de passar tanto tempo escrevendo o maldito documento para o amigo inglês de Yoongi, e agora parecia que o mundo estava caindo em cima de suas costas. Ele corria de um lado para o outro, às vezes pegava o elevador para ir a outros andares, respondia seus colegas e amigos com palavras monossilábicas e corria contra o tempo para terminar tudo antes de seu horário de sair.

Jimin nem conseguia pensar na briguinha infantil que tinha com Yoongi numa situação daquelas, mas parecia que sua atitude ainda demonstrava que ele estava jogando, afastando seu chefe ao mesmo tempo em que ele puxava Jimin para tentar consertar as coisas. Hoseok assistia a tudo de longe, mas não dizia nada porque também tinha trabalho para fazer. Respostas monossilábicas para cá, ‘sim, senhor Min’ para lá, e o dia seguiu de uma forma que não era muito comum num geral, mas que viraria rotina se Jimin e Yoongi continuassem se tratando como fizeram durante a semana toda.

“Jimin, você precisa pegar leve.” Taehyung disse de cenho franzido, claramente preocupado com o melhor amigo, que estava com a atenção completamente voltada para seu celular quando devia estar voltada para sua comida. “Eu já falei brincando várias vezes, mas é sério. Você vai acabar surtando.”

“É só um dia ruim, Tae.” Jimin murmurou e colocou um pouco de arroz na boca, fingindo que estava prestando atenção em seu almoço.

Era realmente um dia ruim, e não só para ele. Jungkook também aparentava estar estressado toda vez que passava em frente a eles, e a preocupação no olhar de Hoseok era explícita. Só que eles não podiam parar o que estavam fazendo, tinham um dever a cumprir. Então foram levando aquele peso como podiam até dar o horário de ir embora, e, como sempre, ver o andar esvaziar enquanto eles ficavam para trás trabalhando.

“Jimin.” Hoseok chamou com o amigo com a voz fraca, evidentemente cansado. “Jungkook já acabou por hoje e eu também. Você vai com a gente?”

“Não, eu ainda tenho coisa pra fazer.” Jimin indicou com a cabeça a pilha de papéis em sua mesa, e Hoseok fez uma careta. Ele ainda demoraria ali. “Yoongi está em uma reunião também, então vou demorar um pouco.”

Hoseok assentiu e o desejou uma boa noite, entrando no elevador com Jungkook ao seu lado. Os dois pareciam estar extremamente cansados, mas Jimin sabia que um banho quente relaxante e algumas horas de sono resolveriam todos os seus problemas. No entanto, ele ainda estava preso no escritório até horário indeterminado, querendo matar seu chefe e absolutamente tudo que ele representava. 

Jimin já tinha parado de checar a hora havia muito tempo quando ouviu o som familiar do elevador chegando no andar, o barulho dos passos lentos de Yoongi preenchendo o ambiente silencioso. Jimin finalmente tinha desacelerado seu trabalho e estava perto de acabar tudo, já visando a banheira que tinha em seu apartamento repleta de bolhas, apenas o esperando para que ele pudesse relaxar seus músculos tensos. Ele estava completamente exaurido, e rezou para todas as entidades religiosas que Yoongi não parasse para tentar conversar de novo, sem paciência alguma para lidar com seus problemas.

“Você já está indo para casa?”

“Não.”

Monossilábico, como havia sido o dia inteiro. Yoongi suspirou e entrou em sua sala, mexendo em alguns papéis por alguns segundos e deixando Jimin imerso em seu trabalho, como ele havia pedido tanto que acontecesse. Alguns minutos depois, Yoongi voltou para o corredor e observou o outro homem trabalhando por tempo demais, quase deixando Jimin desconfortável. Mais alguns segundos e Yoongi caminhou até o cubículo de Hoseok, puxando a cadeira de rodinhas até a mesa de Jimin, jogando-se no assento sem cerimônia e o encarando abertamente.

