História Dominated (Revisão) - Minha querida estante de demônios

“Você tem um coração frio, frio
Você constrói uma casa de cartas
Eu conheço todos os seus segredos
Eu conheço todas as suas mentiras
Eu sei onde você os mantém
Enterradas profundamente
Não, você não pode esconder”.

– Secrets and Lies

Mal tive tempo de apreciar o fato de acordar com Jared me chamando, suas próximas palavras me deixaram frustrada.

– Estamos quase atrasados, Alex, levanta, droga. – Era engraçado vê-lo se debater contra suas calças apressado, eu quase nunca o via assim.

Porém o “atrasados” ressoou na minha cabeça, eu não tinha como escapar. Meu estômago está se contorcendo e doendo, meu corpo pega fogo e eu tenho certeza que quero fugir para qualquer lugar.

– Estarei te esperando no carro lá em baixo, quinze minutos. – Jared voou para fora da minha porta e ignorei a sensação ruim na minha garganta, eu não podia chorar agora, não havia tempo.

Não tomei banho. Apenas coloquei a roupa que eu já havia preparado na tarde anterior. Era um terninho preto, nada mais apropriado. Terminei de calçar os saltos naquele mesmo estado de torpor e prendi o meu cabelo, decidi que não usaria nada nos olhos, tenho certeza que em algum ponto do dia minhas lágrimas dissolveriam todo o meu trabalho.

Meu corpo treme e eu sinto minha pele se congelar a cada passo que dou até Jared, tendo certeza que eu poderia me jogar da limusine em movimento a qualquer hora, porém ainda não seria o suficiente para acabar com a minha realidade, eu ainda seria eu.

E nesse momento, isso é uma maldição.

– Tudo bem? – Ele pergunta segurando a minha mão com força. – Nossa você está congelando, Alex!

Sua voz parece me puxar de volta ao banco de couro do carro em movimento, solto um sorriso morto.

– Londres pode ser fria quando quer. – No fundo do meu coração, eu queria muito que o clima familiar de Londres fosse a causa desse gelo líquido que tomou o lugar do meu sangue.

Ouço um celular tocar, não demora muito até que a voz dele volte a preencher minha cabeça.

– Bom, isso poderia ter sido dito com alguma antecedência, teria trazido mais alguns investidores. – Me viro levemente para observá-lo melhor, ele não parece realmente irritado, até porque sua autoconfiança e bom humor parecem resolver aparecer. Penso que talvez isso me ajude. – Tudo bem, já estamos a caminho.

– E então?

– Robert quer uma conversa privada depois da nossa reunião, apenas eu, você e ele.

– Claro que quer. – Deixo meus pensamentos saírem por minha boca.

Eram quase onze horas da manhã e eu não tinha comido nada, mas ainda assim, a bile se agita ameaçando sair a qualquer minuto, principalmente quando estacionamos no subsolo do elegante arranha céu.

Logo estamos na companhia de Shannon e mais alguns funcionários.

– Você parece positiva. – Shannon me cutuca com os cotovelos de maneira brincalhona, mas não consigo esticar os lábios, eles só sabem tremer.

– Deixe-a em paz, Alexandra está se concentrando. – Jared toma o meu partido. – Você deveria seguir seu exemplo.

O silêncio perturbador seguiu por todo o luxuoso elevador, tinha esquecido como os outros funcionários temiam Jared. Como ficaria nossa situação? Ah, cara. Eu realmente não deveria estar pensando nisso agora.

Passamos pela pomposa recepção e vejo o olhar da recepcionista se estalar ao me olhar. Desvio minha atenção para notar se alguém percebeu a mesma coisa.

– O Sr. Baxter e os outros já estão esperando na sala de reuniões, sigam-me. – Ela murmura antes de tomar a nossa frente e nos fazer andar o mesmo caminho que eu já conhecia até a sala privada. Ao entrarmos, somos recebidos por uma sala cheia de pessoas e uma visão estonteante de uma gélida Londres.

