História Diário de um garoto depressivo - Vazio

16 de julho de 2016.

Férias. O que significava aquilo para Tiago? Bom, para ele, férias era uma palavra que poderia facilmente ser confundida com inferno, já que ambas pareciam estar tendo o mesmo significado. Que ele odiava ter de ir a escola e conviver ao lado de um grupo extenso de pessoas, isso já era um fato, mas ele acabou por descobrir que também não suportava viver em casa sem ter nada para fazer.

Ele tinha a companhia de alguns amigos na escola, e esses garotos de vez em quando até pisavam na bola com ele, mas ele não ligava muito, pois poderia contar pra eles os problemas que estava passando em casa, e aquilo na verdade não melhorava nada, mas era como se ao fazer isso, ele dividisse o fardo, tornando tudo menos pesado, menos denso. Agora estava sozinho. Não tinha nem internet e casa para ter algum contato com eles, então seus dias eram desgastantes.

Somente nos dias que já tinham se passado desde que as férias começaram, ele estava enlouquecendo, pouco a pouco. Ele queria ser útil em casa, mas não tinha um emprego, o que o fazia sentir-se um zero a esquerda. Ele brigava com sua mãe, e todas as noites chorava, ouvindo música após música de sua playlist já preparada para os piores dias - que no momento, estavam sendo todos -.

Naquela noite de sábado, ele se sentiu mais solitário do que nunca, pois tinha passado o dia discutindo com sua mãe, e aquilo não foi nem um pouco agradável. Ele  colocou uma música em volume máximo no seu fone e então decidiu usar seu diário para externar sua dor, afinal, ele estava tentando ao máximo evitar os cortes que fazia em seus braços.

Então, trêmulo, ele pegou sua caneta e escreveu:

" Ok. Eu tento. Tento dia após dia ser o filho que ela espera que eu seja, mas NÃO CONSIGO! Qual é meu problema? Eu não consigo ver! Minha vida parece que está em um loop infinito, no qual todo dia eu tenho um motivo diferente para querer nem sequer estar vivo. Eles dizem que eu estou só me fazendo de vítima. Minha mãe me diz isso. Meu pai me diz isso. Será que eles sabem o quanto isso machuca? Eles sabem o quanto isso dói em mim? Dói mais do que qualquer machucado físico, porque isso não machuca minha pele, mas sim minha alma.

Não consigo conviver ao lado de ninguém, nem a garota que eu tanto amava conseguiu me suportar e acabou por me deixar. Será que ela sabe o quanto sinto falta dela? "

Nessa hora Tiago estava em contraste entre seu lado mais sombrio e seu lado mais criativo. Sentiu o nó se formar em sua garganta, seus olhos arderem, e em meio às lágrimas que caiam na folha, escreveu versos que expressavam o que ele sentia pela garota que tanto amou um dia.

"Você é o furo na minha cabeça

Você é o silêncio que ficou

Entre o meu pensamento e o que eu falei

Agora tudo ecoa pelo vazio

Você é o medo durante a noite

Você é a manhã, quando o dia clareia

Quando isso chega ao fim, você é o começo

Não há luz, nenhuma luz nos seus brilhantes olhos azuis

Nunca imaginei que isto viria assim à tona

 Eu faria qualquer coisa para te fazer ficar aqui comigo, mas você decidiu seguir em frente "

Ele sabia que precisava esquecer ela, e depois de escrever aquilo, conseguiu tirar ela dos pensamentos momentaneamente. Então continuou:

" Hoje as coisas foram realmente muito difíceis, não sei ainda o que acontecerá amanhã, e sabe, me machuca tanto quando brigo com a minha mãe, pois digo coisas das quais não queria, das quais jamais falaria a ela, mas que na hora surgem do nada em minha mente. Eu me sinto vazio. O vazio deveria ser... Bem, vazio. Mas não, não é. Esse meu vazio é pesado, é escuro, é cheio dos meus piores medos. Não aguento isso tudo! Parece que não consigo achar o final desse túnel que entrei. Por hoje acho que devo dar um tempo e não pensar mais em nada, ou acabarei fazendo alguma idiotice maior. Obrigado por me ouvir, diário."

Seus olhos estavam inchados, ele decidiu dormir, afinal, aquele dia e aquela noite tinham sido muito intensos para ele, o suficiente para deixa-lo muito cansado  a ponto de pegar rapidamente no sono e se desconectar desse mundo. 

Mal sabia ele que as coisas poderiam sim, ficar piores.