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História Detetive Bolotinha em: A Pousada de Ipanema - Capítulo Único


Escrita por: LucasFMachado

Notas do Autor


Esta é apenas uma pequena homenagem ao escritor, onde fiz uma releitura de uma de suas obras infantis para um público jovem. Espero que gostem! :D

Capítulo 1 - Capítulo Único


Depois de anos trabalhando apenas com crianças, Ariosvaldo Euclides da Penha, conhecido como detetive Bolotinha, agora era o braço direito do delegado Iasbéqui e se dedicava a todos os tipos de caso, desde os mais simples até os mais complexos.

Em alta temporada, a praia de Ipanema é repleta de turistas de todo o mundo que se hospedam em hotéis, resorts e pousadas. A pousada Karl Marx, pertencente ao velho e rabugento Roberson Dionísio abrigava três casais e dois hóspedes.

Clemência e Nicanor eram um jovem casal de vinte e três e vinte e cinco anos, ela arquiteta e ele engenheiro civil.

João e Astrud Gilberto eram um casal com idade próxima a trinta anos e cujas profissões eram desconhecidas. Astrud era uma mulher doce e bondosa, João era extremamente reservado, raramente falava e sempre se afastava quando próximo a alguém que não fosse a esposa.

Caetano e Cacilda tinham em torno de cinquenta anos e eram um alegre casal de biólogos.

Além dos três casais, a pequena pousada Karl Marx abrigava o padre Noel e a freira Aracy, que se conheciam, eram sorridentes e quase sempre eram vistos conversando sobre assuntos religiosos.

Com o passar dos dias, não tardou para que Clemência, Nicanor, Caetano, Cacilda e Astrud se tornassem amigos. Saíam juntos a passear pela formosa praia eternizada por Tom Jobim e Vinícius de Moraes na canção “The Girl From Ipanema”. João Gilberto não saía com o grupo, permitia que a esposa fosse, mas ele preferia ler ou estudar quieto em seu quarto, pelo menos era isto que Astrud sempre respondia quando questionada sobre o estranho e introvertido comportamento do esposo.

No final de uma linda tarde, o grupo de amigos voltou da praia, jantou em um ótimo restaurante com música ao vivo e se recolheu. Clemência não sentia sono e estava envolvida com a viagem, queria aproveitar cada momento de sua estadia na cidade maravilhosa, assim, levantou-se, saiu da pousada e foi caminhar na praia para observar o mar, ficou ali por quase uma hora, pois chegara no exato momento em que uma moça cantava Sambas e Bossas para uma porção de pessoas. Encantada com a noite linda e com o luau, mal viu o tempo passar.

Quando ela chegou, a pousada já se encontrava com as luzes apagadas, dirigiu-se em silêncio até seu quarto e abriu a porta devagar para não acordar o marido. Contudo, o que viu a encheu de horror.

Em cima da cama, estava apenas a cabeça do seu amado Nicanor, ela queria gritar, mas estava prestes a ter uma síncope, buscou pelo corpo dele, então, olhou na direção do armário embutido e viu sangue, abriu e sob seus pés caíram o tronco e os membros, o horror foi tanto que ela gritou e em seguida desmaiou.

Foi acordada por Cacilda, que avisou o marido da tragédia. Clemência estava em choque, desejava que fosse um pesadelo, mas era a mais pura realidade, seu esposo fora assassinado e esquartejado. Mas quem faria algo assim?!

Nicanor era um bom homem, não fazia mal a uma mosca, não haveria motivos racionais para tal crime. Quando caiu em si, Caetano e Cacilda acompanharam a pobre jovem até a delegacia mais próxima. Ela contou em detalhes, aos prantos, todo o ocorrido para o delegado Iasbéqui, que mal podia crer no que ouvia, pois, em tantos anos de profissão, jamais presenciara tal tipo de crime.

Como não havia nenhuma prova ou pista para descobrir quem cometera tal atrocidade, chamou detetive Bolotinha para investigar o caso.

Caetano costumava levar consigo um microscópio, com as pequenas amostras de sangue que conseguira, não foi possível definir nada, mas julgando pelos tipos de cortes e pela velocidade em que o crime foi realizado, ele e Cacilda tinham quase certeza que a ferramenta utilizada foi uma motosserra ou algum instrumento semelhante. Bolotinha viu as fotos do crime e comprovou a hipótese do casal de biólogos.

