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História Diamonds - I love cheap thrills.


Escrita por: ameliat_

Capítulo 2 - I love cheap thrills.


Come on, come on, turn the radio on, it's Saturday and I won't be long

— Sia em Cheap Thrills

 

Janeiro, 2013.

 

Eu sabia que não deveria ter passado todo o meu dia pensando na garota do bar e na sua música, mas eu tinha.

Tinha pensado nela enquanto pintava girassóis na parede da sala do meu apartamento, tinha pensado nela durante todo o almoço com meu pai enquanto o ouvia falar sobre os planos novos para a banda.

Era algo ridículo, eu sabia. Mas não conseguia evitar. Sabia que parte daquilo, era porque eu a tinha ofendido profundamente e me sentia mal por tanto, mas também sabia que parte de mim tinha ficado interessada como um lobo faminto.

Aquilo costumava acontecer comigo, me interessar por alguém que não tinha interesse em mim, e despertava meu senso de desafio. Eu sabia que toda aquela minha obsessão se tratava apenas daquilo, aqueles meus instintos de competição.

Enquanto eu pintava algum quadro aleatório, pensava em como poderia fazê-la me ver de outra forma, talvez conquista-la, e depois, como era usual, descarta-la.

Pintar era um dos poucos prazeres simples que eu tinha. Meu pai costumava dizer que eu tinha herdado o dom da minha mãe, mas eu sempre soubera que ele estava tentando me deixar feliz.

Minha mãe tinha sido uma artista famosa, seus quadros eram leiloados por fortunas, alguns museus costumavam ter exposições permanentes de suas obras. Ela tinha sido uma visionária, uma verdadeira artista. Sempre que via seus quadros espalhados no meu apartamento, o orgulho me enchia os olhos.

Eu, por outro lado, usava a pintura como válvula de escape de uma vida agitada e festeira. Nada que pudesse ser vendido, apenas exposto na casa do meu pai como seu orgulho. Era o que sempre me acalmava e resolvia todos os meus problemas. No entanto, naquele dia, meu maior hobbie tinha sido invadido por uma garota desconhecida e em como eu podia conquista-la.

Não podia estar tão obcecada.

Joguei o pincel de lado e decidi que não ficaria dentro de um macacão jeans sujo, pensando em alguém que eu não conhecia em uma noite de sábado.

Com aquele pensamento, eu tomei banho e corri pelo closet, pegando uma camiseta e um par te jeans e alguns saltos.

Usei a maquiagem habitual, os olhos delineados bem marcados e puxei meu celular de baixo do travesseiro, enviando uma mensagem para meu bom amigo Cameron dizendo que estava pronta para festejar em alguma boate, regados a bebidas e loucuras.  

O plano era ficar bêbada, levar alguma garota para casa e esquecer aquela obsessão que beirava a loucura. Eu podia ter a garota que eu quisesse, não precisava daquela.  

Calcei os sapatos enquanto colocava meus óculos, em seguida liguei para o motorista do meu pai que sempre estava pronto para me levar para onde quer que eu quisesse ir.  

Encontrei Cameron na frente de uma boate. Ele estava impaciente, batendo o pé no chão e corri para abraça-lo com força. Também éramos amigos desde o colégio e ele era sempre quem me acompanhava em festas.

Assim que entramos, notamos que o lugar estava lotado. Compramos pulseiras VIP e subimos para uma área reservada da boate. Antes de nos sentar, pedimos a uma garçonete uma garrafa de champanhe e outra de vodca.

O plano de ficar bêbada estava em andamento.

Sentamos em um dos sofás perto da parede e me inclinei para meu amigo para comentar algo, quando ele se levantou e correu para abraçar alguém que vira na multidão. Imediatamente, eu virei e encontrei Nicky com uma taça de drink na mão.

Rapidamente marchei até onde minha melhor amiga estava, prestes a cobrar o motivo de ela não ter me chamado para sair naquela noite, quando eu vi uma mulher de cabelos loiros ao seu lado e senti meu coração saltar uma batida.

Nicky corou quando me viu, e pelo olhar, ela tentou me dizer que aquele era o motivo de não ter me convidado para festejar juntas.

Tentei disfarçar minha hesitação e encarei a garota.

 

— Parece que você é quem está na minha área hoje – tentei fazer piada, mas minha voz saíra estranha.

