História E agora, SN? - 06

Capítulo 6 — Beleza Exótica

[7:30 a.m.]

Os dias aqui na Coréia começam bem bonitos. Alguns ramos de flores caem sobre a janela do meu quarto, e é maravilhoso ter esta vista logo de manhã. Só que a pesar de ser maravilhoso não é a mesma coisa.

Acabei de acordar com o despertador, não estou nenhum pouco afim de sair da cama.

Recebi uma mensagem de Alana na noite passada.

[mensagem]

peranha: oi galinha, como tá sendo ai na coréia? pegou quantos até agora? são gatinhos pelo menos? sua mãe está na mesma infelizmente ☹

peranha: seu boy pediu seu número CERTO dessa vez... pelo jeito que ele falou acho q n teve playstation dessa não em

peranha: ligue quando acordar, ou responda à esta mensagem

Abro na aba de ligações no Whatsapp e ligo para a mesma.

[ligação]

"Por que diabos você está me ligando às fucking horas da madrugada?

"Ué minha filha, você que pediu"

"Não podia esperar amanhecer?"

*imagem enviada*

"Ah é... Fuso horário"

"Pois é! Lerdeza do caralho! Ande logo que eu tenho que ir pra escola"

"Ui, tá de mal humor? KKK Mas já? Boa sorte em ksksks"

"Vai se foder, ridícula ksksks
Depois encontramos um horário bom para ambas e nos falamos"

"Ok. Mas mudando de assunto, posso dar seu número ao Nathan?"

"Não ouse!"

"Ok né. Suponho que já esteja se atrasando né? Vou desligar, depois nos falamos."

A moça da noite anterior bate na minha porta e eu a permito entrar. A mesma traz o uniforme da escola e coloca em cima da minha cama e me avisa que o motorista estará me esperando na garagem para me levar até a escola.

Eu sinceramente odiei aquela roupa. Se for pra parecer uma abelha, avise logo porque é o que realmente assemelha.

❁❁❁❁

Me vesti com o meu "amado" uniforme, penteei meus cabelos e passei um pouco de maquiagem; o básico dos básicos mesmo: base, pó, rímel e um batom claro, só pra não chegar com cara de morta no primeiro dia.

Desci para a sala de jantar, a mesa está posta com bastante comida. Hani não está, suponho que já tenha saído. São tantos alimentos estranhos que estou sem entender.

— O que é isso? É pra alimentar a vizinhança toda?

A moça da noite passada e de hoje de manhã riu com a minha frase. Não entendi o por quê. Sério, pra quê toda essa comida? Desperdício.

No meio de toda aquela 'gororoba' consigo encontrar alguma coisa mais normal: torrada com ovo e salame. Pra mim está ótimo.

Saio da sala e vou para a entrada da casa onde o motorista me espera e saímos para a escola.

Notei que o trânsito é calmo e as paisagens são bem bonitas. Não é difícil chegar à escola, mas ainda preciso me acostumar.

Chegando lá um homem alto, branco e asiático me recebe. Ele pede a carta de matrícula (?) que Hani me entregou ontem e disse para eu apresentar quando chegasse lá.

— Sofya Ahn de Novaes... Então você que é a filha de Ahn JaeHyun e sobrinha de Ahn Heeyon?

Foi o que ele me perguntou.

"Ué, ele tem outra filha mulher? Que eu saiba de outro filho meu pai só tem o HyoSeop"

— Sou eu mesma, eu em...

— Com licença, vou verificar no sistema.

É sério isso, Coréia? Indignação define.

— Ah sim, a filha brasileira-coreana de Ahn JaeHyun. Ok, pode entrar.

"Não me considero coreana, mas tá né."

— Obrigado — digo com desdém — Mas cuidado, eu posso passar zika vírus pra vocês — falo ironicamente.

Passando pelo corredor em busca da minha sala de aula deste horário: Departamento de dança.

Noto que algumas das garotas que passam por mim começam a cochichar alguma coisa baixo.

"Beleza exótica."

É o que eu escuto! Elogio ou crítica? Pra mim exótico é o que é estranho.

"Ótimo, o dia nem começou e já estou sofrendo racismo."

❁❁❁❁

[8:40 a.m.]

"Sofya Ahn"

"Presente."

 Ótimo Sofya! Uma semana e 10 minutos atrasada.

Cheguei na sala e as pessoas me olhavam com cara de "Quem é essa estranha?" "Novata?" "Nunca nem vi."

Ouvi alguns cochichos lá no fundo.

"Eu em... Nunca viram alguém diferente? Viva à Diversidade, meu anjo!"

Só pensei mesmo, não vou começar o primeiro dia logo causando. Nem sei se foi comigo, mas se eu chamar atenção demais capaz de não conseguir nenhum amigo, ou colega pelo menos. Viver isolada não, né? Ninguém merece! Além de quê isto não é possível quando se trabalha com arte. É necessário interação.

Nem sei o que vou ganhar com essa aula. Eu não sou muito de dançar, só rebolar a raba mesmo. Eu gosto mesmo é de atuar, não vejo a hora de chegar a aula de teatro.

— Como dito na aula passada, e quem não estava trate de se atualizar, estamos desenvolvendo um trabalho sobre as diferenças pelo mundo.

"Olha só, uma coisa que esse povo precisa compreender né..."

—... o trabalho será dividido em duas partes: teórica e prática. Quem ficar com a teórica deverá apresentar um seminário sobre o estilo musical escolhido e a quem ficar com a prática terá que dançar uma música correspondente. Será definido um país para cada grupo e, como nossa turma é bem diversificada, um líder da nacionalidade correspondente ao seu grupo.
Vamos lá!

Ai meu Deus. Medo!

— Mark Lee, Canadá, grupo com 8 pessoas. Lalisa Monoban, Tailândia, escolha seu grupo. Park Jaebeom, Estados Unidos. Park JaeHyung, Argentina. Sofya Ahn, Brasil, escolham seus grupos.

Puta merda. E agora que eu não conheço ninguém? Se isso for para integrar os alunos de primeira não tá funcionando muito...

Tenho quase certeza de que eles nem sabem quem é "Sofya Ahn", no máximo devem ter pensado: "Ah, deve ser a novata estranha."

Vou esperar alguém vir até mim... Talvez tenha algum interessado ou simplesmente um azarado sem grupo.