“O que você quer?” Jimin perguntou impaciente, largando uma caneta em cima da mesa com mais força que o necessário. Yoongi recuou um pouco, mordendo seu lábio inferior para pensar no que deveria falar. “Eu estou muito ocupado. Escrever aquele documento tomou muito do meu tempo, senhor Min.”

“Eu sei. Desculpa por isso.” Yoongi engoliu em seco, e se as palavras do homem causaram alguma reação em Jimin, ele não as demonstrou. “Na verdade, eu queria te oferecer uma carona para casa.”

“Não, obrigado, eu gosto do transporte público.”

“Jimin, eu quero conversar.” Yoongi disse com a voz seca, finalmente ganhando a atenção que tanto queria do outro homem. Ele soltou um suspiro e passou as mãos pelo rosto, visivelmente cansado de tudo que tinha acontecido naquela semana. “Sobre tudo que aconteceu, e tudo que pode vir a acontecer.”

Jimin queria ouvir o leve ranger da máquina de café para sentir um conforto naquela situação pesada, mas já estava tão tarde que o zelador já havia a desligado. Ele piscou os olhos uma porção de vezes, tentando decifrar a expressão no rosto de seu chefe, mas não obteve sucesso. Respirou fundo, contou até três e concordou com a cabeça, retomando seu trabalho e fazendo de tudo para ficar focado como estava antes. Yoongi não disse nada e continuou ali o observando, às vezes checando seu relógio, celular, espreguiçando-se na cadeira, mas nunca saindo de perto.

“Terminei.”

Em silêncio, os dois caminharam até o elevador, do elevador até onde o carro de Yoongi estava estacionado, até finalmente estarem confinados em um espaço pequeno sem poder fugir da presença um do outro a menos que quisessem pular pela janela e se machucar. Jimin mal respirava direito e só queria que ele ligasse o motor e começasse a dirigir em direção à sua casa, onde finalmente teria a paz que precisava.

“Primeiro, desculpa por ter agido como um babaca com você desde... sábado passado.” Yoongi disse e finalmente ligou o motor. Jimin quase riu da pausa que o homem fez, mas decidiu manter seu semblante sério e ouvir o que seu chefe tinha a dizer. “Jimin, eu tenho prioridades nessa vida. Eu trabalhei muito para chegar onde estou agora, e alcançar a posição em que eu estou não é fácil com minha idade.”

“Você quer conversar ou falar sobre como você é o cara?” Jimin disse sem paciência, encarando o mundo do lado de fora da janela.

“Certo.” Yoongi suspirou e trocou a marcha. Jimin precisou morder o lado interno de sua bochecha para se impedir de olhar a ação, com medo de se distrair completamente por causa da mão do homem. “O que eu quero dizer é que meu trabalho vem acima de tudo. Eu estou feliz com meu cargo, com minha posição, e com as pessoas com quem convivo todos os dias. Minha família me dá todo o apoio do mundo, e entende se eu não posso passar um feriado importante com eles por conta de trabalho.”

“Entendi.” Jimin disse com a voz rouca, finalmente tomando coragem para olhar para dentro do carro ao invés de olhar pela janela, mas ainda sem encarar Yoongi. “Seu trabalho acima de tudo. Você está perdoado pela sua babaquice. Mais alguma coisa?”

Jimin não sabia quais eram as políticas de relacionamento no escritório, mas pelo jeito que Yoongi falava, não podiam favorecer um casal, não importa seu grau de intimidade. Não foi à toa que Jimin só descobriu de Namjoon e Seokjin quando todos estavam em um ambiente descontraído – além de, obviamente, as pessoas não serem exatamente receptivas com homossexuais no país deles. O carro ficou em silêncio de novo, e Jimin nunca quis tanto ligar a rádio para ouvir qualquer música pop que a indústria musical tivesse para lhe oferecer.

“Eu preciso saber o que você quer de mim.”