Mas quem levaria tal ferramenta para uma pousada que fica no litoral? Bolotinha foi até as lojas que vendiam motosserras em busca de informações e em uma delas foi comprovado que o último comprador de uma motosserra assinou seu nome como “J.G. Pereira”, Bolotinha pediu mais informações, porém, era contra a política da loja revelar nomes de compradores para estranhos, mesmo que fossem detetives.  Todavia, essa assinatura causou no detetive extrema desconfiança, pois, se ele bem lembrava, havia na pousada um hóspede chamado João Gilberto, o que correspondia às iniciais abreviadas. Mas seria realmente ele? E se fosse, por quê? E se não fosse, quem seria?

Detetive Bolotinha foi até a pousada para noticiar o que encontrou e para entrevistar João Gilberto. Porém, quando chegou lá, o dono da pousada, Roberson Dionísio, estava morto. Apenas sua cabeça foi encontrada em cima da mesa da recepção, com seus enormes olhos verdes abertos. Bolotinha buscou pelo corpo de Roberson, mas como não estava na recepção e nem nos arredores, só restava buscar nos quartos.

Em todos os quartos, de todos os hóspedes, o que Bolotinha encontrou era horrível e desumano. Havia pedaços do pobre homem em todos os quartos.

Horrorizado com tantas calamidades, Bolotinha entrou em desespero, teve que sir para tomar ar e fumar seu cachimbo. Quando voltou a calma, ligou para a polícia, que tratou de noticiar o IML para recolher os fragmentos do corpo do velho Roberson.

Como o dono já tinha morrido, sua esposa tratou de assumir e, a pedido de Bolotinha, tudo deveria permanecer da mesma forma.

Quando o detetive pediu para analisar os nomes dos hóspedes, pediu para analisar os nomes dos hóspedes, espantou-se com o que leu. O quarto número dois era ocupado por João Gilberto Pereira e sua esposa, assim, comprovou-se que o nome correspondia com o assinado, além disso, tudo justificava o estranho comportamento do homem.

Todavia, ainda não era possível afirmar nada, então, para não levantar suspeitas, o detetive marcou uma entrevista com todos os hóspedes da pousada.

Clemência chorava muito, pois a morte de Nicanor a abalou profundamente. Astrud falava com naturalidade, mas dava sinais de tristeza pelos ocorridos. João era inteligente e percebeu que o detetive tentava fazê-lo confessar algo ou se perder em suas próprias palavras, mas sua calma espantava, pois, em tal situação, ninguém demonstrou tanto autocontrole sobre as próprias emoções quanto João.

Caetano era um biólogo experiente que já estava acostumado a ver casos do tipo, mas mesmo assim, demonstrou-se revoltado com o caso, assim como sua esposa.

O padre Noel e a freira Aracy demonstraram comoção com a série de assassinatos, fizeram orações silenciosas e desejaram que Deus aplicasse sua justiça divina.

Bolotinha notou que, no quarto de Caetano e Cacilda havia um tapete que apresentava uma pequena mancha de sangue ou de algum outro líquido vermelho. Além disso, quando Clemência desmaiou, os primeiros a acordarem-na foram Caetano e Cacilda. Seria uma situação forjada?!

Confuso, o detetive precisava pensar e reorganizar suas ideias. Decidiu que ficaria afastado por dois dias.

Para tentar aliviar os pensamentos, Clemência, Caetano e Cacilda foram até a praia, comeram peixe, beberam e riram. Adorariam ter convidado Astrud, mas esta preferiu ficar na pousada com o marido.

O grupo de amigos chegou de madrugada da maravilhosa e divertida noite, recolheram-se para seus aposentos e foram dormir, exaustos. Horas se passaram e a dona da pousada, além de Caetano, observaram que Astrud e João não tinham saído do quarto a manhã inteira, o que causou estranhamento, pois eram sempre os primeiros a acordar. Mais tempo se passou e os dois ainda não haviam saído. A dona da pousada e esposa do falecido Roberson, dona Gertrudes, através do interfone perguntou se estava tudo bem, mas não obteve resposta; porém, não deixou de sentir um estranho odor vindo do quarto do casal. Por causa dos macabros acontecimentos, Gertrudes abriu a porta.