— Sua amiga tentou me confortar depois da sua gafe, me trazendo em uma festa cara – retrucou, então ela virou para Nicky – Você me disse que ela não viria.

— Uma garota desdenhando Alex, é novidade – Cameron riu.

 

Logo, minha amiga passou o braço pelos ombros de Piper e o outro pelo meu braço.

 

— Vamos apenas curtir a noite, esquecer que a Alex é babaca quando bebe e que você foi ofendida – Nicky dissera, tentando ser diplomática.

 

Não dissemos nada, apenas nos deixamos ser conduzidas por Nicky para uma mesa.

Cameron, como um bom gay, sentou-se ao lado de Piper e embalou uma conversa animada que ela parecera gostar. Aparentemente, seu problema era comigo. Contrariada, virei minha primeira dose de tequila da noite e do outro lado da mesa, Piper pareceu fazer o mesmo.

Logo, a dose de tequila começou a se multiplicar e então veio o champanhe e logo, a vodca. Eu começava a sentir meu corpo ficar quente, quando Nicky me puxou para a pista de dança.

Tocava Just Dance da Lady Gaga, e eu começava a balançar meu corpo ao ritmo da música.

Mas percebi rapidamente que Cameron tivera a mesma ideia que Nicky e arrastara Piper para dançar. E ela dançava tão sensualmente quanto cantava.

 

— Vi você interessada, então tentei limpar sua barra, tentando mostrar que você era legal – Nicky sibilou no meu ouvido.

— Acho que essa barra está muito queimada – respondi.

— Acredito no seu potencial.

 

E então, ela me deixara ali.  

Continuei dançando e me aproximei de uma garota para dançar, sabendo que aquele era a pior forma de atrair a atenção de alguém.

Enquanto meu corpo se movia junto com o da desconhecida, notei Piper deixar Cameron e ir cambaleando pela festa, tentando desviar das pessoas.

Sem pensar, disparei atrás dela, segurando seu braço, quando estávamos próximas ao banheiro.

 

— Me solte! – ela gritou.

 

Foi então que eu percebi que ela estava completamente bêbada.

Seus olhos tinham diminuído e seu rosto estava vermelho como um tomate. Parecia enjoada e tonta.

 

— Venha comigo. Eu conheço um lugar longe dessa festa que você vai poder tomar um ar e melhorar – Pedi.

 

Por um segundo, Piper avaliou suas opções.

 

— Quero deixar claro que estou indo com você só porque você é filha de Paul Vause – ela me assegurou, com sua voz completamente embargada.

— Quando eu era criança achava uma droga ter um pai famoso, parece que finalmente encontrei uma vantagem – falei, enquanto a guiava para o lado de fora da boate.

— Não flerte comigo, Alex Vause – ela pronunciou meu nome de um jeito quase sensual – ainda tenho a opção de gritar e dizer que está abusando de uma bêbada.

— Acredito no poder artístico do meu pai.

 

A conduzi até o lado de fora e a fiz sentar na calçada e me sentei ao seu lado.

 

— Essas festas são sempre assim? – ela perguntou.

— Com alguém bebendo demais e sentada em uma calçada?

— Pare, estou fingindo que sou uma garota descolada que visita festas como essas. Falo de... Pessoas artificiais.

 

Pensei um pouco naquilo.

 

— Acha que sou superficial?

— Você é superficial, Vause?

 

Antes que eu pudesse responder, ela começou a expulsar toda a bebida do seu corpo e eu segurei seu cabelo gentilmente para que não os sujasse.

Ela levantou o rosto e limpou a boca.

 

— Sabe, eu não sou filha de John, o dono do bar. Não de verdade. Meu sobrenome é Chapman. Minha mãe morreu quando eu era criança, eles eram nossos vizinhos e me adotaram. Então quando você falou aquilo, senti vontade de te bater de verdade. Socar a sua cara riquinha.

 

Soltei uma gargalhada do modo como ela falava.

 

— Eu sinto muito por aquilo, como Nicky disse, sou babaca quando estou bêbada.

— Mas está legal agora – refletiu.

— Sofro de bipolaridade alcóolica, nunca sabe o que esperar.

 

Ela riu e então voltou a vomitar.

