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História Do Outro Lado Da Seleção - A dor de America


Escrita por: gabibmesq

Notas do Autor


Olá, amorinhos! ♡
Aqui estou eu com mais um capítulo para vocês. Não demorei tanto dessa vez, né? Eu queria ter postado antes, mas como esse capítulo é maiorzinho, levou um pouquinho mais de tempo. Mas tô aqui, às 4h da manhã, madrugando, porque vocês merecem 😁
Preciso dizer que chorei em um determinado momento, porque senti a dor da Meri e do Max. Espero que gostem! 😘

Ps.: Não deixem de ler as notas finais, vou indicar minhas fics favoritas para vocês! 😊

Capítulo 6 - A dor de America


Fanfic / Fanfiction Do Outro Lado Da Seleção - A dor de America

O estúdio estava uma loucura. Sempre ficava antes das gravações, mas dessa vez, estava especialmente uma loucura. Além da correria natural dos dias de gravação, havia mais vinte e sete garotas que iam chegando aos poucos e ocupando seus lugares. Garotas essas que estavam ali por mim. Vinte e sete. Garotas. Por mim. E, em breve, eu teria que escolher só uma dentre todas elas. Isso me deixava cada vez mais nervoso. Eu estava uma pilha de nervos. Mas só por dentro, é claro. Quem me visse, poderia facilmente imaginar que eu estava passando férias em uma das belas ilhas do Oceano Pacífico. Claro, se não fosse pelo meu traje. Mais uma vez, agradeci mentalmente meu pai por ter me treinado a não perder a compostura. Observei o estúdio e fiquei grato quando avistei minha mãe. Fui logo falar com ela.

- Olá, minha rainha - dei um beijo em sua bochecha. 

- Olá, meu príncipe - ela respondeu sorrindo. - Você está deslumbrante! 

- Obrigado, mãe. A senhora também está espetacular, como sempre. Desconheço uma rainha tão... Rainha como você. 

Ela abriu um sorriso terno e seus olhos se encheram de lágrimas por um instante, mas ela logo as mandou embora.

- Obrigada, meu amor.

Ela passou a mão em meus cabelos, colocando alguns fios rebeldes no lugar. Ajeitei meu paletó e minha gravata, pela milésima vez.

- Agora sim, está perfeito! - ela sorriu. 

Inclinei-me para ela e cochichei:

- Estou disfarçando bem meu nervosismo?

Ela confirmou com a cabeça e falou, no mesmo tom:

- Perfeitamente bem, querido.

- Ótimo - sorri. - Eu te amo, mãe. 

- Eu também te amo, filho.

Dei um beijo em sua testa e fui conversar com alguns conselheiros. Eles me disseram sobre o que meu pai falaria naquela noite antes de Gavril pegar a palavra. Mais uma vez, meu pai se aproveitaria dos atos rebeldes para culpá-los por falhas que eram pura e simplesmente dele. Isso me incomodava demais, mas, infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Pelo menos, não por enquanto. Não até que eu tivesse mais credibilidade com ele. O que eu tinha a impressão que levaria décadas para acontecer, mas isso não vem ao caso. Em seguida, fui conversar com um dos membros da produção, para conferir alguns detalhes. 

Até o momento, eu estava evitando olhar para o local em que as Selecionadas estavam, para não aumentar meu nervosismo. Mas reparei um tumulto estranho no meio delas. Não entendi muito bem o que estava acontecendo, mas vi trocaram uma das meninas de lugar. Só então reparei como estavam todas muito bonitas. Passei o olhar por elas, e um vestido amarelo chamou minha atenção. Era Marlee. Ela ficou ótima com aquele vestido, como sempre. Olhei para a garota ao seu lado. America. Meu Deus, como estava linda. Usava um vestido azul escuro que parecia ter sido feito para ela. Pensando bem, acho que foi mesmo. Suas criadas pareciam ter talento para vestidos. Continuei olhando para ela, enquanto ela observava a menina que trocou de lugar.

Vamos, America, olhe para mim.

De algum modo, ela ouviu meu pensamento e me olhou. Rapidamente, toquei minha orelha. Ela logo correspondeu, e então desviamos o olhar. Fiquei feliz por termos estreado nosso código com sucesso. E mais feliz ainda por saber que me encontraria com ela esta noite.

O Jornal Oficial começou. Meu pai fez todo o seu discurso anti-rebelde, e então o mestre de cerimônias passou a palavra para Gavril. 

