Voltei para dentro da casa procurando por Shawn, na esperança de poder me desculpar, mas foi em vão, ele não estava mais lá. Parei novamente ao lado de Roberta e Pedro, e puxei o braço dela.
— Não estou me sentindo muito bem, quero ir embora.
— Ah agora não dá Luiza, eu e o Pedro combinamos de dar uma voltinha no carro dele. – Ela piscou para mim. – Aguenta mais um pouco aí.
— Não, eu quero ir embora agora. – Eu estava irritada.
— Larga de ser chata Luiza! – Pedro chegou por trás dela, mordendo o seu pescoço. – Estamos nos divertindo!
— Vou ligar para o meu pai. – Estava saindo quando ela segurou meu braço.
— Espera aqui, só um minuto. Eu já volto. – Ela saiu puxando Pedro, conversou com Eduardo alguns instantes, o rapaz que estava conosco no começo da festa, e voltou com os dois logo atrás.
— O Eduardo vai te levar para casa. – Ela disse.
— Não precisa se incomodar, eu ligo para o meu pai. – Disse para o rapaz enquanto tentava localizar meu celular.
— Imagina Luiza, o Eduardo é meu amigo, ele te leva!
— Eu já estou indo para casa mesmo. – Disse o rapaz.
— Só um minuto. – Disse para os dois garotos e saí puxando Roberta a alguns passos de distância. – Roberta ele está bêbado!
— Não está não. Luiza por favor, quebra esse galho para mim!
— Tudo bem. – Aceitei, não queria ficar bancando a chata.
Roberta e Pedro nos acompanharam até o carro de Eduardo. O vento gelado passava pelo tecido fino da minha blusa, me fazendo arrepiar.
— Parece que vem chuva por aí. – Disse Pedro
— Você se importa? – Perguntou Roberta.
— Nenhum pouco! – Os dois riram.
— Aqui estão as minhas chaves. – Ela me entregou um molhinho de chaves com um chaveiro de gatinha. – Essa é a do portão. Não tranca, porque eu vou ficar com a da porta da cozinha.
— Tudo bem. – Entrei no carro depois de Eduardo, e logo estávamos a caminho de casa. Eu olhava pela janela as ruas lá fora, conhecia pouco da cidade. Fazia aproximadamente um ano e meio que meu pai havia se mudado, e eu só o visitei duas vezes. Normalmente ele ia para Whitby no Natal ou outras datas comemorativas.
— Então você é de Whitby? – Perguntou Eduardo.
— Sim. – Respondi, e voltei a olhar pela janela.
— Você é sempre tímida assim?
— Às vezes. – Eu desejava poder chegar logo na casa do meu pai. Quando de repente Eduardo para o carro numa rua escura e deserta.
— Não, não é aqui. – Eu disse.
— Relaxa, vamos conversar um pouquinho. – Ele disse se aproximando de mim.
— Não, eu quero ir para casa! – Disse enquanto afastava a mão dele do meu cabelo.
— Eu sei que você quer, sua prima me disse. – Ele tentava beijar meu pescoço.
— Não, eu não quero, e ela não é minha prima. – Eu afastava o rosto dele.
— Você é muito linda, sabia? – Ele passava a mão pelas minhas pernas, me causando repulsa. Afastei as mãos dele novamente, e ele segurou os meus braços com força.
— Me solta! – Eu tentava me desvencilhar dele.
— Fica quietinha. – Ele disse calmamente, e me beijou a força. Tentei me soltar, mas foi inútil. Então mordi seu lábio inferior com toda força que eu consegui. Ele se afastou levando a mão na boca.
— Você é louca? – Ele gritou. Rapidamente abri a porta do carro e saí correndo pela rua, mas ele saiu logo atrás e conseguiu me alcançar.
— Volta aqui! – Ele me puxou de volta pelo cabelo e me encostou no carro.
— Por favor, me solta! – Eu chorava.
— Fica quietinha, ninguém mandou você ser uma garota má! – Ele beijava o meu pescoço enquanto tentava arrancar a minha blusa. E a cada vez que a sua mão passava pelo meu corpo, eu sentia mais nojo dele.
