— (...) Me avise quando eles forem embora ou se você decidir contar a verdade antes disso.
Eu quase pude ler “coisa que eu duvido” em seus olhos.
—Sam, vamos conversar.
—Não, amigas também não tem DR. —Ela riu sem humor, mandou um beijo a distância, evitando que eu a prendesse de novo e então saiu.
Eu sabia que ela não tinha saído apenas do meu campo de visão como mais cedo e sim ido pra valer, eu sabia que estava bem mais chateada do que demonstrou e não era por menos, eu tinha traído sua promessa, em menos de vinte e quatro horas que a tinha feito. Ela tinha saído chateada novamente do meu apartamento e praticamente pelo mesmo motivo.
Porque Elliza, por quê? Eu sou mesmo uma idiota covarde.
#
Depois de ter quase um princípio de infarto ao entrar em casa e me deparar com meus pais em meu sofá minha cabeça não parou um segundo, será que eles ouviram nossa breve conversa, será que eles ouviram o que eu disse?
E por consequência quando abria a boca era pra dizer uma idiotice atrás da outra
—Mãe, pai essa é minha amiga Samantha.
O peso da palavra só não foi maior que o do olhar que Samantha me deu, e a promessa da noite passada soou novamente em minha cabeça, mas não tive tempo de ponderar porque logo em seguida Richard observou.
—Oh, a fotógrafa! —falou antes de cumprimenta-la
—Porque não disse que estavam no evento juntas? Aposto Martha não se importaria com uma foto exclusiva para sua editora.
Samantha ia dizer algo, mas eu a interrompi.
—Não estávamos juntas... Bom eu estava com Ben e Hellen... E... Samantha estava trabalhando então aposto que ela não queria ser antiprofissional... —O que estou fazendo? —E por isso também ela não pode ir no café com os outros e... —droga
Samantha me olhou como quem diz “que merda você tá falando?” e logo após cumprimentar devidamente o casal, sendo sorridente e gentil até de mais, pegou o celular sobre a bancada e tratou de arranjar uma desculpa para sair da sala com Amber.
Eles já estavam me esperando há alguns minutos e Richard fez questão de dizer como foram bem recebidos, Amber era mesmo um amor, mas custava ligar e me avisar enquanto fazia café para os meus pais?
O casal então começou um assunto sobre o que viram em suas viagens e eu tentava parecer interessada, mas só pensava no que minha mãe poderia estar pensando, a mesma cara soberana de sempre e o sorriso cintilante e habitual. Eu podia estar começando a surtar procurando algum tom acusador alguma indireta.
Deus será que ela viu algo no meu olhar pra Samantha, ou nas besteiras que eu disse? Eu falei que estávamos na academia, mas ela poderia estar pensando “ninguém vai à academia de Jeans” ou será que ela reparou que estávamos sem mochilas e principalmente em como nossos cabelos estavam igualmente úmidos? Claro que ela tinha reparado, era por isso que não tirava os olhos do mim.
Tentei tirar a mim mesma da paranoia e por alguns segundos até pensei em contar a verdade, mas desisti assim que eles deram a notícia.
—Uma semana?
—Sim —meu pai explicou— no evento de ontem alguns jornais e sites pediram entrevista sobre o livro novo, mas como partiríamos no mesmo dia tivemos que recusar...
—E agora com o evento em Boston adiado até o próximo sábado eu estava livre. —minha mãe disse despreocupada ou era isso que ela queria aparentar— Mas minha editora deu-me uma agenda de compromissos aqui até quarta...
—E então teremos alguns dias para curti nossa garotinha. —Richard a interrompeu de volta.
—Por Deus Richard ela já é uma mulher feita, não acha que está um pouco tarde para os diminutivos? — gelada como um iceberg
E então depois disso e mais algumas xicaras de café eles se foram não sem antes um aviso de Richard que marcaria um jantar no restaurante do hotel divino em que estavam hospedados e que dessa vez queria todos os meus amigos presentes. Um abraço apertado dele, um encostar de rostos dela e eles se foram.
