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História Destinados - Capítulo VI - Encurralada


Escrita por: AuroraYumi

Capítulo 6 - Capítulo VI - Encurralada


Fanfic / Fanfiction Destinados - Capítulo VI - Encurralada

Era segunda-feira, sete horas da manhã. Angela havia passado o dia anterior no quarto, dentro do seu refúgio, com medo do que Derek poderia fazer a ela. Sabia que tinha que ir trabalhar, mas o pânico de colocar os pés fora de casa e dar de cara com ele, assolava o seu corpo. Precisava se levantar e se arrumar, antes que chegasse atrasada no trabalho. E foi isso o que fez, com o máximo de lentidão possível se arrastou até o banheiro, vestiu uma das únicas duas calças jeans velhas que tinha, com uma camiseta azul desbotada, penteou os negros cabelos lisos em um rabo-de-cavalo alto e olhou-se no espelho do banheiro, percebendo o quão miserável aparentava. Fechou os olhos por alguns segundos e depois saiu do banheiro, tentando não pensar mais sobre sua situação. Iria continuar ali, sobrevivendo ao que quer que acontecesse.

Já arrumada, pegou o celular e a carteira. Notou a sua velha companheira no canto da sala: a bicicleta. Resolveu leva-la até uma loja de bicicletas, que havia no caminho, para consertá-la. Com a bicicleta empenada em mãos, ela saiu de casa, fazendo o mínimo de barulho para que não acordasse o seu mais novo vizinho.

Vizinho.”

- Essa é a palavra mais estranha para descrevê-lo. – Pensou em voz alta.

Desceu devagar os poucos degraus do patamar da varanda até a calçada e deu uma boa olhada na casa ao lado, que assemelhava com as outras casas bonitas da rua, menos com a dela, que já estava precisando de um retoque, porque não dizer uma reforma. As janelas estavam fechadas, a rua estava calma e vazia àquela hora do dia. Colocou a bicicleta embaixo do braço e caminhou com pressa na direção contrária da casa de Derek, aproveitando o fato de que a sua perna já não estava incomodando mais tanto assim.

O clima da cidade de Priceton estava ótimo naquela manhã, havia uma leve brisa e o sol estava escondido entre as poucas nuvens. Mas, nada, nem mesmo o belo dia, conseguia afastar da mente de Angela a conversa que tivera no dia anterior com Derek. Ela não havia o reconhecido na primeira vez que tinha o visto e tinha certeza de que Derek não estava no seu julgamento, por mais que as suas memórias fossem poucas e as que tinha estavam borradas em sua mente. Em seu julgamento, Angel estava sentindo fortes dores de cabeça, sentia-se letárgica por causa dos remédios. Além disso, os policiais queriam resolver logo aquele caso “da adolescente ex-grávida e estranha que se embebedou”, o típico caso da menina perturbada e rebelde. Não queriam perder tempo, por isso, a levaram do jeito que estava para prestar o depoimento. Mas, Angela tinha certeza que não era esse tipo de pessoa, só não conseguia fazê-los acreditarem nisso. Após assistir a todos os noticiários falando a respeito do seu julgamento, do quanto ela havia destruído uma família inteira, as entrevistas com psicólogos, psiquiatras, estudantes e professores do seu colégio, todos dizendo o quanto era perturbada mentalmente e o quanto sempre fora estranha, Angela, chorando, pediu para chamar os policiais e assim, depois de tentar lutar por uma redução na sua pena ou a condenação com trabalho voluntário, resolveu aceitar todas as acusações e desistir do julgamento. Claro que seus pais não se opuseram a nada. Na verdade, o máximo que eles estavam fazendo era pagar o advogado. E, sendo assim, Angela passou por tudo o que uma pessoa frágil e psicologicamente instável poderia passar na prisão...

Seus devaneios foram interrompidos quando esbarrou em um homem alto e musculoso, que vestia um calção preto e regata branca esportivos. Era Derek, que retirou os fones de ouvido quando percebeu que era ela. Os olhos azul-violeta dela se arregalaram, a brisa, que passava levemente, parou e o ar pareceu mais denso.

- Bom dia, Angela. – Ele disse com um leve sorriso malicioso no rosto, como se estivesse prestes a aprontar. Ela sentiu calafrios, não conseguiu falar, apenas tentou desviar dele, mas ele foi mais rápido e se pôs em sua frente novamente. – Espero que tenha um belo dia no trabalho hoje. Não sei se vai ser para você, mas eu terei um ótimo dia. 

