História Don't Count the Miles - Simon

  — Isabelle, minha esquerda. — Disse para ela que acompanhou o meu olhar e viu Maureen. A nossa atual inimiga biológica.

  — O que você quer que eu faça? — Ela perguntou com a voz baixa para que ela não nos escutasse.

  — Lembra que eu disse que nós éramos namorados? — Perguntei para ela, que já sabia até onde isso iria chegar.

  — Sério? — Ela perguntou. Acenei que sim com a cabeça. — Tá, a gente tem que fingir que tá namorando.

  Ela pegou minha mão com propriedade e entrelaçou nossos dedos. Me senti envergonhado, e procurei por Clary (ela provavelmente iria querer ficar no mesmo quarto que eu).

  A última pessoa que passou pela porta da frente do hotel foi Jace, mas sem nenhum sinal dela.

  — Jace! — Disse alto, fazendo Izzy se assustar. Ele, por outro lado, revirou os olhos e veio na nossa direção.

  — Não se preocupe, a Clary está lá fora e pediu para que eu fizesse o Check in pra ela. — Ele disse com uma voz entediada antes de olhar para minha mão entrelaçada com a de Izzy, deixando-o espantado. — O que é isso?!

  — Ah, isso...

  — Nós estamos namorando, não sabia? — Isabelle disse com naturalidade. Como se fosse mesmo verdade.

  Jace soltou um suspiro e afastou o rosto antes de dizer:

  — Eu desisti de tentar te entender, Isabelle Lightwood.

  — Cala boca Jonathan Christopher Herondale.

  Jace virou o rosto para nós de repente, como se tivesse com raiva e murmurou:

  — Não me chama assim. — Acredito que eu não devia ter escutado isso, já Isabelle sim, pois se encolheu onde estava.

  Fazia sentido. Isabelle Lightwood. Jace Herondale. Eles não eram parecidos, era de se imaginar que Jace tivesse sido adotado.

  Apertei de leve a mão de Izzy para confortá-la, que me olhou de repente, assustada com o toque repentino. Abriu um sorriso magistral. Dei um leve de volta.

  — Olá — disse Camille atrás do balcão da recepção. — Um quarto para dois?

  — Erm...

  — Sim senhora. — Isabelle disse confiante enquanto colocava as mãos envolta do meu pescoço. — Não meu bebezinho?

  Pude sentir meu rosto queimando de vergonha. Ela acabou de me chamar de bebezinho? Ela então, sem nenhum aviso, colocou seus lábios contra os meus.

  Ela tinha feito isso por conta própria, e a Clary não estava lá para ver. Coloquei minhas mãos em sua cintura de forma instintiva e deixei o beijo mais intenso.

  — Erm, perdoem a intromissão, mas a fila está quase acabando e vocês estão parados aqui atrapalhando a passagem. — Camille disse atrapalhando o momento.

  Isabelle, que revirou os olhos, pegou a chave e fomos em direção ao elevador com nossas malas. Nesse momento de estarmos sozinhos, pude sentir seu perfume. Era um cheiro doce, que me atraía para perto dela.

  — Olha — comecei. — Você tem que começar a me avisar quando vai me beijar.

  — Por quê? — Ela perguntou abrindo um sorriso malicioso. — Não gostou?

  — Não foi o que eu disse. — Respondi de imediato. Pode se deixar levar, Simon pude ouvir minha irmã dizendo em minha mente.

  Isabelle, de repente, me empurrou para o canto do elevador e puxou a gola da minha camisa. Seus olhos estavam semicerrados olhando para os meus lábios, como se os desejasse; pude sentir seu peito subindo e descendo a cada respirada e o ar saindo de seu corpo pela boca.

  — Você sente algo por ela, não? — Isabelle disse com os olhos pesarosos. Eu sabia de quem ela falava e, sinceramente, eu não sabia o que sentia. Estava bem confuso. Hesitei a responder. De Nova York até Chicago tinha sido uma viagem bem interessante. Pude conhecer melhor a Isabelle e podia até confiar nela. Não podia negar que estava atraído por ela.

