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História Desabrigados - Introdução.


Escrita por: Miguflipi

Notas do Autor


Obrigado pelo interesse.
A história pode ser um pouco pesada, e só vai ficar MAIS pesada pra frente, eu não gosto muito de escrever esse tipo de história, mas eu sinto que é hora de expandir meu estilo e começar a escrever coisas mais sérias e mais adultas.
Se você está lendo isso, esteja ciente que você vai ler algo que pode chegar a embrulhar seu estômago no futuro, embrulhou o meu só com o início.
Vamos evoluir juntos, obrigado pela chance o/

Capítulo 1 - Introdução.


Nicole acordou no meio de uma enorme pilha de destroços que estavam espalhados no chão, dormir nunca foi tão difícil como estava sendo naquele momento. Conseguia ouvir gargalhadas vindas logo acima pelo teto de madeira que rangia a cada passo. Desejava estar com eles, comendo e rindo enquanto aproveitavam das outras escravas, mas nunca teria essa chance, as vezes sentia-se mal por querer estar acima das outras garotas, porém naquele mundo pensar no segundo era algo que não poderiam se dar ao luxo.

Conseguia escutar passos em sua direção, era péssimo quando vinham lhe acordar no porão, mas talvez eles apenas quisessem trazer sua comida dessa vez. Nicole queria na verdade tomar um banho e ganhar algumas roupas, seu cabelo dourado não era mais o mesmo depois de ter sido destruído pela sujeira e contraía cada vez mais doenças andando por cenários sujos completamente nua. Estava certa, vieram lhe trazer comida, já não comia fazia dias e precisava se alimentar mais do que nunca.

Estava pronta para comer, foi servida em dois potinhos, um cheio de água e outro com algo que parecia uma sopa, mas ela realmente não ligava, queria comer. Correu até a comida, mas foi chutada contra a parede antes de conseguir pegar algo para comer, o que ele queria dela agora? Nada. Apenas retirou o pau pra fora e simplesmente mijou na comida da jovem loira.

-Pode comer. –Nicole recusou, mas ela já não tinha mais a opção de dizer não. O homem pegou ela pelo cabelo e afogou sua cabeça na comida temperada com urina. Apesar de não querer, a loira abriu a boca e devorou o conteúdo nos potes. Sentia que iria vomitar a qualquer momento, mas não poderia se dar o luxo de perder a refeição. –Tá gostosa a comida né? – Para piorar, o homem segurou o pênis mais uma vez e mijou na cabeça da garota. –Você não queria limpar o cabelo?

Nicole foi deixada sozinha novamente e teve a chance de chorar sem que eles pudessem ver, claro, se ela chorasse iria apanhar como sempre. A sensação de não poder se limpar após tal ato era horrível, a única coisa que ainda tinha que estava limpa foi acertada com alguns pingos da urina do escravista. Não tinha planos para fugir, o lado de fora era pior... Se fosse o mundo de antes a polícia poderia lhe ajudar, mas agora aquelas... Criaturas iriam acabar com ela antes que pudesse pedir por ajuda.

Tiros.

Logo acima ela conseguia ouvir alguns tiros, os tiros vinham seguidos da porta sendo derrubada e gritos vindos das escravas, que estavam sendo mortas umas atrás das outras, o sangue de suas antigas companheiras escorria pelos buracos e caia logo acima de seus dedos, mas naquele ponto loira já não ligava mais, para falar a verdade, esperava que fosse a próxima dentre as escravas a ser assassinada.

Um de seus donos apareceu quebrando a porta do porão e rolando escada abaixo, a loira resolveu checar e notou que haviam seis buracos de bala espalhados pelo peito do homem, não sabia se comemorava ou se deveria se esconder, mas no pior de seus delírios, resolveu subir as escadas.

A cena não era nem um pouco bonita, todos seus donos estavam lutando contra um grupo bem vestido e bem armado, talvez fosse outro confronto de grupos, no pior dos casos acabaria morrendo no meio do tiroteio.