Ah, Gavril, não apronte nada comigo, por favor...

- Boa noite a todos. Tenho um anúncio muito importante hoje. Faz uma semana que a Seleção começou e oito moças já voltaram para casa. Restam agora vinte e sete belas mulheres para o príncipe Maxon fazer sua escolha. Semana que vem, haja o que houver, a maior parte do Jornal Oficial de Illéa será dedicada a essas incríveis jovens - ele fez uma breve pausa, e então continuou. - Antes de chegarmos às senhoritas, falaremos com o homem do momento.

Espera aí, ele vai me chamar? 

- Como Vossa Alteza está esta noite, príncipe Maxon? - ele cruzou o palco e veio até mim para me dar o microfone. 

Eu não esperava por essa participação. Olhei para America, nervoso. Ela me deu uma piscadinha, o que me fez sorrir e tomar coragem.

- Muito bem, Gavril, obrigado.

- Tem gostado da companhia até agora?

- Sim! - respondi rapidamente. - É um prazer conhecer essas senhoritas. 

- São todas moças doces e gentis como aparentam?

Rá! Está aí uma boa pergunta. É claro que eu poderia dizer que sim, para manter as aparências, mas... e se eu não quisesse?

- Humm... - olhei para America, ela estava com um leve sorriso no rosto. Foi a minha deixa. - quase.

- Quase? - Gavril não escondeu sua surpresa. - Alguém ali está sendo desobediente? - perguntou, apontando em direção às meninas.

As garotas soltaram uma risadinha, e America pareceu se aproveitar disso para rir também.

- O que essas garotas fizeram que não foi exatamente meigo? - Gavril perguntou em seu tom brincalhão. 

- Muito bem, deixe-me contar.

Comecei a me sentir mais tranquilo. A entrevista com Gavril estava indo para um lado mais divertido e muito interessante. Afinal, America era o assunto. Mas só eu e ela sabíamos disso, o que tornava tudo ainda melhor.

- Uma delas teve coragem de gritar comigo de um modo bem agressivo em nosso primeiro encontro. Levei uma bronca duríssima.

As meninas se entreolharam, provavelmente querendo saber quem foi a corajosa.

- Uma bronca? - Gavril perguntou. - Por quê?

Pensei um pouco.

- Honestamente, não sei. Saudades de casa, talvez. E foi por isso que a perdoei, claro.

Gavril ergueu a sobrancelha. 

- Então ela ainda está conosco? - ele deu um largo sorriso e olhou para as garotas. Depois, voltou-se novamente para mim, esperando a resposta.

- Ah, sim. Ainda está. E planejo mantê-la aqui por um bom tempo.

 

Assim que o Jornal Oficial se encerrou, todos nos encaminhamos para o jantar. Confesso que eu estava ansioso para encontrar America, então comi um pouco rápido demais. O que não adiantou muito, porque ela ainda estava jantando quando eu terminei. E eu também não poderia sair logo atrás dela. Respirei fundo e esperei o tempo passar.

Cerca de vinte minutos depois que ela saiu do Grande Salão, fui até o seu quarto. Bati na porta, e rapidamente America a abriu. Fiquei surpreso por ter sido ela.

- Mas onde estão suas criadas? - perguntei, inspecionando o quarto.

- Foram embora. Eu as dispenso sempre que volto do jantar. 

- Todos os dias?

- Sim, claro. Posso muito bem tirar a roupa sozinha, obrigada.

Opa. Levantei as sobrancelhas e sorri para ela.

Você não deveria me dizer esse tipo de coisa, America...

Ela corou, como se tivesse ouvido meus pensamentos. Mudei de assunto.

- Pegue um casaco. Está frio lá fora.

Saímos de seu quarto, e ela logo enlaçou seu braço no meu. Não posso negar que gostei disso.

- Se continuar dispensando suas criadas, terei que pôr um guarda na sua porta. 

- Não! Não quero saber de babás. 

Achei graça. 

- Ele ficaria do lado de fora. Você nem saberia de sua presença. 

- Saberia sim - murmurou. - Eu ia sentir.

Fingi um suspiro de cansaço. Olhei para frente e vi três garotas se aproximando: Celeste, Emmica e Tiny.

- Senhoritas - cumprimentei-as. 

