Eu estava deitada sobre Samantha coberta até o meio das costas pela manta do sofá, com a cabeça recostada em seu ombro sentindo seus dedos deslizarem suavemente por minhas costas.
E naquele instante eu conseguia entender a singularidade que diziam existir no ato de “fazer amor”. Era algo magico que eu descobri que já o fazíamos antes sem mesmo saber, eu pelo menos, mas agora ambas conscientes disso fazia tudo parecer mais extraordinário.
Primeiro impacientes e apressadas, foi tudo tão rápido e intenso como se estivéssemos famintas uma da outra e precisássemos nos saciar repetidas vezes e no final estávamos exaustas.
Depois, com as saudades já amenizadas, folego recuperados e cientes das declarações e dos sentimentos uma da outra, foi tudo mais calmo e sem pressa alguma. Era como se eu enxergasse tudo com mais clareza, os lábios fossem mais macios, a pele mais suave e o sabor ainda mais doce.
Ali naquela sala quase escura com crianças dormindo tranquilamente no cômodo ao lado. Nós nos redescobríamos entre olhares e sorrisos, beijos e caricias, sussurros e gemidos baixos.
Eu amava Samantha e ela me amava, a perfeição disso me deixava em um êxtase contínuo uma felicidade que eu nem sabia explicar, e nem precisava, sentir já era o bastante. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.
—Não sabia o quanto você era tagarela quando fica nervosa. —ela falou sorrindo debaixo de mim e eu escondi meu rosto em seu pescoço— Não estou zoando você, eu gostei achei lindo.
—Mesmo?
—Mesmo, ninguém nunca veio a minha porta e disse tantas coisas pra ficar comigo. E ouvir isso da mulher que eu amo, foi maravilhoso.
Eu levantei um pouco o corpo e o rosto para olha-la.
—Diz isso de novo.
—O que?
—Que eu sou a mulher que você ama.
Ela sorriu e olhou nos meus olhos
—Você é a mulher que eu amo.
Eu a beijei brevemente
—Eu sabia, mesmo que com um pouco de medo, que te colocar contra a parede valeria a pena.
— Se eu soubesse que essa seria a recompensa teria eu mesma me colocado contra a parede. —Nós rimos e nos beijamos.
—Tenho que olhar os pequenos. —Ela disse cortando nosso beijo.
—Se eles não acordaram antes, não acordam mais. —Falei impedindo que ela saísse. Mas logo depois meu estômago roncou, tão alto que nem acreditei.
Ela riu mais alto.
—Ta aí a minha deixa, tem sanduiches prontos na geladeira — ela sorriu se esgueirando por debaixo de mim e eu deixei. —já volto.
Ela desistiu de procurar a calcinha e vestiu apenas a blusa e sua calça.
Me vesti também e fui até a cozinha.
Eu ainda estava analisando a geladeira quando a ouvi de volta.
—Olha quem eu achei muito bem acordado. —Samantha falou voltando a sala com o Max no colo com o cabelo todo bagunçado.
E eu ri.
—Eu acho que esse rapazinho também está com fome.
—Ele é sempre tão quietinho assim? — falei fechando a geladeira.
—É sim.
Fiquei com ele enquanto Samantha preparava a mamadeira. Liguei a tevê no volume baixo e deixei no programa de talentos que estava passando. Ele esfregou os olhos algumas vezes e deitou a cabeça no meu ombro acariciei suas costas, encostei o nariz e senti o cheiro da cabecinha, era tão bom, e quando virei de novo Samantha me olhava sorrindo.
—Não me olhe assim. —ela riu mais ainda.
—Que foi? pra quem não gosta de crianças você se dá muito bem com elas.
—Eu não disse que não gostava só falei que não me imaginava com filhos.
—Que pena, nos meus planos tem no mínimo dois.
—Vamos com calma. —eu ri.
—Só estou falando. —ela me entregou a mamadeira e pegou o Max.
Deitou-o nos braços como se tivesse feito aquilo um milhão de vezes, pegou a mamadeira e deu a ele.
Ela o ninava dançando no ritmo da música lenta que o cara cantava no programa, exatamente como da última vez e ela estava tão linda fazendo isso.
