#
Sábado
Eram poucas as vezes que eu acordava antes de Samantha, mas pelo jeito que ela se mexia não iria demorar muito. O relógio ao lado da cama marcava 09h13min, já fazia meia hora que eu estava acordada e meus pensamentos voavam para o evento da tarde. Encontrar meus pais.
Samantha tinha me convencido a acompanhá-la e as meninas também iriam, até o Ben se animou para ir e todos estariam ao meu lado. Mas eu não disse a eles que tinha decidido falar com meus pais, isso para o caso de mudar de ideia no meio do caminho. Mesmo com Samantha me dizendo a todo o momento que iria ficar tudo bem eu estava ansiosa e com um pouco de medo, claro que eu tinha saudades dos dois, apesar de tudo eram meus pais, mas no fundo eu ainda me sentia como aquela garotinha encolhida que se culpava pela frieza da mãe.
Balancei a cabeça espantando os pensamentos e me concentrei na mulher ao meu lado que se espreguiçava ainda de olhos fechados.
—Bom dia chuchuzinho...
Ela deu uma risada rouca antes de me olhar.
—Como é? Chuchuzinho?
—É, você me chamou de Amor e eu te chamei de chuchuzinho estamos quites. —Ela revirou os olhos e me puxou para um abraço apertado.
Ficamos ali por um tempo trocando carícias, olhares e vez ou outra uma risada escapulia. O clima só foi cortado pelo ronco perfeitamente audível do meu estômago e decidimos levantar.
—Você tem que ver isso. —Samantha disse voltando ao banheiro onde eu secava o rosto.
Coloquei a toalha novamente no suporte e a segui, ao entrar na sala me segurei para não rir. Amber e Hellen dormiam tranquilamente, mas a questão era as suas posições, estavam uma de frente para a outra com os rostos bem próximos e Hellen pousava uma mão na cintura da morena.
—Mas o... — Samantha tapou minha boca e me arrastou de volta ao corredor.
—Não as acorde!
—Você viu isso? — eu ria
—Shiiii...
Voltamos ao quarto e trocamos de roupa, passamos novamente pela sala, as duas continuavam do mesmo jeito e saímos para comprar café.
—Eu te disse que tinha alguma coisa. — Samantha falou assim que entramos no elevador. Ela já tinha me dito uma vez que achava a Amber meio interessada na Hellen desde a primeira vez que fomos pra balada todas juntas, mas eu não dei ouvido, não fazia sentido, como não fazia agora, mas que era engraçado, Ah isso era.
—Não tem nada de mais, a Hell sempre me abraçava ou jogava as pernas em cima de mim quando dormíamos juntas.
—Ok, mas aquela posição estava muito romântica você não acha?
—Eu devia ter tirado uma foto, só para inferniza-las um pouquinho.
—Eu pensei a mesma coisa.
—Eu sabia que tinha uma mente tão maligna quanto a minha. — Ela riu alto e saímos.
Fomos a uma cafeteria na esquina e logo voltamos com os quatro cafés e uma porção de muffins e rosquinhas açucaradas.
#
O céu estava claro e fazia mais sol do que de manhã. Samantha dirigia pelas ruas movimentadas da West Side tentando fugir do trânsito, iríamos almoçar em um restaurante que ela conhecia e depois iriamos para o evento. Amber e Hellen estavam no banco de trás e as três ainda riam das provocações entre as duas morenas. Samantha fazia render a cena que tínhamos visto pela manhã e Amber tinha prazer em dizer tudo que ouvira entre Samantha e eu na noite passada.
Eu tentava me distrair com elas, mas nem as piadas provocativas de Amber eram o bastante para me fazer desviar os pensamentos do encontro que estava prestes a acontecer.
#
POV Samantha
O almoço foi animado, pelo menos pro resto de nós,sentamos a janela como minha namorada gostava e por ela Elliza olhava fixamente, eu sabia que na verdade ela não olhava para nada, ou ao menos percebia o que se passava lá fora. Tinha os pensamentos tão distantes que quase a transportavam dali, e assim ela continuou, eu apenas consegui arrancar um sorriso quando antes de sairmos fui até uma confeitaria do outro lado da rua e trouxe sua sobremesa favorita. Eu tentei entender o que ela estava passando, sabia que não tinha como fazê-la se sentir melhor magicamente, mas quando ela sorria meu mundo se iluminava e se aquecia um pouco mais e isso era mágico.