Elas fizeram uma reverência e seguiram para seus quartos. America se virou para olhar para elas. Imaginei que ela havia ficado um pouco desconfortável com a situação. Mas então ela puxou um assunto:

- Eu disse que as garotas que ficaram assustadas com o ataque acabariam ficando.

- Você não imagina o alívio que foi. 

America fez um breve silêncio novamente. Percebi que ela estava muito concentrada para descer as escadas. Fiquei feliz quando percebi que seu esforço se devia ao fato dela estar segurando meu braço. Ela descia com dificuldade, mas não me soltava. Bem, eu não a deixaria cair, de qualquer forma.

- Achei que isso fosse acabar ajudando - ela disse quando descemos o último degrau. - Quer dizer, é complicado ter que escolher uma entre várias meninas. Não ficaria mais fácil se as circunstâncias eliminassem algumas para você?

Pensei naquilo. Realmente, olhando por esse lado, seria mais fácil. Mas eu estava sacrificando tantas coisas por essa Seleção... Será que ninguém poderia se sacrificar ao menos um pouco por mim também? 

- Suponho que sim - dei de ombros. - Mas não seria fácil de qualquer forma.

Chegamos à porta que dava para o jardim.

- Boa noite, senhores - cumprimentei os guardas, que logo abriram as portas.

- Não entendi - America indagou, enquanto caminhávamos para o nosso banco.

Deixei America escolher seu lado do banco e me posicionei no outro canto, um pouco de lado, para ficarmos frente a frente. Gostava de conversar olhando diretamente para ela.

Não sabia como explicar a ela os meus pensamentos, talvez ela me levasse a mal... Mas respirei fundo e comecei:

- Talvez estivesse sendo um pouco vaidoso, pensando que eu valeria algum risco.

America levantou as sobrancelhas.

- Não que deseje isso para ninguém! - expliquei-me rapidamente. - Não é isso que quero dizer... Não sei. Você vê tudo o que estou arriscando?

- Hã... não - respondeu na lata. Foi a minha vez de erguer as sobrancelhas. - Você está aqui com sua família dando conselhos, e todas giramos em torno do seu horário. Sua vida continua a mesma, e a nossa mudou da noite para o dia. O que você estaria arriscando?

Fiquei pasmo com sua resposta. Será que ela realmente não via? Será que ninguém via?

- America, posso ter minha família, mas imagine como é vergonhoso que seus pais observem suas tentativas de marcar o primeiro encontro com uma garota. E não apenas eles, mas o país inteiro! E para piorar não é um tipo normal de encontro. E quanto ao meu horário: quando não estou com vocês, estou organizando tropas, criando leis, ajustando orçamentos... e tudo isso sozinho ultimamente, enquanto meu pai apenas observa meus tropeços por não ter nem um pouco da experiência dele. Quando eu faço as coisas de um jeito que ele não faria, ele interfere e corrige meus erros. Por fim, enquanto tento realizar essas tarefas, vocês, garotas, não saem da minha cabeça. Fico agitado e apavorado demais com a presença de vocês! - Fiz uma pausa. Falei tudo isso sem respirar direito, estava indignado. E America não parava de olhar para os lados, o que me deixava mais nervoso, não sei exatamente por que. Depois continuei. - E você acha que minha vida não vai mudar? Quais são as chances de encontrar minha alma gêmea entre vocês? Terei sorte se encontrar alguém que fique ao meu lado pelo resto da minha vida. E se já mandei a moça certa para casa por não sentir nenhuma química? E se a escolhida me abandonar na primeira contrariedade? E se eu não encontrar ninguém? O que farei, America?

Essas não eram perguntas retóricas. Eu estava realmente desesperado com tudo aquilo. Eu sentia um carinho especial por America, mas sabia que ela não sentia o mesmo por mim, e eu teria que encontrar alguém ali de qualquer forma. Mas e se eu fosse incapaz de amar alguém? Pior que isso, e se eu fosse incapaz de ser amado? Não queria alguém que se interessasse na coroa, mas em mim.

- Maxon, vou ser sincera: acho que você vai encontrar sua alma gêmea aqui. De verdade.

- Certeza? - minha voz denunciou meu grande desejo de que aquilo fosse verdade.

- Absoluta - assegurou-me.

America tocou meu ombro, dando-me o conforto que eu precisava naquele momento. Depois continuou:

- Se sua vida está de pernas para o ar, como você diz, então sua futura esposa está aqui em algum lugar. Pela minha experiência, posso dizer que o amor verdadeiro é geralmente o mais inconveniente - ela deu um sorrisinho.