Quando viu a cena, gritou espavorida, atraindo a atenção de todos. João estava desacordado, e, em suas mãos, a cabeça de Astrud, que, assim como Nicanor e Roberson, havia sido brutalmente assassinada e esquartejada. O corpo dela estava jogado próximo a porta, e a parede estava manchada de espirros de sangue.

Clemência, Gertrudes, o padre, a freira e os biólogos já demonstravam imenso pavor, pois qualquer um podia ser o próximo.

Astrud era uma mulher linda, de olhos verdes e sorriso invejável, não merecia um fim daqueles. João Gilberto, pela primeira vez na vida adulta mostrou lágrimas, amava sua esposa mais do que qualquer outra pessoa no mundo, era ela quem lhe passava alegria e bem-estar, perde-la foi um grande golpe, como se tivessem arrancado um pedaço de seu coração e de sua alma.

Bolotinha foi chamado, depois que soube de tudo, considerou que João podia ser inocente. No momento do acidente, todos dormiam. Os quartos da pousada possuíam isolamento acústico, então não era possível ouvir muita coisa, apenas pelo interfone, que só a dona da pousada e os hóspedes tinham acesso.

Já cansado de tantos assassinatos, o detetive pediu para que todos os que estavam na pousada saíssem imediatamente. Como apenas Caetano, Cacilda, Clemência e a freira Aracy ainda estavam na pousada além de Gertrudes, não foi difícil.

Depois que todos se retiraram, Bolotinha analisou clinicamente todos os quartos. As manchas de sangue eram visíveis em quase todas as paredes por causa dos inúmeros esquartejamentos cometidos.

Quando estava analisando o quarto da freira Aracy, não deixou de notar uma peculiaridade no colchão de sua cama, havia uma discreta costura na lateral. Tentou romper os pontos, mas estava muito bem costurado, então, o detetive tentou abrir a costura.

Quando menos esperava, foi surpreendido por um sujeito de máscara que tentou esfaqueá-lo, porém, como era experiente, lutou contra o sujeito tentando tirar sua máscara. Porém, o homem era maior e mais forte, conseguindo acertar uma facada em seu braço direito tentou outras, mas o detetive o chutou com força e saiu correndo.

Não havia mais ninguém na pousada e nem em seus arredores, então, com dificuldades, Bolotinha caminhou até o posto de saúde mais próximo para ser atendido.

Por sorte, o assassino não acertou nenhum ponto vital, então, em alguns dias o detetive poderia agir novamente. Não restava dúvidas que o assassino era homem e que tentou assassinar Bolotinha para que não descobrisse nada. Mas, se estava no quarto da freira Aracy, que sentido teria essa história?

O detetive precisou reunir todas as informações que coletara anteriormente e tinha quase certeza de que finalmente tinha encontrado o suspeito.  Então, ligou para Gertrudes e marcou um horário de reunião com todos da casa.

Chegou o tão esperado dia, quem era o culpado de toda a história?

Bolotinha chegou fumando seu cachimbo, cumprimentou todos, respirou fundo e deu início ao seu diálogo:

- Confesso que a primeira vez que analisei, eu já tinha um suspeito em mente e quase mandei o homem errado para a prisão, porém, outras pistas me surgiram para confundir minha cabeça.

Esse caso mexeu muito comigo e estou cogitando voltar a trabalhar apenas com crianças, pois me entristece muito saber que um ser humano é capaz de praticar tantas coisas horríveis apenas por um motivo banal.

Quando confirmei que o objeto utilizado foi uma motosserra, visitei diversos estabelecimentos que vendiam esse produto, e em uma dessas lojas, muito próxima a esta pousada, o último comprador assinou seu nome como “J.G. Pereira”, e confirmei que aquele senhor – disse apontando João Gilberto - se chama João Gilberto Pereira, o que correspondia perfeitamente às iniciais assinadas. Além de tudo isso, seu comportamento sempre me foi estranho, deixava a esposa andar sozinha e ficava no quarto de hotel lendo? Que tipo de cavalheiro faz isso?

Mas, quando sua esposa Astrud faleceu, vi em seus olhos lágrimas reais e, além disso, não haveria nenhum sentido ele mesmo usar um produto tóxico para desmaiar, mesmo que fosse para não levantar suspeitas, haveria outras formas.

Depois, no quarto do senhor Caetano, pude ver uma mancha de sangue no tapete e...

- Um momento, por favor! Eu posso explicar – Interrompeu Caetano, desesperado.

