História Dicotomia - Doce Acordo

(Narrado pela autora) 

Já estava quase amanhecendo, Chara sentia que precisava voltar para casa. Não quis ir para o bar do Grillbys, então, passou a noite no campo. Ele não queria que Frisk o visse naquele estado. Olhou em seu relógio, 06:00. Soltou um longo suspiro e levantou-se, bateu a grama da roupa e pôs as mãos nos bolsos.  

Ele voltaria apenas para tirar Frisk daquela casa.  

'Cause I had the best of the worst sides 
(Porque eu tinha o melhor dos piores lados) 

Suas pernas doíam, o cansaço fazia seu corpo todo necessitar apenas por algumas horas de sono. Quando chegou em casa, bateu algumas vezes na porta. "Merda! Eu esqueci a chave!", pensou. Tudo o que fez foi bufar, então sentou-se na calçada, a fim de esperar que alguém lhe atendesse.  

Quando Chara percebeu que estava demorando demais, sentiu que algo estava errado, e não era porquê estava cedo, já que seus pais sempre acordavam cedo. Levantou-se e esfregou as mãos uma na outra, então bateu novamente na porta.  

— Mãe! — Exclamou, já com desespero tomando conta de sua mente. — Frisk!  

Algo estava errado, por que ninguém atendia? Por que sentia que algo ruim havia acontecido?! Chara quase enfartou quando viu a porta sendo aberta lentamente, entretanto, o alívio se foi quando viu uma figura negra com um sorriso amedrontador no "rosto".  

— Chara... — Ele riu. — Você já estragou tanto a vida dessa família...o que ainda faz aqui?  

— O que VOCÊ faz aqui? — Chara alterou a voz. — Vai embora, essa casa não é sua.  

— Pobre Frisk...tenho tanta pena del... 

— O que aconteceu com ela?!  

— Você mata as pessoas sem saber...incrível!  

— Fala logo, porra! O que aconteceu com ela?! 

— O que acontece com uma pessoa quando leva um tiro? — Riu, novamente, então passou as mãos pelo rosto de Chara, sujando-o com algo vermelho. Parecia...sangue. — Às vezes a pessoa morre, às vezes não...talvez você descubra quando for ao hospital.  

You ain't you when you're like this, this ain't you and you know it 
(Você não é você quando você está assim, este não é você e você sabe disso) 

Chara não esperou nada, apenas começou a correr da forma mais rápida que podia para o hospital. Ele simplesmente não poderia acreditar que algo assim tinha acontecido!  

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Quando chegou, praticamente foi invadindo o hospital. Ignorou algumas pessoas e apenas foi até a recepção. Estava tão nervoso e alterado que mal conseguia falar.  

— Por favor...tem alguma Frisk Dreemurr aqui? — Perguntou, tentando controlar a respiração.  

— Frisk Dreemurr? — A moça pareceu checar alguns dados no computador, então Chara quase sentiu seu coração parar quando ela franziu as sobrancelhas. — Bem, senhor, preciso saber seu nome.  

— Chara. Chara Dreemurr, eu sou...irmão dela.  

You don't know how to let go who said this must be all or nothing 
(Você não sabe como deixar ir quem disse que isso deve ser tudo ou nada) 

Chara foi acompanhado por uma enfermeira até a sala que Frisk estava, entretanto, antes de entrar, respirou fundo. Sentiu seu coração doer quando a viu deitada na cama, tomando soro. No pequeno sofá ao lado da cama, estava Toriel e Asgore, ela estava dormindo e ele, fazendo carinho em sua cabeça.  

— Qualquer coisa, é só chamar. — A enfermeira disse, fechando a porta.  

— O que você está fazendo aqui?! — Asgore logo levantou-se. — Não vê o que fez com sua irmã?!  

— Por favor, Asgore. — Toriel também levantou-se. — A culpa não é dele... 

— Se ele não tivesse saído, isso não teria acontecido!  

