História Dominated (Revisão) - Quente ou frio

Você me faz girar como uma bailarina
Me sinto como uma gangster
toda vez que eu te vejo
Você é o rei e, querido,
 eu sou a rainha do desastre

– Queen of Disaster

Pela segunda vez consecutiva acordo na cama de Jared, a verdadeira cama.

Sorrio sozinha com a sensação e ainda por cima me surpreendo ao perceber que ele ainda está dormindo. São raras as vezes que eu consigo o milagre de acordar antes do que ele, e nessas poucas vezes, eu aproveito cada minuto para observá-lo quando não há fachada e a linda boca dele está trancada e seu rosto sereno e relaxado. Nessas horas ele não parece o mesmo homem. É como se eu pudesse inventar outra personalidade para ele. Simplesmente Jared Leto, um cara amigável, bonito e simpático, um homem em que eu posso confiar, que eu posso planejar.

Mas sei bem lá no fundo, que se esse fosse mesmo Jared Leto, então não estaríamos aqui agora. Já tive a minha cota de homens bons e normais, infelizmente nunca nenhum deles me fez sentir aquela urgência de ficar para sempre. Não falo de amor, falo de mais de uma noite. É difícil saber exatamente o que me faz sentir isso com Jared. Pode ser todas as coisas boas que ele tem, mas algo no fundo do meu ser avisa que pode ser especialmente as ruins. Desde o primeiro momento eu sabia que ele não era confiável, eu me lembro que pensar que tudo nele piscava sinais de alertas para que eu me afastasse e me envolvesse, tudo ao mesmo tempo. No começo, eu o odiava, o odiava tanto que chegava a me corroer por dentro como ácido. Não era fingimento eu o odiava, e sei que ainda há essa parte aqui dentro em algum lugar, acho que é o que me mantém protegida por ele, só quero esse pouco de ódio dure o suficiente para que eu saia inteira dessa.

Então depois de odiá-lo, por algum motivo ele decidiu que me queria, e droga, seria tão melhor se ele não quisesse.

Seria melhor se ele não se mostrasse um homem íntegro, sedutor e principalmente... Jogador. Parece que todo gesto, toda palavra que emana dele é uma armadilha que eu corro de braços abertos e um sorriso no rosto, e Deus sabe o quanto eu queria que não estivesse funcionando. Para um resumo do meu problema, é que Jared Leto está perfeito. Eu digo está, simplesmente porque não sei se esse é ele mesmo, mas eu espero que sim. É como se ele viesse de encomenda para atormentar os meus pensamentos. Jared é engraçado e mal humorado, infantil e maduro, romântico e bruto, quente e frio. Esse homem é um paradoxo ambulante.

Um paradoxo que eu estou adorando mais do que deveria.

– Bom dia, princesa.

Eu meio que faço uma careta e meio que sorrio com o seu apelido inconvencional, seu sorriso faiscante mostra que Jared Leto acordou com um ótimo humor.

– Credo, isso é apelido de velho tarado, Jared.

Ele ri.

– E o que eu sou exatamente? – Arqueia a sobrancelha enquanto arma um sorriso torto irresistível.

– Okay, você venceu essa.

– Isso significa que posso chamar você de princesa?

– Não, só significa que eu te acho um velho tarado.

Nós dois começamos a gargalhar ao mesmo tempo, normalmente não é uma coisa que faço, mas com Jared eu tenho dado mais risada do que o normal.

– Pois hoje o velho tarado está á sua disposição, você escolhe a programação do dia.

– Uau, é sério? É uma devolução de favores por eu ser a sua nova Submissa Estagiária? – Ele tenta ficar sério com o meu apelido, mas não consegue parar de sorrir desde que acordou.

– Você tem um certo dom com as palavras, isso eu tenho que admitir.

Dou de ombros, convencida.

– Eu sei.

– Então, o que temos para fazer hoje?

– Você parece ansioso, mas, nós vamos para a academia.

– Academia em uma segunda-feira de feriado? De jeito nenhum. – Jared agora está sentado na cama, seu torso bem trabalhado implorando para ser observado e tocado, mas resisto, desviando o olhar para o seu rosto.

– Tudo bem, eu vou sozinha, aposto que hoje vai estar cheio de caras bem sarados, do tipo modelo, ah.

– Quer fazer academia? Ótimo, vamos fazer aqui.

Reviro os olhos.

– É claro que você tem uma academia, vindo do cara que odeia sair de casa.

– Vamos logo para a sua casa pegar roupas, á noite vamos ao cinema, você é uma negação em achar programas divertidos. Depois disso, podíamos ir em uma festa.

– Festa? O que é que você comeu ontem que te fez tão bem humorado de repente?

A pergunta sai de forma divertida e sua expressão fica sexy de repente, enquanto ele se inclina para perto do meu rosto.

– Você.

