História Dollhouse - Novo Irmãozinho

No momento em que eu o vi tudo parecia estar em câmera lenta, o abraço apertado que nós demos parecia ter durado um ano e não apenas segundos, seu perfume era forte, daqueles que fazem até os olhos lacrimejarem, os cabelos loiros estavam bem desbotados e eu podia ver com facilidade sua raiz morena chamando atenção, o cheiro era bem forte também, cheirava algum shampoo que eu nunca iria descobrir o nome, mas era muito, muito cheiroso. Sua voz era doce e melodiosa, ele já havia dito que gosta de cantar, aposto que canta muito bem apenas o escutando falar animadamente sobre o filme que iriamos assistir, o mesmo já havia feito uma breve pesquisa sobre a história do filme e me conta detalhes por detalhes, algumas curiosidades, e até outros filmes que os mesmos autores haviam feito. Eu apenas olho para seu rosto animado enquanto fala e concordo algumas vezes, já que o rapaz enérgico a minha frente era tão bonito que eu estava até mesmo sem jeito. Não consigo parar de reparar em seus lábios que estavam rosados e brilhantes, seu brilho labial cheirava a tutti frutti e estava conseguindo toda minha atenção. Tudo nele tinha uma energia diferente, ele parecia tão feliz e iluminado, o modo como ele falava tão alegremente de um filme de romance e os gestos que fazia com as mãos para se expressar, até mesmo as caretas ao falar de algo que não gostava, nem parece o Kim Minjun que conversava comigo, ele era diferente do que eu imaginava.

No momento estamos na fila da pipoca, atrás de mais algumas pessoas, Minjun estava me dizendo que eu não deveria pagar nada, já que hoje era meu aniversário, mesmo eu dizendo que poderia pagar o loiro não aceitava de jeito nenhum que eu pegasse minha carteira do bolso, o que me deixou um pouco constrangido, mas apenas estava aceitando toda sua gentileza.
Eu gosto muito de vir ao cinema, acho que é meu segundo passa tempo favorito depois de leitura, sempre vinha com Jun, mas agora era bem diferente, parece que meus movimentos estão meio travados, estou tentando manter uma distância adequada do loiro, não quero que deixar parecer que somos um casal, mesmo que Minjun esteja sempre me arrastando pela mão para os lugares e esteja pagando por nós dois, e talvez chamando alguns olhares curiosos para nós quando me abraça e diz coisas como ''seu cabelo é muito cheiroso'', ou ''você é tão fofo, Kookie-ah''. Ele agia tão naturalmente, sem nem um pouco de timidez, estava sempre falando animadamente, nunca deixando o assunto acabar, me fazendo aos poucos me sentir confortável com toda a situação que nos encontrávamos, mesmo que ele estivesse claramente falando muito mais que eu, ainda assim não estava sendo chato nem nada do tipo, ele é realmente muito engraçado, conseguimos ver algumas pessoas perto de nós dando uma risada baixa de algumas coisas que ele falava, e alegrando todo o lugar apenas com sua presença.

No momento em que pegamos nossa pipoca e refrigerantes, e alguns -vários- doces que o loiro dizia amar fomos até a sala indicada, concordamos que sentar nos acentos mais para cima era melhor, logo Minjun começou a abrir embalagens de alguns chocolates que havia pegado, e me dizendo para experimentar, ficamos um bom tempo apenas experimentando os chocolates deliciosos que ele havia comprado, mesmo eu o dizendo que não gostei só para ver sua cara de indignação e depois empurrando mais do doce para minha boca. Bem diferente do que eu imaginava a sala gelada do cinema não estava nem perto de estar cheia, haviam apenas alguns casais sentados bem longe de nós, o que me deixa mais nervoso ainda. Enquanto nós brincávamos de acertar pipoca na boca um do outro (somos bem maduros) as luzes se apagam e a tela a nossa frente começam a passar avisos em casos de incêndio e essas coisas, escuto o loiro sussurrar algo como ''estragaram nossa brincadeira'' e depois se sentar corretamente no acento, ficando bem colado comigo, fiz o mesmo mas tentando ao máximo manter uma certa distância do garoto ao meu lado, que nem parecia ligar para nossos corpos escorados, estava com toda sua atenção na tela gigante a nossa frente, enquanto levava algumas porções de pipoca amanteigada até a boca.