—Que foi? —ela perguntou enquanto eu a admirava.
—Você é linda!
Ela sorria e ficava mais linda ainda. Fiz alguns sanduiches e voltei para o sofá e sentei ao lado de Samantha que estava com Max quase adormecido em seus braços enquanto mal víamos o que se passava na tevê. Sabíamos que tínhamos muitas coisas para conversar, mas tínhamos todo tempo do mundo para isso naquele instante a conversa mais importante era entre nossos olhos.
#
Domingo
Acordei na manhã seguinte com as mãozinhas de Emma no meu rosto, a imagem da garotinha de cabelos loiros e bagunçados dizendo pra eu acordar foi a primeira coisa que eu vi quando abri os olhos, e ela já me arrancava o primeiro sorriso do dia.
Sentei na cama e do lado da Emma, Max dormia agarrado ao pescoço de Samantha e eu não tive coragem de acorda-los.
—Vamos tomar café! – falei baixinho, ela fez que sim com a cabeça e eu a peguei no colo.
Depois que terminamos o cereal, que era a única coisa que eu sabia fazer para crianças, e de ouvir Emma falar, e muito, sobre as historias de princesas, eu a ajudava a escolher um filme diferente.
—Acho melhor eu ir acordar a Branca de Neve.
—Só o príncipe acorda a Branca de Neve.
—Ah você quer ver como eu consigo?
Peguei a mãozinha dela e fomos até o quarto, Samantha ainda dormia do mesmo jeito.
—Não pode fazer barulho. —cochichei e ela concordou.
Segurei meu cabelo, me aproximei com cuidado e encostei meus lábios nos dela, assim que me afastei ela sorriu.
—Você acordou ela! —Emma falava e nós riamos.
Depois de alguns filmes arrumávamos a bagunça e Samantha tinha uma séria conversa sobre os reinos encantados tentando convencer Emma a nos deixar ser Merida e Mulan ao invés de Ariel e Branca de Neve, e parecia ter a convencido.
—Sabe que está convencendo uma garotinha de que tem princesas lésbicas no seu conto de fadas não sabe?
—Até parece. Uma larga o marido para ir pra guerra e a outra não quer saber de se casar. — ela piscou e foi atender a porta.
—Mamy! —Emma gritou assim que viu Lexie no corredor.
—Oi princesinha, se divertiu com a tia Sam?
—Aham! E com a Merida.
—Com quem?
Sai da cozinha e ela riu assim que me viu.
—Ah, agora entendi! —ela ria. — é Elliza não é?
—Sim, mas pode chamar de Liza.
—Ok Liza, e onde está meu baby boy?
—Brincando no tapete de atividades —Samantha falou indo busca-lo— Ele esta enorme, daqui uns dias os travesseiros Não vão funcionar mais.
—Eu sei da próxima vez eu trago o cercadinho, eles deram muito trabalho?
—Quando que eles deram algum trabalho Lexie?
—Passe uma semana inteira com eles meu bem. —Demos risada.
—E então como foi a saída...
Elas conversavam no sofá com as crianças e eu fiz sinal para Samantha de que ia fazer uma ligação e sai.
—Ta acordada?
—Agora estou. —Hellen respondeu depois de alguns segundos. —não me diga que está correndo em pleno domingo.
—Eu não estou correndo. — cantarolei.
—Espera. Está feliz? Você transou! Falou com Sam?
— Que horror —dei risada— Mas sim estou na casa dela.
—Ai meu Deus e aí como foi?
—Eu nem sei como eu consegui falar mais falei, eu disse que a amava, disse que queria ficar com ela, estamos namorando e ela disse que eu sou a mulher que ela ama, e eu não sei se essa frase deveria mexer comigo do jeito que mexeu, mas eu estou muito feliz.
—Eu estou vendo, não consegui processar metade do que você disse, mas está tudo bem o importante é que está feliz e eu estou feliz por vocês.
—Obrigada Hell, mesmo, por tudo!
—Não tem que agradecer.
—Agora pode voltar a dormir, só queria que você fosse a primeira, a saber.