Eu não podia dizer que estava tranquila porque não estava, por dentro estava nervosa e apreensiva. Depois da primeira vez, Elliza se abriu comigo mais algumas vezes sobre a mãe e eu sabia o quanto aquilo era difícil pra ela e confesso que tudo que ela me contou me assustou bastante. Talvez porque eu nunca tivesse passado por algo parecido, talvez porque meus pais eram pessoas maravilhosas, toda minha família era, talvez porque me assumir para eles foi algo tão fácil que era como se já soubessem antes de mim. Poderia ser esses ou qualquer outro motivo, não sei se algum dia eu entenderia as atitudes daquela mulher, especialmente por magoar tanto a pessoa que eu amava, mas eu tentaria simpatizar com ela. É claro que a Sra. Reazzer não gostaria nem um pouquinho de mim, não se soubesse que eu era a namorada de sua filha e eu também não esperava por isso, mas teria que me manter firme por Elliza. Eu sabia que nosso relacionamento não seria assunto na conversa dos três e eu nem sei se eles teriam essa conversa, só dela ter vindo me acompanhar já foi uma vitória, mas daí a procurar os pais era outra coisa.
Chegamos ao local do evento que estava bem movimentado, tentei o máximo possível tirar Elliza da profundidade de seus pensamentos, já estávamos ali e não teria muito que fazer além da decisão de ver ou não os pais.
—Ei garota! —Joy nos cumprimentou assim que chegamos ao estande da Miles— Não acredito que arrastou todas elas para trabalharem com você.
—Na verdade elas vieram curtir o evento.
—Mas, se quiser posso entrevistar aquela autora ali.—Amber apontou para a loira no estande ao lado. — ela parece séria, tem cara de romancista... Poetiza talvez.
—Aquela é Ava Robins autora de Romances eróticos.—Expliquei.
—Ótimo! —Ela piscou e caímos na risada logo em seguida.
Joy deu credenciais a todas e me entregou uma câmera fotográfica, ela precisaria de fotos para o site da empresa e eu fiquei encarregada por elas.
—Se o Ben tivesse vindo você teria ótimas fotos. —Elliza falou sorrindo e eu a reprovei com o olhar.
—Posso não ser um diretor de fotografia, mas sei me virar com uma câmera, ok?
Ela levantou as mãos em sinal de rendição e eu tive que fotografar aquele sorriso. Muitas fotos depois e quase todas de minha namorada, Benjamin apareceu e depois de conversar um pouco com as meninas saiu com Amber que se aproveitava do crachá amarelo pendurado no pescoço.
Já eram quase duas da tarde eu olhava para o relógio a todo instante, sabia que os autores convidados participariam de uma mesa coletiva com a mídia e um número selecionado de leitores às 14h e eu poderia colocar Ellizas e ela quisesse, mas a ruiva nem parecia se lembrar disso, ela segurava minha mão me puxando pelos estandes de “literatura empresarial” como dizia a placa. O lugar era imenso, a feira era uma das maiores vitrines para jovens autores e renomados escritores,todas as editoras da região disputavam por um espaço para divulgar seus trabalhos. Tirei algumas fotos e deixei Elliza com a Hellen.
—Jobs? —pergunte enquanto ela lia a contra capa do livro.
—Sim. —Ela sorriu— Muitas fotos?
—Umas cem eu acho. —Beijei seus lábios — já são duas, quer ver a coletiva?
Ela balançou a cabeça negativamente.
—Ok. E a Hellen?
—Foi dar uma olhada nos romances.
—Então, vamos atrás dela, romances são os queridinhos.
POV Elliza
Samantha não insistiu e eu agradecia mentalmente, eu ainda pensava em ver meus pais, mas não no meio de sua entrevista, provavelmente ela me ignoraria. De novo.
Seguimos as indicações até o corredor de romance e poesia e não demoramos a encontrar Hellen no estande dos maiores poetas.
—Ei você. —Hellen chamou Samantha assim que nos viu — me indique um bom livro de poemas.
—Algum autor específico?
—Não... Qual o seu preferido?
—Walt Whitman.
—Fale dele.