— Verdade, e quem mesmo me expulsou de casa? — Chara perguntou, arqueando as sobrancelhas, fazendo Asgore se calar. — Mãe...o que aconteceu com ela?  

— Filho, você precisa ter calma, certo? — Toriel sorriu gentilmente, tentando disfarçar sua dor. — Ela...levou um tiro...só que... — Lágrimas começaram a escorrer. — Ela não vai poder mais andar... 

'Cause I'm a fucking mess sometimes 
(Porque eu sou uma porra de confusão às vezes) 

— O que? — Chara perguntou, não acreditando no que acabara de ouvir. — O que você disse? 

— O médico disse que...foi sorte que não tenha afetado o bebê. 

— ...b-bebê?  

— Então você não sabia? — Asgore perguntou, seriamente. — Frisk está grávida e você é o pai, infelizmente.  

Chara não conseguia digerir tanta informação. Agora tudo fazia sentido! As variações de humor, o peso, comportamento, tudo! Ele deveria sentir-se feliz, mas...tudo o que sentia era culpa. Culpa por não ter conseguido proteger Frisk quando pôde, culpa por ter se deixado envolver e estragado a vida de uma das pessoas que mais amou na vida. Ele não poderia deixar isso continuar.  

— Pirralho? — Sans chamou, aparecendo do nada no quarto. — Sei que é um momento difícil, mas...o teste tem que ser hoje.  

— Como assim o teste tem que ser hoje? — Chara murmurou. — Eu não quero fazer porra de teste nenhum! Se não fosse por esse maldito teste nada disso teria acontecido! 

— Eu entendo, mas voc... 

— Não! Você não entende merda nenhuma! — Chara aproximou-se de Frisk e beijou sua testa suavemente. — Eu...vou dar um jeito. — Tocou levemente na barriga dela. — Pra nós três.  

— Pirralho, você não sabe o que isso pode causar! — Sans exclamou. — Os testes são feitos justamente pr... 

— Me deixa em paz... — Ele começou a chorar. — Eu não quero estragar mais nada...vai embora, por favor.  

Sans soltou um longo suspiro, então assentiu.  

But still I could always be whatever you wanted 
(Mas eu ainda poderia sempre ser o que você quisesse) 

— Quem diria...o inabalável Chara chorando...lembro do tempo que você era criança.  

— Puta merda. — Chara suspirou. — Dá pra me deixar em paz você também?  

— Vim aqui para te oferecer um acordo. — Ele sorriu.  

— Não tô nem aí pros seus acordos. Me deixa sair daqui.  

— Ora, desse você vai gostar. — Ele foi até Chara e ergueu seu rosto. — E se você arrancasse a determinação negra de uma vez? Não teria mais conviver com esses...surtos, e eu te deixaria em paz. O que acha?  

— Eu não acredito em você. — Chara se afastou. — Por que eu deveria acreditar em você?  

— Porque eu posso te fazer ter surtos piores. — Gargalhou. — Vamos, Chara, eu sei que você quer aceitar. Afinal, seria uma troca justa. Você me liberta e eu te liberto.  

— Como assim...te libertar?  

— Da mesma forma que você não gosta de mim aí dentro, eu não gosto de ficar preso em você. Então...retirando toda a determinação negra, finalmente ficarei livre de você, e... — Ele sorriu de forma maldosa. — Você ficará livre de mim.  

And I got way to many routes to take to make this all just go away 
(E eu tenho muitas rotas para tomar, para fazer tudo isso ir embora) 

— ...eu tenho outra opção? — Chara suspirou.  

— Não. — Ele ergueu sua "mão", ainda com o sorriso no rosto. — Temos um acordo?  

But I'm addicted to hurting 
(Mas eu estou viciado em machucar) 

— Sim. — Afirmou, apertando a mão daquela coisa.   

Just cause I wanted or maybe I need it 
(Apenas porque eu queria ou talvez precisasse disso)