—Oh querida eu também te amo. —Ela ria — Até mais.
—Até.
Desliguei e caminhei alguns passos até a porta e antes que eu a alcançasse, Samantha e Lexie saíram com os meninos.
—Então... Você é a namorada? —Lexie perguntou me olhando e sorrindo.
—Sou sim. — mordi o lábio e sorri completamente desconcertada com o jeito que ela me olhava.
—Até que em fim, achei que você nunca mais fosse voltar à ativa. —Ela falou dando um aperto no braço de Samantha que a mandou calar a boca no mesmo instante.
Nos despedimos e eles pegaram o elevador.
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POV Samantha
Almoçamos na Madison Ave. E depois fomos caminhar um pouco no parque.
Eu tinha uma mão em volta da cintura de Elliza e a outra entrelaçada a uma de suas mãos enquanto caminhávamos.
Nunca tínhamos andado nas ruas tão próximas assim, e nem era questão dos outros verem, era mais um nível de intimidade romântica ou algo do tipo que nos não tínhamos. Agora estávamos oficialmente namorando e eu poderia fazer em fim tudo que julguei ser “de mais”.
Nos abraçávamos, nos beijávamos e riamos como duas adolescentes. Desde que nos conhecemos nunca a tinha visto tão feliz e saber que eu era o motivo dessa felicidade assim como ela era da minha, me dava vontade de gritar para o mundo.
—Você está acabando com tudo que eu acreditava, ou melhor, tudo que eu não acreditava. —Ela falou quando encontramos um banco para nós sentar.
—Bem eu espero que isso seja algo bom.
—É sim, sabe essas histórias de que fazer amor é diferente de fazer sexo e que o amor deixa tudo mais belo, o vermelho fica mais intenso, o azul é mais azul e tudo tem um cheiro doce? Então, é totalmente verdade.
—Claro que é. —beijei seu rosto
—Lembra do dia em que você descobriu a varanda em meu quarto? —confirmei— então, eu não sei o exato momento em que comecei a te amar, mas naquele dia eu já via tudo mais belo, porque eu tinha você. —Elliza acariciou minha mão — e ontem tentei vê-los sem você e parecia tudo tão comum.
—Então era isso que você fazia na sacada?
—Como sabe?
—Eu fiquei louca sem você queria te ver, só pra saber se estava bem, então estacionei o carro na sua esquina na esperança de te ver e imagine a minha surpresa por vê-la na sacada, mesmo de longe meu coração se aquietou um pouquinho.
—Ah que linda minha namorada psicopata —eu a cutuquei e ela riu— e por quanto tempo você ficou me observando?
—Até você entrar e depois vi você ir correr no parque. —falei corando e ela ria.
—Então você me seguiu no parque também
—Não, depois que vi você sumir decidi que já tinha ido longe de mais.
—Tem certeza?
—Juro. Eu nem saí do carro.
Ela me olhou com os olhos semicerrados como para saber se eu não estava mentindo.
—Para com isso, você que está parecendo uma psicopata. —Dei risada beijando seu rosto em seguida.
—É que quando eu estava correndo eu senti uma coisa estranha, tipo quando você acha que tem alguém te seguindo, mas não tem ninguém sabe?
—Já ouvi falar nos fantasmas do central parque, mas os casos são sempre à noite.
—Para idiota, não brinque com isso.
—O quê, você acredita em fantasmas, mas não acreditava em amor? Qual o seu problema?
—Não sei. —Ela ria— Não é que eu não acreditasse no amor em si, eu adoro comédias românticas e tudo mais e sabia que essas histórias acontecem de verdade, eu só não acreditava que pudesse acontecer comigo, que eu fosse capaz disso algum dia, sei lá, sempre achei que eu tivesse defeitos emocionais como minha mãe.
—Oh venha cá você não tem nada dela. —eu a puxei para um abraço.
—Você não a conhece mesmo? Nunca viu nem uma foto? —Fiz que não.
Eu realmente não fazia ideia de como ela era, o que conhecia de Martha Reynolds era somente por seus livros e criticas. Ela então pegou o celular e segundos depois me mostrou uma foto.