—Bom, ele é um dos maiores poetas americanos, excêntrico, desinibido um tanto machista em alguns pontos. —Ela sorriu— Seus poemas mesmos mais antigos conseguem ser atuais, graças a sua visão moderna e futurista demais para a década, ele também é conhecido como um desafiador por sua relação apaixonada com a democracia e suas conotações sexuais bastante escandalosas para época, mas não é bem romântico se é o que está procurando. —sorriu novamente enquanto eu a admirava. Desde que nos conhecemos Samantha tentava me impressionar quando falava de literatura, eu fingia não ligar, só para não demonstrar o quanto já estava impressionada com tudo nela e vê-la esbanjando seu charme me trazia uma sensação de nostalgia.
—Não é pra mim, Liam disse que gosta de ler poemas e eu acho que ele gostaria de um presente assim.
—Oh, certo me deixe ver... —Samantha olhou entre os títulos expostos até encontrar um exemplar de Folhas de Relva— esse é perfeito.
—Hm... Vejo que o Bonitão te impressionou mesmo hein?
Hellen deu de ombros e se encaminhou ao vendedor.
—Então Whitman é o seu preferido? —Falei sorrindo.
—Temos certa paixão em comum por Manhattan
—“Cidade de orgias, passarelas e gozos!
Ó, Manhattan! seu relâmpago frequente e ligeiro de olhos que me oferecem amor...”.
Citei um trecho do poema Cidade de Orgias de Whitman e ela pareceu surpresa.
—Não achei que gostasse de poesias, na verdade lembro de você ter dito que não tinha paciência para romances. O que para mim é uma ofensa. —Disse e fez um pequeno bico que beijei logo em seguida.
Isso não tinha nada com a minha crença ou a falta dela em relação ao amor, eu tinha certa intimidade com os livros já que minha mãe era escritora, mas romances nunca me prenderam, já os científicos, técnicos e qualquer um que fosse difícil o bastante para uma garotinha. Ah esses eu adorava.
—E não tenho mesmo, mas estudei muitos poetas e romancistas na faculdade.
—E qual o seu preferido, se é que tem.
—Não sei. Emily Dickinson talvez
—A mulher que morreu solteira, a solitária de Amersh. —revirou os olhos.
—Conhece mesmo a biografia de todos?
—Digamos que minha faculdade era bem mais exigente. —sorriu— “Os instantes supremos da alma acontecem-lhe na solidão, quando um amigo e a ocasião terrena se retiram...”.
—”... Ou quando ela própria subiu a um plano tão alto para reconhecer menos que a sua onipotência.” — eu completei, ela não sabia, mas esse era o meu preferido.
—Também conheço um: “Como uma virgem tocada pela primeira vez”—Hellen falou se aproximando de nós novamente— piscou sorrindo e Samantha riu alto.
—Hell isso não é poesia, é Madonna.
Ela deu de ombros e seguiu a nossa frente.
A feira era realmente gigante, infinitos corredores, infinitos estandes e é claro muita gente. Em um dado momento os corredores se esvaziaram consideravelmente e eu presumi que era a hora dos autógrafos com as celebridades presentes no evento, lembro-me de ter visto o nome da Jane Fonda entre elas. Isso também indicava como vi na programação do dia, que logo depois começaria a seção de fotos e autógrafos com os escritores presentes e eu já sabia bem para onde Samantha me guiava enquanto tirava mais algumas fotos.
#
Uma fila gigantesca se formava em direção a grande mesa com os seis escritores convidados
Peguei a câmera e tirei a foto e depois várias outras da morena de olhos esverdeados que distraidamente folheava um livro e assim que percebeu escondeu o rosto com o livro.
—Eu quero todas essas fotos que eu tirei. —Falei sorrindo e me aproximando.
—Não se eu apaga-las.
—Não ouse, esse cartão ficará comigo. —Indiquei a câmera.
—Aproveite edite as fotos para o site, não terá muito trabalho já que sou ótima fotógrafa. — ela jogou os cabelos para trás fingindo superioridade e não prendi o riso.
Seguimos a Hellen e também Amber e Ben que tinham nos encontrado. Estavam perto de encerrar a mesa de autógrafos, a entrada para fila já tinha sido fechada e os escritores só atenderiam o restante de pessoas. Escorei-me em Samantha que tinha parado logo à frente, seus olhos fizeram uma busca por alguns segundos e então se fixaram em um ponto. Ela gentilmente tomou meu queixo com uma das mãos e virou meu rosto para a direção em que ela olhava. E lá estava.
