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História Destinados - Capítulo V - Diagnóstico


Escrita por: AuroraYumi

Capítulo 5 - Capítulo V - Diagnóstico


Fanfic / Fanfiction Destinados - Capítulo V - Diagnóstico

- Ela tinha um nome sabia? Na verdade, elas tinham nomes. – Engoliu a saliva. Toda vez que se lembrava delas seu coração doía. – Felicity e Yria. – O corpo trêmulo de Angela, ao ouvir os nomes, o fez franzir as sobrancelhas. – O quê? Dói quando eu digo o nome delas? – Fez uma careta irônica. Como se a dor que ela sentisse, não fosse nada comparada à que ele sentia há tanto tempo.

- Por favor... Eu cumpri a minha pena...

- E isso te torna menos culpada? – Interrompeu-a, levantando um pouco o tom de voz.

- Não foi isso o que eu quis dizer. – Segurou as mãos rente ao corpo, que tremiam. Gotículas de suor começavam a brotar da sua testa, o ar parecia rarefeito e se controlava ao máximo para não ter um ataque de pânico.

- Eu sei muito bem o que você quis dizer. – Encarou-a. – Pensou que tudo na sua vida estava se resolvendo, não é? – Começou a andar lentamente pela sala, enquanto ela, que permanecia no mesmo lugar, acompanhava cada passo dele. – Uma casinha no Canadá dada pelos pais, um emprego no Supermercado, um namorado gerente...

- Carl não é meu namorado... – Balançou a cabeça negativamente. Ele parou e soltou um risinho irônico.

- Ele olha para você de outra forma. – Retomou a lenta caminhada ao redor do sofá. Ela franziu as sobrancelhas. – Enfim... Sua vida estava entrando nos eixos. – Colocou-se atrás dela, Angel fechou os olhos. O suor escorrendo pelas laterais do rosto, sentiu um arrepio no pescoço quando ele aproximou os lábios de seus ouvidos. – Eu vim acabar com o resto de esperança que você tem de levar uma vida normal. – Andou lentamente até estar na frente dela novamente. Angel abriu os olhos e ergueu-os. Viu a face de um homem com raiva.

- Você vai me matar? – Ela sabia que não teria a mínima chance de defesa em uma luta contra ele. Era tão pequena e magra que, com os músculos que ele possuía, facilmente a quebraria em pedaços.

- Eu não sou assassino, Angela. – Endureceu a mandíbula. Angel limpou a testa molhada de suor, que já estava fazendo os fios de cabelo da sua franja colarem em sua pele. Ela respirou fundo, aliviada. De alguma forma, ela acreditava que ele não a mataria. – Eu só não vou deixá-la em paz. – Colocou as mãos nos bolsos da calça de moletom que vestia e deu um passo para trás, pegou uma pasta amarela que estava em cima da mesa e ergueu-a em sua direção. – Aqui. – Ela não se mexeu, então ele agitou a pasta no ar. – Leia! – Exclamou, o que a fez se sobressaltar.

- O que é isso? – Segurou a pasta com as duas mãos. - “Presídio do Condado de Devon”. – Leu em voz alta a frase que estava na capa, logo abaixo tinha um selo com assinatura e um código de autenticação do Hospital Psiquiátrico de Plymouth. A cabeça de Angela começou a latejar novamente, piscou algumas vezes para ter certeza do que tinha em mãos. Alguns flashes de lembranças surgiram em sua mente.

Agora se lembrava com clareza de todas as memórias de seus interrogatórios feitos pelo Hospital. A sala fria e clara, com as paredes cobertas por azulejos brancos perfeitamente dispostos. Uma mulher na faixa dos trinta anos, vestida com o seu jaleco, seus cabelos negros penteados em um rabo-de-cavalo alto, uma ficha e um caderno de anotações em cima da mesa amarela feita de ferro. Além disso, no crachá podia-se ler “Dra. Gilda Cusack”. Em suas memórias, Angela estava vestida com um conjunto de calça e camisa brancas, sempre sentada em uma mesma posição: com os pés na cadeira, abraçando as pernas e com o queixo encostado nos joelhos. A voz da Dra. Gilda sempre era distante e fraca, os ansiolíticos que davam a Angela no hospital deixavam-na muito calma, ao ponto de estar dopada.

- Abra e leia. – Uma voz masculina a fez voltar à realidade. – Eu disse para você abrir e ler. – Ordenou, impacientemente.

- Por favor... – Olhou para ela, implorando para que parasse com aquilo. Estava tentando lembrar de outras memórias, anteriores à isso tudo. Se pudesse escolher, escolheria eliminar as lembranças do Hospital e do Presídio, eram terríveis demais para lembrar.

- Se você não vai ler, eu mesmo leio. – Puxou a pasta das mãos dela. – Por onde vamos começar? – Derek folheou as páginas até se encontrar as anotações finais e diagnóstico da paciente. – Sente-se. – Ele ordenou, enquanto fazia o mesmo na poltrona que estava sentado minutos antes. Ela obedeceu, sentando-se ereta no sofá, sentiu a perna doer, a calça de moletom estava começando a colar no ferimento. Derek deu uma olhada para a perna dela e depois encarou-a. Ele sabia o que havia acontecido. – Não fui eu quem fez isso. Foi o idiota do detetive que contratei. – Pigarreou. Ela baixou a cabeça e fechou os olhos. – “A paciente Angela Rivers Campbell está dentro do quadro descrito pelos DSM-V e CID-10, sendo visível a falta de habilidade social, pensamentos negativos sobre si mesma, tensão, alarme e desejo intenso de esquivar-se de situações que serão enfrentadas, ou de fugir de situações que estão já sendo enfrentadas. O diagnóstico é de Fobia Social, sendo de grau três em uma escada de um à cinco. Sabendo-se do diagnóstico, a paciente está disposta a iniciar o tratamento”. – Leu e esperou a reação dela.