—Meu Deus! —Eu ri quando ela colocou o aparelho ao lado do rosto, nem precisava, tirando os fios mais claros quase loiros eram praticamente cópias, uma versão mais velha da minha namorada.
—Ainda não tenho nada dela?
—Pelo menos da personalidade não. —sorri e peguei o celular dando zoom na imagem— Nossa ao menos você sabe que vai continuar gata quando envelhecer.
—Tire os olhos da minha mãe sua pervertida.
—Ah você sabe que só tenho olhos para você.
Coloquei uma mão em seu rosto olhando cada detalhe dele.
—Você não sabe o quanto eu adoro esses olhos. —Ela sorriu encarando meus olhos.
—Ah eu sei. Porque eu também amo os seus.
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Eu a via dormir tão tranquila agarrada a minha cintura, eu enrolava um de seus cachos rindo da nossa conversa de mais cedo, pelo visto não era só eu que evitava dizer coisas antes, no caso de Elliza ela evitava fazer perguntas e fez muitas. Eu não tive escolha a não ser responder todas. Sobre meu primeiro namorado, Jesse, minha primeira namorada, Daphne e a última, Emily. Isso fora o questionário sobre como me descobri, me aceitei e me assumi. Eu teria o direito de fazer as mesmas perguntas de volta pelo menos as primeiras, mas não o fiz, para pessoas ciumentas como eu a ignorância é mesmo uma benção. Eu realmente não queria saber dos caras que a tocaram, se eu pudesse queria esquecer que o idiota do Benjamin foi um deles e bem, eu não queria pensar nisso, queria mesmo era eternizar a imagem da ruiva em minha cama abraçada a mim, ela era minha namorada agora e só isso que importava.
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—Esses são os modelos da nova coleção em ouro branco, é alguma data especial? —o senhor baixinho gerente da joalheria perguntou depois de colocar duas bandejas de anéis sobre a mesa a minha frente.
Eram todos extremamente lindos, mas algo me repreendia a não olha-los de mais.
—Não, apenas um mimo.
—Ah sim, miladies adoram ser mimadas, que tal este? —Eu não tinha falado nada que entregasse o jogo, mas o senhor de bochechas rosadas sabia de minhas intenções, percepção ou anos de prática talvez.
O anel que ele me mostrou era um Cartier solitário de dois ou três quilates tão delicado que tive todo cuidado ao pegá-lo, era realmente lindo e ficaria perfeito no anelar esquerdo de Elliza.
Faça isso se quiser fazê-la fugir de você Samantha
—Este é maravilhoso, mas talvez seja algo para daqui a algum tempo. —sorri e o coloquei de volta— ela acabou de aceitar ser minha namorada e depois de um bom tempo então não quero assusta-la.
—Oh claro mademoiselle, tenho algo perfeito para a ocasião.
Ele sumiu me deixando com um sorriso bobo, meu pai costumava me chamar de Mademoiselle quando me tirava para dançar nas festas de família.
Alguns minutos depois ele voltou com uma caixinha de veludo preto nas mãos e assim que ele abriu meus olhos brilharam.
—Perfeito!
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POV Elliza
O dia estava claro, mas sem sol, hoje foi dia de correr sozinha e pude ver os sinais de que o outono se aproximava curtindo a calma e o silêncio. Assim que encontrei com Hellen minha paz acabou, ela se juntou com Amber e as duas me bombardearam com perguntas e risos, eu nem me importei na verdade ainda estava bem encantada com o fim de semana e não conseguia tirar o sorriso do rosto.
—Então a senhorita resolveu se juntar a nós hoje hein? —Ben perguntou e eu sorri mais abertamente em resposta colocando minha bandeja sobre a mesa— e está de bom humor?
—Eu estou sim. —respondi e percebi o olhar das outras duas ao sentarem a mesa rindo.
Mais cedo elas tinham dito que não viam a hora de ver a cara dele quando soubesse da novidade, havia alguma piada interna entre as duas.
—Não quer saber o motivo? —Perguntei depois de ele ficar em silêncio encarando as duas risonhas ao meu lado.
—Provavelmente fez as pazes com Samantha. — Ele sorriu dando uma garfada.
