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História Do Outro Lado Da Seleção - Quebrando o gelo


Escrita por: gabibmesq

Notas do Autor


Olá, meus queridos!
Depois de algumas {pequenas} negociações, aqui está mais um capítulo 😅
Espero que gostem! 😘

Capítulo 3 - Quebrando o gelo


Parei ao seu lado e vi que ela observava um vaso de flores ornamentais. Comecei a observá-lo também, sem saber o que dizer. Mas o silêncio logo me incomodou, então resolvi quebrá-lo da forma mais simples:

 - Tudo bem com você?

- Sim - ela sussurrou.

Olhei para ela. Apesar de sua resposta, ela parecia apreensiva, preocupada.

- Você não parece bem.

- O que vai acontecer com as criadas? - perguntou.

Seus olhos denunciavam sua sincera preocupação. Por um segundo, pensei não ter entendido direito sua pergunta. Talvez porque a preocupação de todas as outras era com elas mesmas - o que não era errado, claro, mas nenhuma pareceu se lembrar se suas criadas.

- As criadas? - perguntei, querendo ter certeza de que havia entendido sua pergunta.

- Sim, as criadas - ela respondeu simplesmente.

Olhei em seus olhos. Ela estava com uma expressão triste, parecia querer chorar, mas se controlava para que as lágrimas não viessem. Estava preocupada de verdade. Não pude deixar de admirá-la ainda mais. Mesmo com sua vida em risco, ela se preocupava com os outros. Mais que isso, ela se preocupava com pessoas que ninguém mais se preocupava - ou mesmo se lembrava -, com pessoas menos privilegiadas que ela. Então, como um estalo, lembrei que suas condições antes de entrar na seleção não eram muito diferentes de qualquer uma das criadas. Tentei acalmá-la:

- Elas devem estar escondidas. Também têm onde esperar o fim dos ataques. Os guardas avisam rapidamente todo mundo. Elas vão ficar bem. Costumávamos ter um sistema de alarme, mas na última invasão os rebeldes o destruíram completamente. Estamos tentando consertar, mas... - suspirei.

As coisas não estavam sendo fáceis ultimamente. As invasões dos rebeldes eram cada vez mais frequentes, e consertar todo o sistema de alarme levaria tempo.

America olhou para o chão, ainda preocupada. Não pareceu convencida de que as criadas realmente estavam protegidas. 

- America... - chamei, ela levantou o rosto e me olhou. - Elas estão bem. Os rebeldes agiram devagar, e todo mundo aqui sabe o que fazer em caso de emergência.

Ela concordou com a cabeça. Parecia acreditar dessa vez. Permanecemos em silêncio por um tempo, mas até mesmo ficar em silêncio com ela era menos constrangedor para mim do que ficar perto de mulheres chorando. America quebrou o silêncio com um sussurro:

- Maxon...

Virei para ela, um pouco surpreso por ter sido tratado sem formalidade. Gostei disso.

- Sobre a noite passada - ela continuou. - Eu quero explicar. Quando foram nos preparar para a viagem, um homem disse que eu jamais poderia rejeitar você. Não importava o que pedisse. Em nenhuma hipótese.

Tentei absorver aquilo.

- O quê? - perguntei, incrédulo.

- Pelo que ele me disse, parecia que você ia pedir algumas coisas. E você mesmo me contou que não conviveu com muitas mulheres. Depois de dezoito anos... E você dispensou as câmeras. Fiquei com medo de que chegasse perto demais.

Fechei os olhos e balancei a cabeça, tentando processar toda aquela informação. Eu não podia acreditar que insinuaram para ela que eu tentaria esse tipo de coisa. E então pensei em algo ainda pior. Abri os olhos.

- Disseram isso a todas? - perguntei, perturbado com a possibilidade todas pensarem isso de mim.

- Não sei. Não conheço muitas meninas que precisam desse tipo de aviso. Elas provavelmente esperam uma oportunidade para atacar - comentou, apontando a cabeça para as outras meninas.

Não pude segurar uma risada sarcástica. 

- Mas você não é como elas, até porque não teve receio de me acertar uma joelhada bem ali, certo?

- Eu acertei sua coxa - ela se defendeu.

- Por favor. Um homem não precisa de tanto tempo para se recuperar de uma joelhada na coxa - argumentei com bastante ceticismo na voz.