- Por quê está me desejando isso? – Franziu as sobrancelhas, encarou aquele rosto que expressava ironia. Aquela conversa não fazia o menor sentido. – Você não gosta de mim, porque desejaria que meu dia fosse bom? – Perguntou, aflita.

- Não quero que você morra e nem que se machuque fisicamente. Eu já falei isso. Mas, estragar os seus dias é bem melhor que te ver morrer ou machucada. – Falava, enquanto enrolava os fones de ouvido e colocava no bolso do calção. – Acho que meu dia vai melhorar consideravelmente. – Disse. – Melhor você ir. Não quer se atrasar para o trabalho, não é? – Checou o horário no relógio de pulso.

- O que quer dizer com isso? O que você fez? – Perguntou,, com a voz trêmula, quase sussurrando. Ele aproximou o rosto e sorrindo falsamente, disse:

- Por que não vai para o trabalho e descobre como será seu dia? – Os olhos coloridos e hipnotizantes zombavam do rosto confuso dela. Angela largou a bicicleta no chão e, tomada pela curiosidade, saiu correndo na direção que levava ao supermercado. Sua mente não deixava de fazer milhões de perguntas sobre o que ele estava falando e se ele havia feito algo para prejudica-la. Descobriu 10 minutos depois de corrida. Entrou no supermercado e viu os funcionários aglomerados olhando para uma parede que ficava perto dos banheiros. Eles se viraram e a viram parada bem atrás deles. Abriram caminho para Angela, que encontrou Carl analisando o que estava ali: recortes de jornais sobre Angela e o acidente.

- Carl... – Disse, tentando controlar a respiração ofegante. Ele se virou e suspirou. Os funcionários cochichavam, deixando-a envergonhada.

- Voltem para o trabalho, logo iremos abrir. – Carl disse para os outros, que obedeceram. Angela deu um passo para se virar. – Você não, Angela. Suba para o meu escritório. – Disse, enquanto removia os recortes da parede e os amassava.

- Tudo bem. – Olhou para aqueles recortes uma última vez e deu meia-volta, indo para o escritório dele. Subiu as escadas com um peso nos ombros. Estava cansada de viver daquela forma, tudo o que queria era paz, que Derek a deixasse em paz. Só podia ter sido ele a fazer aquilo com ela, ele realmente queria destruí-la. Pensou no quanto seria difícil encontrar outro emprego. Entrou no escritório e sentou-se na cadeira em frente à mesa de Carl e esperou por alguns minutos, até ele também aparecer.

- Por quê não me disse? – Foi a primeira pergunta que ele fez logo após se sentar na cadeira.

- Porque eu achei que você não me contrataria. – Disse. O rosto dele tinha a expressão de um Carl tão preocupado com ela, que fez com que Angel ficasse menos apreensiva.

- Nunca faria isso. Eu te aceitei aqui sem procurar seus antecedentes porque você parecia desesperada pelo emprego. Você emanava desespero, Angela. – Falou, com aquela voz calma e serena de sempre.

- Acho que isso já é intrínseco em mim. – Deu um sorriso nervoso. Ele também sorriu. Fez-se um silêncio. – Você vai me demitir? – Perguntou, ansiosa. Ele respirou fundo.

- Não, não irei. Mas, quero que seja sincera comigo, senão terei que demiti-la. – Disse.

- Eu prometo que serei! – O alívio transpareceu em sua voz.

- Ótimo. – Carl encostou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos sobre os lábios. – Foi muito ruim o que aconteceu com você? – A pergunta a pegou de surpresa.

- Um pouco. – Mentiu. Ela sabia o quanto tinha sido horrível. – Mas, eu estou tentando me reerguer. Está sendo difícil. – Lembrou de Derek.

- Você já cumpriu sua pena, agora merece fazer de tudo para não voltar para lá. Irei te ajudar, não se preocupe. – Carl deu um sorriso tímido e ela também sorriu, fazendo um gesto positivo de cabeça. – Vá trabalhar e quero que me avise se os outros funcionários causarem algum problema.

- Obrigada. – Disse, se levantando. – Avisarei. – Saiu do escritório com um alívio enorme. Aquele peso que tinha nos ombros tinha ficado menos pesado. Saber que poderia contar com alguém era maravilhoso. Depois de sair, ela pegou o uniforme e foi trabalhar. Claro que os olhares dos funcionários foram todos direcionados a ela, mas não se importou tanto assim, porque sabia que Carl estaria ali caso eles fizessem ou falassem alguma coisa. Além disso Derek não conseguiu destruir seu emprego e estava feliz por isso.