Acho que o motivo de ter poucas pessoas na sala de cinema é porque o filme era muito entediante, não me deixava surpreso, afinal, era um filme de romance, não que eu não goste, eu só prefiro ver outros. Minjun, ao contrário de mim parecia estar gostando, já que não desviava os olhos do filme. Eu não estou afim de ver, então apenas comecei a prestar atenção em outras coisas da sala, tipo, os desenhos da parede, as luzes da escada que mudavam de cor a cada um minuto -tive tempo de contar- e sempre ia do vermelho ao azul, e depois do azul ao verde, e do verde ao amarelo logo voltando ao vermelho. Parece que eu não era o único a observar as luzes, logo percebi que Minjun também as observava.

— As luzes são bonitas.  — digo olhando para o loiro que me encarava com uma distância perigosa entre nós.

— Que luzes?

— Essas que estamos observando.  — aponto para a luz que acabara de ficar azul.

— Eu não estava observando as luzes.  — sinto meu rosto ficar quente, não o respondo nada, apenas o observo dar uma risada nasalada e depois se aproximar de mim.

Ele coloca sua mão direita em meu rosto, fazendo um leve carinho com o polegar em minha bochecha vermelha e quente, enquanto a esquerda ia em um movimento devagar, assim como seu rosto, até minha cintura. Eu não sei o que devo fazer, afinal é meu primeiro beijo, onde eu deveria colocar as mãos? Minha única base de como fazer isso sem parecer um total inexperiente era quando via o casal JunHao me deixando de vela, sendo assim apenas permaneci como estava, logo sinto os lábios de Minjun fazendo um leve carinho nos meus, como se estivesse esperando uma permissão, eu não me afastei, logo ele juntou os lábios de uma vez, eu havia gelado, o que faço agora? Vi o loiro com os olhos fechados, então resolvi fechar os meus, apenas sentindo o mesmo movendo seus lábios macios e quentes contra os meus, que no começo não se moveram, mas depois de pegar o ritmo calmo do outro começaram a se mover também, logo sem eu perceber minhas mãos estavam rodeando sua nuca e dando um leve apertão quando senti sua língua adentrando minha boca e sua mão esquerda me puxando para mais perto, deixei com que ele me guiasse e logo havia pegado o jeito, não era tão difícil quanto eu imaginava, aliás, o gosto do seu brilho labial estava presente em nossas bocas, estava literalmente sendo um beijo doce. 

Quando o filme acabou eu tive duas certezas, primeiro que eu nunca mais iria assistir a filmes de romance, o segundo é que eu realmente não assisti o filme, já que fiquei uma boa parte observando as luzes que mudavam de cor, coisa que nunca havia observado mesmo indo tantas vezes ao cinema, e a outra parte eu estava ocupado trocando saliva com Kim, que também não viu o final do filme que parecia estar gostando. Mas aposto que nós dois concordamos que foi por uma boa coisa. Mesmo depois de comer tantos doces e uma pipoca grande ainda fomos comer em um desses fast foods gordurosos e que com certeza não fazem bem, exatamente como nós gostamos. Depois de tudo isso, achei que o clima entre nós fosse ficar estranho, mas foi bem pelo contrário, Minjun continuava o mesmo, me passando confiança, e logo estávamos os dois brincando de pega-pega pelo estacionamento do shopping, correndo como duas crianças e até mesmo levando alguns olhares de julgamento de pessoas mais velhas. Eu nunca achei que seria capaz de fazer isso, mas quando o loiro me olhou e falou ''está com você'' antes de sair correndo e dando risada, eu apenas corri, sem me importar que nós havíamos acabado de comer, ou que as pessoas iriam olhar para nós, que eu poderia ficar cansado depois, ou até mesmo cair, coisas que eu pensaria antes de fazer isso, na verdade, que eu penso antes de fazer qualquer coisa. Eu me sinto livre ao seu lado, me sinto protegido.

Depois de descansar em silêncio, apenas apreciando a vista da lua cheia, decidi que estava na hora de ir para casa, e mais uma vez Minjun quis me ajudar, dizendo que o pai dele poderia me dar uma carona até a casa onde eu ficava, eu aceitei, afinal não tenho motivos para me preocupar, eu confio em Minjun, e estou tão cansado que andar até lá não é uma boa opção. Então apenas esperamos até que seu pai viesse nos buscar.

— Eu gostei muito de te ver, Jungkook.  — ele quebra o silêncio, ainda olhando para cima, observando as estrelas que estavam mais brilhantes nessa noite.

— Eu também.

— Gostaria de poder te ver todos os dias, você é tão especial.