Nenhum questionamento, nenhuma suposição, nenhuma conversa de duplo sentido ou acusatória, simplesmente meus pais sendo eles mesmos e eu sentia vergonha de mim mesma por surtar por antecedência. Bati na porta antes de entrar no escritório onde as duas trabalhavam nas fotos do evento, falei por alto da conversa e então as deixei terminar e subi para respirar um pouco.
—Olá
Ouvi depois do correr da porta, continuei apoiada no parapeito e falei sem me virar:
—Oi, não acredito que eles vão ficar uma semana na cidade. —esperava que ela sentisse o pesar em minha voz.
Samantha me abraçou por trás apoiando o queixo em meu ombro e deslizou a ponta do nariz de leve em meu pescoço
—Que legal. —Falou como se não fosse importante e senti suas mãos se esgueirando sob meu corpo devagar.
—O que você está fazendo? — eu estava confusa, achei que estivesse chateada.
—Nada. —beijou meu pescoço e eu senti meu corpo arrepiar
Samantha colocou a mão por debaixo da minha blusa e eu realmente achei que ela estava louca.
—Para, olhe a quantidade de prédio em volta.
—E daí? —Ela não me obedeceu—só deixa tudo mais excitante. — falou ao meu ouvido e tentou desabotoar minha calça.
—Meu deus Samantha! —Tirei sua mão e me afastei — o que deu em você?
—Que foi? Também tem medo que seus vizinhos descubram que você namora uma mulher? — ela tinha os olhos escuros e estava claramente com raiva.
—Não, eu só não quero!
—Ótimo, então vamos falar sobre o que você quer.
—Era essa a sua intenção?
—Era sim. —ela se aproximou— Você vai à minha casa, diz que me ama e que quer namorar comigo e na hora que seus pais aparecem eu volto a ser sua amiga? Que porra é essa? —eu teria achado graça do palavrão como das outras vezes, mas algo me dizia que não era a hora de rir e ali estava toda a chateação que eu esperava.
—Sam, você não os conhece. Minha mãe é muito religiosa, não posso fazer isso com eles.
—Claro que pode você não acha que já tentou agrada-la de mais, sei lá, desde que nasceu? E o que ela fez pra te agradar até hoje?
—Você não entende — abracei sua cintura mesmo contra a sua vontade— eu mal vejo eles, depois dessa semana eu provavelmente vou ficar um bom tempo sem vê-los então não vale apena começar uma guerra.
—Não vale a pena não é, então você vai me esconder deles?
—Sam... —ela tentou se afastar, mas não deixei— Por favor —beijei seu lábio inferior. —é só uma semana.
—Ok. —Ela sorriu, mas se soltou do meu abraço. —Amigas não se beijam.
—É sério isso?
—Ah, por favor, é só uma semana. —Ela repetiu minha frase ironicamente — me avise quando eles forem embora... Ou se decidir contar a verdade antes disso.
—Sam, vamos conversar.
—Não, amigas também não tem DR.
#
Segunda feira chegou e com ela a ligação do meu pai informando o horário do jantar no dia seguinte no WestHouse Hotel. Samantha estava atolada em trabalho e eu me apeguei a isso como motivo para ela mal responder as minhas mensagens.
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Terça
Tínhamos combinado de irmos todos em meu carro e então passei na casa de todos no horário combinado, Samantha foi a última já que hotel era na mesma direção do seu apartamento, um pouco depois. Fingi não notar seu leve desapontamento ao ver que o banco da frente era o único vazio e nem na forma fria como me cumprimentou, mas não fiz questão de esconder meu olhar admirado ou meu suspiro leve quando a vi entrar com aquele vestido preto, totalmente ao contrário do que vesti no dia em que jantamos com sua mãe.
Ela deu um “Olá” para o pessoal de trás enquanto colocava o cinto e depois olhou restritamente para frente, ok ela iria levar o joguinho adiante então eu aceitaria o desafio.
