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História Ele vai voltar? - Contagem Regressiva.


Escrita por: yAnja

Notas do Autor


No tengo nada a hablar hoy kkk

Capítulo 37 - Contagem Regressiva.


Fanfic / Fanfiction Ele vai voltar? - Contagem Regressiva.

Eu sou o fogo, você é a gasolina,
Venha se derramar sobre mim.
Vamos deixar esse lugar em chamas só mais uma vez.
Você apaga as luzes, e fecha as cortinas.
Não faça a luz dos seus olhos desaparecer.
Você vai passar a noite?
(Será que não podemos queimar?)
Isso não quer dizer que estamos ligados para a vida toda.
(Nós nunca aprendemos.)
Então, você vai passar a noite?”
Stay The Night – Zedd feat. Hayley Williams.

***

[...]

21 de novembro. – Dia seguinte ao aniversário de Lilith. – Segunda-feira. – 6h28min.

Não foi surpreendente quando acordei pela manhã um pouco antes mesmo do celular despertar, muito menos que a primeira reação que tive ao abrir os olhos foi fitar o anel que agora habitava em meu dedo, fazendo-me até mesmo questionar se ainda estava sonhando. Um sonho muito bom, não, era bem mais que isso, um sonho maravilhoso. A segunda reação foi o sorriso descontrolado que brotou em meus lábios.

Lilith, o ser mais rabugento pela manhã estava acordando como se fosse o melhor dia de sua vida! Mesmo que o melhor dia tivesse sido o anterior, agora parecia que todos os seguintes seriam tão bons quanto. Que alguém me belisque!

Eu tinha Kentin de todas as formas, e não me importava de parecer um tanto possessiva em pensar assim. Podia chamá-lo de meu namorado, com todas as letras e sílabas, porque sim, ele me pertencia, e eu definitivamente era somente dele também!

Poderia simplesmente levantar da cama, erguer os braços para o céu e gritar aos quatro ventos que estávamos namorando ou que eu finalmente desencalhara e também perdera a porra da virgindade – WTF –, no entanto... O celular despertou me fazendo recordar que era segunda-feira e que depois da semana de atestado eu voltaria as aulas.

I’m sorry for everything, oh, everything I’ve done...
(Me desculpe por tudo, oh, tudo o que eu fiz...)

Fechei os olhos novamente, aproveitando o toque animado que venho a seguir da música Shots – Imagine Dragons. Todas em vezes em que eu colocava alguma música como despertador rapidamente ela começava a se tornar enjoativa ou chata, porém, essa em especial acabava me deixando com o humor melhor. Talvez porque a banda me lembrava a Kentin ou do dia em que dançamos juntos na casa dele. Ao contrário do ritmo a letra da música não era alegre, entretanto, nada, nada mesmo estragava minha felicidade, nem o frio ‘escaldante’, nem o tempo nublado, nem a neve que começara a cair no dia anterior. Nada!

Depois de ter desligado o despertador, finalmente me dei por vencida e fui me ajeitar para a aula do dia. Fiz minhas higienes matinais e me vesti com bastante roupa, tive de pôr luvas e touca para não acabar me congelando no trajeto para a escola.

From the second that I was born It seems I had loaded gun, and then I shot, shot, shot a hole through everything I loved. (A partir do segundo em que nasci, parece que eu tinha uma arma carregada, e então eu atiro, atiro, atiro em tudo que eu amei.) — cantava distraída o refrão da música tão baixo que se alguém cruzasse por mim somente veriam meus lábios se movendo em silêncio. Agora em meio ao caminho para o colégio, pus a mesma música que acabou ficando impregnada na mente no meu fone de ouvido que estava estrategicamente enfiado por dentro do meu blusão e casaco, saia pela gola e entrava por de baixo da touca.

Hora e outra eu soltava uma lufada de respiração quente no ar só para ver a fumaça sair por meus lábios, em contrapartida com o ambiente gelado. Era agradável. Às vezes sentia um e outro pequeno floco de gelo caindo em minha face, era uma sensação calmante, não levaria muitos dias para as ruas estarem completamente cobertas em neve.

Os pensamentos despreocupados foram facilmente cortados quando meu celular vibrada dentro do bolso da jaqueta, não tardei a pegá-lo. Fora bem mais do que incontrolável o sorriso largo que eu abri quando vi o nome de Kentin aparecer na barra de notificações do celular, mostrando que a nova mensagem recebida era dele. Com certa dificuldade por conta da luva de lã, cliquei mais precisamente no touchscreen da tela para abrir o recado.

Kentin: Oi, bom dia. (7:22)

E o sorriso se ampliou no mesmo instante. Como um breve ‘bom dia’ podia melhorar algo que já estava bom?

Kentin: Só para avisar que não vou na aula hoje, não estou me sentindo muito bem. Nos vemos amanhã, tá? (7:23)

O sorriso ainda aberto se diminuiu um pouco automaticamente junto com as sobrancelhas que teimaram em se curvar em preocupação no mesmo instante que terminara de ler. Tirei uma das luvas para digitar melhor.

Lilith: O que houve? (7:23)

Ele ainda estava online e não demorou a responder:

Kentin: Nada demais, minha garganta tá um pouco arranhada só. (7:23)

Suspirei um pouco mais tranquila, não era nada grave ao menos.

