Quando cheguei à escola na sexta fui direto para a sala ansiosa, pois havia chegado à conclusão que eu deveria confiar mais em Júlia. Estava num momento importante da minha vida, e como minha melhor amiga ela tinha o direito de ficar a par de tudo, principalmente de um passo tão importante que eu havia dado nesses últimos dias. Assim que entrei, Marion deu uma risada irônica, mas eu estava feliz demais para me importar com ela. Avistei Júlia já sentada no mesmo lugar e andei o mais rápido possível, me sentindo radiante e envergonhada por tudo que tinha que contar a ela.
— Como está a sua vó? – Perguntei ao sentar, me lembrando que ela havia comentado sobre a avó dela estar doente.
— Bem. – Ela respondeu sem olhar para trás.
— Tenho tantas coisas para te contar, Júlia! – Falei animada.
— Eu imagino. – Ela disse com a voz seca, ainda sem me encarar.
— Aconteceu alguma coisa? – Não era possível que ela continuaria estranha comigo pelo fato de Frederico estar namorando, como se eu pudesse ditar para ele quem ele podia namorar ou não.
— Sabia que eu te liguei quarta-feira à noite? – Ela virou me encarando séria.
— Não, ninguém me disse nada.
— Por que você iria querer saber, não é? – Ela deu com os ombros e voltou a olhar para frente. Não estava entendendo o comportamento de Júlia, e estava prestes a pressioná-la a me falar o que havia acontecido quando a professora de inglês entrou na sala.
— Bom dia, hoje vamos fazer algo diferente, vamos dividir a sala em duas turmas e fazer um debate. – Fiz uma careta, detestava ter que falar em público, quanto mais ter que argumentar. – E quero que vocês escolham o tema. – Marion olhou para trás me lançando um olhar maldoso e levantou a mão. – Sim, Srta Baker?
— Sra. Anderson, porque não falamos sobre mentiras. Acredito que a Luiza pode nos dar um bom exemplo. – Todos olharam para mim.
— Do que você está falando garota? – Levantei encarando-a sem entender nada.
— Por que você não conta para todos como é que você ficou com o Shawn Mendes? – A sala inteira riu. Olhei para Júlia e ela abaixou a cabeça. Não podia acreditar que ela havia feito isso comigo. – Porque eu sei que é mentira, a Aaliyah mesmo que me disse.
— Você nem conhece a Aaliyah! – Gritei para ela.
— Senhoritas, por favor, nada de brigas dentro da sala de aula. – Pediu a professora.
— Vai me dizer agora que foi o próprio Shawn Mendes quem te disse isso? – Ela falou rindo, seguida de todos ao redor.
— Meninas, chega com essa discussão ou eu vou mandar as duas para a direção.
— Calma Sra. Anderson, eu só estava querendo dizer para a Luiza que inventar mentiras é muito feio. – Marion disse me encarando ironicamente e todos riram baixinho.
— Então por que você não veste a própria carapuça? – Perguntei tentando manter a calma enquanto saia pela porta da sala.
— A onde vai, Srta. Villar? – Perguntou a professora, mas eu ignorei e continuei andando. Me sentei em um banco próximo ao pátio e apoiei a cabeça nas mãos. Não podia acreditar que a Júlia havia feito isso comigo, logo ela que se dizia minha melhor amiga há tantos anos, na verdade a única que eu tinha, e a quem eu estava disposta a confiar meus maiores segredos. Por que mais cedo ou mais tarde as pessoas sempre me deixavam? Eu não sei o que havia comigo que sempre as afastava, e acabava me decepcionando no final. Acho que por isso tinha tanto medo de Shawn um dia acordar e descobrir que eu não era aquilo que ele queria e me deixar como todos sempre faziam. E eu não sei o que faria sem Shawn, ele era o ar que eu respirava e o motivo de cada batida acelerada do meu coração.
Alguém sentou ao meu lado e eu levantei a cabeça para olhar pensando ser Júlia, já estava a ponto de gritar, questionando porque ela havia feito aquilo, revelado meus segredos à pessoa que mais me odiava no mundo, quando percebi que era Matheus.
— Eu acho muito injusto o que estão fazendo com você. – Ele disse meio sem jeito.
— Obrigada. – Respondi segurando as lágrimas.
— Quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar.
— Eu sei, Matheus, você sempre foi um grande amigo. – Apertei a mão dele de leve. Ele chegou mais perto e me abraçou apertado, e descontroladamente as lágrimas começaram a rolar do meu rosto, molhando a sua camiseta azul, que combinava perfeitamente com os seus olhos. Me afastei enxugado as lagrimas.
— Não fica assim, não vale a pena.
— Eu estou bem. Mas não quero mais falar sobre isso.
— Está certo. Vai ao baile? – Ele perguntou mudando o assunto.
— Que baile?
— O baile que estão organizando no colégio.
— Ah, ouvi falar. – Eu havia visto alguns cartazes de um baile que estavam organizando para arrecadar fundos para a formatura.