A última da mesa, uma mulher simpática e sorridente de cabelos quase loiros na altura do ombro atendia prontamente seus leitores, gestos que eu conhecia, eram os mesmos usados na igreja e nas reuniões sociais, mas quase nunca para com sua família, e um pouco atrás o homem grisalho de olhos azuis enchia uma taça com água e a colocou ao lado da mulher voltando para o seu lugar atrás dela cumprimentando algumas pessoas, sempre sorridente. Meus pais.
Um frio desconfortável tomou conta do meu estômago.
—Tudo bem? —Samantha perguntou pousando uma mão em minha cintura.
—Está sim —suspirei.
—Assim que esta fila terminar você poderá falar com eles se quiser.
Assenti e forcei um sorriso recebendo um beijo carinhoso no alto da cabeça. Senti outra mão em meu ombro e logo depois Hellen se colocou ao meu lado sorrindo junto com os outros dois, com certeza todos já tinham visto o casal e davam a mim um sorriso encorajador.
—Você deveria continuar suas fotos.
—Já tenho o suficiente, mas se quiser que eu vá. —senti sua mão em minha cintura se afastar e eu a prendi.
—Não foi isso que eu quis dizer, se não te atrapalhar, é claro que eu quero você ao meu lado. —Ela sorriu apertando sua mão em minha curva.
—Eu não vou a lugar algum.—Sussurrou beijando meu rosto em seguida. Meu estômago se aqueceu novamente.
Nos aproximamos mais alguns metros, um pouco atrás de alguns fotógrafos e pessoas da organização do evento. Não demorou muito para que os olhos azuis do homem me encontrassem e um sorriso encantador surgiu em seu rosto me encorajando a sorrir de volta. Ele fez sinal para que eu esperasse e eu assenti. Seus olhos logo correram para além de mim, acenando para Hellen e Benjamim.
—Seu pai parece simpático.
—Ele é.
—Sua mãe também tem um sorriso bonito —eu sorri— só não é mais lindo que o seu. Suamão escorregou encontrando a minha e entrelaçando nossos dedos.
—Sabe o que seria uma ótima foto e faria a Joy me amar pelo resto da semana. —a encarei com os olhos estreitos e ela riu— uma foto exclusiva da família Reazzer para a Miles, isso seria perfeito e cobriria todas as fotos ruins —ela riu
—Não quero que ela ame você, só eu posso fazer isso.
—Amor você veio para me ajudar não foi?
—“Amor” é golpe baixo.
—Então eu espero que isso seja um sim. —ela não esperou que eu respondesse e apenas se afastou de mim com um sorriso maldoso e se encaminhou para uma das organizadoras a dois passos de nós e cochichou em seu ouvido. Antes que eu a questionasse ela se virou novamente pra mim e seus lábios se moveram num “eu te amo” mudo para logo em seguida caminhar e chegar o mais próximo da mesa que a faixa de segurança permitia.
—Martha Reynolds — chamou a atenção da mulher— sou Samantha Jones e represento a Editora Miles— se apresentou e a mulher sorriu gentilmente— concederia uma foto em família para editora Miles? A mulher a encarou sem entender e logo depois Samantha olhou em minha direção e ela fez o mesmo.
Eu pisquei duas vezes antes de acreditar no que ela tinha feito, as pessoas a minha volta me olhavam e dava espaço para que eu passasse, agora os dois pares de olhos me encaravam e o homem veio em minha direção enquanto a mulher tinha um sorriso surpreso.
Eu iria mata-la iria sim
A mesma organizadora afastou a faixa de segurançae Richard se aproximou me estendendo a mão e eu a peguei depois de alguns segundos.
—Ficamos muito felizes que tenha vindo meu bem. Disse após um abraço rápido
Enquanto caminhávamos em direção a Martha fuzilei Samantha com um olhar. Subi o pequeno degrau e logo ela se juntou a nos com um sorriso altivo e seu terninho branco impecável.
—Está linda querida. —Ela disse após me cumprimentar encostando nossos rostos, não era um abraço nem um beijo no rosto, algo menos intimo entre os dois cumprimentos.
Samantha se colocou a nossa frente posicionando a câmera e eu ainda a olhava feio enquanto minha mãe se coloca entre mim e Richard, quando meus olhos encontraram os da morena, não consegui mais sustentar o olhar e involuntariamente eu sorri em resposta ao seu sorriso radiante tornando quase imperceptíveis os três flashes seguintes.
