Millie POV
Eu gostaria de enfiar minha cabeça em um buraco. Não podia acreditar que Finn Wolfhard estava parado à minha frente com aquele seu sorriso cínico. Droga.
— Finn... Você se acha demais — respondi. Ele deu uma risada rouca e com a ponta dos dedos arrumou alguns de seus cachos. Revirei os olhos. Aquilo era ridículo. Ok, eu achava esse gesto dele a coisa mais linda de todo o mundo quando criança, mas qual é! Eu tenho 23 anos agora. Minhas percepções sobre coisas bonitas mudaram.
— Bem, me achando ou não... Vocês estavam falando de mim, certo? Espero que algo bom.
— Sempre — sorri cinicamente.
— Finnie! — Sadie gritou, correndo para os braços do cara de quase 1,90cm. Eles pareciam personagens de comercial de margarina abraçados daquele jeito. Talvez eu não tenha conseguido disfarçar minha cara de desgosto, pois senti Noah cutucar meu ombro e perguntar.
— Está tudo bem?
Oh, é claro que não está. Minha melhor amiga está abraçando Finn, mesmo sabendo como me sinto em relação à ele. E não me interpretem mal! Eu o odeio. Ver Sadie com seus dois braços ao redor do corpo dele só me faz pensar que ela precisa ficar de molho em detergente por no máximo uma semana e só então poderá chegar perto de mim novamente.
— Estou ótima — respondi. Noah continuou me observando, como se não tivesse acreditado no que falei. Desviei o olhar, olhando para Sadie e Finn que finalmente haviam se desgrudado. Ela riu e perguntou:
— Então, agora você está seguindo somente a carreira de cantor? Eu nunca mais vi você atuando!
— Bem... Eu faço um trabalho aqui, outro ali. Estou numa fase de filmes indies — ele respondeu.
— Isso é bem a sua cara. Filmes alternativos... — fiz um comentário baixo, mas ele ainda conseguiu escutar.
— Exato, Millie, é a minha cara. Sou ótimo com filmes cults, ou "alternativos ", como preferirem — Finn disse.
O ar ficou pesado após sua resposta. Encarei ele, quase matando-o com um olhar. Ele realmente havia me corrigido na frente de todos? Idiota. Gaten tossiu algumas vezes e desviou minha atenção, felizmente.
— Então, a Ayla está solteira? — perguntou Caleb de repente. Sadie olhou para ele com uma expressão confusa e se eu não a conhecesse tão bem, poderia até dizer que ela apenas estava apenas surpresa por Caleb demonstrar interesse na amiga de Finn, mas consegui captar um rápido vestígio de tristeza.
Oh.
Sadie e Caleb? Quando isso aconteceu? Eu teria que perguntar isso para ela ou então sequer conseguiria dormir hoje à noite.
— Infelizmente, não. Sinto muito, amigo — Finn respondeu.
— Bem, já que terei que aguentar Finn pelo resto da noite, poderíamos fazer isso sentados? Esses saltos estão me matando — reclamei fazendo uma careta.
Seguimos para uma das únicas mesas vazias que haviam no pub, com os outros ainda rindo pelo meu comentário. Todos, exceto Finn. Quando ele passou ao meu lado, aproximou seu rosto o suficiente do meu para sussurrar:
— Se você quiser, carrego você no colo.
— Nem morta — respondi, dando um sorriso.
— Você continua tão encantadora, Mills — disse.
Oh, não! Não acredito que ele havia usado o apelido que... Idiota. Isso é o que ele é. Meu rosto deve ter ficado vermelho de raiva pois logo em seguida ele riu.
— E você continua o mesmo imbecil de sempre — comentei, fazendo com que ele soltasse uma gargalhada ainda mais alta.
Deixei ele andar na frente, com sua calça jeans rasgada e jaqueta de couro. Seu visual era tão... Rock. Finn poderia fingir ser, tranquilamente, algum cara dos anos 80. Mas, por que eu estava prestando atenção ao visual dele? Deus, eu era patética.
Respirando fundo, coloquei o melhor sorriso em meu rosto e segui tranquilamente para a mesa que eles haviam escolhido. Todos já estavam sentados e fazendo seus pedidos para o garçom. Infelizmente, o único lugar vazio era ao lado de Finn. Tentei fazer contato visual com Sadie para trocar de lugar comigo, mas ela estava muito envolvida em uma conversa com Caleb para prestar atenção em mim. E se prestasse, não acho que ela ia querer trocar.
Seria impossível me manter tranquila assim. Bufei irritada e arrastei a cadeira com toda a força. Apenas Finn olhou para mim e sorriu.
— Acho que você vai ter que passar o resto da noite ao meu lado... — sussurrou perto do meu ouvido.
— É mesmo, Sherlock Holmes? — questionei com acidez. — Descobriu isso sozinho, ou...?