Minha boca se abre em choque com a sua audácia, mas sua cara de cachorro abandonado me dá coragem apenas para dar um tapa leve no seu braço e então sorrir.

– Você não é desse mundo, Jared Leto.

– É claro que não, sou um Deus grego. – Dá de ombros antes de se aproximar e com gentileza, roçar o nariz em uma trilha que vai do meu ombro até o meu pescoço, devagar, seus lábios se encontram com os meus de uma forma calma e suave, mas que de algum jeito, consegue atear fogo no meu interior. Suas mãos me puxam para ficar por cima dele enquanto ele volta a deitar. Meus dedos se enroscam em seu cabelo macio enquanto sinto sua pouca barba para fazer roçar na minha pele.

Ele nem parece o mesmo homem de ontem, e é essa a coisa sobre Jared, ele nunca é o mesmo homem duas vezes seguidas, ele tem uma necessidade de nunca cair na rotina, e isso parece tudo o que eu preciso no momento. Mas, enquanto eu vou acordando, perguntas sobre ontem rondam a minha cabeça, ainda temos tanto o que conversar...

– Academia ou cama?

– Academia, não vou querer ser mais a sua submissa quando ficar obeso. – Brinco, tentando evitar que os meus pensamentos confusos contaminem a minha expressão.

– Eu malho três vezes por semana, sinto que é o suficiente.

– Então, olhe só, vamos fazer isso hoje e só vai ter que malhar mais duas.

Pisco para ele, enquanto uso todo o meu controle mental para sair de cima dele e procurar alguma roupa minha. Olho para todos os cantos e até em cima da poltrona que eu juro ter visto ontem, mas não há nenhuma muda de roupa.

– Onde está?

– Onde está o que? – Ele tenta reprimir um sorriso e eu estreito os olhos. É difícil saber o que ele está fazendo, mas a sua expressão de garoto travesso me deixa com o pé atrás.

– As minhas roupas, Jared.

– Vamos brincar de quente e frio?

– Quente e frio?

– É, uma caçada ás suas roupas.

Me sinto idiota por estar desesperada atrás das minha roupas, e duplamente idiota por achar graça em toda a situação.

– Ótimo, tanto faz. – Dou de ombros tentando parecer desinteressada.

Ando até a porta que dá para o quarto “especial” de Jared.

– Frio. – É impossível não fazer uma careta de desgosto, simplesmente porque eu tinha certeza que estava lá. Ando até a porta de saída do quarto. – Ainda está frio.

Com uma careta de frustração, bufo alto, olhando em volta. Pensando em algum lugar onde ele poderia ter colocado. Me aproximo da cama, pensando que pode estar embaixo dela.

– Frio. – Jared ri. – Você é péssima nisso, está pensando errado.

– Uma dica?

– O quarto não é tão grande assim, Alex. – Ele revira os olhos.

– Ok, então está no quarto. – Sorrio enquanto ele vê que me deu uma dica sem querer. Em passos lentos ando até a poltrona, mas antes mesmo de chegar lá sua voz me interrompe.

– Quente.

Paro na mesma hora olhando para os lados, e a única coisa que encontro é a porta discreta e espelhada do closet dele. Com os olhos, pergunto se é isso mesmo e Jared apenas dá de ombros, evasivo. Abro a porta corrediça e me surpreendo com o tamanho do espaço, e me surpreendo ainda mais ao achar minhas roupas penduradas com maestria ao lado das suas, em cabides e o meu vestido de gala fetichista está dentro de uma embalagem especial. Jared não me faria passar por tudo isso se não tivesse um significado maior por trás. Estou com a cabeça á mil. Pego o meu vestido casual que eu tinha usado para me encontrar com ele no hotel e os meus sapatos.

É estranho pensar que em dois dias as coisas avançaram tanto assim, de um hotel para a sua casa. De um relacionamento casual e escondido para um pedido de submissão. De um sexo intenso e bruto para o BDSM. Minha mente divaga em todas as possibilidades para o futuro e nenhuma delas é realmente motivadora, simplesmente porque acredito que vai chegar o dia em que ele vai enjoar, rápido assim. Do mesmo jeito que eu enjoei de todos antes dele.

E eu não quero isso.

Um pouco desanimada, sou rápida em me vestir e deixar a blusa de Jared dobrada em cima de um cabide. De repente, eu quero ir embora sozinha e ficar quieta na minha casa, não quero enfrentá-lo. Jared Leto me cansa, me deixa exausta e deprimida mesmo quando faz coisas boas, simplesmente porque eu tento sempre estar a um passo a frente para evitar ser atropelada por suas armadilhas.

Talvez o problema seja eu. Talvez eu não seja a normal da história toda.

– Achei que tinha desmaiado dentro do meu closet.

Sorrio para ele ao analisar a sua expressão. É fácil perceber que ele está esperando uma reação minha.

– É mais fácil eu ter ficado perdida lá dentro, o meu é menor, mas acho que arrumo um bom lugar para as suas roupas. – Dou uma piscadela. – Isso é, se algum dia você dormir lá.

