1. Spirit Fanfics >
  2. Desabrigados >
  3. Desolada.

História Desabrigados - Desolada.


Escrita por: Miguflipi

Notas do Autor


Opa! Desculpa o atraso, mas eu realmente demoro para publicar.
Bom, espero que se divirtam lendo, eu segui muitas críticas para poder fazer esse capítulo e acho que cheguei no ponto que eu queria.
Obrigado pelo interesse, boa leitura!

Capítulo 2 - Desolada.


Nicole se encolhia na cama, abraçada com as próprias pernas, como se estivesse presa pelas pernas. Constantemente trocava sua posição na cama, não conseguia se acostumar com o conforto da cama, estava sempre dormindo em destroços ou no chão frio de madeira. A jovem loira se jogou da cama para o chão, levando só os cobertores e o travesseiro junto dela. Finalmente havia conseguido dormir.

Ainda assim não podia pregar os olhos, toda vez que tentava diversos pesadelos tomavam conta de sua pequena cabeça limpa. Estava numa mistura de medo e terror, seu estômago embrulhava toda vez que pensava no que havia passado, não iria deixar aquilo para trás tão cedo, e por pior que aquela experiência tivesse sido, Nicole não queria deixar aquilo ir embora.

-Eu não vou conseguir dormir. - Nicole caminhou até o espelho e se encarou por um tempo, a sua imagem aos poucos se distorcia em sua visão, não se via como uma garota bela que tinha uma nova chance, se via como um monstro que havia sido conturbado, sentia que tudo o que passou era sua culpa, teria ela feito algo errado? Nunca mais seria a mesma.

-Eu sou um monstro. - A garota saiu do quarto e passeou pelo abrigo, abraçando uma velha manta quente e confortável. Haviam algumas pessoas fazendo o mesmo que ela, alguns jovens apenas se juntavam para conversar e aprontar durante a noite, parecendo uma verdadeira vizinhança. Se aproximou de um grupo de pessoas de sua faixa etária, eles estavam conversando e bebendo, entre eles haviam as pessoas que haviam lhe salvado anteriormente. -Posso me sentar aqui?

-Claro, sinta-se a vontade. -Era a mulher negra que havia lhe salvado. Ela era realmente bonita quando parava para olhar mais de perto. -Você é… Nicole certo? Eu gostei bastante do seu novo estilo Nicole.

Nicole abaixou a cabeça e agradeceu.

-Ei, mina, mantenha essa cabeça erguida oxe. -Esse era novo, era um garoto loiro que havia aparecido pouco depois de Nicole chegar, ele havia sido resgatado assim como Nicole, mas estavam em uma situação diferente, o garoto estava preso em uma farmácia haviam sete dias. -Mas ai, que tal “nóis” se apresentar? Meu nome é Diego, eu nasci um ano antes de tudo isso acontecer, mas eu não pensava naquela época.

- Isso é uma boa ideia Diego. Eu acho que todos aqui já me conhecem, eu sou a Brenda, eu salvei todos vocês, um dia, vocês estarão no meu lugar e vão sair por ai salvando pessoas, vão poder se orgulhar de si mesmos. Eu espero que vocês ajudem outros como eu ajudei vocês. -Nicole levantou a cabeça, todos olhavam para ela, como se estivessem esperando algo da menina. -E você guria? Que tal se apresentar?

-E-eu?... Eu me chamo Nicole, eu passei por algumas situações bem desagradáveis. Eu nasci em um grupo, igual ao de vocês, fui criada por uma família acolhedora e já fui adotada por muitas pessoas, todas elas… Morriam com o tempo. Chegou um dia e.. Essas criaturas lá fora… Esses monstros! Eles destruíram o abrigo. Eu e um resto aí sobrevivemos, mas acabamos nos separando. Eu continuei andando com algumas garotas, mas elas foram uma por uma mortas e o resto se tornaram escravas comigo.

Por um minuto, um silêncio desconfortável tomou conta do local.

-Emília, eu também nasci num grupo, mas eu fui expulsa de lá recentemente. Eu estava responsável pela despensa e… Eu… Queimei tudo, nossa comida, tudo. Eu não fiz por minha própria vontade, eu estava apenas zoando com uns amigos e a coisa… Foi de mal a pior. Eu não dedurei meus amigos, mas fui expulsa, e ninguém tentou fazer nada pra me ajudar, sequer me procuraram depois. -Emília era possivelmente a mais jovem ali, tinha entre seus dezesseis ou dezessete anos. Nicole não parava de olhar para o cabelo longo e preto da garota, estava tão bem cuidado, Emília chamava a atenção de qualquer cara -Eu fui encontrada pela Brenda, ela tava… Prestes a comer uma barra de chocolate velha e eu impedi ela.