—Obrigada! —Samantha agradeceu e piscou pra mim e eu serrei os olhos mais uma vez.
—Richard tire-nos daqui antes que mais pessoas peçam fotos.
—Claro querida. Venham por aqui.
Ele indicou o caminho ate uma porta por onde minha mãe seguiu e ele me incentivou a entrar também. Era um corredor grande e cheio de outras portas.
—Vou pegar as coisas de sua mãe e podemos sair para tomar um café e matar as saudades, nosso voo serásóàs 22h mesmo.— Richard disse cautelosamente olhando para esposa.
—Tudo bem, ela assentiu.—Pegando o celular
—Eu tenho que avisar os meus amigos.
—Chame-os para nos acompanhar querida. —Ela falou sem tirar os olhos da pequena tela.
—Vou ver se podem com licença. —Me afastei sacando o aparelho do bolso
—Hey baby onde você esta?
—Numa espécie de backstage
—Está com seus pais? Ta tudo bem?
—Estou com eles e ta tudo bem sim, Hell eu sei como lidar com ela. A Sam esta com vocês?
—Está sim e bancando a sabe tudo por sinal. —Eu ri e antes que eu pedisse ela chamou Samantha.
—Olá —a voz era ainda gostosa por telefone— não precisa me agradecer.
—Idiota! Vamos a um café meus pais tem um tempo até pegar o próximo voo e minha mãe pediu para chamar meus amigos.
—Ok então eu automaticamente não estou convidada. —Porque não sou sua amiga
—Ha-ha muito engraçada, eu estou convidando minha namorada, mas eles não precisam saber disso avise aos outros e me encontrem na saída
—Isso não me convenceu e de qualquer forma ainda estou de serviço então vou recusar, mas divirta-se com pessoal.
—Sério?
—Sério, nos vemos de noite e você me conta como foi ta bom?
—Tudo bem, Amo você.
—Também amo você, se cuida.
#
POV Samantha
—Aqui—devolvi o celular da loira — a Liz disse pra vocês a encontrarem do lado de fora pra tomar café com os pais dela.
—Pera ai vocês? Você não vai?
—Não, ainda tenho que fotografar a entrevista de alguns escritores da Miles.
—Ah, que pena você iria adorar conhecer os Reazzer's—ela riu.
—Mesmo? Eles é que não vão me amar quando souberem de mim e da Liz.
—Verdade, boa sorte.
Ela foi falar com os outros eu voltei ao estande de literatura infantil.
—João e o pé de feijão era o meu favorito. — Amber falou se aproximando e eu dei risada — É sério, teve uma época que eu plantava todo e qualquer grão que encontrasse na esperança de ser um feijão mágico.
—Acredito em você.Não quis conhecer os pais da Liz?
—Eu não, pelo que entendi a mulher é um porre e os três vão passar a tarde bajulando ela, então não obrigada.— Eu ri alto
—Ok. Mas fala a verdade você me adora e não quis me deixar sozinha.
—menos ok? Vocênão é ruim, mas eu prefiro alguém solteiro e que não seja fodida da cabeça.
—O que? Porque eu sou fodida da cabeça?
—Não, você não. Mas alguém é e eu não quero esse alguém.
Analisei a morena por alguns segundos pensando se eu fazia ou não a próxima pergunta.
—Amber...
—Ai meu Deus!—claro que ela me interrompeu— aquele é o Iran Gayle?
Amber fugiu da conversa seguindo o suposto escritor que ela tinha visto. Encontrei minha chefe e tirei algumas fotos dela com os clientes da Miles e suas entrevistas, só estava feliz porque Joy me prometeu uma folga na quando eu quisesse. Amber voltou depois e conversamos sobre coisas aleatórias enquanto nos divertíamos na área dos HQ's.
#
Por volta das 19h fui liberada estávamos a caminho do apartamento de Elliza, mais cedo ela tinha me mandado mensagem dizendo que já estava em casa e faria o jantar. Eu estava realmente curiosa por isso.
—Sam — Amber tentou despretensiosamente chamar minha atenção enquanto eu manobrava o carro para entra numa vaga talvez pequena de mais.