Foi rápido, nem conseguiu acompanhar direito, mas de seis de seus donos se tornaram apenas um, e ele continuava lutando sem parar. O peito da jovem loira se encheu de esperança, mas sentiu-se sendo agarrada e uma arma passou a pender em sua cabeça, o mesmo que lutava contra os invasores agora estava usando-lhe como refém, e os invasores pareciam se importar com aquilo ao ponto de abaixarem suas armas, talvez estivessem realmente querendo proteger-lhe.

E quando tudo parecia dar errado, uma enorme garra coberta em pele ligeiramente rasgada e completamente pelada agarrou a cabeça de seu possível algoz e matou-lhe instantaneamente.

Nicole estava livre.

-Você está bem? Oooh! Uhhh... Você fede muito! –Era uma mulher, ela arrancou a máscara por um momento e pude ver seu rosto. Sua pele era negra, era estranho pensar que em tantos anos era a primeira pessoa de pele escura que via em anos, parecia uma guerreira, muito bela, mas com o rosto de uma batalhadora.

-E... Eles fizeram.... Xixi em mim. –Nicole abaixou a cabeça, era mais difícil falar do que pensava, parecia que o mínimo de orgulho que tinha foi embora de seu corpo. O grupo foi um grande suporte, esperava ser zombada, mas pelo contrário, deram-lhe uma mão amiga.

-Você está segura agora.

E estava.

                                                                                

                                                                                   &

Dois homens ajudaram Nicole a subir no caminhão, esperavam mais pessoas, mas assim tinham mais espaço para colocar seus achados, alguns insistiam em levar o sofá que havia na casa, e após muito tempo de discussão, acabaram cedendo e o sofá tinha um espaço extra ao lado de Nicole. Para que não se sentisse sozinha, deixaram uma garota com Nicole na traseira, ninguém falava nada, mas a jovem sentia-se muito mais segura com a presença de um de seus salvadores por perto.

-Você está animada para ver sua nova casa?

Nicole respondeu com sim com a cabeça.

-Quer tomar um banho quando chegar lá?

A loira concordou sorrindo dessa vez, estava se animando.

-Comer algo bem gostoso… Ir no nosso hospital para cuidar de seu corpo e ir no dentista.

-Sim.. Eu adoraria isso tudo.

Sorriram e partiram a viagem sem trocar praticamente nenhuma palavra, não era necessário

 

                                                                              §

Entraram com o caminhão dentro de um enorme portão de ferro que não fazia qualquer barulho sequer ao se abrir, ele estava bem escondido no meio de uma enorme floresta e diversas árvores. Pouco depois de retirar a garota do veículo levaram ela para dentro de algum tipo de prédio feito de madeira, era grande, espaçoso e tinha de admitir: Por mais que fosse inteiro de madeira, tinha seu estilo.

Na recepção haviam só duas pessoas armadas, eram ameaçadores, mas acolhedores ao mesmo tempo. A reação deles foi um pouco diferente do que Nicole esperava, abraçaram os recém chegados e ajudaram a garota a ir até o banheiro mais próximo.

Passaram por diversos cômodos onde pessoas de extrema boa vontade viviam suas vidas, felizes, algo não visto há muito tempo. Estava coberta de esperança pela primeira vez desde sua infância, quando sua falecida avó a abraçava e contava diversas histórias para acalmar a garota.

Jogaram ela dentro do banheiro, era de azulejo e extremamente bem feito. Haviam adornos em todos os cantos e babados espalhados por ai, como se estivessem tentando dar um tom infantil ao local, ou talvez quisessem fazer apenas algo mais leve mesmo.

-O estado que o cabelo dela está.. Vamos ter de cortar.

-Sim, além disso ela está desnutrida. Eu vou levar ela direto aos médicos depois do banho.

-Será que ela vai ter tempo de conversar com a chefe?

-Duvido muito.

Nicole não entendia nada da conversa, mas apreciava o banho, a sensação da água tocando o corpo depois de anos sem cuidar de sua higiene era fantástica. Nem havia notado que raspavam seu cabelo antes belo.

Colocaram uma toalha em volta do corpo da garota, que ainda nua era levada de um lado pro outro do abrigo, algumas mulheres se empolgavam e faziam ela experimentar diversas roupas por quase horas.