America soltou uma risada, e eu fiz o mesmo. Fiquei grato pelo clima pesado ter ido embora. E então, como se para me lembrar de que estava me protegendo de um ataque rebelde, um projétil atingiu a janela. Nós dois cessamos o riso ao mesmo tempo. Contudo, America não demorou para iniciar outro assunto.

- E então, como é ter que lidar com uma sala cheia de mulheres em prantos?

Lembrei-me de como havia sido complicado conversar com as outras meninas. Só de lembrar, já ficava nervoso de novo.

- Nada no mundo pode ser mais confuso! - cochichei rapidamente. - Não tenho a menor ideia de como fazê-las parar.

America parecia prender o riso. Eu não achava aquilo engraçado, não mesmo. Ou talvez só um pouco.

- Você pode tentar pôr a mão no ombro delas e dizer que vai ficar tudo bem - ela sugeriu. - Quando choram, as mulheres nem sempre querem que você resolva o problema. Elas só querem ser consoladas.

- Sério? - perguntei, confuso.

- Sim.

- Não pode ser tão simples - disse, pensando no assunto.

- Eu disse "nem sempre", e não "nunca" - ela adiantou. - Mas provavelmente funcionaria com várias garotas aqui.

Franzi o cenho. 

- Não tenho tanta certeza. Duas delas já perguntaram se eu as deixaria ir embora quando isso chegasse ao fim.

- Pensei que não tínhamos permissão para fazer isso - ela pareceu um pouco surpresa. Depois completou - O que você vai fazer?

- O que posso fazer? Não vou manter ninguém aqui contra a própria vontade - respondi sinceramente.

- Talvez elas mudem de ideia - propôs.

- Talvez - concordei.

Pensei um pouco no assunto e, alguns segundos depois, continuei, tentando descontrair:

- E você? Já está suficientemente assustada para sair?

- Para ser sincera, pensei que me mandaria embora depois do café.

Gostei da sua franqueza. 

- Para ser sincero, também pensei - admiti.

Sorri para ela, sentindo-me tranquilo por saber que, aos poucos, criávamos uma confiança mútua, e ela sorriu também. Mas então percebi que ela não havia dito se queria sair ou não, e eu realmente queria saber. Mais precisamente, queria ouvir um "não".

- Você não respondeu. Quer sair? - perguntei novamente.

Mais um projétil atingiu a parede. America parecia pensar nos prós e contras de permanecer no palácio, e eu tinha certeza de que aquele barulho fez a lista dos "contras" crescer. Apesar disso, ela olhou bem nos meus olhos e falou:

- Enquanto você não me enxotar, vou ficando aqui...

Sorri, aliviado com sua resposta. 

- Bom. Você precisa me passar mais dicas, como essa da mão no ombro.

America também sorriu. Como era lindo esse sorriso...

Lembrei-me do nosso assunto de antes, o motivo dela ter me dado uma joelhada ontem.

- America, você poderia me fazer um favor? - ela assentiu. - Para todos os efeitos, passamos muito tempo juntos na tarde de ontem. Se alguma garota perguntar, você poderia explicar que eu não... que eu jamais... - não consegui terminar a frase.

- Claro - ela logo respondeu. - E sinto muito mesmo pelo que aconteceu.

- Eu devia saber que se uma das garotas fosse desobedecer a uma ordem seria você - falei em um tom brincalhão.

Dessa vez, vários objetos pesados atingiram a parede de uma vez, fazendo muitas meninas se assustarem e gritarem. Mas não America.

- Quem são eles? - perguntou. - O que querem?

- Quem? Os rebeldes?

Ela confirmou com a cabeça. 

- Depende de quem responde - expliquei. - E de que grupo você fala.

- Quer dizer que há mais de um grupo? - perguntou, surpresa. - Quantos grupos existem?

Havia muito barulho, mas eu queria explicá-la a situação, então respondi:

- Basicamente dois: os nortistas e os sulistas. Os nortistas atacam com muito mais frequência. Estão mais perto de nós. Vivem no chuvoso território de Likely, perto de Bellingham. Ninguém quer morar lá, quase tudo são ruínas. Eles se estabeleceram ali como puderam, embora eu ache que vivem migrando. Essa é uma teoria minha que ninguém escuta. Mas é raro que consigam invadir a propriedade. Quando conseguem, os resultados são... quase modestos. Acho que este ataque de agora é obra dos nortistas.

- Por quê? - ela indagou. - O que os faz diferentes dos sulistas?