—Há, melhor que isso, elas estão namorando. — Amber anunciou.
—E ela quebrou o encanto a nossa ruiva está amando. —Hellen falou como se contasse vantagem e Ben engasgou logo em seguida.
—Opa! Aqui. —Entreguei minha garrafa d'agua para ele.
Ele bebia enquanto pelo canto dos olhos eu via as duas segurando as risadas.
—Então vocês estão namorando, que le-legal —ele bebeu mais um pouco.
—É sim.
—E você a ama?
—Aham.
—Como isso é possível? Digo você disse uma vez que não acreditava
—Eu sei, também demorei a entender o que estava sentindo, mas a Hell me ajudou, ele olhou rapidamente para ela de um jeito não tão amigável.
—Ah... —ele forçou um sorriso e eu mudei de assunto.
Já esperava uma reação até mais negativa dele, eu sabia que seus conceitos não tinham mudado de uma hora para outra, mas ele estava fazendo seu melhor.
—Bom se estão namorando é melhor se prepararem. —Ele disse depois que tínhamos terminado de comer e esperávamos a hora de voltar.
—Preparar pra que? —Eu o encarei junto com as meninas.
—Para isso. —ele mexeu no celular e depois me passou o aparelho.
Era a imagem de um pôster de divulgação.
No dia 8 de agosto, próximo sábado seria a feira do livro em NY, o evento acontecia todo ano no fim do verão, e entre os autores que estariam presentes estava o nome de minha mãe, eu sabia que ela viria, mas não tinha avisado o dia e imediatamente meu estômago revirou ao pensar no que ela diria do meu novo relacionamento.
—Droga eu me esqueci disso. —Falei após devolver o celular e as outras duas logo o pegaram para ver do que se tratava.
—Então a Tia Martha vai dar as caras e você não fala nada.
—Ela ligou a pouco mais de um mês Hell, mas não tinha dito a data.
—Tia Martha? —Amber perguntou.
—É a mãe da Liza e ela não gosta que a chamem de tia. —Ben falou e Hellen deu de ombros do outro lado da mesa.
—Eu não sou loca de falar isso na frente dela.
Eles tagarelavam e minha mente viajava para os discursos preconceituosos disfarçados de sermão cristão de minha mãe e suas amigas.
Elas sempre diziam o quanto isso era abominável e errado perante Deus, lembro até dela ter se afastado de uma de suas “amigas” por a mesma ter apoiado o filho gay.
—Ela vai me odiar, com toda a certeza ela vai! —Pensei alto e abaixei a cabeça na mesa.
O burburinho na mesa parou no mesmo instante.
—Oh baby não vai não, vai ficar tudo bem. —Senti a mão de Hellen em minhas costas.
—Eu não tenho tanta certeza.
—Benjamin. —a loira o repreendeu.
—Que foi? Você conhece os pais dela, sabe como eles vão reagir.
—Eu sei, você sabe e ela também, mas se não vai ajudar fique calado.
—Quem sabe você não conversa com eles e fazem eles mudar de ideia, porque você sabe como ajudar um amigo não sabe?
A discussão entre os dois acabou com Ben saindo da mesa.
—Ok, o que foi isso? — Amber fez a minha pergunta.
—Nada, Ben sendo idiota como sempre. —Hellen respondeu o que não convenceu a Amber e muito menos a mim, mas eu tinha outras preocupações agora. Meus pais.
Amber era a única da mesa que não conhecia os conhecia. Antes das viagens de divulgação do último livro de minha mãe isso devia ter uns quatro anos, eles vinham com mais frequência, e com isso eu quero dizer uma vez por ano no ação de graças e eu ia para Nova Jersey no natal, nas duas ocasiões Hellen ou Ben me acompanhavam, as vezes os dois, então eles conheciam a Sra. Reazzer e entendiam minha preocupação.
Contei a elas sobre a ligação de um mês a trás, e agradeci por não me abalar tanto como da primeira vez. Hellen por outro lado ficou horrorizada, ela adorava minha mãe como profissional e mesmo que não estivessem na mesma área ela se dizia inspirada pelo modo como ela levava a sério o trabalho.