No horário de almoço ela saiu e foi para a loja da Madame Fiori encontrar Lauren, para fazer as medidas do vestido. Tinha se esquecido que havia deixado a bicicleta largada no meio da rua, antes de sair correndo para o supermercado naquela manhã. Não teria tempo de fazer o caminho de volta e ainda ir na loja, o horário do almoço era curto, então resolveu pegar um ônibus para ir até a loja. Chegando lá, Lauren a aguardava sentada dentro do estabelecimento, lendo uma revista de moda.

- Olá Angela! – Ela sorriu. Os dentes alinhados e alvos, as unhas perfeitamente pintadas, Lauren vestia um vestido de linho azul, os cabelos curtos. Se colocasse Angel e ela lado a lado, com toda a certeza Lauren se sobressaia cem vez mais.

- Oi! – Olhou ao redor e percebeu que o estabelecimento estava cheio por causa de uma promoção de última hora. Mas, Lauren havia deixado o trabalho para as outras vendedoras e estava ali sentada.

- Vamos? Seu horário de almoço é muito curto, não é? – Angel a seguia entre as pessoas dentro da loja. Chegaram até os fundos da loja e entraram no escritório de Madame Fiori, que se encontrava vazio. – Madame Fiori foi resolver um pequeno problema com o buffet que contratou para o leilão. – Lauren disse, como se pudesse ler sua mente.

- Ah, sim. – Viu Lauren retirar uma fita métrica e se aproximar.

- Eu já tenho um vestido aqui da loja, mas teremos que ajustar o busto, os braços e a cintura. Você o verá amanhã, quero fazer uma surpresa. – Sorriu. – Agora abra os braços. - Angela sorriu de volta e fez o que ela mandou. – Nervosa? – Perguntou.  

- Sim... É que... – Angela se interrompeu no meio da frase. Ela sabia o quanto estava nervosa para aquele evento e temia fazer alguma bobagem. – Só tenho medo de estragar tudo. – Disse. Lauren parou e olhou para ela.

- Você não vai estragar tudo, fique tranquila. – Falou com a voz serena. – A maioria das meninas ficaram, mas depois que você recebe o dinheiro, percebe que vale a pena. – Piscou um olho. Angel sorriu timidamente.

- Ok. – Respirou fundo. – E as outras meninas? Elas são da minha idade? – Perguntou.

- Oh! Não! Você é a mais nova aqui. – Lauren baixou os braços de Angela e, com a fita, mediu o quadril e anotou em um bloco de papel. – Algumas trabalham na loja e outras não. Mas, todas tem mais que vinte e cinco anos. Já trabalham aqui há anos e ninguém nunca pediu para sair. O emprego paga bem. – Angela ouvia atentamente enquanto ela tirava a medida de seus braços, pescoço e comprimento da perna.

- Entendo... Posso fazer mais duas perguntas? – Olhou-a nervosa anotando as medidas.

- Manda. – Disse, encostando-se na mesa e esperando.

- Os clientes trocam dinheiro por... você sabe... – Pigarreou. - ...sexo? – Perguntou envergonhada.

- Todos tentam fazer isso, mas depende de você aceitar. Garanto que seria mais vantajoso se você aceitasse a proposta deles, a não ser que você seja virgem. – Lauren cruzou os braços esperando uma resposta. Angela sentiu vontade de se esconder, de tanta vergonha. O engraçado era a tranquilidade de Lauren a falar sobre aquilo.

- Não, não! Eu não sou virgem. – “Apesar de não me lembrar de nada, a criança que eu tinha na barriga foi concebida de alguma forma”, pensou.

- Que bom... – Disse, distraidamente. – E a outra pergunta?

- É... Se você já fez isso? – Levantou os ombros, na defensiva.

- É claro que já fiz! – Deu de ombros. – Mas, hoje em dia eu não faço mais esses serviços, eu ganho um bom dinheiro administrando as finanças de Madame Fiori e organizando as festas. Sou formada em Contabilidade. – Sorriu orgulhosa.

- Oh! Que bom que não faz mais isso... Quer dizer! Eu não acho errado de jeito nenhum, é que...

- Está tudo bem Angela! – Riu. – Eu entendi o que quis dizer. E sim, é muito bom mesmo. – As duas sorriram. – Não está com fome? – Olhou o relógio de pulso dourado que marcava meio-dia e meia.

- Sim... Mas, não tenho tempo. Se eu for almoçar e depois esperar o ônibus, vou chegar atrasada no trabalho. – Angela disse.

