História Delírios ao Amanhecer - A vida é da cor que você sorri pra ela

Não era noite nem dia. Não ainda. Faltava pouco para o despontar da grande estrela d'alva, mas o céu ainda se mantinha com as cortinas do mistério cósmico que era, fechadas para a iminente aurora.

O silêncio reinava, pacífico. A vida dormia tranquilamente no fim daquela madrugada calma e quase se podia ouvir os sons da respiração branda que emitia enquanto se deleitava em sonhos 'num sono profundo e sossegado. 

Respirou profundamente e pôs-se a fechar os olhos – que antes admiravam, fascinados, a beleza da paisagem mergulhadas na negritude serena à sua frente. Se permitiu navegar, manso, no oceano infinito do imaginário, sendo levado, sem rumo, pelas águas da emoção. Naquela viagem virtual, deixaria que as correntes da criatividade lhe ditassem as coordenadas e escolhessem seu destino utópico. 

Permanecia inerte, flutuando em seus próprios delírios sonhadores. Degustava, lentamente, o sabor daquele café da manhã contemplativo que o universo lhe oferecia nos últimos instantes antes de o sol raiar. 

Mais uma vez, respirou profundamente, sentindo as cores da calmaria destilada no vento adentrar por suas narinas e preencher-lhe corpo e alma. Naquele momento nada importava; nem a vida e nem mesmo aquela que sabia que certamente viria num breve futuro incerto. Só queria sentir. Sentir o presente, o agora, o calor que emanava de seu corpo. 

Retardou as percepções de morte e se entregou aos primeiros raios solares que cortaram o véu negrume e trouxeram a luminosidade vívida do novo dia que acabara de nascer. 

Abriu, então, as pálpebras, fixou os olhos no horizonte e sorriu. Não havia, de fato, motivos para tal feito, mas ainda assim sorriu. Sorriu largo, feliz, realizado. Afinal não dependia de motivos para sorrir, pois criava-os ele mesmo.

E como um reflexo à toda sua espontaneidade, o sol, enfim, brilhou intenso em boas vindas para si.