Com aquilo, Jimin olhou para Yoongi. De cenho franzido, ele tentava decifrar o valor que a frase carregava, mas tantas coisas passavam por sua cabeça que ele não conseguia formular uma resposta. O que ele queria de Yoongi? Sua mente vagou para a conversa que teve com Hoseok no início da semana, quando disse que nunca quis ser prioridade. Era verdade, disso ele tinha certeza, mas não queria dizer que ele não pensava em ser algo para seu chefe, algo além de uma pessoa que trabalhava para ele. Jimin sabia que não podia se dar ao luxo de sentir coisas mesmo que mínimas, mas a julgar pela forma como seu coração havia começado a bater rápido, ele já tinha cometido aquele erro.

“Eu quero te conhecer melhor.” Jimin disse com a voz fraca, a expressão de seu rosto tão suave quanto a de Yoongi. Ele não havia percebido quando tinha começado a chover, mas o som das gotas d’água caindo no teto do carro davam um ar diferente à conversa. “Quero entender por que seu trabalho é tão importante. Quero entender por completo por que você me tratou daquela forma.”

O sinal abriu e Yoongi foi obrigado a prestar atenção na rua de novo, deixando Jimin esperando por uma resposta para sua declaração disfarçada. Ele estava torcendo para que Yoongi não percebesse as implicações do que havia dito, mas sabia que seu chefe não era idiota, então apenas esperou o tempo que fosse necessário.

“Tudo bem.” Yoongi murmurou, sua voz saindo rouca por conta da falta de uso. Jimin virou o pescoço para olhá-lo, mas percebeu que o homem não o encarava de volta. “Você quer me conhecer melhor, você vai me conhecer melhor. Eu peço o mesmo de você. Quero te conhecer melhor também. Quero entender porque você é tão teimoso, tão dedicado. Quero entender como você consegue sorrir segunda-feira de manhã.”

Jimin soltou uma risada fraca e sentiu seu corpo relaxar por completo no banco do carona, seus pulmões funcionando normalmente pela primeira vez desde que tinha entrado no carro. Yoongi soltou uma risada também e não disse mais nada, só perguntou mais uma vez onde Jimin morava apenas para ter certeza de que estava indo pelo caminho certo. Mais alguns minutos de silêncio, e Jimin reconheceu o portão da frente do prédio que chamava de lar.

“Então,” Yoongi parou o carro por completo e olhou para Jimin bem no fundo de seus olhos. Naqueles poucos segundos de silêncio, mil e umas palavras foram ditas entre eles. Talvez coisas que eles nem sabiam que queriam dizer, mas que mesmo assim estavam presentes. Yoongi estendeu uma mão e abriu um sorriso de canto que não parecia totalmente sincero. “Amigos?”

“Amigos.” Jimin respondeu depois de um tempo, apertando a mão de seu chefe e abrindo a porta do carro, clicando sua língua quando viu que ainda estava chovendo. “Obrigado pela carona, Yoongi hyung. Tenha um bom fim de semana.”

Amigos.

Jimin não queria se contentar apenas com amigos


Notas Finais


Eu disse que se não pudesse postar no sábado eu postava ou na sexta ou no domingo, né? Bom, como o compromisso de amanhã não foi um imprevisto, resolvi postar na sexta ao invés do domingo. :-)
Gente, eu ainda tô mortíssima com o comeback, só consigo ouvir Her o dia inteiro. Ainda bem que sou fã dos reis da porra toda, mais conhecidos como BTS. Sem contar que Yoonmin tá me matando cada vez mais todos os dias, vai sobrar nada de mim se eles continuarem desse jeito.
Aliás, em relação ao capítulo... sentiram o cheirinho no ar? O cheirinho de... *sussurra* sentimentos nascendo.
Espero que tenham gostado do capítulo, qualquer coisa é só gritar comigo nos comentários ou no twitter (@/yunttai).
Até semana que vem, beijinhos de luz. <3


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