Finn riu alto mais uma vez, atraindo a atenção dos outros que estavam na mesa. Sadie olhou para mim com uma sobrancelha erguida.
— Parece que vocês já voltaram a se falar normalmente — Gaten comentou.
— Apenas impressão sua, Gate — falei.
— Ela estava sentindo minha falta. Estamos relembrando os velhos tempos, não é Mills? — Finn murmurou.
— Hmm, não. E pare de me chamar assim.
— Chamar como?
— Oh, você não... Não me obrigue — resmunguei.
— Cara, vocês estão parecendo duas crianças! — Noah interrompeu, olhando para mim e Finn. — O quê? Estamos de volta aos 13 e 14 anos de idade?
— Noah... — comecei, mas ele me interrompeu.
— Não, Millie. Basta! Há alguns anos tudo isso começou. O que aconteceu entre vocês? Por quê vocês parecem se odiar tanto?
— Noah, por favor... Eu pedi para você nunca tocar nesse assunto — falei.
— Não, Millie. Ele têm razão. E sei que os outros devem se perguntar a mesma coisa. Ou você conta para eles... Ou eu conto — disse Finn, olhando seriamente para mim.
— Você é um idiota! — suspirei, devolvendo seu olhar.
— Nós éramos namorados — Finn confessou de repente, olhando para o resto de nossos amigos.
— Vocês o quê?! — Noah, Sadie e Caleb gritaram ao mesmo tempo.
— Oh, meu Deus... — Gaten murmurou.
— Por quê vocês nunca nos contaram? Éramos... Somos... Melhores amigos! — Sadie reclamou.
— Não durou tanto para se tornar algo oficial — comentei.
— Você ficou paranóica — interveio Finn.
— Você me traiu! — gritei finalmente, batendo a palma de minhas mãos na mesa de madeira do pub. Todos olharam para mim assustados, principalmente Finn.
Hmm. Bem, talvez por essa ele não esperava.
***
— Do que você está falando? — escutei Finn perguntar, seus olhos arregalados em minha direção.
— Não se faça de desentendido, Finn. Você sabe muito bem do que estou falando!
— Não... Millie, eu não faço ideia! — falou.
— Ah, por favor, pare de mentir! — pedi. Encarei meus amigos, que alternavam seus olhares entre mim e Finn. Sadie estava de boca aberta, sem qualquer outra reação. Gaten sorria. Caleb parecia ter visto um fantasma. Noah tinha as sobrancelhas erguidas em espanto.
— Millie...
— Não, Finn. Chega! Estou cansada dessa história e de você. Isso está no passado agora — e olhando para os outros, acrescentei. — Pronto! Estão felizes? Agora vocês sabem. Sim, Finn Wolfhard me traiu. Me traiu. E eu o odeio por isso. Satisfeitos? Agora eu posso ir embora?!
Senti meus olhos arderem, mas eu não iria chorar. Pelo menos, não ali. Sadie tentou falar algo, mas antes que conseguisse formar a primeira palavra, levantei da cadeira e segui em direção à saída, escutando meu nome ser chamado por diversas vozes. E eu podia reconhecer a de Finn no meio delas.
Corri o mais rápido que pude, querendo fugir daquele lugar e de todos. Eu sabia que essa noite seria péssima no momento em que coloquei os malditos saltos emprestados de Sadie Sink. Eu já estava fora do pub quando escutei um grito.
— Millie!
Olhei para trás, vendo Finn correndo em minha direção. Não havia sinal de nossos amigos, então eu sabia que eles haviam feito aquilo para nos deixar à sós. Como se eu quisesse isso.
— Vá embora! — gritei.
— Não. Eu não vou. Não até você, pelo menos, me explicar que história absurda é essa que você disse lá dentro.
— Absurda?! Absurdo é você vindo atrás de mim e exigir uma explicação!
— Que merda, Millie! Será que podemos, uma única vez, conversar? Sem brigas, xingamentos...
— Eu. Não. Quero — pontuei, quem sabe assim ele iria entender.
— Millie — ele disse seriamente, segurando meu braço. Mesmo que tentasse, era impossível me livrar de seu aperto. — Há algum engano... Eu nunca trai você. Nunca. Por favor, acredite. Eu jamais faria isso com você.
Senti a primeira lágrima escorrer pela minha bochecha, pegando-me de surpresa. Com a mão livre limpei a lágrima idiota e desviei o olhar de Finn. Ele parecia estar sofrendo, mas eu sabia que tudo aquilo era uma encenação. Eu não iria cair em seu jogo mais uma vez.
— Você sempre mente para mim, não é Finn? — perguntei, minha voz falhando quando disse seu nome. Senti o aperto ao redor do meu braço ir afrouxando aos poucos e por fim, eu estava livre. Não olhei outra vez para ele e sua expressão confusa.
Chamei o primeiro táxi que avistei passar e quando o carro parou ao nosso lado, entrei nele e deixei Finn sozinho, parado no meio da rua.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.