—Fala — respondi com os olhos fixos no retrovisor
—Você sabia que a Liza era hétero? Aquele dia no Pub?
—Não, mas eu tenho isso de que todas são héteros até que se prove o contrario. —sorri e quando a olhei novamente ela fazia cara de que não tinha entendido— ok, eu não tinha certeza, mas eu gostei dela e tentei descobrir e o resto da historia você já sabe. —dei outro sorriso e voltei ao volante.
Ela ficou pensativa por alguns instantes e eu fingi não reparar, minhas suspeitas só aumentavam.
Amber pegou sua bolsa da noite passada no porta malas, as da Hellen e subimos.
—Liz? —Chamei assim que passei pelo Hall.
—Cozinha!—Segui sua voz.
Elliza usava o avental que eu tinha dado da primeira vez que se aventurou na cozinha comigo e mexia uma panela. Sorri e me aproximei, tinha os cabelos presos em um nó o que deixava sua nuca livre para os meus beijos.
—Você está me atrapalhando sabia? —Ela falou enquanto eu abraçava por traz e beijava seu pescoço.
—Mas você está tão linda. — ela sorriu e dei um último beijo. —O que está cozinhando?
—Estrogonofe de frango.
—Hm, eu não te ensinei isso.
—Peguei na internet, me pareceu fácil. —Concordei
—Ok —Amber se chegou apoiando os cotovelos na bancada. — me diga que estão fazendo bife com batata frita, estou faminta.
—Não, mas vocês vão gostar.
—O que quer que eu faça? —Perguntei lavando as mãos.
—Nada. Eu dou conta de tudo.
—Mas o que? É a Liza que vai cozinhar? Melhor eu procurar o número do delivery. —Amber provocou e Elliza pegou o pano em que eu secava as mãos e jogou na cara da Amber
#
—E então como foi com seus pais? —Perguntei quando nos sentávamos a mesa e nos servíamos.
—Muito bom, foi só fingir esquecer a ultima ligação e foi tudo tranquilo e a Hellen e o Ben paparicaram minha mãe o bastante. Enquanto meu pai me enchia de perguntas sobre a agência. O ponto alto foi quando contei da premiação —ela sorriu— meu pai claro ficou todo orgulhoso e até fez piada com o Ben.
—Já gosto do seu pai. —Sorri— E a sua mãe?
—Ela sorriu e me parabenizou gentilmente
Eu não entendi se aquilo era bom ou ruim e não soube ao certo o que dizer
—Que bom.— Amber me salvou
—É sim, vindo dela era a melhor coisa que eu poderia esperar e depois ela puxou uma conversa sobre trabalho que rendeu à tarde toda.
Ok então aquilo era algo muito bom.
—Fico feliz que tenha dado tudo certo. —Segurei sua mão sobre a mesa e ela sorriu.
—E eu agradeço por ter a melhor namorada e os melhores amigos ao meu lado, não sei se eu teria ido falar com eles sem vocês — ela alternava o olhar entre Amber e eu e sorriu.
—É nós somos foda. —rimos a mesa e eu a beijei rapidamente— Nós sempre vamos estar ao seu lado — falei olhando pra Amber do outro lado da mesa que assentiu.
Sorrisos, elogios e piadas sobre o dia e o jantar vieram em seguida.
—Achei que a Hell fosse vir com você. —Amber tentou ser a mais desinteressada possível e eu ri.— Quero dizer, eu trouxe as coisas dela pra cá.
Na verdade fui eu quem trouxe, mas já que ela tinha subido cinco lances de escada com tudo então ok.
—Ah, o bonitão a chamou pra sair então pedi pro meu pai nos deixar na casa dela. E eu fiquei com ela até ele chegar —Elliza sorriu— eu tinha achado o apelido bem idiota, mas visto de perto ele é realmente faz jus. —Elliza não estava mesmo vendo as reações de Amber, chutei seu pé por baixo da mesa e ela me encarou— Au! O que foi? Ele não chega aos seus pés. —Beijou meu rosto.
—Ele é bem legal também você — Amber forçou um sorriso
—Ele nos convidou pra sairmos todos juntos em uma outra vez
Deus porque minha namorada tinha que ser tão cega?
—Ah, legal
—Já terminaram? Eu levo a louça. Interrompi e percebi o alívio da morena.
