Capítulo 3 — Mundo todo, mundo todo
Hani bate na porta do meu quarto. Está na hora de ir. Me despeço do meu quarto, da minha casa, dos funcionários, das minhas coisas que restavam na lá e saímos de casa.
Pegamos um táxi até o Aeroporto Internacional, Alana nos acompanhou até lá, o caminho todo Hani e eu quase não nos falamos.
Chegamos ao aeroporto, ainda faltava algum tempo para o vôo então Alana e eu fomos procurar uma lanchonete; ficamos por lá, pedimos um lanche, seria uma viagem longa e eu estava com muita fome.
[6:30 p.m.]
Passadas as uma hora e meia estava na hora do vôo. Me despedi de Alana em um abraço forte e fui com Hani até o portão de embarque.
Seria uma viagem muito longa, 35 horas no total, do Aeroporto Internacional de Guarulhos para o Metropolitano de Detroid Wayne County para o Internacional de Pequim-Capital e finalmente para o Internacional de Gimpo.
Meu assento no avião era com a janela e o de Hani com o corredor. Era muito tempo para suportar ao lado dela, então coloquei meus fones e dexei a música rolar no aleatório.
"It ain't easy to keep on moving city to city
Just get up and go The show must go on
So I need you to be strong"
Era o que tocava no momento.
"Girl I'll be thinking about you worldwide, worldwide, worldwide..."
Minha garota era o Brasil e tudo o que deixei aqui, "Vou pensar em você no mundo todo, mundo todo, mundo todo."
Acabei cochilando e acordei às 21 horas, meus fones e celular estavam no meu colo, só pode ter sido Hani que os tirou; olho para a mesma, incrédula.
— Ficar de fones por muito tempo pode causar problemas de audição — justificou
"Ata, como se você se importasse." Olhei para ela duvidosa.
— Não me olhe como se eu não me importasse. E além disso para cantar bem, é necessário ouvir bem, ou não se lembra do porquê está indo para a Coréia?
— Sim, infelizmente me lembro e muito bem
— E a propósito, que gosto musical horrível! Que negócio é esse de rabetão? Aish, você nem tem
— Comparado à você e às coreanas em geral... — Hani se cala, "Thug Life"
A música ainda estava ligada, no momento tocava Abusadamente, aleatório maluco, mas estava cansada demais para dar importância à isto.
— Boa noite, Hani. — disse antes de fechar os olhos e novamente dormir.
❁❁❁❁
Acordamos 5 da manhã para o pouso em Detroid. Tínhamos 5 horas de intervalo para pegar o avião para Pequim. Hani e eu fomos tomar café da manhã, pedi: pão, queijo, presunto e iogurte de morango;
Hani pediu: kimchi, arroz, sopa e alguns vegetais. Eu já havia lido sobre esse tal de kimchi em alguma de minhas pesquisas sobre a Coréia do Sul: era algo como hortaliças misturadas com carne...
Não importa! Por que ela estava comendo aquilo no café da manhã?
— Vou ter que comer isso também quando for pra Coréia?
— É o que comemos por lá
"Que nojo."
— E não engorda?
— Nunca tive problemas com isso
Cortei meu pão e recheei com queijo e presunto, tomei um iogurte também, pra mim era suficiente. Hani continua comendo e demora pra acabar.
"Não vejo necessidade dessa quantidade de comida."
Aproveitei a demora e liguei meu celular para ligar para Alana, sei que não vai atender pois à essa hora deve estar dormindo.
[Caixa Postal]
"Oi piranha! Como vão as coisas por aí? Aqui tudo bem por equanto, nenhuma briga com a Hani. Como está a minha mãe? O bobão me procurou? Sei que não vai me responder porque deve estar dormindo, mas assim que ouvir me responde lá no 'Whats', valeu! Amo você."
Desliguei e coincidentemente Hani acabara de comer. O que fazer durante 4 horas? Bom, três e meia no máximo, não podemos nos atrasar para o vôo. Ficar olhando uma para a cara da outra?
Antes que pudesse pensar em algo, Hani diz:
— Posso fazer uma pergunta?
— Já está fazendo
Eu sou grossa eu.
— O que você tem contra mim?
— Não tenho nada contra, mas também não tenho a favor — O que seria de nós sem Maisa Silva e memes em nossas vidas em? — Posso perguntar também?
Ela assente.
— Por que?
— Ué... Por que o que?
— Por que está me levando pra Coréia do Sul um lugar onde não sei nada, nem conheço ninguém? E por que logo artes performáticas?
— Pedido do seu pai. Sempre foi o sonho dele que você se tornasse algo assim. Então ele me pediu esse favor.
— Mas por que não a Wolf Maya? Ou a Macunaíma, ou a Roosevelt? Olha pra onde vamos! Eu sou inteligente e sei que não preciso fazer o 3° ano por causa disso... Mas poxa, eu queria, eu tenho amigos na outra escola
— Nesse caso eu já não posso fazer nada. Seu pai não quis que você ficasse no Brasil por causa da sua mãe, sei que é difícil ouvir isso, mas ele não confia nela para te dar um futuro digno
Não aguentei ouvir aquilo.
Me levantei e saí correndo para fora do refeitório. Hani provavelmente pensou: "Ah, drama adolescente." Não, não era!
Eu nunca fui uma pessoa dramática, o caso é que é de cortar o coração ver que um amor que durou 20 anos acabe assim, principalmente quando são seu pai e mãe.
A confiança havia acabado faz tempo, mas minha mãe continuava de boba a ter esperanças naquilo.
Eu que não vou ser que nem ela; se for pra me casar que seja com um homem que me ame, respeite e confie em mim e vice-versa, se não apenas eu me basto!
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