As pontas de suas unhas arranhavam suas costas de forma vagarosa, fazendo desenhos abstratos na pele, vez ou outra pressionando a carne com pouco mais de força. Ele continuava a afiar sua katar, mas ela queria sua atenção; tocou sua pele com os lábios, um beijo, uma mordida que aumentava de intensidade:
- Eu tenho que ir - ele disse - Não adianta me tentar
LeBlanc riu, envolvendo os braços no abdômen dele e encostando a cabeça em seu ombro: - Não custa nada tentar
A noite pareceu curta demais para a maga. De bom grado adiaria todos seus planos do dia para ficar ao lado dele, no entanto ele não mostrava tanta flexibilidade quanto ela. Havia acordado cedo e sairia sem se despedir, isso se ela não tivesse acordado.
- E a noite? - perguntou ela - Está livre?
- Se eu conseguir resolver tudo - respondeu simples - não garanto nada
- Quero te ver mais tarde - sussurrou
A resposta de Talon foi o silêncio. Obter uma declaração dele era a mais árdua das batalhas. Mesmo que soubesse que sua vontade de estar junto fosse tão intensa quanta a sua, ele não admitiria isso com palavras; isso seria um ganho bem vindo. No entanto podia adiar esse deleite, um ganho de cada vez e sua vitória atual era tê-lo ao seu lado. Pela janela, LeBlanc viu um corvo pousar na sacada. Agora, ela quem deveria ir embora. Suspirou pesadamente, pensando na remota possibilidade de estourar o animal emplumado e fingir que não o viu, porém sabia que se ela estava ali, era porque Swain a requisitava. Talon se levantou, vestindo suas roupas, a maga se permitiu ficar um pouco mais, olhando o assassino; se sentiu uma tola apaixonada. Apaixonada? Sem perceber, o sorriso que moldava seus lábios se dissipou. Seria isso? Foi um infeliz pensamento, que a fez se questionar sobre o que fizera até então. Foi surpreendida por Talon, que segurou seus cabelos, erguendo seu rosto e tomando seus lábios de forma possessiva. Tudo o que pensara até então se tornou névoa e sua mente se resumiu aquele maldito beijo. Deixou que sua língua guiasse o ritmo, se entregando ao seu sabor. Um beijo rápido que fez seu corpo ferver no mesmo instante.
Mesmo agora podia sentir o sabor dos lábios dele, era uma doce tortura. Mais torturante que isso era tê-lo em seus pensamentos a todo momento. Respirou fundo, tentando esquecer-se de tudo, limpar a mente e se concentrar nos problemas que estavam a sua frente era seu objetivo. Na pequena sala, Beatrice pousou sobre o corpo, bicaria a pele morta se não fosse enxotada por LeBlanc.
- Quantos sabem que ele morreu? - perguntou ao jovem soldado que trouxera o corpo
- Ninguém, creio eu - o rapaz se mantinha firme, apesar do aparente nervosismo, LeBlanc era uma figura intimidadora - o corpo dele foi encontrado junto ao batalhão Noxiano que seguia para estrada de Demacia - limpou a garganta, com receio de proferir informações que deixassem a maga com raiva. Mas continuou, esconder lhe traria mais infortúnios - Parece que isso foi uma.. retaliação
Os olhos de LeBlanc foram a direção do soldado, que estremeceu, voltando a olhar o corpo: - Quem poderia ter feito?
- Eu… - a voz lhe falhou
- Saia - a voz de Swain se fez presente e o guarda soltou a respiração.
O rapaz franzino fez uma reverência desajeitada a LeBlanc e saiu o mais rápido que se atreveu: - Sinto muito por seu brinquedo
- Será cobrado - tocou os cabelos loiros, a pele pálida era uma visão angustiante
- Nenhuma testemunha - Beatrice pousou no ombro de Swain - Isso lhe traz alguma lembrança?
- Tinha de ser feito. Sabe disso
- E foi - mancou até ela, se colocando ao seu lado - Isso também tinha de ser feito. - apontou para o cadáver - Um mal que veio a nosso bem. Ele sabia demais
- Ele ainda me era útil - o semblante triste de LeBlanc pouco refletia seus reais sentimentos.
Ela sentia pesar pela morte prematura de seu aliado, mas não por apego emocional, aquela era uma peça que tinha utilidade. Ponderou por um tempo: - Isso ainda me será útil. Apenas um homem sabe que ele está vivo - ela olhou por sobre o ombro - Havia - sorriu levemente
- Era um bom homem - deu de ombros - E o que pretende fazer?