-Cê disse que eu ia cagar por pelo menos três dias seguidos.

-Isso, haha. Ela me ajudou a sair da pequena quitanda que eu estava dormindo e me trouxeram pra cá. Acho que faz uns três dias desde que eu cheguei aqui, tem sido realmente bom pra mim.

-Eu posso me apresentar? Ok, aaahn… Oi. Eu sou Richard, mas meus amigos me chamam de Dick. Eu não sei muito bem onde eu nasci, minha mãe disse que eu nasci em um tipo de bunker, só que acho que nem ela se lembra. Acho que alguns de vocês conhecem ela, ela é uma das mulheres que ajuda na expansão do abrigo.

-Ellena?

-Essa mesma. Continuando, eu e minha mãe ficamos mudando de localização o tempo todo, até o ponto que ficamos escondidos no esgoto, confiem em mim, lá dentro não tem nenhuma dessas criaturas. Hoje de manhã, Brenda apareceu na calçada sentada e viu a gente, prestes a comer rato frito. Ela salvou a gente.

Não havia mais ninguém para falar, de todos ali, só faltava a própria Brenda dizer algo.

-Já que todo mundo aqui falou da própria história, eu vou falar de como eu fui salva.  -A mulher se levantou, deixando sua xícara única de café de lado. -Como cês sabem, eu me chamo Brenda. Eu tava lá, uma garotinha órfã de dez anos de idade, sentada lado a lado com uma garotinha gordinha, acreditem ou não eu estudei com a própria Berta! Ela era do ensino médio, mas estudávamos no mesmo colégio. Eu não fazia ideia disso até dois anos atrás, a gente notou isso enquanto a gente se falava. Eu tava voltando pru orfanato e vi uma mulher nua sem rosto e sem genitais, tava coberta por pele. Eu tentei correr, mas a mulé era rápida, eu fui salva por um casal de policiais que me trouxeram até esse mesmo local, que no dia era só um prédio que eles trancaram a porta da frente, ninguém esperava que esse lugar iria se tornar isso um dia. - Os jovens começaram a bater palmas para Brenda que encheu o peito, como se fosse algum tipo de heroína. -Certo, vocês já tiveram o que queriam. Acabem de tomar o café e vão dormir.

-Certo. -Foi quase uníssono, só faltava a voz de Nicole para completar.

Brenda deixou o grupo de lado, ficando só os quatro jovens sozinhos ali. Nicole foi a primeira a se levantar e ir embora, talvez por que não tinha uma xícara de café, ou talvez simplesmente não tinha mais nada pra falar. A única pessoa que ela desejava conversar naquela noite era Brenda.

-Brenda.. -Nicole pegou a mulher pelo braço e puxou ela para um canto. -Eu.. Eu não consigo dormir. Posso pular essa noite?

-Ah… Não é bom você não dormir guria, amanhã você vai dar sua primeira volta em busca de suprimentos, tem certeza que aguenta?

-M-Mas eu não consigo dormir.

-... Eu tenho uma solução, vem dormir comigo essa noite, assim você pode se sentir mais segura? -Nicole não negou a solução, mas também nunca havia aceitado. O silêncio da garota poderia muito bem levado como um sim e foi como Brenda preferiu. Seguiram em direção ao quarto que era surpreendentemente arrumado, não esperava por essa. -Pode deitar. Eu só vou trocar de roupa e volto logo.

Nicole deitou a cabeça na cama, os pesadelos atacavam só de tentar pregar os olhos, talvez se esperasse, o sono iria tomar conta dela e iria acabar dormindo de um jeito ou do outro. A garota olhou para a porta e viu Brenda voltando com um pijama curto, mas com um cheiro único.

-Vamos dormir, certo? -Nicole novamente tentou pregar os olhos, mas dessa vez Brenda puxou ela e abraçou sua cabeça contra seus seios enquanto passava a mão na careca da garota. - Descanse… -Finalmente havia notado o que era o cheiro: Era um cheiro materno, algo que não sentia desde sua infância. Quando menos esperava já estava chorando, abraçando a bela mulher que lhe confortava e pela primeira vez em anos… Estava tendo bons sonhos.