Ouvir essas palavras de sua boca foi o maior e melhor consolo de todos. Se aquilo fosse verdade, não me restavam dúvidas de quem seria o meu amor verdadeiro...

- Espero que você e Marlee deem certo. Ela é muito fofa.

Essa fala quebrou meu encanto.

- É, parece que sim.

- Como? Tem alguma coisa errada em ser fofa?

- Não, não. É bom ser fofa.

O que não é bom é saber que não sinto nada por ela além de amizade, acrescentei mentalmente. 

Lembrei que ainda não havia contado a America sobre meu encontro com Marlee. Decidi naquele momento que não iria contar. Não queria decepcioná-la dizendo que não via Marlee como uma futura esposa.

Olhei para America. Mais uma vez, ela olhava para os lados, como se estivesse procurando algo. Segui sei olhar, mas não avistei nada.

- O que você tanto procura? - perguntei.

- O quê? - perguntou, confusa.

- Você não consegue manter os olhos parados. Sei que está prestando atenção, mas parece estar procurando alguma coisa.

America pareceu não ter percebido que estava fazendo isso. Mas depois respondeu:

- Pessoas... câmeras... - parou de falar e balançou a cabeça, olhando para o céu. 

- Estamos sozinhos - assegurei-a. - Só há o guarda da porta - acrescentei, apontando para ele.

America relaxou um pouco, como se tivesse tirado um pequeno peso das costas.

- Você não gosta de ser observada, gosta? - perguntei.

- Na verdade, não. Prefiro ficar fora do radar. Estou acostumada a isso - respondeu, ainda sem olhar para mim.

- Você precisa se adaptar - aconselhei. - Quando partir, os olhos do país permanecerão focados em você pelo resto de seus dias. Minha mãe ainda conversa com algumas das mulheres que conheceu durante sua própria Seleção. Todas são consideradas importantes. Até hoje.

- Perfeito! Mais um motivo para eu não ver a hora de chegar em casa. - ironizou, finalmente me olhando, mas logo desviou o olhar. 

America não gostava da Seleção, isso era um fato. Contudo, eu já havia dito a ela que, quando quisesse sair, bastava me pedir. Se ela ainda não havia pedido, então ela não queria ir embora. Ela me disse uma vez que não queria encontrar seu ex-namorado, mas eu precisava saber por quê. America suspirou e me olhou, então perguntei:

- America, posso perguntar algo pessoal?

- Talvez - ela respondeu. Sorri, um pouco sem jeito.

- É que... Bem, noto que não gosta mesmo daqui. Você odeia as regras, a competição, a fama, as roupas e a... - fingi pensar um pouco - não, da comida você gosta. - Sorri para ela, e ela retribuiu. - Você sente saudades de casa, da família... e suspeito que também de outra pessoa. Seus sentimentos estão quase à mostra.

- É, eu sei - comentou com um peso na voz.

- Mas você prefere ser infeliz e senti saudades aqui em vez de voltar para casa. Por quê?

Ela engoliu em seco.

- Não sou infeliz... e você sabe o motivo.

- É, às vezes você parece bem - concordei. - Vejo você sorrir quando conversa com as outras meninas, e está sempre muito contente durante as refeições. Concordamos nesse ponto. Mas outras vezes parece tão triste. Poderia me contar o motivo? A história toda?

Ela hesitou um pouco.

- É só mais uma história de amor que não deu certo. Não é longa nem emocionante. Acredite.

America implorava com os olhos para que eu não insistisse, mas eu queria, eu precisava saber o que aconteceu e como ela veio parar no palácio. Precisava conhecer sua história de amor. E, acima de tudo, precisava saber se realmente não tinha chances com ela.

- Ainda assim, queria escutar uma história de amor verdadeiro além da história dos meus pais. Uma que tenha se passado do lado de fora dos muros, das regras e da rotina... Por favor.