Recolhi os pratos e Elliza me ajudou, deixei-a com a louça e depois fui ate o escritório para onde Amber tinha fugido. Bati a porta e ela me mandou entrar, estava sentada a frendo no notebook, mas não dava atenção alguma à tela. Aproximei-me e sentei na cadeira ao lado.
—Desculpe pelo jantar.—ela não me olhou— tentei faze-la para, mas sabe como ela é e...
—Não sei do que está falando.
—Qual é Amber, não precisa esconder de mim.
—Esconder o que, Sam? —Ela me encarava com um sorriso convincente.
Ok, eu é que estava ficando louca? Pensei em falar varias coisas e depois simplesmente desisti. Talvez ela não quisesse falar comigo, talvez não fossemos tão próximas quanto eu achava ou talvez eu estivesse mesmo vendo coisa onde não tinha.
—Nada —suspirei— pode me ajudar com as fotos? —retirei o cartão de memória do bolso e a entreguei.
—Claro. —ela sorriu e o abriu— Deixe comigo.
Devolvi o sorriso e me levantei
—Deus! — ela falou e eu parei a porta.
—O que foi?
—Seu trabalho era fotografar a Liza?
Dei de ombros
—separe essas pra mim, por favor. Ela revirou os olhos rindo e eu sai.
POV Elliza
Subi as escadas com uma garrafa de Cabernet e duas taças, Samantha brincava com Joe do lado de fora e assim que bati no vidro da janela eles entraram.
— Vejo que fizeram as pazes.
—Digamos que ele sabe se desculpar —Acariciou as orelhas dele— e também tem esses olhinhos irresistíveis. —rimos
—fico feliz que tenha dado tudo certo com sua mãe. —Ela falou enquanto eu me encostava nela.
—Depois que se convive com ela é fácil levar uma conversa agradável. Falar as coisas certas, não dizer as erradas e fingir que teve a vida que sempre sonhou.
—Isso não me soa como algo bom, tem certeza que a melhor coisa a fazer? Poxa você vive se anulando guardando tudo, isso não é bom.
Tomei o último gole pousando a taça na mesinha de centro, pensando no que ela dizia.
—Tenho. Você não a conhece mesmo que eu falasse tudo não mudaria em nada ou ficaria pior.
—Como pode saber se nunca tentou, sei lá ela é sua mãe ela deveria saber o quanto as atitudes dela magoaram e ainda magoam você, talvez se ela soubesse ela veria o quanto está agindo errado.
—Você está falando da minha mãe? Martha Reazzer? Reconhecer um erro —Eu sorri— Ela nunca está errada, é a mulher perfeita em tudo e voltar atrás não está em sua lista de tarefas. E também provavelmente ela me ignoraria de vez e eu já os vejo tão pouco então não acho que vale a pena brigar.
—Tudo bem, o que você achar melhor. Não ter que ser apresentada aos seus pais como sua “amiga” já está bom.
—Qual a implicância de ser minha amiga, as meninas não reclamam. — sorri
—Porque é isso que elas são. Eu já passei tanto tempo me escondendo, sentindo vergonha de mim mesma e você não tem ideia de como isso foi ruim e depois de tudo eu prometi a mim mesma que nunca mais faria isso novamente ou deixaria que alguém fizesse.
Minha garganta queimava mais com aquilo do que com o vinho. E eu tentava imaginar quantas vezes a tinha magoado com minhas palavras e ações.
—Eu nunca tive vergonha de você — toquei sua mão de leve— como também nunca tive a intenção de te machucar, às vezes eu penso nas coisas que disse e fiz por estar com medo, por não entender o que se passava dentro de mim e me sinto uma imbecil.
—Esta tudo bem até porque você prometeu que não iria fazer mais isso.
—Eu não me lembro disso.
—Nesse caso prometa agora.
—Isso é tão bobo, Eu sou sua namorada agora.
—Pro-me-ta! —Disse séria e pausadamente
A encarei por alguns segundos e ela tinha firmeza no olhar.
—Ta eu prometo. —Falei revirando os olhos e instantaneamente um sorriso radiante iluminou o rosto da morena e eu tinha certeza de que prometeria qualquer coisa que ela quisesse. —Agora me beije
—Seu pedido é uma ordem.
Samantha passou o braço a minha volta me puxando pra cima de si. Entre beijos e risadas eu tinha certeza de onde estava minha felicidade e era dentro daquele abraço.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.