Demoraram até horas para que a jovem garota estivesse pronta, mas a demora valia a pena, chegava a ser encantadora a mudança drástica de uma menina acabada e fraquejada para uma bela jovem que apesar de exausta, ainda tinha o que viver.

Deixaram a garota sobre uma maca sem muita dificuldade, ficaram ao seu lado até que um grupo de seis pessoas tomasse conta da maca. Tudo estava acontecendo muito rápido, quado menos percebera já estava num quarto hospitalar com uma mulher aplicando anestesia em seu braço.

E era isso tudo o que Nicole conseguia se lembrar.

 

&

 

Nicole acordou novamente sozinha, como sempre. Sua visão estava turva e sentia uma estranha sensação na boca. Diferente de quando em cativeiro havia acordado em uma cama uma bem confortável até. Ninguém lhe apressava ou forçava ela a nada queria ficar ali o dia inteiro, só deitada na cama olhando pro teto e pela primeira vez realmente poderia fazer isso.

Deu uma boa olhada por todo o quarto, havia uma mesa com uma cesta cheia de frutas e alguns poucos legumes, uma pequena cabeceira ao lado de sua cama com uma lâmpada acesa e uma estante com alguns poucos livros e umas roupas jogadas.

Não gostava de usar perfumes, mas após tantos odores que machucavam suas narinas a leve fragrância que haviam jogado nas roupas parecia como mil rosas após um dia chuvoso, era apenas o cheiro do amaciante, mas já fazia a loira se derreter por inteira.

-Isso… É tão bom… -A garota foi olhar-se num espelho que estava logo atrás de sua cama, por um momento seu coração doeu ao ver que havia perdido seu lindo cabelo, mas revigorou-se ao ver como seus dentes estavam brancos outra vez e notar em como era bom estar completamente limpa, talvez raspar o cabelo fossem melhor, separou o novo do antigo. -Estou tão diferente.

Pouco teve tempo para aproveitar sua nova imagem e já estavam batendo em sua porta para um dia exaustivo, estava feliz por não ter que fazer nada humilhante como antes, mas também estava triste por não ter a chance de descansar o dia inteiro apenas para poder aproveitar o clima aconchegante do quarto.

-Posso ajudar? -Nicole abriu a porta para dois homens, os mesmos que ajudaram ela no dia passado.

-Não se preocupe, só queremos levar você para uma entrevista. -Ambos pegaram Nicole pelas mãos e levaram ela por todo o abrigo até um pequeno quarto com “gerência” escrito na porta. A porta chamava a atenção por diferente do resto do hotel, era feita de ferro, não de madeira. -Pode entrar.

Nicole abriu a porta e sua primeira visão foi algo diferente do comum, uma mulher enorme, gorda e espaçosa no meio da sala dançando com um cachorro ao som de música clássica, o cão parecia muito saudável, diferente de sua dona que se preocupava mais com o animal do que com a própria saúde.

-C-Com licença. -Assim que a mulher gorda notou que Nicole estava por ali ela parou de dançar com cão, desligou a música e sentou numa cadeira de couro localizada atrás de uma grande mesa de carvalho. Havia um monte de papelada sobre a mesa que mal dava para ver por conta da pequena única lâmpada que iluminava todo o quarto. -Queria me ver?

-Sim sim! Tem um nome?

-Nicole.. E você?

-Eu sou Berta, prazer em te conhecer. Quer um pedaço de chocolate Nicole? -Berta tirou uma enorme barra de chocolate e colocou sobre a mesa. -É bom pra acalmar. -Não precisou falar duas vezes, Nicole já havia aceitado assim que a mulher havia colocado o doce na mesa, um doce tão saboroso, tão bom e ao mesmo tempo tão raro. -Agora, vamos conversar, e eu quero somente a verdade e a mais pura verdade.

-C-Certo.

-Você passou por muitas dificuldades não é mesmo? Você sempre foi uma escrava? Você nasceu e foi escravizada ou foi após você crescer?

-Eu.. Eu não era uma escrava, eu vivia em uma comunidade com meus pais quando um desses monstros apareceu e matou eles, mas eu era muito nova, então não me lembro deles.

