Era uma manhã de domingo. Dia de boas moças irem para igreja, receberem as bênçãos divinas e expurgarem os pecados que tentavam suas mentes .
Logo após a limpeza divina, as boas damas, se punham a chorar sobre o impiedoso mar, pela alma dos seus homens amados... Pais, filhos e maridos. Todos servos da coroa e do povo, responsáveis em buscar as riquezas que a corte tanto desejava.
Diamantes, ainda quentes pelo sangue de tantos derramados, enfeitavam a coroa santíssima do Rei, trazendo o esplendor do próprio céu com a benevolência e temor divino.
Deveria ser mais uma ali. Jogar seu imaculado lenço em direção a frondosa madeira da frota navegante. Vinda das fontes de vida do mesmo local em que garimpariam a morte.
Contudo não era uma dama, ainda que o azul da nobreza corresse em seu sangue. Não era virginal e cheia de graça, ainda que tivesse sido agraciada pelo bondoso conde que reconheceu uma imunda bastarda, e a trouxe para o seio de seu amoroso lar.
Mas é que Jennie vinha da lama, e chafurdar na sarjetas junto aos porcos era sua liberdade. Não conseguia ver a beleza de um bom tecido bem bordado e incrustados com pedras, ou a delicadeza dos movimentos suaves de um leque. E como um marginal, vivia pela boemia das vielas imundas de Madri.
Vivia na esbórnia junto com os ébrios, vivendo em jogatinas. Usando infames calças e tendo seus cabelos encobertos um chapéu maltrapilho.
Aquela desmoralizada garota, apenas servia para sujar o bom nome de sua família. E se aquilo já não fosse de todo ruim, deixou-se ser levada pelas sinuosas palavras da serpente do pecado, misturando-se como uma meretriz por entres os homens da frota que iriam desbravar as novas terras da coroa.
Dizia a todos os ventos, correndo nas mais sujas bocas, que a pequena Jennie possuía um mapa mágico, dado pelos seres do outro lado, e que a levava para El Dourado.
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Era vergonhoso o modo como andava. Usando calças e camisas com botões, travestida de homem.
Usando as mãos para comer, enquanto ria alto e bebia álcool. Era triste de ver, quem de tudo teve para ser a mais bela entre todas, rodeada da mais esplêndida candura , trouxe a quem lhe deu um nome e uma vida apenas dor e amargura.
Como sempre diziam, a fruta não cai longe da arvore. E mesmo que se embonecasse, era apenas a filha de um nobre com uma selvagem, vinda do pagão oriente.
Ela vagou com eles. Proclamando a tripulação como sua família. Lutou com selvageria, contra a pirataria nos mares silenciosos. E em meio as tormentas, desafiou a cada monstro marinho que por dias tentou virar o navio que tinha como lar.
Muitos disseram, que ter uma mulher entre a tripulação era uma benfeitoria. Elas eram imunes aos doces cantos das ninfas e sereias demoníacas, que apenas queria dar seu beijo da morte, nos corajosos homens que desbravavam a infinitude.
A mão santíssima recaiu sua ira sobre a basflemia que andava sob aquele assoalho de madeira flutuante . O ser destinado em sua criação, para edificar um lar e ser vir sua família, trajando e se portando como o pior dos homens... A peste não teve dó daqueles que compactuavam e protegiam tal pecadora... Ceifou a vida de cada um que ali a chamavam de pequeno rouxinol, e diziam a ter como uma irmã.
Quando as terras enfim já eram vistas. Poucos ainda restaram daquela jornada. Aborígenes já civilizados pela catequização, lhe receberam, e trataram de seus eminentes males. Dando-lhe água fresca e comida quente.