America pensou um pouco. Fechou os olhos, respirou fundo e começou:

- No mundo lá fora - apontou para além dos muros - as castas cuidam umas das outras, às vezes. Três famílias compram pelo menos uma das pinturas do meu pai todos os anos, e algumas famílias sempre me contratam para cantar na festa de Natal. São nossos patronos, entende? Nós éramos como que patronos da família dele, da Seis - notei ela não citou seu nome. E é claro que eu não iria insistir nisso. - Quando podíamos pagar alguém para limpar ou se precisássemos de ajuda para organizar as coisas, sempre chamávamos a mãe dele. Eu o conhecia desde a infância, mas ele era mais velho que eu, tinha quase a idade do meu irmão. Eles sempre faziam brincadeiras maldosas, e por isso eu fugia deles. Meu irmão mais velho, Kota, é artista como meu pai. Uns anos atrás, uma escultura de metal em que trabalhara por anos foi vendida por uma fortuna. Talvez você tenha ouvido falar dele.

- Kota Singer - eu disse, testando as palavras.

De fato, lembrei que, certa vez, durante o jantar, Silvia conversava com minha mãe sobre um jovem Cinco que fazia belíssimas esculturas. Ela comentou que pessoas da Dois e da Três sempre compravam suas obras. Minha mãe perguntou o nome do jovem, e Silvia disse que se chamava Kota Singer. Lembro-me de ter achado o nome bem diferente.

America prosseguiu:

- Ficamos muito contentes por ele. Kota tinha trabalhado muito duro naquela obra. E precisávamos do dinheiro. A família inteira ficou empolgada. Mas ele ficou com quase toda a quantia. Aquela única escultura fez sua carreira decolar. As pessoas começaram a telefonar todo dia querendo trabalhos seus. Hoje Kota tem uma lista de espera quilométrica e cobra caríssimo, porque pode. Acho que ele é um pouco viciado na fama. Os Cinco em geral não ganham esse tipo de destaque.

Nossos olhos se encontraram, e sabia que ela estava pensando o mesmo que eu: dali para frente, ela seria sempre um destaque.

- Mas não importa - continuou. - Logo que as ligações começaram, Kota decidiu se afastar da família. Minha irmã mais velha tinha acabado de se casar, o que quer dizer que já não contávamos com a renda dela. Depois Kota começou a ganhar dinheiro de verdade e nos abandonou. 

America colocou a mão em meu peito e falou, olhando fundo nos meus olhos:

- Isso não se faz. Ninguém deve abandonar a família. Manter-se unidos... é o único jeito de sobreviver.

Entendi seu recado. E concordava inteiramente com ela. Eu jamais abandonaria minha família, ainda que tivesse meus desentendimentos com meu pai. Afinal, eles eram o que eu tinha de mais valioso.

- Ele ficou com quase todo o dinheiro porque queria comprar um lugar no topo da hierarquia? - perguntei.

America balançou a cabeça em confirmação. 

- Ele tinha uma ideia fixa de que precisava ser Dois. Caso se contentasse em ser Três ou Quatro, poderia ter comprado o título e nos ajudado. Mas ele está obcecado. É burrice, mesmo. Ele tem uma vida mais que confortável, mas quer o rótulo. E não vai parar enquanto não conseguir.

- Isso pode levar uma vida inteira - comentei, balançando a cabeça. 

- Desde que ele morra com um número dois na lápide, acho que não se importa.

Perguntei-me como era possível eles serem da mesma família. Eles pareciam ser de mundos completamente opostos. Ainda bem que ela diferente do irmão.

- Presumo que vocês já não sejam mais muito próximos - concluí. 

- Não - ela suspirou. - Mas no começo pensei que tinha entendido errado. Achei que Kota só estava se mudando para ser independente, não para se afastar da gente. No começo, fiquei do lado dele. Eu o ajudei a arrumar um estúdio e um apartamento. Ele quis contratar a mesma família de Seis que sempre ajudou nossa família. E o filho mais velho deles estava disponível e ávido para trabalhar, de modo que ajudou Kota a organizar as coisas por alguns dias.

America fez uma pausa. Percebi que seus olhos começaram a brilhar com as lágrimas que estavam se formando.

- Então, lá estava eu desencaixotando as coisas... e lá estava ele. Nossos olhos se encontraram. Ele não parecia mais tão velho ou maldoso. Fazia tempo que não nos víamos, sabe? E eu... fiquei simplesmente louca por ele. 

Sua voz falhou e as lágrimas começaram a cair. Senti uma pontada de ciúme com sua última fala.

- Nossas casas ficavam próximas, e eu saía para passear durante o dia apenas para tentar vê-lo. Quando sua mãe vinha nos ajudar, ele às vezes a acompanhava. Nós ficávamos lá, um olhando para o outro. Era tudo o que podíamos fazer. Ele era Seis e eu Cinco, e há leis... E a minha mãe! Ah, se ela soubesse ia ficar furiosa. Ninguém podia descobrir.