Jared ainda está me olhando, procurando algum indício do rumo dos meus pensamentos, mas ele não é o único que sabe um truque ou dois sobre como esconder coisas. Devagar, ele vem até mim, segurando meu rosto com as duas mãos, aquele oceano azul me encarando com uma intensidade maluca.

– Desculpe se foi rápido demais, não achei que ia ser grande coisa.

– Não precisa se desculpar, é um espaço no closet. – Sorrio abertamente para ele. – Só foi um fim de semana confuso, muitas coisas que eu ainda não digeri.

– É verdade, estou me sentindo estúpido por não ter pensado nisso antes.

Seu jeito tranquilo e preocupado faz minha mente rápida e feroz evoca memórias trágicas de um passado distante que eu gostaria de esquecer.

A calma antes da tempestade, é sempre assim. Só que essa não é a hora certa de bancar a garotinha traumatizada, eu poderia ficar remendo isso quando eu estivesse sozinha, lutando contra os demônios que eu conheço tão bem.

– Eu te perdoo por não pensar em todas as coisas possíveis, deve ser difícil ter controle de tudo.

– Mas você parece se dar bem com isso.

Escancaro a boca em choque, mas minha mente sabe ser rápida com tudo.

– Então acho que temos isso em comum. – Roubo um beijo dos seus lábios calmamente enquanto ele levanta as duas sobrancelhas em uma total careta de incredulidade.

– Acho que trocamos de corpos essa manhã. – Murmura por fim, antes de me segurar com força pela cintura, colando nossos lábios com certa brutalidade, o que não deixa o seu beijo menos incrível. – Vamos tomar café da manhã, temos um longo dia pela frente.

[...]
            P.O.V
         Jared Leto

– Uau, isso não é nada do que eu esperava. – Assovio impressionado. Apesar de conhecer Emma há muito tempo, eu nunca vim ao apartamento delas, porque Alex sempre estava aqui, pelo o que eu ouvi antes, ela não é do tipo que sai muito. Como eu.

Era possível – pelo menos para mim que conheço as diferenças entre as duas – perceber onde há toques de decoração de Emma e onde Alexandra domina, e isso significa a casa toda. Para alguém como eu, quando me dizem que duas mulheres jovens e bonitas moram juntas, a primeira coisa que se imagina é uma casa com cores repugnantes para a maioria dos homens e tudo o que temos aqui é um enorme apartamento moderno e com cores neutras, há muito preto e branco com toques de vermelho, há também alguns quadros e flores que fica claro que é a tentativa de Emma em dar cor ao lugar.

Esse apartamento é constrangedoramente diferente da minha casa. Eu sempre gostei de colocar a minha personalidade em cada canto, como se eu gostasse de transformar tudo para ficar igual a mim, virar um lar. Seja com esculturas que ninguém entende, mas que na minha cabeça fazem um sentido brilhante ou com quadros de artistas desconhecidos. Claro que vindo de alguém como eu, que tem vários traços de uma mãe que é decoradora de ambientes, eu sempre pensei que a casa de alguém reflete como ela é. E se para mim Alex tem uma personalidade bastante única, isso me faz pensar.

O quanto eu conheço Alexandra?

É desconfortável me sentir tão exposto assim, principalmente por que eu costumo saber muita coisa sobre as mulheres que me envolvo, principalmente os seus pontos fracos, no entanto, aqui estou eu tentando desvendar uma garota que parece ser uma coisa, mas se você analisá-la por tempo suficiente é possível entender que o que você vê é apenas a ponta do iceberg.

– Eu não tive coragem de tirar as coisas de Emma, mas ela é a parte mais feminina e extravagante daqui. – Ela dá de ombros, esticando os lábios grossos em um sorriso. – Mas me diga, o que esperava? Paredes rosas e móveis roxos?

Sua expressão irônica me faz rir.

– Algo do gênero.

– Isso é bastante machista da sua parte, além do mais, Constance disse que gostou. Claro que quis colocar alguns quadros e tal.

– Minha mãe esteve aqui antes de mim? Isso é estranho.

– Não sei o porquê, ela é minha amiga.

– É, acho que vou ter que me acostumar com isso.

Alex para por um momento, e sei que alguma coisa passa por sua cabeça, porque assisto o momento em que ela engole em seco e força um sorriso seco nos seus lábios.

Para mim, essa sempre é a pior parte. Ela achar que eu realmente sou tão tapado ao ponto de não perceber as coisas. Eu só achei que tínhamos estabelecidos confiança suficiente um no outro para contar pelo menos o que anda a incomodando tanto assim. E se Alexandra não quer falar por vontade própria, ela vai falar por pressão.

– Tive uma ideia.

– Ah é?

Seus olhos se estreitam em uma fenda firme, completamente desconfiada.

– Se arrume, vamos para a academia.