 

— Quando eu era criança – ela disse, assim que voltou a limpar a boca – eu pensava em como deveria ser triste ter a mãe morrendo da forma como a sua morreu. Você deve ser a pessoa mais forte do mundo.

 

Engoli a seco o comentário. Não costumava falar sobre minha mãe, porque ninguém nunca sabia como falar daquele assunto. Sempre parecia que estavam com pena de mim. A pobre garota que todos viram na televisão perder a mãe. A pobre garota criada por um pai astro do rock e babás diferentes.

No entanto, Piper não falava com pena de mim, ela dizia como se, de fato, me admirasse.

 

— Não diga isso, nem eu mesma sei como sobrevivi a isso.

— Nem eu quando soube que tinha HIV.

 

Parei por um segundo e a encarei, sem saber como as palavras tinham escapado da minha boca.

Então ela soltou uma gargalhada, me deixando ainda mais desentendida.

 

— Agora é a parte que você sai correndo e acha que sou uma vadia que transou com todos sem preservativo. – ela ergueu um dedo – mas não, mocinha! Minha mãe fez isso por mim. Eu nasci assim. Por isso odeio essa sua carinha rica de ter ofendido minha família, aqueles que estão comigo sempre, com ou sem vírus. 

— Piper... – gaguejei – eu sinto muito.

— Não sinta, apenas seja babaca.

 

Mas eu não conseguiria nunca mais ser babaca.

Algo mudara ali.

A puxei e deitei sua cabeça bêbada em meu colo, lugar que ela ficaria por muito tempo.

 

 

Novembro, 2015.

 

 

Ainda estava paralisada ao lado de Nicky quando Piper, sozinha, começou a dar os últimos passos que a separavam de onde estávamos, ignorando as pessoas que falavam com ela.

Tentei pensar em todas as coisas que eu falaria para ela, mas nada vinha na minha mente.

Na verdade, tinha passado um ano fazendo um roteiro na minha cabeça de como seria nossa primeira conversa depois de tudo que tinha acontecido entre nós, era um discurso inflamado e emocionado que a faria me perdoar e me aceitar de volta, mas, aparentemente, o discurso tinha desaparecido da minha cabeça, de repente, tudo que eu sentia era que estava ofegante.

O fato era que eu tinha magoado Piper da forma mais cruel que alguém poderia ter sido magoada, e como castigo, decidi que faria trabalho voluntário, para tentar compensar o mundo, de alguma forma, por minhas falhas.

Passara o último ano todo usando a herança da minha mãe em algo que a deixaria orgulhosa.

Sabia, pelas ralas ligações do meu pai e as visitas raras de Nicky que Piper tinha se tornado uma cantora de sucesso. Suas músicas invadiram as rádios e todos sabiam seu nome. Eu sabia que ela odiava a exposição, odiava ser famosa, gostava de estar na proteção e conforto do bar de John, então sempre me perguntava como estaria lidando com aqueles holofotes sobre ela.

Agradeci aos céus por estar no meio dos desertos da África e nenhum rádio me trazer as músicas de Piper. Todavia, todo aquele agradecimento desapareceu assim que retornei ao país e fui encontrar meu pai, ele ouvia uma das músicas de Piper nas alturas. Assim que o questionei sobre aquilo, ele apenas sorriu, dizendo:

 

— A menina tem uma voz maravilhosa, Alex. Adoro essa rouquidão. Ainda bem que você partiu o coração dela.

— Por nada, pai. Eu que agradeço pela gentileza de me lembrar que eu sou uma filha da puta – eu disse, sarcástica.

— Não fale da sua mãe assim – ele me censurou.

 

Mais tarde, como uma boa pagadora de pecados, me surpreendi cantarolando a música que meu pai ouvia pelo ateliê e o detestei por fazer aquilo comigo.

Agora ali estava eu, ao lado da minha melhor amiga e Piper estava caminhando na nossa direção e tudo que eu conseguia pensar era no quanto ela continuava bonita.

 

— Nicky! – ela cumprimentou abraçando-a.

 

Mas a vez de me cumprimentar, Piper, apenas virou-se para mim e com um aceno dissera:

 

— Oi, Alex.

— Piper! – eu pronunciei seu nome com uma animação exagerada, tentei me recompor – Olha só você, é famosa agora.

 

Ela sorriu, presunçosa.