— Me solta ou eu vou gritar!
— Não vai não! – Ele tapou minha boca com uma das mãos, enquanto com a outra tentava desabotoar minha calça. Eu o arranhava tentando afastá-lo, mas nada adiantava, ele era mais forte do que eu. Fechei os olhos e chorei baixinho, enquanto aquele estranho tentava tirar a minha roupa. De repente ouvi o barulho de uma porta batendo, e no instante seguinte Eduardo não estava mais em cima de mim. Abri os olhos e o vi sendo arrastado por alguém que usava uma jaqueta preta. Meus joelhos cederam, e eu escorreguei pelo carro, caindo no chão. Senti um líquido escorrendo pela minha testa, e só então percebi que havia começado a chover. Encostei a cabeça nos joelhos e tentei não pensar no que estava acontecendo, mas as vozes dos dois rapazes se sobressaíam aos meus pensamentos.
— Não se mete cara, ninguém te chamou aqui!
— Fica longe dela! – O rapaz falou destacando cada palavra. Levantei a cabeça subitamente, eu conhecia aquela voz, era totalmente familiar, era essa voz que estava na minha mente o tempo inteiro. Deveria estar delirando, tentei me concentrar na conversa dos dois.
— Quem é você? – Eduardo continuava gritando
— Eu sou o cara que vai acabar com você, se você encostar mais um dedo nela de novo! — Ele se virou para mim e eu pude ver o seu rosto perfeito. — Você está bem? – Shawn perguntou enquanto me ajudava a levantar.
— Estou. — Abracei ele, apertando-o com força. Ele estava ali, era real. Essa não era a cena que eu imaginava para quando finalmente conseguisse aquele abraço que eu tanto desejei, mas eu me sentia segura ali nos braços dele, e eu queria poder não o soltar nunca mais.
– Fica longe! – Ele vociferou para Eduardo que estava se aproximando. – Você está tremendo. – Ele disse para mim enquanto se afastava e tirava a sua jaqueta preta.
— Eu estou bem, — Respondi enquanto ele colocava a jaqueta sobre os meus ombros.
— Vem, está chovendo. – Ele me guiou até o carro preto que estava no meio da rua com as luzes acesas. – E você deveria ficar feliz por eu não te denunciar para a polícia! – Ele acrescentou para Eduardo que estava com a boca e nariz sangrando.
Shawn fechou a porta do carro, e entrou logo em seguida pelo outro lado.
— Está tudo bem com você? Ele te machucou?
— Não, está tudo bem.
— Eu estou hospedado em um hotel aqui perto, vou te levar até lá. Você se seca, se acalma um pouco, e depois eu te levo para casa, tudo bem? – Eu assenti.
Ficamos mudos a metade do caminho, até que eu finalmente quebrei o silêncio.
— Obrigada. – Disse timidamente.
— Por nada. Estamos aqui para salvar donzelas em apuros.
— Eu deveria te chamar de herói ou de príncipe encantado?
— Você deveria me chamar apenas de Shawn!
— Eu não sei o que teria acontecido se você não aparecesse.
— Não vamos pensar nisso, certo? – Eu assenti novamente. – Eu apenas estava passando no lugar certo, na hora certa.
— Graças a Deus!
— E como é o seu nome?
— Luíza.
— Eu me lembro de você, a garota que derrubou bebida em mim!
— Ai meu Deus, essa parte você podia esquecer! Eu fiquei com tanta vergonha, me desculpa.
— Tudo bem, eu vi que não foi sua culpa.
— Você trocou de roupa onde?
— Peguei o carro do organizador da festa emprestado, e fui até o hotel.
— Entendi. Você devia estar voltando pra lá agora, e eu aqui te atrapalhando. Me desculpa mais uma vez.
— Não estava com a intenção de voltar mesmo. Aquele é seu namorado?
— Quem?
— O rapaz do carro.
— Não, claro que não. Ele é amigo da enteada do meu pai, e estava me dando uma carona para casa.
— Entendi. – Ele disse olhando pelo retrovisor. – Chegamos. – Ele estacionou em frente a um hotel no centro da cidade, abriu a porta para mim e me guiou até o saguão. O hotel era bonito, a decoração era clássica, com grandes quadros nas paredes em tons pastéis.