- Acalme-se, por favor... eu ainda não terminei. – Respondeu Bolotinha lacônico – Eu lembrei que o senhor Caetano levava consigo um microscópio e tentou analisar o sangue de Nicanor, logo, seria bem possível que tal mancha fosse causada por um descuido, já que nessa pousada não há estruturas de laboratório.

Mesmo com todos esses acontecimentos, há um detalhe que ninguém reparou. Todas as vítimas tinham olhos verdes. – Afirmou o detetive, deixando todos surpresos.

Voltando ao assunto, Nicanor, Roberson Dionísio e Astrud Gilberto foram esquartejados de uma forma brutal. Os três não se conheciam antes de virem para este lugar e eram totalmente diferentes, a única característica comum a todos era os olhos verdes. Logo, presumi que o assassino tinha algo contra pessoas de olhos verdes.

Quando eu examinava o quarto da freira Aracy, observei uma costura discreta na lateral de seu colchão, estava muito bem feita e difícil de rasgar. Porém, notei que um homem mascarado tentou me assassinar com uma faca. Para mim, ficou óbvio que se ele estava com uma faca, era porque sua motosserra não estava com ele e, o único lugar possível era o tal colchão. Além disso, lembro-me que quando pedi para que todos saíssem, uma das hóspedes me disse que essa pessoa já não estava mais na pousada.

Então, com quase toda a certeza, afirmo que o assassino é... O padre Noel, e teve como comparsa a freira Aracy. – Disse Bolotinha olhando em seus olhos, todos se espantaram com a dedução e uns até duvidaram, mas não havia dúvidas que o mais provável era que os culpados realmente fossem os dois. E isso se confirmou quando Noel saiu correndo seguido de Aracy para fora da pousada, porém, a pousada já estava cercada de policiais, que prenderam os dois.

Depois que Noel e Aracy confessaram tudo ao delegado Iasbéqui e ao detetive Bolotinha, os dois foram até a pousada para esclarecer toda a história.

Noel e Aracy van Basten eram casados na Holanda. No passado, Noel tinha uma pequena empresa de cobrança que ele mesmo tinha fundado e apostado tudo junto com seu amigo, Wilson Batista.

Noel sofria de um pequeno distúrbio mental e tinha algumas dificuldades com números. Wilson sabia disso e aproveitou para transferir todo o dinheiro para sua conta, assim, pôde abrir sua própria empresa e Noel e sua empresa foram à falência. Wilson era um homem forte, malandro e muito inteligente. Mas uma característica visível nele era seus olhos verdes.

Aracy crescera nos subúrbios e ainda na pré-adolescência começou a se prostituir para conseguir viver. Conheceu então Ary, um jovem homem alto, loiro e de olhos verdes que gostou dela e a pediu em casamento, ela havia gostado dele e aceitou. Ary, porém, era um homem violento e batia na pobre mulher por qualquer motivo. Um dia, Aracy apanhou tanto que fugiu de casa.

Encontrou-se com Noel, que já estava paranoico e, por causa de seu distúrbio, cria que todas as pessoas de olhos verdes eram cruéis e não mereciam viver. Conseguiu convencer Aracy disso, tornaram-se amantes e mais tarde se casaram.

Mas, a vida na Europa era miserável e estavam sendo perseguidos pela polícia por terem esquartejado 16 pessoas. Decidiram então que sairiam do país.

Um brasileiro falsificador que estava na Europa por motivos desconhecidos forneceu-lhes falsas vestimentas e certificados da Igreja Católica, então, foram os dois para o Brasil.

A Holanda já havia dado os dois como desaparecidos e, como não houve casos de esquartejamento por anos no país, os crimes cometidos por Noel e Aracy caíram no esquecimento.

Chegaram ao Brasil, cometeram crimes na região nordeste e alguns na região centro-oeste. Depois foram para o Rio de Janeiro e se instalaram na pousada de Ipanema onde seria o final de tantos assassinatos cruéis graças ao detetive Bolotinha.

Dois meses depois do caso na Pousada Karl Marx, o detetive Bolotinha pediu demissão. Iria voltar a fazer o que realmente lhe dava prazer, que era trabalhar com crianças.

Porém, sua inteligência e sua coragem deixaram o nome na história e próximo à pousada foi construída uma estátua dele para homenageá-lo.

 

                                                                                                                                                                                                                      FIM


Notas Finais


Obrigado por ler! ^^


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