E Angela se esforçou para tentar sair daquele lugar. Foram cinco meses de intenso tratamento. Conviveu com pessoas realmente doentes e em determinados momentos pensava que iria enlouquecer de vez. Mas, depois que saiu do Hospital, viu que não era tão pior quanto um Presídio podia ser.

- Me deixe ir embora, por favor... – Sussurrou, com a voz quase falhando. A pele clara de seu rosto estava corada e suada. Não sentia calor, apenas um frio por todo o corpo. Os lábios estavam secos e não adiantava passar a língua sobre eles.

- Fobia social... – Repetiu, olhando para o nada, ignorando o pedido dela. – Nem eu que sou médico consigo acreditar que você passou de um quadro de fobia social grau três para a normalidade em menos de um ano. – Ele riu. – Você deve ser bastante esforçada ou conseguiu manipular muito bem a Doutora. – Fechou a pasta e jogou-a sobre a mesa-de-centro. – Eu aposto na segunda opção. – Apoiou os cotovelos nos joelhos, tentando analisá-la melhor. – Você nunca melhorou isso, não foi? – Ela o olhou, espantada por ele revelar seu segredo. – Você até teve uma melhora, sua fobia passou para grau um a dois. – Ele inclinou a cabeça e enxergou as gotas de suor e a face rubra dela. – Pacientes com fobia social tendem a fazer as coisas com o máximo de perfeição possível, temem o julgamento das outras pessoas. Temem a falha. – Disse. – E foi isso o que você fez para sair de lá. – Deu um riso sem humor. – Enganou muito bem. – Ficou sério novamente. – Mas, eu não sei se isso é um sintoma da doença ou só a sua capacidade de manipular as pessoas. – Recostou-se na poltrona.

- Eu estava assustada e sozinha... você não entende. – As lágrimas escorreram por suas bochechas. – Meus pais não vinham me visitar. – Soluçou. Era a primeira vez que falava isso em voz alta. – Eu só queria ir embora. – O rosto de Derek era uma máscara impenetrável, os olhos coloridos dele analisavam aquele rosto choroso. A única coisa que era possível de ouvir, eram os soluços de Angela. Não havia mais nenhum som vindo do lado de fora da casa, nem mesmo de carros. E por um certo momento, Derek achou aquela cena insuportável de se ver. – Saia daqui. – Falou entre os dentes.

- O-o quê? – Gaguejou. Limpou o rosto úmido com as mãos.

- SAIA AGORA! – Ele se levantou bruscamente. Angela se levantou, assustada. – Você quer que eu te jogue pela janela ou prefere sair pela porta da frente com o resto de dignidade que ainda possui? – Ironizou. Ela ainda o olhou por alguns instantes, mas suas pernas foram mais inteligentes e conseguiram arrastá-la dali com agilidade. Estava na sala de casa, com as costas apoiadas na porta trancada, o coração acelerado.

Se perguntava como teve forças para sair da casa daquele homem. Correu para o quarto e procurou a mochila dentro do velho armário, colocou as roupas dentro sem a mínima preocupação com arrumação, procurou a carteira com o pouco de dinheiro que tinha e colocou a mochila nas costas, preparando-se para fugir, mas, foi interrompida quando o celular tocou. No visor, apareceu o nome de Lauren. E então ela se lembrou do contrato com Madame Fiori e da situação de seus pais. Deixou a mochila cair no chão e sentou-se na beirada da cama.

- Oi, Lauren. – Atendeu o telefone com a voz mais calma que conseguiu fazer.

- Olá! Queria que viesse aqui amanhã no seu horário de almoço para fazer a prova do vestido. – Disse.

- Oh... Claro que sim, eu irei. – Mordeu o lábio inferior.

- Certo! Até amanhã! – Desligou.

Vagarosamente Angela retirou as roupas de dentro da mochila e colocou-as no lugar em que estava antes, fez o mesmo com a mochila. Separou uma roupa limpa e colocou a carteira em cima da pequena estante da sala-de-estar, onde ficava a sua velha TV, que combinava com a casa caindo aos pedaços e tudo o que continha nela. Foi até o banheiro e preparou a banheira para tomar um banho quente, encarou o espelho rachado e a imagem de um rosto inchado e vermelho estava estampada ali.

- Tente ser forte... – Disse para a outra Angela refletida. – Você sempre tentou, não é agora que irá desistir... – Esfregou o rosto com as mãos e retirou as roupas, jogando-as no cesto de roupas sujas. Entrou na banheira e emergiu na água quente, lavou com cuidado a perna machucada. A água quente amenizava a dor de cabeça e seu corpo, que antes tremia, estava começando a se acalmar. Pensou nas palavras duras de Derek, em tudo que ele sabia, na pasta com informações suas...

Ele estava ali para se vingar, para tornar a vida dela um inferno e tudo o que ela queria, nesse exato momento, era tentar sobreviver a tudo isso.



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