—Seus pais ficam ou ficavam em seu apartamento quando vem te visitar? —Amber perguntou quando paramos em um sinal vermelho
—Não, eles não fazem isso. —respondi sem olha-la— eles não me visitam pra passar dias.
—Mas ficariam dessa vez, se o quarto da Maggie estivesse vago não é?
—Não se preocupe eu ofereci o meu, mas eles não quiseram incomodar disseram que no hotel era melhor para os compromissos e essas coisas.
Dirigi até a porta do hotel e entreguei a chave ao manobrista que aguardava.
—Julgando pelo hotel sinto lhe informar baby, mas acho que eles é que não queriam ser incomodados. —Hellen falou em tom de brincadeira, mas tínhamos de concordar o lugar era mesmo luxuoso.
Conhecia o WestHouse por nome e por passar algumas vezes pelo endereço bem situado, mas nem de longe imaginei o quão sofisticado era. Passamos pelo salão principal e depois de dizer o sobrenome dos hóspedes fomos guiados por uma atendente muito bonita por sinal, só não mais do que minha namorada que se negava a me tratar como tal, mas eu não deixava de olha-la encantada, ela devia ter pensado em me deixar exatamente assim enquanto se arrumava.
E estava funcionando direitinho
A mesa redonda meticulosamente posta para as sete pessoas não estava próxima à janela e ainda assim me encantou. Sentei-me ao lado de Richard e puxei a outra cadeira ao meu lado para Hellen, Samantha então passou para o outro lado.
Se ela queria jogar então assim seria.
Não foi tão divertido quanto imaginei o jantar em si fora maravilhoso tirando as conversas, não que eu tenha sido muito incluída em alguma. Benjamin e minha mãe acharam muito que conversar. Meu pai, Amber e Samantha também, a propósito Richard e minha namorada se deram muito bem e estava meio difícil me concentrar no que Hellen dizia sobre O Bonitão enquanto minha namorada dava a risada que eu tanto amava e me ignorava. Salvo quando em algum momento na sobremesa falaram da festa de gala da agência no mês passado e novamente meu pai mencionou o quão orgulhoso estava de mim pousando uma mão em meu ombro e só então a morena voltou à atenção para mim.
—Ela é mesmo incrível. — Samantha sorriu do jeito que só ela sabia e que só eu sabia o quanto me fazia bem e isso bastou para tornar a noite especial.
#
Quarta
—Então vocês são amigas agora?
—Sim.
Hellen perguntou rindo e eu respondi não muito animada.
—Liza tem uma nova amiga? —Benjamin chegou com Amber atrasados para o almoço e eu tirei meus pés da cadeira dele com má vontade.
—Sim, Samantha você conhece? — falei irônica.
—Ok eu não entendi. —Admitiu enquanto eu roubava algumas batatinhas do seu prato.
—Mas não se anima não garotão que é só chantagem emocional.
Ben olhou feio para Hellen e depois para mim como se esperasse a explicação.
—Eu a apresentei como amiga para os meus pais e ela disse que é isso que vamos ser até eles irem embora.
—Oou... Até você contar a eles o que realmente são — Amber se manifestou com um tomate cereja espetado no garfo.
—Quer dizer que vocês duas estão de conversinha enquanto a mim nem bom dia ela responde.
Amber deu risada
—Como assim? —a loira riu— vocês não são amigas, Amigas mandam bom dia, menos eu que já suporto vocês todos os dias.
—Eu nem sei se tenho mais privilégio de amiga.
—Por quê?
Hellen perguntou e Amber ainda ria.
— Digamos que eu a importunei bastante ontem com mensagens, hum, ousadas e ela disse que não vai mais falar comigo. —eu mesma ri do quão idiota aquilo soou.
—Meu deus Liza — ela ria — Também mandou nudes? — riu mais
Fiquei muda e então a mesa inteira a acompanhou, até o Ben que fingia estar mais concentrado em seu almoço se rendeu as risadas.
—E o que tem de mais? Ela ainda é minha namorada e vocês não se façam de santos porque não são, nenhum de vocês. —olhei em especial para Hellen que tratou de segurar o riso.