America chorava muito, deixando escapar alguns soluços. Vê-la chorar daquela forma partia o meu coração. Me arrependi por um momento de ter insistido tanto que ela falasse. Ela realmente sofria com tudo aquilo.

- Logo começaram a aparecer mensagens anônimas por baixo da janela - continuou -, dizendo que eu era linda e que cantava como uma anjo. E eu sabia que eram dele. Na noite do meu aniversário de quinze anos, minha mãe fez uma festa e convidou a família dele. Em determinado momento, ele me tirou de canto e me entregou um cartão de aniversário, dizendo que eu devia ler quando estivesse sozinha. Quando finalmente consegui, notei que o cartão não trazia o nome dele ou dizeres como "feliz aniversário". Apenas as palavras: "Casa da árvore. Meia-noite".

Arregalei os olhos.

- Meia-noite? Mas...

- Você precisa saber que eu violo regularmente o toque de recolher - ela me cortou.

- America, você poderia ter ido parar na cadeia! - exclamei, indignado com a imprudência deles.

America deu de ombros e continuou:

- Na época, não parecia ser grave. Naquela primeira vez, senti que estava voando. Conhecia sua caligrafia das outras mensagens, e fiquei feliz de ele estar sendo esperto o bastante para manter tudo em segredo. Lá estava ele, imaginando uma maneira de ficarmos sozinhos. Eu não conseguia acreditar que ele queria ficar a sós comigo. Naquela noite, esperei no meu quarto e fiquei observando a casa da árvore no quintal. Perto da meia-noite, vi alguém subir os degraus. Lembro que fui escovar os dentes de novo, só por garantia... Eu me esgueirei pela porta dos fundos e fui para a casa da árvore. E ele estava lá. Era... inacreditável. Não me lembro do começo, mas logo confessamos nossos sentimentos um pelo outro, e não podíamos parar de rir, tão felizes que estávamos por sermos correspondidos. Eu nem ligava para o toque de recolher ou para a mentira que teria que contar aos meus pais. Não ligava para o fato de ser Cinco e ele, Seis. Não me preocupava com o futuro. Nada podia ser mais importante do que o amor dele por mim... E ele me amava, Maxon, ele me amava...

America agora chorava compulsivamente. Eu não sabia o que fazer. Meu coração estava chorando junto com ela, mas se eu chorasse em sua frente, não ajudaria em nada. Não imaginava que sua história fosse me afetar tanto, em tantos sentidos. America se recompôs e prosseguiu.

- Ficamos juntos em segredo por dois anos. Éramos felizes, mas ele estava sempre preocupado com nossa vida escondida e com o fato de não poder me dar o que achava que eu merecia. Quando recebemos a carta da Seleção, ele insistiu que fizesse a inscrição. 

Fiquei boquiaberto diante dessa fala. Como assim ele pediu para ela fazer a inscrição? Ele não a amava? Não queria viver com ela?

- Sei que é burrice - America comentou, como se tivesse lido meus pensamentos. - Mas ele ficaria com um peso nas costas para sempre se eu não tentasse. E de verdade, de verdade, nunca achei que me escolheriam. Como?

Ela levantou os braços e os deixou cair sobre suas pernas, demonstrando sua incredulidade. Eu também não conseguia acreditar.

- Soube pela mãe dele que tinha começado a juntar dinheiro para se casar com uma moça misteriosa. Fiquei tão empolgada. Preparei um jantar surpresa com a intenção de arrancar o pedido dele. Eu estava prontíssima. Mas quando ele viu todo o dinheiro que eu tinha gastado por causa dele, ficou nervoso. Ele é muito orgulhoso. Queria me paparicar, não ser paparicado. E acho que naquele momento viu que jamais seria capaz disso. Por isso, em vez de me pedir em casamento, ele terminou comigo... Uma semana depois, fui chamada para participar da Seleção.

- Devo uma a ele então - murmurei, baixo demais para America ouvir.

Ela soluçava de tanto chorar. De verdade, eu não estava mais aguentando vê-la assim.

- A última vez que o vi - ela continuou - foi na minha despedida. Ele estava com outra garota.

- O QUÊ? - explodi. Outra garota? Qual era o problema daquele cara?

America cobriu o rosto com as mãos. 