- Ah! Não tem problema! A gente almoça juntas e depois eu levo você de carro. – Disse. – E nem ouse recusar. – Interrompeu antes que Angela falasse algo. Lauren pegou a bolsa cor de caramelo, que estava em cima da mesa, procurou as chaves do carro e colocou a bolsa no ombro. – Vamos? – Angel balançou a cabeça positivamente e saíram do escritório.

Após um ótimo almoço na companhia de Lauren, ela levou-a para o trabalho como prometido. A refeição tinha sido regada a risadas e Angela pôde descobrir mais sobre Lauren: ela tinha feito faculdade de Contabilidade, vinha de origem humilde e tinha três irmãos mais velhos, seu pai havia falecido há dez anos atrás e sua mãe morava no interior, começou a trabalhar com Madame Fiori há 6 anos quando tinha 23 anos de idade. Diferentemente dela, Angela falou pouco sobre si, apenas que tinha estado presa e explicou rapidamente os motivos, além de falar sobre seus pais que moravam em outro país. Não queria falar sobre ele. Evitar o nome dele estava sendo sua tarefa naquele momento, já que causava calafrios nela.

- Não esqueça: uma van irá buscá-la amanhã às três da tarde, tente sair mais cedo do trabalho. O leilão começa às oito da noite. – Lauren disse e acenou para Angel que estava em pé, fora do carro. – Até amanhã! – Sorriu e buzinou. Angela acenou de volta e ela acelerou o carro. Respirou fundo e deu meia-volta, entrando no estacionamento do supermercado e foi encarar o resto do dia no trabalho.

No fim do expediente voltou para a casa de ônibus e amaldiçoou ele por tê-la feito largar a bicicleta no meio da rua. Desceu e foi andando até em casa. Pensou em tudo que estava acontecendo em sua vida: um perseguidor, um trabalho como acompanhante de luxo, sua família indo à falência... Apesar de estranha, era uma vida bastante agitada, tinha que admitir. Subiu as escadas da varanda e viu o que parecia, naquela escuridão, sua bicicleta encostada no canto. Uma silhueta emergiu e ela derrubou as chaves, assustada. A silhueta se aproximou mais e ela, em reflexo, agachou-se para procurar as chaves, mas a sombra foi mais rápida e agarrou-as. Angel levantou-se devagar e pôde sentir um cheiro familiar, um perfume amadeirado. Era o dele.

- Derek... – Disse, em um sussurro engasgado e pôde ouvir um curto riso abafado. Ele a empurrou contra a porta de madeira e a encurralou.

- Ora, ora... O que tem de tão especial em você? Continua sobrevivendo a tudo... – Apesar de não poder ver os olhos dele na escuridão, a presença de Derek era quase impossível de não perceber. Ele emanava raiva.

- Eu só quero entrar em casa, por favor... – Fechou fortemente os olhos e se encolheu.

- Você vai entrar em casa, não se preocupe. – Riu. Ele era mais forte, muito mais rico, mais inteligente, mais influente... Poderia fazer da vida dela um inferno. – Eu só quero entender... Como foi que conseguiu ficar no emprego depois de ser pega mentindo ser inocente? – Perguntou.

- Então foi você mesmo... – Engoliu a seco.

- Claro. – Deu outro riso abafado. – Me responda. – Disse, com a voz séria.

- O gerente disse que não tinha problema eu ser uma ex-presidiária... Ele só não queria que eu mentisse. – Sua voz soava esganiçada.

- Hmm... – Derek coçou o queixo e depois se afastou dela, rindo. – Ah meu Deus! – Começou a gargalhar. Angela abriu os olhos, com a expressão confusa. Derek jogou a chave dela no chão novamente e ela correu para pegá-la.

- Do que está rindo? – Perguntou. Ele desceu as escadas, com as mãos nos bolsos da calça. – O que foi?! – Ela gritou nervosamente. Derek se virou, agora sério.

- Imagina se ele sabe que você está mentindo novamente. – Já na luz da rua, Angela pôde vê-lo inclinar a cabeça.

- Não estou mentindo...

- Tem razão. – Ele interrompeu. – Omitindo.

- Do que está falan...

- Sobre você ser uma prostituta. – Derek disse. O coração de Angela bateu mais forte. Ele sabia... Se Carl descobrisse que ela era uma acompanhante de luxo, é claro que ele a mandaria embora. Estava completamente acabada. Mesmo se achasse outro emprego, sempre teria Derek para atrapalhá-la. Estava nas mãos dele.



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