E por mais que tivessem aquele minuto de calmaria, toda a desventura ainda não tinha sido findada. As águas em fúria que eram salgadas pelas lagrimas daquelas que ficavam ao porto rezando pela alma daqueles amados navegantes, apenas era uma parte do perigo. A missão em trazer riquezas a nação era algo glorioso, dada a poucos. Toda via, uma tripulação já amaldiçoada pelo feitiço de uma qualquer, deveria enfrentar com toda a força, as consequências da sorte que escolheram.
Perdidos na parte sul das Américas, tiveram que embrenhar-se em meio a selva. Aventurando-se por perigos desconhecidos até pelo próprio éden.
O novo mundo fascinava aquela que deveria ser jogada a fogueira, servindo de exemplo a todas que ousassem a cometerem tais pecados.
Jennie comandava toda a expedição, usando como guia seu mapa e conselhos dos bestiais nativos.
Mais uma vez, sofreram com os flagelos. Desta vez, não eram apenas animais ferozes que buscavam em suas carnes humanas alimentos, o terror vinha de pequenos insetos que voavam nas caladas da noite, e consigo, sentenciavam uma morte agonizante, levando os mais forte dos homens a delírios febris.
Um a um foram levados, visitados pela ceifadora morte, como a visita de um ladrão. Deixando o pior dos destinos, aquela que mais havia profanado em nome de uma tal liberdade.
Dizem que a solidão fazia os mortos ressuscitarem em sua mente, e que os fantasmas uivavam em seus ouvidos todas as noites no meio daquele nada. Precisando sobreviver como um dos irracionais seres que habitavam aquele local, a obstinação consumia pouco a pouco sua sanidade.
Dias... Meses... Não se sabe o quanto vagou, e até ponderou em amargurar-se sobre seus erros. E como uma foice, o arrependimento arrastava-se como grilhões a cada passo dado pela moça.
Julgava já esta a beira da loucura, quando os tambores se faziam ouvir, quase que imperceptível. Por quanto tempo a mente não tinha lhe pregado peças, a iludindo sobre a presença de outras pessoas, com cheiros, sons e imagens?
Quando não se tem nada a perder, deixar-se levar era tudo que restava. E assim, Jennie correu com afinco, até mesmo quando os pulmões rasgavam-lhe em dores, desejando o ar.
Cada som que era mais audível, fazia seu coração vibrar. Pensava, tolamente, que aquela seria sua salvação.
Quando seus castanhos olhos tiveram o vislumbre da intensa luz do sol sob o imponente dourado do ouro. Um sorriso, quase tão iluminado, cresceu nos lábios ferido da garota.
Tinha interrompido uma cerimônia sagrada daquela vila. E mesmo sendo escoltada para a figura que aqueles selvagens tinham como divina, Jennie apenas contemplava a toda arquitetura em mais fizesse de ouro e prata.
Aquele reino de nativos tinha como seu líder, TaeYang, o filho do Deus sol, dono de tantas riquezas que era ritual, ele cobrir-se com ouro em pó pelo corpo, desnudo, para saldar as benevolências daquele que tinha como pai. No fim do dia o monarca ia até uma lagoa, banhava-se e retirava todo o pó que cobria seu corpo.
Taeyang ao olhar a forasteira, que em outro momento seria entregue ao sacrifício. Viu no fundo escuro de seus olhos, o brilho dado somente a lua, e no instante em que se tocaram, o rei julgou que os deuses mandaram sua mensagem, pois a lua surgiu para encobrir o glorioso sol.
Todos os nativos se colocaram de joelhos diante daquelas figuras, e o tal filho do deus sol, desposou para si aquela qual foi proclamada como filha da lua.
E assim teve seus dias até o fim. Jennie que tanto buscou o el dorado para levar até a coroa, e de modo arrogante lhes impor sua supremacia diante daqueles que o próprio Deus nomeou. Foi amaldiçoada por uma paixão imunda a um ser que se quer era civilizado, parindo seus filhos e servindo aquele povo ignorante... Foi sentenciada a prisão do que sempre buscou: “O dourado”
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