-Quem te criou desde então?

-Eu fui criada por muita gente diferente, mas em algum ponto sempre aparecia alguém diferente para cuidar de mim, até o ponto que os únicos que estavam lá para me criar… Eram aqueles escravistas.

-Quais são suas habilidades?

-Eu sei cozinhar, e… Eu não sei muito mais do que isso.

-Você tinha algum sonho antigamente?

-Eu sempre quis…. Ser uma professora.

-Ah, então você gosta de ensinar crianças? Eu tenho mais uma pergunta… Você foi….. Abusada por aqueles rapazes?

-E-Eu?! N-Nunca!

-... -Berta bateu na mesa, com força estrondosa, o mínimo esperado de alguém com mãos tão gordas como as suas. -Eu sei que é difícil, mas você precisa me contar a verdade, entendeu?

-M-Mas..

-Fale a verdade.

-Fui. Uma vez, até que uma nova garota apareceu e tomou meu lugar.

-Ótimo. Agora eu quero que você faça uma coisa, escreva exatamente o que você pensou sobre mim na primeira vez que me viu e o que mudou depois disso  nesse papel.

-... -Nicole pegou o papel e começou a escrever vários adjetivos diferentes sobre a garota.

-Escreva com sinceridade.

Nicole apagou metade do que havia escrito e passou a escrever outras palavras. Não havia tanto quanto antes, mas tinha escrito bastante.

-Vamos ver… Oh, interessante. Quando você me viu a primeira coisa que você pensou foi “Ogra gorda”, depois disso você me achou… “Simpática” “Assustadora” e… “Obesa espinhenta”. Você foi bem sincera aqui.

-Eu… Me desculpa. -A loira ficou cabisbaixa por um segundo.

-Não se preocupe com nada, eu quero a verdade, você apenas me deu a verdade, levanta essa cabeça.

-...

-Continuando, o propósito dessa entrevista foi para ver sua… Sinceridade, eu queria ter certeza de sua confiança, acredite em mim, eu posso facilmente falar se alguém está mentindo para mim. -A gorda brincou com alguns papéis sobre a mesa e voltou-se a garota. -Eu… Você não é de muita utilidade pra gente. Isso é importante que você saiba. Digo, poderíamos colocar você para dar aulas para as crianças ou para ajudar a cozinheira, mas ainda assim, não temos uma escola pronta ou sequer precisamos de uma nova cozinheira, você é inútil.

-...

-Mas eu não quero simplesmente despachar você, sinceramente você pouparia trabalho se fosse embora, mas minha conciência pesaria. Vamos fazer assim, no momento estamos construindo algumas coisas para as crianças do berçário, mas nada de escola. Você pode ajudar nossa cozinheira, mas… Eu serei sincera, se você for trabalhar aqui, vai ser como cozinheira e ainda vamos te botar na equipe de busca.

-Na… Equipe de busca?

-O grupo que te salvou daquele local. Eles saem por ai em busca de suprimento e de novos recrutas, a maioria geralmente são crianças ou mulheres, então estamos precisando muito de mais gente.

-Eu.. Nunca mexi numa arma.

-Não precisa, tem gente para te ensinar. E aliás, você só tem que catar algumas coisas, você vai ter muita gente cuidando das suas costas.

-Eu… Eu tenho medo.

-Escuta aqui.. Nesse mundo aqueles que tem medo acabam mortos numa sarjeta pedindo por comida. Você vai morrer lá fora, ou pode morrer aqui dentro. Você pode ser útil, você pode dar para nossas crianças um futuro! Você pode ser grande!

-...

-Isso é tudo o que eu tenho a te oferecer. Então vou perguntar só mais uma vez. Nicole, você aceita a proposta?

Uma chama ardia dentro de Nicole, ela não poderia dizer não depois daquilo, a mulher disse a verdade, mas ao mesmo tempo levantou sua cabeça e fez Nicole querer lutar como nunca antes. Sem sequer perceber a garota já estava erguendo sua mão e preparada para aceitar o acordo, estava de pé, sorrindo.

-Eu aceito!

E comemoraram.

 


Notas Finais


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