- O que me deixa louca é saber que há outras meninas atrás dele. Sempre houve. E agora ele não tem motivos para recusar. Talvez esteja neste instante com a menina da minha despedida. Não sei. E não posso fazer nada. Mas pensar em voltar para casa e assistir a tudo isso... Não posso, Maxon... Simplesmente não posso...

America desabou. Chorou ainda mais que antes. Deixei que ela colocasse para fora aquela dor, enquanto um pouco da minha também caía em lágrimas dos meus olhos. Não consegui contê-las. America amava esse rapaz, isso ficou muito claro para mim. Sua dor me atingiu, meu coração doía como se tudo aquilo tivesse acontecido comigo. Uma mistura de tristeza e raiva tomava conta de mim. Estava triste por America e com raiva por seu namorado aparecer com outra tão pouco tempo depois na sua frente. Será que ele não via que a estava ferindo? Que tipo de amor é esse?

Enxuguei minhas lágrimas antes que America visse. Quando ela finalmente parou de chorar, ela olhou para mim e disse:

- Maxon, espero que encontre uma pessoa sem a qual não possa viver. Espero muito. E desejo que nunca precise saber como é tentar viver sem ela.

Suas palavras penetraram fundo na minha alma. Algumas lágrimas caíram de seus olhos novamente.

- Sinto muito, America. Eu não... - não sabia o que dizer. Só queria abraçá-la... - Agora é um bom momento para pôr a mão no seu ombro?

America sorriu. Ah, Deus, obrigado por isso!

- Sim, agora é um ótimo momento.

Não me limitei a colocar a mão em seu ombro, inclinei-me e a envolvi em um abraço. Não sabia se devia, mas eu precisava fazer isso.

- A única pessoa que eu já abracei é minha mãe. Estou fazendo isso certo? - perguntei.

America riu mais uma vez. Fiquei feliz por poder fazê-la sorrir mesmo em meio à dor.

- É difícil errar um abraço. Mas eu entendo o que quer dizer. Também só abraço minha família.

Ficar abraçado com America tinha sido a melhor coisa da Seleção até aquele momento. Eu estava muito mal por sua história, mas ao menos ela me trouxe uma coisa boa. Bom, duas, na verdade. Uma era a própria America. E outra era seu caloroso abraço. Fiquei assim com ela, abraçado e fazendo carinho em seu cabelo, até que ela se acalmou um pouco. Em seguida, afastei-me delicadamente e olhei fundo em seus olhos, para que ela não tivesse dúvidas do que eu ia dizer.

- America, prometo mantê-la aqui até o último momento possível. Sei que eles querem que a Elite seja composta de três garotas, e então poderei escolher. Mas eu juro: vou deixar duas garotas na Elite só para manter você aqui. Não vou mandá-la embora até que seja necessário. Ou até que esteja pronta. O que vier primeiro - ela concordou com a cabeça. - Sei que nos conhecemos faz pouco tempo, mas eu acho você maravilhosa. Não gosto de vê-la magoada. Se ele estivesse aqui, eu... eu...

Estremeci de raiva. Ainda bem que ele não estava ali, o estrago seria grande.

- Sinto muito, America. 

Abracei-a novamente e apoiei sua cabeça em meu ombro. Tê-la em meus braços era uma sensação gostosa e acolhedora. Ficamos assim por um longo tempo. Eu não queria sair daquele abraço, e fiquei feliz ao notar que America também não. Mas estava ficando tarde e eu precisava entrar logo com ela. Fomos sem pressa até o seu quarto. Chegando na porta, nós paramos e ela me olhou.

- Obrigada, Maxon. Por me ouvir, me consolar e ser uma companhia tão boa para mim.

- Eu que te agradeço, America. Obrigado por confiar a mim sua história. Saiba que ela estará bem guardada aqui. E sempre que você precisar, estarei disposto a ouvi-la. Amigos são para isso, certo? - dei um sorriso amarelo.

- Certo - ela sorriu. - Boa noite, Maxon.

- Boa noite, America - dei uma piscadinha e ela entrou, fechando a porta atrás de si. Virei-me para o corredor, mas lembrei-me de algo. Bati na porta novamente. Ela abriu e me olhou confusa.

- Sim? 

- Perdoe-me, eu me esqueci de uma coisa.

- Esqueceu? O que? - perguntou, olhando para o quarto.

Peguei sua mão, fazendo-a olhar novamente para mim.