  — Eu...

  — Você...? — Ela perguntou se aproximando mais de mim.

  Escutei o som agudo do elevador anunciando que havíamos chegado no nosso andar e Isabelle pegou suas coisas e saiu andando em passos pesados. Ela era uma força da natureza: ninguém podia pará-la, ou negá-la. Ela era perigosa, mas ao mesmo tempo podia ser amena. Eu não queria ser o primeiro a negá-la.

  Peguei minhas coisas e a segui instintivamente para o nosso quarto. Você vai dividir uma cama com ela minha mente cantarolava.

  Ela parou na frente da porta do quarto e olhou para mim, esperando que eu fosse até ela. Ao me aproximar coloquei minhas mãos em sua cintura e larguei um beijo em seu pescoço.

  — A garota não tá aqui. — Ela disse com uma voz sussurrada.

  — Eu não tô fazendo isso pela garota. — Sussurrei de volta para ela, que abriu um sorriso de satisfação. Simon Lewis minha voz interior disse você tem jeito com as mulheres.

  Isabelle colocou a chave na porta e a abriu. Quando o fez, em um movimento rápido, pegou suas malas e as colocou no chão dentro do quarto. Ela parou, depois de ter se virado para mim, e movimentou o dedo me chamando e com um grande sorriso no rosto. Pude sentir minhas bochechas queimarem e minha boca abrir em um sorriso. Entrei no quarto e fechei a porta, me aproximando dela.

   Ao chegar bem perto, ela me beijou de uma forma diferente de qualquer outro beijo que ela tinha me dado. Talvez o diferencial não tenha sido dela, mas sim meu.

  Ficamos lá, de pé, nos beijando até que ela se afastou um pouco com a cara de quem tinha acabado de lembrar de algo.

  — Ah — ela disse levantando o indicador. — A gente tem que comprar uma peruca pra você.

  Soltei uma leve risada e balancei a cabeça para ela.

  — Tá, mas onde a gente vai comprar uma peruca?

  — Eu me viro. — Ela disse me puxando para fora do quarto.

+++

  Realmente Izzy sabia como se virar. A primeira loja que tínhamos entrado foi a que tinha perucas. As pessoas pensariam que é pura sorte, eu acredito que o Universo, ou uma força superiora, conspira a favor dela.

  Enquanto voltávamos para o Hotel Dumort, uma garota e o garoto que comprou uma passagem de bilhete estavam juntos com algumas pessoas a sua volta. A garota tocava teclado e o garoto tocava um Cajon (uma caixa, onde ele sentava e batucava um dos lados, fazendo a batida) e, ao lado dele, seu violão estava deitado no chão.

  Desvencilhei meu braço do de Isabelle e comecei a me aproximar dos dois. Nenhum dos dois cantavam, mas eles fizeram um cover instrumental de Closer do The Chainsmokers. Ao acabar a música, bati palmas fortes e animadas, junto com algumas outras pessoas que bateram palmas amistosas.

  Vai lá pude escutar Clary dizendo não precisa ter medo.

  Me aproximei deles e perguntei se podia tocar com eles, que aceitaram de uma forma alegre. Perguntei para eles se conheciam a música que tinha em mente e eles responderam que sim.

  Respirei fundo antes de começar a cantar. Keep Me Crazy, da banda australiana Sheppard, era uma música que eu já estava pensando em fazer um cover, mas ela precisava de percussão, então levei essa vontade para fundo da mente. Porém, agora eu tinha a possibilidade de fazer esse cover. Se eu ao menos tivesse trazido minha máscara pensei entristecido.

  Na primeira nota senti um leve arrepio, e pude escutar a garota tocando seu teclado de leve. Não escutava muito a música, mas tinha a letra na ponta da língua sem errar nenhuma pausa (exceto nos momentos intencionais para deixar mais no "estilo do Simon"). Ao chegar no refrão abri os olhos e só consegui ver Isabelle com seu celular em mãos nos gravando. Balancei a cabeça de leve para não me preocupar com isso, pois já passava por isso muitas vezes.