São trocados alguns apertos de mãos até que Robert Baxter chegue até Jared dando aquele sorriso tóxico para nós.

– Jared Leto, é um prazer vê-lo pessoalmente.

– Igualmente, Baxter. – Ele é sério e compenetrado, sabendo com quem lidava, ou quase.

– Por favor, apenas Robert. – Seus lábios finos se repuxam mais uma vez.

– Alexandra. – Ele toca minha mão e o sarcasmo transborda de seus olhos azuis.

– Robert.

Por Deus, minha voz não sai fragilizada, minha máscara baseada no que eu queria ser se mantém intacta, mesmo que eu pareça á cinco minutos de uma parada cardíaca, ou de um ataque de pânico no meio de todos.

Me sento ao lado de Jared, e a reunião se passa rápido demais, talvez seja minha noção de tempo fodida pelo fato de ter que encarar o inevitável. Até minha apresentação é sucinta demais, e ninguém tem pergunta alguma. Porque quando me levanto e explico a base de nosso projeto, vejo olhares aos poucos me reconhecendo, só alguns, só aqueles que estão ali há tempo suficiente para não mencionar palavra alguma.

É difícil de se concentrar no território inimigo, mas mesmo assim, tento ser profissional o suficiente. Percebo que atingi meu objetivo ao encarar Robert Baxter nos olhos com a testa franzida. Não era novidade para mim que ele me esperava como a garota patética, mas o gosto dessa pequena vingança serviu como combustível para que eu terminasse minha fala.

Tudo me parece muito promissor, e embora eu tenha minha decisão praticamente tomada. – A voz brusca de Robert interrompe Shannon no meio das negociações contratuais. – Precisamos de um tempo, então damas e cavalheiros, estão dispensados até segunda ordem. – Suas rugas se espremeram em um sorriso rígido.

Pouco a pouco a sala começa a esvaziar, sobrando Shannon que também é dispensado com um aceno de cabeça de Jared.

– Vamos até a minha sala, é mais confortável.

A pequena conversa toma segundo lugar na minha cabeça, porque na verdade eu estou calculando a velocidade e o meu peso, para saber de qual distância eu deveria correr até a enorme janela para que ela quebrasse e me levasse junto até o chão de concreto.

Andamos até o elevador novamente, me sinto como uma vaca no abatedouro, ficando junta com esses dois homens num espaço tão pequeno enquanto seguimos até o último andar. ali dentro o silêncio chega a ser perturbador, fica claro para mim que nenhum dos dois se gostam, são dois alfas juntos, claro que não ia dar certo, porém ainda tinha chances de cada um sair feliz com sua parte da barganha e depois cada um ir para sua casa, mas a cada segundo estamos a um andar mais longe da paz.

As palmas da minha mão estão suando e eu tenho quase certeza de que estou á beira de um ataque de pânico, a sensação amarga da lembrança me faz ficar enjoada. Eu já sabia os sintomas de cada ataque antes disso.

O tempo parece passar muito devagar enquanto eu tento lutar contra a bile que ameaça subir, mas sei que no fundo só se passaram alguns instantes até o elevador apitar pedindo uma senha para se abrir.

E então lá está a cobertura de Robert Baxton, o lugar em que ele mais passa o seu tempo. Ele anda como um rei orgulhoso, exibindo seu castelo, indo na nossa frente.

Jared percebe que algo está errado comigo e revira os olhos, fazendo uma piada silenciosa sobre Robert, mas não consigo repuxar os lábios mais uma vez.

– Aceitam alguma coisa? – A voz rude volta a soar.

– Dois copos de água. – Jared pede com um olhar preocupado em minha direção.

Percebo o olhar de Robert faiscar para mim, antes que ele se abaixe para pegar água.

– Sentem-se por favor. – Ele murmura nos entregando duas garrafinhas de água.

Com um barulho desnecessário todos nós nos sentamos.