— Estava pensando se você não queria ir comigo… – Olhei para ele, Matheus sempre fez o típico bom moço, sempre atencioso, era difícil ter que decepcioná-lo.
— Desculpa, Matheus, mas eu não estou com cabeça para esse baile.
— Tudo bem, eu compreendo. – Dei um meio sorriso para ele.
— Vou tentar ir para casa. – Eu disse ao me levantar. – Faz um favor para mim?
— Claro, o que é?
— Pega minha mochila? Não quero voltar naquela sala mais hoje.
— OK. – Ele disse se levantando e indo em direção a sala de aula enquanto eu caminhava até a diretoria. Inventei uma desculpa para a diretora dizendo que estava passando mal e ela acabou me liberando. Matheus me encontrou no portão da escola e me entregou meu material.
— Obrigada. – Disse.
— De nada, se cuida. – Eu apenas assenti e saí pelo portão.
No caminho de volta para casa, peguei o celular e digitei uma mensagem para Júlia.
“Não acredito que você fez isso, pensei que você fosse minha amiga!”
Já estava quase chegando em casa quando ela respondeu.
“Também pensei que você fosse minha amiga, mas aparentemente agora você tem outra. Está até dormindo na casa da cunhadinha!”
Entrei em casa indignada, não acreditava que Júlia estava se prestando a esse papel por tão pouco.
“Não acredito que foi por isso, você é patética Júlia!”
Subi direto para o meu quarto, estava nervosa demais, e as lágrimas continuavam descendo descontroladamente pelo meu resto. Eu não sabia mais em quem podia confiar. A única amiga que eu achava que tinha, eu já nem conhecia mais. Fiquei pensando no que as únicas pessoas em quem eu achava que poderia confiar diriam para mim se soubessem de tudo o que estava acontecendo. Minha mãe provavelmente diria que nem tudo pode ser perfeito, e muitos ganhos trazem juntos muitas perdas também. Porém não há nenhum bem que dure para sempre e nenhum mal que não tenha fim. Meu pai me diria que discussões e desentendimento fazem parte de todo tipo de relacionamento, e só servem para fortalecê-lo, pois se você realmente tiver algo, ele nunca deixará de ser seu, e isso se aplicava perfeitamente ás amizades. Ele sempre me dizia que não existiam ex-amigos, ou sempre serão ou nunca foram. Eu concordava com ele.
Mas e Shawn? O que será que ele me diria agora? Penso que ele me diria que cedo ou tarde Júlia iria cair em si e descobrir o erro que cometeu. Para ele, o tempo sempre era o melhor remédio e eu esperava mesmo que fosse. Ao pensar nele a saudade pareceu me devastar por dentro, tudo parecia tão mais fácil quando estava nos seus braços, lá não havia problemas, não havia maldade, e a única coisa que havia para me preocupar eram as horas que passavam cada vez mais rápido ao seu lado.
Peguei o celular e digitei uma mensagem para ele:
“O que você está fazendo?”
Demorou algum tempo até que a resposta chegasse.
“Estava dormindo, por quê?”
“Nada, só queria saber. Desculpa te acordar.”
“Está tudo bem?”
“Gostaria de dizer que sim.”
Alguns segundos depois meu celular tocou, era ele.
— Oi. – Atendi.
— O que houve? – A voz sonolenta de Shawn perguntou do outro lado.
— Você não precisava ter ligado.
— Precisava sim, me conta o que aconteceu.
— Problema com amigos.
— Que tipo de problema?
— Não os ter.
— Me conta o que houve, você está me deixando preocupado, Luly!
— Desculpa. – Contei para ele o que Júlia havia feito, e para minha surpresa ele ficou tão indignado quando eu, mas ainda assim disse que as coisas iam acabar se resolvendo. – Sinto como se não tivesse mais ninguém. – Eu disse tristemente. Havia algo em Shawn que me fazia falar mesmo sem sentir vontade, era como se a segurança que ele me transmitia me fizesse perder o medo até de ouvir as minhas próprias palavras.
— Claro que você tem. Você tem a sua família e você tem a mim.
— Ainda.
— Eu não sei a sua família, mas eu sempre estarei aqui.
— Promete? – Eu perguntei em meio às lágrimas.
— Prometo. – Eu respirei fundo, limpando as lágrimas e até pude sorrir de emoção ao ouvir aquilo.
— Obrigada.
— Agora para de chorar, e eu prometo também que vou te ver o mais rápido possível.
— Eu não estou chorando.
— Está sim. Por que você não tenta dormir um pouco, para descansar e esquecer essas coisas?
— Eu não vou conseguir.
— Vai sim. Eu fico aqui com você, até um de nós dois dormir.
— E se você dormir primeiro?
— Vou fazer um esforço.
— Então canta para mim? – Ouvi sua risada pelo telefone.
— Tudo bem. – Então eu fui entorpecida por aquela voz doce e encantadora, aquela voz que me fazia esquecer de todos os problemas, esquecer o mundo e me teletransportar para outro universo, onde existia só eu e aquele garoto, a onde todos os sonhos se tornavam real e toda a minha vida se transformava em um lindo conto de fadas.
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