                                                                        §

O som contínuo de um sino tocava na bela manhã que estavam, a jovem Nicole acordou sozinha na cama de Brenda que não estava sequer presente no quarto. A menina se levantou e saiu do quarto, haviam várias mulheres correndo com toalhas e escovas de dente.

-Corre Nicole! Você não vai ter outra chance de tomar banho tão cedo! -Era Emília, que corria com duas toalhas até o banheiro. -Rápido.

Nicole corria extremamente devagar, chegava a ser engraçado a lerdeza da garota, mas era rápida o suficiente para alcançar o banheiro a tempo. Seria essa sua nova rotina? Não era algo muito chamativo, mas dava para aceitar.

-Ufa. Chegamos a tempo. -Todas estavam retirando suas roupas, mas Nicole não tinha coragem de ficar nua na frente de alguém outra vez, era a primeira vez que tinha a chance de entrar em um banho em grupo, e não era algo muito comum de se ver num mundo como aquele, as mulheres aproveitavam para fofocar ou falar de assuntos extremamente alienados a situação. - Tem algum problema Nicole, você ainda não tirou sua roupa.

-Emília.. Eu não sei se consigo fazer isso…

-Ah, queísso, vamos lá. -Emília puxou a blusa de Nicole, que soltou um pequeno grito, calado pelos dedos da garota.

Era impressionante, Nicole tinha o corpo semelhante a de uma garota de quinze anos de idade, enquanto Emília tinha o corpo muito mais adulto e maduro.

-Vamos, você está fedendo a suor.

O banheiro estava com várias mulheres esperando ligarem a água, algumas faziam piada sobre “não deixe o sabonete cair” ou como aquele local lembrava um banheiro de uma prisão. Outras já escovavam seus dentes com extrema pressa, Brenda era uma delas, foi a primeira a se livrar da escova e correr para os chuveiros.

Então ligaram a água.

Refrescante. Era isso que vinha na cabeça de Nicole, que corria para ensaboar o corpo como as outras mulheres. Olhava para um lado, olhava para o outro e finalmente viu Berta, que ocupava praticamente dois chuveiros sozinha.

-Como ela consegue fazer isso?

-Não me pergunte, ela tem mais dobras que meus lençóis.

-Coitada, não precisam falar assim dela. -Uma velha senhora comentou com elas em meio a risadas. -É a mesma coisa que meu filho disse ontem. Ele é da sua idade, conhecem? O nome dele é Richard.

-Então você deve ser a Ellena!

-Isso mesmo! E você é?

-Emília, prazer.

-O prazer é todo meu.

O chuveiro parou e as mulheres começaram a correr para as toalhas, Emília se enrolava com as duas toalhas que tinha enquanto Nicole, teve que se secar com suas próprias roupas.

-Não precisa,  pode ficar com isso. -Ellena ofereceu sua toalha para Nicole, já havia acabado de se secar, e a garota resolveu aceitar. -Se seque antes dos garotos aparecerem.

A garota se desesperava só de pensar que garotos poderiam acabar vendo ela sem roupa, não gostava nem mesmo da ideia de que mulheres acabariam vendo ela novamente despida. Secou-se mal e porcamente, mas o mais rápido que conseguiu. Haviam algumas roupas preparadas para ela nos armários, Nicole tentou pegar aquelas que lhe pareciam mais confortáveis, e por mais incrível que fosse, elas realmente eram.

Assim que estava saindo, Nicole notou alguns poucos rapazes entrando em fila no banheiro, até a forma que eles eram guiados aos chuveiros era extremamente estrita e organizada que as mulheres.

-Por que os garotos precisam ser tão controlados dessa forma? -Emília cutucava Brenda, que a medida que os garotos passavam, sentia-se menos a vontade para falar.

-Isso é difícil de dizer, mas… Já tivemos um caso de estupro entre os homens no chuveiro. Foi feio. Berta acho que essa seria a melhor solução, eu concordo com ela.

Nicole encolheu-se quando escutou o que Brenda havia dito, a ideia de ter um estuprador entre os homens era assustadora mesmo duvidando que algo de ruim fosse acontecer com ela.

Havia uma fila no meio do refeitório, parecia que estavam esperando pela cantina abrir. Algumas mulheres já estavam sentadas em mesas, apenas conversando.