– Tenho que admitir Sr. Leto, ouvi dizer que você era implacável com suas negociações, mas eu tenho que lhe aplaudir por essa.

– Obrigada, mas o crédito é justamente dividido com Alexandra. – Quero mandar Jared calar a boca, ele só está fazendo papel de idiota agora, quero dizer para Robert dizer logo o que ele quer desde que chegamos, mas estou paralisada, minhas mãos trêmulas, balançando a água com calma.

– Claro que é, sabemos que Alexandra Baxter evoluiu muito sob a sua tutela Sr. Leto.

Por meio segundo o rosto de Jared é divertido e confuso, como se tivessem contado uma piada que ele não havia entendido por completo. Depois ele olha para mim, meio sério, meio perdido.

– Me desculpe, mas acho que não entendi, senhor. – A negação é clara nos seus olhos de mar.

Mas então Robert vira um porta retratos que eu tenho certeza que está ali somente para essa ocasião.

A foto serve como um soco no estômago tão forte que me faz fechar meus olhos.

Na foto, sempre muito sério, está Robert, eu e o resto. Era a foto de família bem antiga, tirada para as festividades de fim de ano. Eu tenho no máximo doze anos ali.

Robert olha com uma diversão sádica para Jared, sei que ele não tinha certeza sobre o que ele sabia ou não, mas meu pai sempre está preparado para as duas opções, e esta com certeza o agradou mais.

– Alexandra, eu não acredito que você não contou ao Jared quem são os seus pais. – Ele solta uma risada de trovão. – Esta é a mãe de Alex, minha mulher Eliza, e aqui são meus outros dois filhos, que você provavelmente já conversou por telefone, Carter e Owen.

A menção de cada nome é uma nova onda de enjôo que me possui, engulo com força, tentando manter-me calma, ou ao menos parecer que é assim que me sinto.

– Bom, me parece que vocês precisam conversar, mas só quero informar que a proposta está mais do que aceita, e também queria estender um convite até você Jared, meu expediente hoje foi apenas para você e sua equipe, e agora estou indo para casa, sei que nada faria minha esposa mais feliz do que te conhecer e rever Alex, faz muito tempo.

Jared ainda parece muito abalado com as recentes informações, e eu estou atordoada em ter que rever a minha família, não estou em poder de pedir nada, mas tê-lo comigo hoje, tornaria a tarde mais suportável. Ignoro o meu altruísmo quando o imploro com o olhar, usando o que sobrou de nossa perfeita conexão.

– Não poderia estar mais ansioso, Sr. Baxter. – Fico feliz que Jared tenha tantas máscaras, eu até tinha me esquecido como ele pode ser frio às vezes, claramente eu terei que me acostumar com essa sua faceta cruel novamente.

– Ah, isso é maravilhoso. – Robert ri deliciado com o clima da tensão que parece prestes a estourar.

– Espero que não se importe se Alexandra e eu lhe seguirmos com o meu carro.

Desta vez, o meu fatídico tormento parece agradar os dois.

– Com certeza não. – Ele olha para o seu relógio de pulso. – Acho melhor irmos andando, não queremos deixar a ansiedade de Eliza em níveis alarmantes, não é mesmo, querida?

Aceno a cabeça positivamente, meio que no automático, ignorando o máximo que eu posso o fato de ter que revê-los e muito em breve expor toda a minha querida estante de demônios para Jared, isso é, se ele ainda quisesse ouvir qualquer palavra que fosse sair da minha boca.

Eu ainda não sei ao certo qual opção me parece melhor. Contar tudo para ele, ou nunca mais falar com Jared.

As duas me parecem igualmente dolorosas, e só espero que no final, eu possa conviver com qualquer uma das opções que me forem dadas.

Só me resta isso, esperar por coisas que não posso controlar.

É meu maior medo que parece se repetir, não importando o quanto eu me esforce para mudar os fatos, o resultado final é sempre o mesmo.