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História Detalhes de quem eu amo - Único


Escrita por: wpetals

Notas do Autor


Ao amor!

Capítulo 1 - Único


Uma das pernas dobradas, a outra amassa o calcanhar, ela está sentada. O rosto de lado, sorriso aberto, seus cabelos bagunçados, um elástico, o que ela sempre usa, prende os fios no alto da cabeça; o tanto que ela mexe os pés é o mesmo tanto que mexe as mãos, inquieta, ansiosa, indecisa, alegre, espontânea, Aurora.

O cheiro dela está no meu blusão, pela gola, pelas mangas, tudo cheira à Aurora. É assim desde que passamos a noite juntas, há mais ou menos três anos atrás, eu tinha vinte e seis e ela dezenove, estava de jeans surrado e camisa com botões, ela de shortinho florido e bustiê cor-de-rosa. Naquela data, o meu cabelo tingido e o dela escovado, poucas palavras, excitação e timidez, ela se abraçava e me abraçava, minuto a minuto, entregando-se mais e mais.

Hoje, agora, está jogando conversa fora, costurando assunto em assunto, achando graça, trocando as pernas na cadeira plástica. Séria, gosta do frio, gosta do calor, de seu casaco xadrez, de miniaturas e fazer amor com as luzes apagadas... Aurora.

Têm almondegas com molho vermelho numa vasilha sobre a mesa do nosso jardim, os convidados saboreiam a segunda dose de comida e não parecem saciados, Chet Faker, I’m into you, tocando ao fundo. Decido que irei tirar Aurora para dançar.

A gente troca olhares, sorrisos, sentimentos, estou bem perto dela, e ela está logo abaixo de mim, levanta-se, esbarrando o corpo esguio no meu, pega minhas mãos com as suas, sorrindo maior que nunca. Aurora se esconde em meu pescoço, eu conduzo a dança, depois de Chet Faker, Tears For Fears, Aerosmith, Legião...

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando tudo embora...

Fecho os olhos, sei que ela fez o mesmo, envolvendo-a pela cintura com um dos braços, seguro firme sua mão direita, nossos dedos repousam uns sobre os outros, apertam-se com gana. Há pessoas dançando conosco ao redor, amigos meus, dela, nossos amigos.

“Um ano de casamento, alguém pode estourar outra garrafa?” Vozes, conhecidas vozes, que não a minha, que não a dela.

Um ano, eles dizem e redizem, um ano de casamento!, alguém fala mais alto; em aplausos, a gente comemora. Eu a beijo. Aurora.

No finzinho da noite, somos apenas nós duas e a bagunça que sobrou do festejo pelo jardim. Ambas carregamos sacolas na mão, catando copos, guardanapos, pratos, pontas de cigarro. Puxo Aurora e a beijo de novo e de novo, sempre que posso, nossos lábios se cruzam, misturam-se, apaixonados.

Dividimos o banho, eu a toco, ela responde, deleita-se em meus dedos, vamos às bordas da banheira, esquecendo o chuveiro, e nos amamos, Aurora por cima, agitada, expressando fragilidade ao franzir as sobrancelhas, abrir a boca e me chamar de amor. Sou todo o corpo dela nesses segundos, cada pedacinho, cada curva, como o horizonte inexplorado, o paraíso, o céu, o azul, Aurora.

E então, viemos para a cama. As fotografias espalhadas pela estante, em porta-retratos, contam sobre nós duas; praias as quais visitamos, museus, galerias... Até a parte dos fundos de nossa casa.

Embaixo dos lençóis grossos, transamos de novo. Eu a chupo, provo seu sabor, que ainda me é uma novidade, não vai deixar de ser. Acariciamo-nos, falamos pouco e o sono nos vence.

Um ano de casamento, Aurora.

Acordo antes dela e lhe escrevo um bilhete:

Amor, Aurora,

O café da manhã será bem gorduroso, amo você.

Deixo o pedaço de folha branca em cima do meu travesseiro. Desço as escadas, chego à cozinha. No balcão de refeições, uma página de caderno com a letra desenhada de Aurora me espera. Não tardo a me sentar e pegar o material para a leitura. Quando ela tinha escrito? Uma surpresa. A esperteza de Aurora! Pensando antes de mim, como o usual.

Difícil surpreender Aurora.

A primeira linha é:

Sara e Aurora

redigido bem ao centro. E depois:

Mundos se atraem porque não podemos viver sozinhos, mundos se completam porque se sentem compreendidos, mundos que se amam, unem-se, mas também se repelem, entram em conflito, atrito. Mundos que fazem parte de outros mundos, só um pedaço ou um bom pedaço ou, ainda, um pouco além disso.

Mundo é uma palavra forte, e perfeita para dar conta da nossa subjetividade, as correntes, reinos e vielas que nos habitam e a nós pertencem, somente a nós, mais ninguém.

Eu e você, dois mundos que têm caminhado juntos. Eu desejo que façamos parte uma da outra, sem nos perdermos, sem esquecermo-nos de nossas correntes, reinos e vielas, porque são elas que nos fazem Sara e Aurora. Por Sara, eu me apaixonei, e eu a amo, amo esse mundo tão diferente do meu e a cada dia me surpreendo com mais uma descoberta da mulher incrível que é ela, que é Sara. Você, meu amor.

Eu te amo. Feliz um ano de casório, três anos, dois meses, uma semana e três dias juntas, meu mundo favorito.

 

-


Notas Finais


Música: Legião Urbana, Vento no Litoral.


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