- Você está deslumbrante esta noite. Esta cor combinou muito bem com você.

America corou. Com certeza, ela não esperava por isso.

- Hã... obrigada. Você também não está nada mal. - sorriu sem jeito.

Sorri para ela.

- Boa noite, America - beijei sua mão e me afastei para que ela pudesse fechar a porta.


Notas Finais


E aí, gostaram? Não gostaram? Comentem!!

Bom, vamos às indicações.

FANFICS A SELEÇÃO :

1. O Peso da Coroa - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-a-selecao-o-peso-da-coroa-4757453
Como essa foi a primeiríssima fic que eu comecei a ler, ela vai ser minha primeira indicação. A história se passa anos depois da Seleção da Eadlyn, a protagonista é a filha dela com o........... RÁ, terá que ler a fic pra saber 😁
Foi graças a essa fic diva que eu fiz uma conta aqui no Spirit. Então, se você lê minha fic, você meio que deve isso a ela, hahahaha. A autora é uma lindaaa!! Eu realmente amooooo essa criação dela. Leia, você não vai se arrepender! ❤

2. Depois da Escolha - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-a-selecao-depois-da-escolha-4730633
Essa é outra que eu AMO/SOU!! Como o nome já diz, essa fic conta a história da America e do Maxon depois que ele faz sua escolha {lembrando que é narrada pela Meri}. SIM, todas nós queríamos saber um pouco mais da vida deles dois entre A Escolha e A Herdeira, então essa anja fez esse grande favor pra gente! A autora é maravilhosaaa, inclusive eu tô formando uma parceria com ela, em breve vocês terão novidades 😉 A história criada por ela é incrível, fora o fato dela escrever de um jeitinho bem parecido com o da Kiera! Já deu água na boca, né?! Então corre lá pra ler!! ❤

3. Uma Nova Chance - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-a-selecao-uma-nova-chance-5120619
A autora dessa fic é a mesma da anterior. Ou seja, já sabemos que a escrita é maravilhosa. A fic é super nova, acabou de sair do forno. Ela é sobre um final alternativo de A Escolha: Maxon escolhe Kriss e pá. O que será de America agora? E de Maxon? Será que eles irão se reencontrar? Será que o amor ainda estaria vivo nos dois? Acompanhe junto comigo e descubra. ❤

4. A Seleção Sem Fim - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-a-selecao-a-selecao-sem-fim-2878132
Essa fic também é muitooo boa! A história se passa anos antes da Seleção do Maxon, mas não conta a história da seleção do seu pai, e sim de uma outra pessoa... E a protagonista é bem diferente do comum, estilo America Singer, se é que você me entende, hahahaha. A autora também é bem simpática 😊
E só mais uma coisa, essa é uma fic bem intrigante... Por que eu digo isso? Porque ELA ME FEZ AMAR O CLARKSON!! Sim, é isso mesmo que você leu! Como isso é possível? Ah, só lendo pra você entender! ❤


OUTRAS FANFICS :

1. A Coadjuvante - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-originais-a-coadjuvante-4660122
GENTE, essa fic é simplesmente incrível!! A história é muitooo interessante, super original! Não vou explicar aqui, porque é meio complexa, hahahaha. Mas sério, gente, vale muito a pena ir lá conferir! Isso sem comentar o fato da autora ser uma fofa e escrever inacreditavelmente bem! E o nome já torna tudo mais interessante ainda, né?! Tá esperando o que pra ler logo? ❤

2. Academia de Fadas - https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-fairy-tail-academia-de-fadas-2434625
Annnnd last but not least, indico-lhes essa fic m a r a v i l h o s a. Sério, não tenho palavras pra descrever meu amor por ela! Amo de paixão!! A fic me prende de um jeito que, quando sai capítulo novo, eu começo a ficar desesperada, hahhahaha. A história é sobre uma garota que conhece um garoto, eles se tornam melhores amigos, mas depois descobrem ser muito mais que isso. E envolve muitas outras pessoas também, com vários POVs diferentes. Parece clichê? Sim, mas e daí? Convenhamos que A Seleção também é clichê, e isso não nos impede de amar a história. Eu, particularmente, amo histórias clichês, hahahaha. Essa fic já tá bem avançada, mas eu também sou uma leitora relativamente nova e consegui alcançar a autora, que, por sinal, é outra linda também!! De verdade, gente, eu suuuuper indico essa fic. Vocês vão amar! ❤


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