- Posso assumir esse pequeno fardo - os dedos de LeBlanc foram até os olhos do rapaz, os fechando
Ela assumiria seu lugar, ela seria ele. Lohan agora estava morto, mas seu lugar nos planos de Demacia e Noxus ainda era necessário. Ainda sim, seria cobrado, era certo. O esquadrão que escoltava Lohan não passava de um punhado de três homens, com o brasão de Noxus. A única conclusão que conseguia tirar daquilo era que alguém teria vendido informações aos Du Couteau. Sim, aquilo fedia a Katarina, pescoços com cortes milimétrico, dignos de um assassino de grande maestria. Em especial o corte que adornava o pescoço de Lohan, feito de forma a dar um fim doloroso e lento ao jovem; uma agonizante forma de morrer. Ninguém em Noxus teria tal habilidade se não o General Du Couteau e seus cães. Talon não foi o autor, tinha certeza, passaram a noite juntos. O general não era imprudente ao ponto de dar um passo no escuro, mas Katarina tinha o sangue quente e a audácia para fazê-lo. Qualquer verme que sussurra-se a ela que aqueles homens estavam a seu serviço e isso seria sua sentença de morte. Estava convicta de que a ruiva não sabia que Lohan era um espião. Aquela foi uma vingança fútil e débil; apenas para pagar sangue com sangue. Lohan merecia um fim mais digno, não por ser honroso, mas por sua valia, no entanto não havia lágrimas para ele. E nem tempo.
- Está mais do que na hora de cortarmos algumas cabeças - ela começou
- Não por vingança
- Meu corvo, um motivo tão fútil não me move - simulou um sorriso - Para darmos nosso próximo passo, precisamos nos livrar dele.
- Quando tudo estiver pronto
LeBlanc suspirou, tinha de persuadi-lo, ou as peças ficariam no mesmo lugar. Swain era um estrategista tão bom quanto ela, no entanto tinham maneiras diferentes de conduzir a situação. LeBlanc não hesitava em se sujar de sangue, ao passo que o comparsa sempre se mostrou mais cauteloso e sutil em qualquer próximo passo, principalmente se este envolver algum sacrifício.
- As peças estam em seu lugar, meu corvo - disse de forma meiga - Não podemos hesitar
Poderia insistir na cautela, todavia sabia até onde ia o limite da resiliência de LeBlanc; e há muito chegou ao seu limite.
- Está noite - Swain caminhou até a porta - Eu o farei
A parceria de ambos era um cabo de guerra que mesclava entre ceder e avançar. Ele o faria, não tinha motivos para discutir, muito embora quisesse ter aquele sangue em suas mãos. Ainda sim, valeria a pena. Deixou um sorriso correr em seus lábios.
///
Estava sentado no banco da varanda. A noite estava quente, ainda que vez ou outra uma brisa gélida fizesse sua pele se eriçar. Decidiu a pouco que não iria atrás dela; não iria a lugar nenhum. Estava farto dos pensamentos que tinha, farto de ter LeBlanc em seu corpo e mente. Queria apenas esquecer-se de tudo. Designou esse trabalho ao vinho que bebia, mas mesmo agora, com meia garrafa, não obteve sucesso. Ouviu passos em sua direção e não precisou olhar para saber de quem se tratava. Sem ser convidada, Katarina sentou-se ao seu lado, pegando a garrafa de suas mãos e pondo os pés sobre seu colo. Folgada como só ela conseguia ser. A ruiva deu um longo gole. A julgar pelas roupas que usava, ela não tinha intuito de sair, assim como ele. Um short curto e uma blusa de alça, ela parecia pronta para ir dormir:
- Ele está demorando - resmungou
- Ele sempre demora quando vai ao conselho - respondeu simplório
A ruiva fitava a garrafa, o olhar perdido: - Eu pedi pra ele não ir…
- Porque? - Talon estranhou, por um momento, a forma como a ruiva se portava
- Senti algo ruim - fez um careta de deu mais uma golada no vinho - Não que isso importe para ele
- Um pressentimento ruim não é o suficiente para pará-lo - deu um tapa no pé dela, recebendo um olhar mortífero como resposta - Deixa disso, vai passar.
A ruiva responderia algo, no entanto um alvoroço chamou a atenção dos dois, que se levantaram para fitar o que acontecia. Dois guardas vinham na direção deles, ajudando um homem ensanguentado. Não demorou muito para reconhecerem o rapaz; era Phael, líder da guarda pessoal do general Du Couteau. Foram de encontro ao homem:
- O que diabos..? - as palavras morreram na garganta de Katarina
- Sinto muito… eu… tentei - Phael levantou o rosto a muito custo - Levaram-no
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