— Mas você pode me ver sempre que quiser. — ele me encara por alguns segundos, não me responde nada e volta a olhar para o céu. 

— Eu gostaria.  — ele fala depois de alguns minutos em silêncio absoluto.

— Algo te impede?

— Você não entenderia.  — de repente o Minjun de algumas horas atrás havia ido embora, o Minjun alegre, energético e engraçado não estava mais comigo, apenas o Minjun pensativo e quieto. O que era bem estranho, já que o dia todo ele não deixou de falar e de procurar um assunto para não deixar tudo quieto.

— O que foi?

— Não é nada, me desculpe por deixar um clima chato.

— Tudo bem, eu entendo.  — lhe dou um sorriso que é correspondido na mesma hora.

— Vamos tirar uma foto, quero me lembrar pra sempre desse dia.  — ele tira o celular do bolso e senta mais perto de mim, estávamos na calçada, fora do shopping num lugar bem iluminado e cheio de carros passando, logo ele ajusta a câmera para nossos rostos passando a mão que não segurava o celular por meus ombros, nós dois demos um grande sorriso e a foto foi tirada.

— Vou sempre me lembrar desse dia.  — ele comenta enquanto olha a foto sorrindo para o celular.

— Eu também vou.  — solto uma risada baixa.

— Você parece cansado.

— Eu estou com sono.

— Pode dormir no caminho se quiser, eu te aviso quando chegarmos.

— Tudo bem.

Logo vimos um carro preto encostando na calçada em que estávamos deitados, era alguma caminhonete cara, eu só não sabia qual. Os vidros estavam todos fechados não dando para ver quem estava dentro, logo as portas foram destrancadas.

— Vamos, é meu pai.  — ele solta um longo suspiro e se levanta, logo me ajudando a levantar também.

Seguimos até o carro preto e ele abre a porta de trás, me dando passagem para entrar, o carro estava gelado devido o ar condicionado forte e cheirava a carro novo, uma música baixa tocava e logo o motorista se vira para trás dando visão de seu rosto. Um homem que com certeza não passava dos 40 anos estava nos dizendo olá com um sorriso no rosto, parecia ser amigável, só não se parecia nada com Minjun que estava ao meu lado com a cara fechada. Logo ele continuou o caminho até onde eu morava, prestando atenção na rua e não falando mais nada o caminho inteiro. Na verdade não consegui dizer se ele não falou mais nada o caminho inteiro porque havia pegado no sono tão rápido que nem escutei o carro ser desligado e a porta do motorista ser aberta. Apenas abri meus olhos quando senti meu corpo ser chacoalhado com brutalidade por alguém que chamava por meu nome. Não era o Minjun.

— Vamos Jungkook, saia do carro. 

— O que...  — não havia dado tempo de falar mais nada antes de ser retirado do veículo com força.  — O que você está fazendo, senhor Kim? Cadê o Minjun?

— Eu sou o Minjun, era comigo que você falava esse tempo todo, Jeon Jungkook.  — o homem solta um sorriso malicioso no rosto. Senti lágrimas sendo formadas e meu corpo gelar.  — O garoto que você conheceu hoje foi um garoto que eu contratei para sair com você, para assim poder te trazer até minha casa.  — lágrimas caíam descontroladamente por meu rosto, eu não consigo mexer meu corpo e nem falar nada, meu coração está tão rápido.  — Você é lindo Jungkook, fico feliz por ter conseguido te trazer para minha casa de bonecas. Aposto que irá adorar seus irmãos.  — ele solta uma risada alta enquanto me empurra até a porta de uma casa velha sem janelas e no meio do nada, já que conseguia apenas ver mato e logo atrás a cidade brilhava intensamente, era uma espécie de morro, um lugar onde ninguém cogitaria entrar.

Entro em desespero, começo a tentar me soltar de seu aperto, mas ele era muito mais forte que eu, e logo três caras mais altos ainda me pegaram pelo braço e começaram e me levar para dentro da casa, eu soltava gritos e mais gritos de desespero, o mais alto que podia, mas ninguém iria me escutar, afinal, não havia ninguém ali. Eles entram dentro da casa e logo consigo avistar vários garotos com vassouras e baldes nas mãos, limpando uma espécie de cozinha, todos pararam suas atividades e me olharam com pena, alguns até começaram a chorar, um dos homens que me seguravam havia tampado minha boca, me fazendo ficar quieto, eles subiam uma escada antiga enquanto Minjun estava bem atrás de nós, consegui escutar ele dizendo:

— Espero que gostem do seu novo irmãozinho.