 

— Quem diria, eu, Piper Chapman famosa. As coisas só aconteceram de um jeito que não previ...

— Eu imagino.

 

Nicky tossiu do outro lado.

 

— Então, moças, odeio interromper o drama The L World aqui, mas eu preciso... Beijar aquela garota – ela apontou para uma garota aleatória.

 

E assim, ela sumiu pela multidão me deixando sozinha com Piper.

Não sei quem ficou mais constrangida com a situação que Nicky deixara, se era eu ou ela, a vi corar levemente e cocei minha testa, sem saber o que dizer e me amaldiçoando por esquecer o roteito.

 

— Seu pai me disse que você estava na África, parece legal, Alex...

— Ah é, foi ótimo – concordei.

 

Não fazia ideia que meu pai mantinha contato com Piper, imaginava que eles podiam ter se encontrado em alguns eventos, os dois faziam parte do mesmo grupo de pessoas, mas sequer sonhava que eles conversavam e falavam da minha vida, muito menos sonhava que Piper de interessava pelo que eu fazia.

Fiquei imaginando o que mais ele tinha escondido de mim e o que mais eles tinham conversando, mas principalmente, como tinha surgido o assunto na conversa dos dois. Fiz uma nota mental para perguntar ao meu pai assim que o visse novamente o que ele e Piper tinham conversado na minha ausência.

 

— Alex – me chamou parecendo séria – Sobre o que houve...

— Acho que se vai começar a falar sobre o que eu fiz a você no ano passado, quem tem que fazer o discurso sou eu, mas aparentemente ele sumiu da minha cabeça no momento – a interrompi.

— Não... Espere – ela cortou – Bem, a culpa de tudo aquilo foi minha. Eu sabia a sua fama, eu te pesquisei no google, não devia ter surtado daquela forma.

— E quando eu acho que já vi de tudo na vida, você vem tentar se culpar pelas merdas que eu fiz na vida.

 

Ela deu uma risada, mas era uma risada sem graça.

No fundo, a loira sabia que eu estava certa, nada justificava o que eu fiz com ela. E por mais que gostasse de tê-la ali na minha frente, eu entenderia se ela nunca mais falasse comigo.

 

— E sério, você me pesquisou no google?

— Sim – confessou, corando – assim que cheguei em casa depois daquela noite em que eu estava bêbada na boate, eu pesquisei seu nome na internet.

— Acho que sou eu quem devo te pesquisar agora.

 

A careta que Piper fez ao me ouvir me fez rir imediatamente.
Então, ela suspirou, séria.

 

—  O que quero dizer é que gosto da sua companhia... Acho que devíamos ser amigas, ou tentar ser, eu senti sua falta...

 

Ela continuava falando, mas depois dela mencionar nossa possível amizade, eu tinha parado de prestar atenção. Estava concentrada demais no que estava sentindo naquele momento.

Parecia que ela tinha acabado de enfiar uma lança no meu peito com toda a sua força.

Fiz força para não demonstrar, então sorri da maneira mais casual que consegui e acenei com a cabeça, concordando com o que quer que ela estivesse falando.

Mas, quando parecia que tudo estava ruim, conseguiu piorar.

A namorada de Piper surgiu atrás dela, abraçando-a por trás e beijando seu pescoço de um jeito íntimo.

Suprimi a segunda vontade de vomitar da noite.

 

— Alex, deixa eu te apresentar... – Piper começou – Essa é minha namorada, Stella. Baby, essa é Alex Vause.

— Vause? – ela se animou – Filha de Paul Vause?

— Sim, sou – confirmei – achava isso uma droga quando era criança, mas houve um dia em que ser filha dele foi uma vantagem.

 

Pisquei para Piper e ela apertou os lábios tentando conter a risada.

 

— Baby, precisamos ir. Você ainda tem que falar com a Rolling Stones.

 

Piper concordou com a namorada e se virou para mim.

Nossa despedida foi estranha, ela tentou me abraçar, mas não sabíamos ao certo onde colocar nossas mãos. Quando finalmente achamos um jeito de nos abraçarmos, fui dominada pelo cheiro do seu perfume, ainda era o mesmo.

Assim que Piper sumiu com Stella pela multidão, duas coisas ficaram claras na minha cabeça: a primeira era que eu ainda a amava e a segunda era que ela estava fora do alcance.

 

 

 



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