-Nicole, quer que eu te compre alguma coisa? -Emília se apoiou no ombro de Nicole que ainda estava desconfortável, mas parecia pouco a pouco aceitar o contato.

-A gente precisa comprar nossa comida?

-Bom, não, mas existem algumas coisas opcionais que custam certo dinheiro, se você quer comer um hambúrguer você paga umas cinco moedas.

-Moedas?

-Berta não teve criatividade para nomear as moedas ainda, então a gente só chama de moedas.

-Eu não tenho moedas.

-Uma hora ou outra você consegue algumas, são bem fáceis até. Chega aí, eu vou comprar algo docinho pra você comer. -Finalmente havia chegado a vez delas, Nicole olhou para a cantina, a mulher entregou um pão e uma xícara de café para a garota, já Emília pegou dois pedaços de uma torta que era extremamente chamativa e muito bem feita. -Não precisa comer o pão, pode aproveitar seu pedaço de torta.

-Eu… Não tem problema eu comer um pouco da sua torta?

-Foi minha decisão comprar a torta, pode devorar isso daí.

Essa havia sido a primeira vez que Emília viu Nicole sorrir, parecia algo banal, mas só de fazer a jovem careca ficar feliz seu dia já estava feito.

Nicole por outro lado, comia a torta devagar e cheia de manias, tais como retirar os morangos que estavam no topo e colocar no pedaço que estava prestes a comer, ou arrancar primeiro os cantos para depois comer o resto, chegava a ser cômica a forma que a garota tentava comer sem perder o charme.

-Você é muito garotinha.

-Uh?

-Você é toda patricinha, se você ainda tivesse seu cabelo loiro você iria ficar ainda mais assim. Vou pedir para fazerem umas roupas rosas cheias de babado só para você. Preparar todo um baile só para que você seja a rainha dele.

-Ai meu Deus. -Nicole sentiu-se envergonhada, até parou de comer a torta por um segundo.

-Eu só estou brincando, se acalma. -Emília ria das reações de Nicole, era realmente uma garotinha só precisava esquecer tudo o que havia acontecido.

-Por favor, não fala pra ninguém disso, eles vão ficar me zoando o tempo todo.

A morena caiu na gargalhada, sua risada alta e o fato de estar batendo na própria perna enquanto gargalhava chamavam a atenção de todo mundo ali. A risada era contagiosa, em um segundo praticamente todo mundo estava rindo, ninguém tinha um motivo ao certo, mas era bom rir de vez em quando, a própria Nicole estava rindo sem entender o por que.

-Vamos comer.

E comeram.

 

                                                                    §

A cantina estava cheia, Emília e Nicole conversavam com Richard, Diego e mais um garoto que havia surgido do nada. Era engraçado notar, mas Richard era muito tímido e educado, diferente de Diego e o novato que a cada quatro palavras falavam dois palavrões.

Brenda se aproximava do grupo com uma arma e uma expressão assustadoramente séria no rosto, como se alguém tivesse acabado de morrer.

-Eu preciso que todos vocês venham comigo. -Na mesa, todos, inclusive Nicole, se levantaram e caminharam junto de Brenda. -Eu imagino que vocês sabem que está chegando o natal.

-Sim, finalmente, um pouco de festa.

-Não é bem assim, na época do natal aqui fica muito frio, no último ano muitas pessoas morreram por hipotermia. Foi horrível, a maioria das crianças ficaram sem mães. Esse ano não vamos cometer o mesmo erro, vamos mandar todas as nossas unidades de catadores lá fora pra arranjar qualquer coisa que possa esquentar o local. Madeira, fogo, cobertores, se encontrarem bebidas quentes vai ajudar muito.

-Não.. Quer dizer que… -Emília arregalou os olhos, de um segundo pro outro começou a tremer enquanto Nicole agarrava seu braço, a sensação de segurança havia sumido repentinamente.

-Sim…

-Mas logo hoje? Digo, sem preparo nenhum?! Não!

-Do que vocês estão falando? -Nicole estava ligeiramente assustada, do que estavam falando? Foi então que percebeu.

-Vocês vão ter de lidar com os monstros lá fora.

E começou a chorar.


Notas Finais


O que achou? Comente! Mostre aos amigos e favoritem! Isso ajuda demais, vocês não fazem ideia!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...