Hesitei um pouco. Não tinha certeza se podia contar essas coisas a ela, mas eu queria contar. Não sabia o motivo, mas confiava nela. Olhei para os lados, verificando se tinha alguém próximo o bastante para nos ouvir. Percebi que muitas pessoas nos observavam, mas quando vi que não havia risco de me ouvirem, me inclinei e falei baixo em seu ouvido:

- Os ataques dos sulistas são muito mais... letais. 

Ela estremeceu.

- Letais? - repetiu.

Confirmei com a cabeça e continuei:

- Eles vêm apenas uma ou duas vezes por ano, acho. Todos tentam evitar que eu saiba as estatísticas, mas não sou idiota: quando eles vêm, pessoas morrem. O problema é que os dois grupos parecem iguais para nós: esfarrapados, constituídos na maior parte de homens esguios mas fortes, sem insígnias que possamos distinguir. Por isso, não sabemos quem está por trás do ataque antes do fim.

America correu os olhos pela sala, pensando, e se voltou para mim.

- Ainda não entendi. O que eles querem?

Dei de ombros e respondi:

- Os sulistas querem nos derrubar. Não sei o motivo, mas imagino que estejam insatisfeitos, cansados de viver às margens da sociedade. Quer dizer, eles nem são Oito, em tese, porque não têm nenhuma participação nas relações sociais. Os nortistas ainda são um mistério. Meu pai diz que querem apenas nos incomodar, perturbar o governo, mas não penso assim.

Meu pai não parecia pensar muito nas razões dos nortistas nos atacarem. Na verdade, nem parecia se preocupar com isso, parecia convicto de que eles não tinham um motivo real. Mas isso não fazia sentido para mim. É claro que eles teriam um motivo.

- Tenho outra teoria quanto a isso também - acrescentei.

- Posso saber qual é? - perguntou, curiosa.

Hesitei mais uma vez. Não queria que ela pensasse que sou um idiota, assim como meu pai pensava. Inclinei-me novamente e sussurrei em seu ouvido:

- Acho que eles estão à procura de alguma coisa. 

- De quê? - ela perguntou no mesmo tom.

- Isso eu não sei - respondi. - Mas é a mesma coisa sempre que os nortistas são expulsos: os guardas são derrotados, feridos ou amarrados, mas nunca assassinados. É como se os rebeldes não quisessem ser seguidos. No entanto, sequestram algumas pessoas de vez em quando, o que é preocupante. E os quartos - bem, aqueles em que conseguem entrar - ficam uma bagunça. Todas as gavetas arrancadas, prateleiras reviradas, tapetes jogados longe. Muita quebradeira. Você não acreditaria se eu lhe dissesse o número de câmeras que tive de substituir ao longo dos anos. 

- Câmeras? - perguntou, confusa.

Fiquei um pouco sem graça. Ela ainda não sabia da minha paixão por fotos.

- Sim... Gosto de fotografia. Mas, apesar de tudo isso, eles acabam não levando muita coisa consigo. Meu pai acha minha ideia inútil. O que um bando de bárbaros analfabetos procuraria? Ainda assim, deve haver alguma coisa.

Ela parecia pensar em minha teoria. Acho que compreendeu, mas ainda tinha uma pequena expressão de dúvida. 

- Você acha tolice? - perguntei, um pouco ansioso pela resposta.

- Não, não é tolice - ela respondeu prontamente. - É confuso, mas não tolice.

Sorrimos juntos. Observei seus olhos, tão lindos quanto seu sorriso. America era mesmo linda. Então lembrei que ela não me via como um possível marido, mas como um amigo. Droga. Seria difícil lidar com isso.

Limpei a garganta.

- Suponho que eu deveria ver como estão as outras garotas - falei contra minha vontade.

- Sim, imagino que muitas delas estão se perguntando por que está demorando tanto - comentou.

- E então, parceira, alguma sugestão de quem deve ser a próxima? 

Ela sorriu e olhou para trás, como se estivesse esperando por essa pergunta. Será que eu não teria mesmo nenhuma chance com ela?

- Está vendo aquela loira ali, de rosa? - ela começou. - É Marlee. Um doce. Ela é muito gentil e adora filmes. Vá.

Soltei uma risadinha com sua pequena ordem e caminhei até Marlee.


Notas Finais


É isso, amores. Digam suas opiniões, comentem, isso é muito importante. Até o próximo capítulo 😊😘


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