E era exatamente isso que eu não idolatrava em minha mãe.
—Olha ela se superou dessa vez querida. —Hellen disse cruzando os braços e se recostando na cadeira.
—Eu não conheço sua mãe, e também não tenho um relacionamento bom com os meus pais e sei que isso é chato, mas se eles fizessem isso eu ficaria furiosa. —Amber completou.
—Eu sei, não acho que eu vá a essa feira.
—Querida sabe que vou estar ao seu lado sempre e se você decidir ir nós não te deixaremos sozinha. —Hellen olhou para a morena ao seu lado que concordou— mas se eu fosse você faria como a Maggie e não iria, ela não sabe a filha maravilhosa que tem e nem faz esforço para te ver, porque você deveria ir até ela? Mesmo que ela vá ficar poucas horas na cidade, mas nem alguns minutos ela pode te dar? Francamente.
—Estou com a Hell, se quiser beber o sábado inteiro, estaremos à disposição e se você quiser eu tenho um amigo no The Yorker que adoraria fazer uma critica ruim do livro dela.
—Vocês não prestam. —dei risada— o que eu faria sem vocês?
—Nada. —Falaram em uni sono.
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Minha mãe nunca fez questão de esconder suas opiniões, uma mulher imponente e perspicaz que causava certa intimidação e desconforto em quem não a conhecia, Confesso que até hoje ela me causava um pouco disso também. O que balanceava tudo isso era o carinho de Richard, meu pai, ele sempre procurava amenizar a dureza de minha mãe sendo assim o mais adorado das reuniões, o que me trazia lembranças.
Ele sempre concordou com qualquer coisa que Maggie e eu quiséssemos fazer, quando minha irmã disse no último natal, antes de se mudar, que iria embora para Alemanha se casar com um homem que tinha conhecido há seis meses, ele a apoiou de primeira. Eu por outro lado queria dizer “O quê? Você só pode estar ficando louca”, mas sabia que assim que o fizesse ou ela me ignoraria o restante da noite ou iniciaria uma discussão então fiquei na minha.
Owen era um cara legal e é claro que eu estava adorando eles juntos, porque Maggie ficava menos tempo em casa e quando ficava era um doce de pessoa, eu não tinha dúvidas de que ele cuidaria dela, mas sei lá se mudar para outro país outro continente para se casar com um cara que conheceu a menos de um ano? Isso não entrava na minha cabeça. Hoje eu acredito que eles se amavam e ela não queria ficar longe dele, eu tinha aprendido na prática como isso poderia ser doloroso.
No entanto quando apresentei Ben como meu namorado, assim que ficamos a sós meu pai fez questão de me dizer que não achava que ele fosse o cara certo, Richard nunca tinha dado um mísero palpite contrário a minha vida ou minhas escolhas e pela primeira vez o estava fazendo.
Desde que tinha saído de casa, Ben era o primeiro namorado que eu levava ao conhecimento deles, eu sabia que meu pai diria aquilo de qualquer um que eu apresentasse, ele buscava em mim algo que via explicitamente em Maggie, amor, e é claro que não encontraria em mim. Ben era maravilhoso, mas eu também sabia que não era o cara certo.
O cara certo...
Voltei a minha preocupação atual. O que ele diria da Sam então? Eu a amava e com certeza veria isso, mas será que ele diria que ela era a garota certa?
Os pensamentos tomavam conta da minha mente por toda à tarde, mesmo que eu evitasse, meus pais e o que eles pensariam de mim, me torturavam. Eu sabia muito bem quem era capaz de me acalmar.
“Estou com saudades da sua comida” mandei no fim do expediente.
“Só da minha comida né, sorte sua que eu estava pensando na mesma coisa”.
Quando sai da agência Hellen me arrastou para as compras, o Bonitão, como Amber tinha apelidado o cara de sábado, tinha chamado a loira para sair e ela estava quase surtando com isso, ela queria minha opinião e eu cedi, Amber não nos acompanhou.
Minha ideia de passeio tranquilo pelas lojas da quinta avenida não foi como eu esperava, Hellen estava empolgada como sempre, mas o próximo sábado ainda me assombrava.
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