—Tem culpa no cartório Hell? —Ben se aproveitou— É o cara da boate? Como vocês estão chamando ele mesmo?
—O Bonitão! — Hell e eu respondemos juntas e rimos em seguida, Amber não nos acompanhou o que era estranho já que ela mesma tinha inventado o apelido.
Não sei como o desenrolar do nosso almoço levou a um jantar, mas era disso que eles estavam falando. Como hoje seria o último dia de compromissos da minha mãe e talvez amanhã à noite eles voltassem para Jersey, Hellen queria dar um jantar em sua casa e eu não estava achando nada ruim, não só por que queria passar mais tempo com meus pais, mas por passar algum tempo com Samantha.
—Então vou ver se a Sam me ajuda com o jantar. —Hellen Sacou o celular e eu revirei os olhos.
Não demorou muito e o aparelho vibrou sob a mesa
—Ótimo, ela responde a todos menos eu, quer tentar também Ben? — falei rindo, mas ele não achou muita graça.
POV Samantha
Enquanto pegava meu pedido e pagava a conta do restaurante recebi a mensagem da Hellen
“Hey Sam, está ocupada?”
“Não, estou voltando pra editora pode falar”.
Torci para que não fosse sobre Elliza.
Atravessei a rua e assim que entrei na empresa o celular tocou
—Oi Hell. —Sorri
—Como está?
—Bem e você? —falei e depois ouvi a voz de Elliza no fundo e a risada de Amber, e Hellen também riu.
—Estou bem e a Liza mandou dizer que ela também está.
—Imagino que esteja, e então o que vocês estão aprontando?
—Ah, você esta livre hoje a noite? É que os pais da Liza vão embora amanhã e eu gostaria de fazer um jantarzinho lá em casa hoje
Sai do elevador e fui em direção ao refeitório
—Claro, Que horas é pra estar lá?
—Depende da hora que você quer servir o jantar. —Ela riu
—Ah agora eu estou entendendo.
Falamos por mais alguns minutos sobre o que ela tinha em mente, minhas sugestões, o horário e depois fui almoçar.
Estava esperando a impressão de algumas traduções que eu tinha feito e agradecendo mentalmente por Joy ter parado de me dar trabalhos britânicos, ela provavelmente estava me amando pelas fotos que fiz no evento, principalmente pela de Martha Reynolds e família, e desde então ela tem até me deixado escolher meus próprios projetos algumas vezes. Meu celular vibrou e eu me encostei na máquina para ver a mensagem.
“Oi”
Era Elliza de novo, coloquei o celular sobre a copiadora enquanto organizava os papéis e ele tornou a vibrar.
“para de me dar gelo, fala comigo”.
Peguei os papéis e o aparelho e voltei pra minha sala.
Ela estava achando que aquilo era brincadeira e não era, se ela não tinha coragem de falar a verdade para os pais dela ok, mas isso não queria dizer que eu estava feliz com isso, fingindo ser uma coisa só para agradá-los, eu mesma estava me sentindo mal fazendo a melhor amiga e eles gostando de mim quando se soubessem a verdade me odiariam, e eu até preferia isso pelo menos não estaria escondendo nada.
“por favor”
“Oi” não me aguentei
“Até que em fim”
“Eu sei que ainda está chateada comigo e eu sei que a culpa é minha, mas eu só queria dizer que eu te amo”.
Ela sabia como me derreter
“Eu também te amo Liz”
“Então nos vemos a noite eu vou mais cedo pra te ajudar”
Eu ri depois de ler
“Me ajudar né, está bem nos vemos lá”
Voltei ao trabalho e me apressei para sair na hora certa.
#
Quando eu estacionei na frente do apartamento da Hellen já eram quase sete, me arrumar e ainda procurar algumas coisa que eu queria usar no prato me tomou mais tempo do que eu esperava peguei as coisas e subi.
Elliza atendeu a porta com uma taça de vinho branco na mão e o sorriso mais lindo que já vi.
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