Shawn abriu a porta do quarto, me dando espaço para passar, e entrando em seguida. Era uma suíte, com uma grande cama no centro e portas de vidro na sacada. Tudo estava muito organizado, exceto por uma mala de viagem vazia aberta no canto. Ele entrou no banheiro, e voltou trazendo uma toalha branca.
— Para você se secar. – Disse ao me passar a toalha. A essa altura eu não estava mais tão molhada. Peguei a toalha e tentei secar meu cabelo, enquanto Shawn retirava a sua camiseta preta, deixando a mostra a sua barriga definida. Ele não era muito magro, nem gordo, tinha o corpo perfeito, e que fiquei olhando hipnotizada enquanto ele vestia uma camiseta branca que havia acabado de pegar em um guarda-roupa.
— Eu não te vi saindo da festa. – Eu disse sentando na cama.
— Saí pelos fundos, não queria chamar a atenção.
— E por que não queria voltar para lá?
— Estava com a cabeça cheia de coisa, precisava dar uma volta.
— Deve ser chato ter tanta gente te cercando. – Comentei. Ainda o olhava como se não pudesse acreditar que ele realmente estivesse ali na minha frente. Como se fosse um sonho que eu nunca mais quisesse acordar.
— Eu já me acostumei, mas não é por isso.
— É pelo que? – A pergunta saiu automaticamente, quase sem querer. – Desculpa, não é da minha conta.
— Não é um segredo. – Ele deu com os ombros. – É só a pressão, por mim mesmo sabe? – Assenti. – A correria também, a saudade de casa, a bebida que derrubaram na minha camiseta. – Ele riu.
— Me desculpa, de verdade. – Senti minhas bochechas queimarem.
— Não precisa ficar se desculpando, se entende com a dona Karen depois.
— Meu Deus, agora que eu estou perdida. Sua mãe vai me matar.
— Eu não duvidaria. – Nós dois rimos, e ele sentou em uma cadeira próxima a cama.
— Você é daqui de Oshawa?
— Não, sou de Whitby. Vim por causa do show.
— Que legal linda, e você está aonde?
— Na casa do meu pai.
— Seus pais são separados então?
— Sim, se separaram quando eu tinha quatorze anos.
— Deve ser bem complicado ter os pais separados.
— No começo sim, mas agora já é normal. Meu pai até casou de novo.
— E como é?
— Eu não tenho muito contato com a esposa dele, mas ela me parece ser bem legal, sempre tenta agradar, e também é bem bonita. Só a filha dela que eu acho um pouco problemática demais.
— Como assim?
— Rebelde, sabe?
— Sei sim. – Ele assentiu. – E ela é filha do seu pai também?
— Não, ela tem a minha idade. Meu pai se casou recentemente.
— Entendi. E você tem mais irmãos?
— Um irmão.
— Mais novo?
— Mais velho, dezenove anos.
— E você tem quantos?
— Quase dezessete. – Eu ri um pouco envergonhada.
— E ele mora com você?
— Infelizmente!
— Vocês não se dão bem? – Estava me sentindo entrevistada, mas ainda assim estava adorando tudo aquilo, afinal era o Shawn que estava perguntando sobre a minha vida.
— Só quando ele abre a boca! – Ele riu.
— Eu tenho uma irmã também, mais nova.
— Eu sei, a Aaliyah.
— Você conhece ela?
— Eu sei tudo sobre você! – Ele deu um meio sorriso tímido. – Ela se parece muito com você.
— Você acha?
— Acho.
— Nós nunca fomos muito de brigar. Somos muito amigos, na verdade. Mas acho que isso é normal entre irmão, e com o tempo para. Uma hora alguém se cansa.
— Acho que o Frederico nunca vai cansar de me irritar.
— Mas ele é seu irmão, no fundo ele te ama.
— Jeito estranho de amar.
— Cada um ama do seu jeito.
— Sendo amor é o que importa.
— É o que importa. – Ele concordou. – Espera um minuto, eu já volto. – Ele disse ao sair do quarto.
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