  Ao olhar para as pessoas que se amontoavam ainda mais a nossa volta, pude sentir satisfação subir pelo meu corpo, como quando a garota mais bonita da escola, ou a garota que você é apaixonado, abre um sorriso direcionado para você. Seu corpo todo se esquenta, um sorriso largo abre em seu rosto e você não quer mais sair daquele lugar, nem quer que ela vá embora.

  Quando a música acabou, pude escutar as palmas e senti que aquele era um lugar sagrado e que as pessoas deviam estar nesse lugar sempre. Para que todos pudessem se sentir amados desse jeito. A minha direita pude ver Clary batendo palmas rápidas e animadas junto de Jace que soltava um sorriso de escárnio com seus braços cruzados. Quando olhei para a esquerda, Isabelle tinha desligado o celular e estava com um sorriso incrível em seu rosto. Nesse momento tinha percebido algo que eu só especulava: estava apaixonado por ela. Não queria que ela tirasse aquele sorriso do rosto e faria tudo para que ele continuasse onde estava.

  Tirei o violão dos meus ombros e envolvi Isabelle em meus braços, a beijando, realmente desejando aquilo. Ao se afastar um pouco, seu rosto estava iluminado e ela não olhava diretamente para o meu rosto, ela olhava para o meu peito, com os olhos semicerrados. Me virei para o casal e fui conversar com eles, sem soltar Isabelle dos meus braços. Pedi o número deles, que disseram que nós devíamos fazer isso de novo. Obviamente, concordei com Maia e Jordan (finalmente tinha descoberto o nome dele), que eram de Nova York e que voltariam em dois dias.

  Me despedi dos dois e eu e Izzy fomos em direção a Clary e Jace, que, assim como nós, estavam abraçados e rindo.

  — Então, Simon Lewis, eu não sabia que você ia fazer um show aqui. — Clary disse rindo e me batendo no braço.

  — Nem eu sabia, Clarissa. — Respondi sorrindo para ela.

  Jace, que continuava com o sorriso de escárnio para mim, colocou uma mão em meu ombro e disse:

  — Eu subestimei um pouco sua voz. Mas bem pouco mesmo.

  Balancei e abaixei a cabeça quando ele disse isso.

  — Para Jace. — Isabelle disse empurrando o irmão. — Que tal a gente ir tomar café?

  Todos nós aceitamos, então fomos a uma cafeteria próxima, onde Maia e Jordan também estavam. Uma vez na vida senti que estava onde devia estar, apesar de Jace também estar lá. Sentia que era certo estarmos juntos rindo e tomando café. Porém, isso foi interrompido com uma notificação em meu celular.

[17:58] Malcolm Fade: Fantasma, onde você está? Estamos esperando já fazem dias você chegar em Los Angeles para gravarmos o vídeo. Se você furar de última hora com a gente, você não imagina o que pode acontecer com o seu canal...

  Malcolm Fade era o representante do Youtube Music nos Estados Unidos, cuja a sede era em Los Angeles (mais um motivo para ir para Los Angeles). Não sabia muito bem do que se tratava o trabalho, só sabia que se tratava de um cover com algum outro famoso do Youtube mais nada.

  Não podia deixar essa oportunidade passar.

[17:59] Simon Lewis: Desculpe, aconteceram alguns imprevistos. O ônibus não teve concerto, tive que esperar alguns dias, mas logo que tiver outro ônibus eu vou ir para aí.

[17:59] Malcolm Fade: Bom mesmo. Estamos contando com você.

  Não tinha contado isso para ninguém, nem mesmo para Clary. Eu tinha um pensamento em que se eu contasse algo que eu ia fazer para alguém, essa coisa não iria dar certo.

  — Tá tudo bem Simon? — Isabelle perguntou silenciosamente. Ela me olhava preocupada, como se tivesse visto um fantasma.

  — Sim, tudo sim Izzy. — Disse para ela, dando um selinho nela. — Minha irmã tinha mandado mensagem só isso.

  Meu Deus Simon pensei de imediato você começou esse "relacionamento" com uma mentira.