Lilith: Você deve ter pegado muito frio ontem quando foi pra casa. (7:24)

Teve também o momento em que estávamos nus na minha cama, no banho, ou também o tempo que ele ficou com o cabelo úmido, mas isso eu não falaria. Antes que ele pudesse responder voltei a escrever:

Lilith: Se quiser eu posso ir ai, levo algum remédio e te faço um chá. (7:24)

Que mal eu tinha de me oferecer para cuidá-lo ao menos um pouco depois de tudo o que ele me fizera na última semana, não é? Ele cuidou de mim durante uma semana inteira e ainda por cima para finalizar me deu o melhor aniversário de todos, só tinha o que retribuir. Não por obrigação, não por ser sua namorada agora ou amiga, e sim porque queria, porque o amava e queria vê-lo bem, mesmo que fosse somente uma dor de garganta comum de inverno.

Kentin: Não. Eu tô bem. (7:25)

Parei de caminhar na calçada perto a escola fitando a tela do aparelho. A resposta fora tão direta e tão contraditória com a primeira mensagem que senti meu estômago revirar. Ele dissera que não estava muito bem e logo em seguida diz que está bem. Que sentido isso tinha?

Lilith: Mas você disse que não estava bem. Eu posso mesmo ir, um dia a menos nas milhões de faltas que tenho não faz mal, a prova de química é só amanhã mesmo. (7:26)

Insisti mesmo assim, Kentin devia estar apenas se fazendo de difícil para não me ‘incomodar’. Tantos dias ele faltou as aulas integrais à tarde só para ficar comigo, eu não me importaria nem um pouco de fazer ao menos um dia o mesmo por ele.

Kentin: Não, não precisa. (7:27)

Continuou a negar com firmeza. Voltei a caminhar pela calçada meio atônica. Não estava entendendo muito bem o motivo da negação, todavia ainda suspeitava que era para não me atrapalhar na escola, ia voltar a insistir quando outra mensagem chegou antes mesmo de eu saber o que escrever.

Kentin: Vou sair aqui. Até amanhã. (7:27)

Afastei o rosto do celular visualizando as palavras dele, tive de passar os orbes ao menos umas três vezes por cima para ter certeza que tinha lido certo. Poderia muito bem estar lendo de forma errônea, já que no virtual é algo frio que não se sabe como a pessoa está se pronunciando realmente, no entanto as palavras pareciam realmente cortes. Aparentava que ele não queria minha presença, quer dizer, não agora, não hoje.

Lilith: Tá bom, se você diz. Até amanhã então. (7:28)

Concordei por fim. A inferioridade estava mais do que claro naquela resposta, mesmo que talvez ele nem se desce conta disso. Se ele seria ‘frio’ comigo, era óbvio que eu seria de volta. O online abaixo do nome dele sumira logo após a visualizar a mensagem, sem mandar mais nenhuma palavra sequer. A música entrara totalmente em segundo plano, como se não existisse mais.

Cômico era pouco, era irônico, um tremendo deboche contra a felicidade na qual tinha acordado há praticamente uma hora e pouco atrás. Mas beleza, se era assim que ele queria tudo bem. Não posso obrigá-lo a ver minha ‘fuça’ todo santo dia, talvez ele realmente precisasse de “uma folga temporária de Lilith”.

Guardei o celular no bolso, o bom humor fora passear de mãos dadas junto com as mensagens que eu recebera dele. O nublado das nuvens começara a me irritar, o frio cortava meus dedos e congelava a ponta do meu nariz, pude sentir a pele fina dos lábios começarem a secar e rachar, a neve que caía iniciou a me incomodar, como se de alguma forma ela me fizesse sentir grudenta e suja agora. Engraçado como uma pessoa faz com que seu dia seja bonito ou feio, porque o tempo que antes parecia tão bom e tranquilo agora só parecia um monte de lixo pra mim.

Enfiei novamente a luva na mão, coloquei ambas nos bolsos e tracei o resto do trajeto para escola me apressando, agora já estava bem em cima da hora e por pouco não me atrasaria depois de uma semana sem ir à escola. Beleza. Tá certo. Maravilha. Es-plên-di-do! Agora eu sabia que estava realmente acordada e que aquela era a vida real de sempre no qual me habituara anteriormente.

[...]

9h32min. – Aula de Química.

Já não bastasse que no dia seguinte teria avaliação daquela aula maldita, a professora Delanay trocou os períodos do Patrick – vulgo a melhor aula que tinha naquela escola – com a intenção de dar matéria nova para a prova, um dia antes, logo um fucking dia antes dela acontecer! Teríamos que aprender tudo em cima da hora, e todo mundo sabia que ela fazia por gosto só para prestarmos atenção mais do que nunca no conteúdo que ela passava. Felizmente já que eu estava a pouco tempo com o braço costurado, ela disse que eu não precisaria copiar nada e que algum colega me passaria as anotações mais tarde. Minha prova seria a mesma que das outras pessoas, no entanto, por minha causa a avaliação seria somente de marcar já que eu não tinha como escrever direito ainda. Em pouco tempo de aula já recebera quinhentos olhares contentes por isso, porque as questões com justificativa de Delanay eram simplesmente terríveis, pelo menos nos nossos cérebros preguiçosos adolescentes de ensino médio furreca. Lilith salva a pátria com seu machucado! Yey!

Mal sabiam que meu pulso estava mais do que bem, nem doía mais, as vezes sentia alguns repuxões, mas nada demais – mas eu ficaria bem quieta, não era burra nem nada de abrir o bico e dizer que já estava curada. Kentin tinha cuidado muito bem de mim.

E pensando nisso, era meramente impossível não me preocupar com sua reação mais cedo. Aquilo matutava na minha cabeça como marteladas brutas. Será que eu tinha dito algo errado? Será que ele estava zangado por ter ficado com dor de garganta pois ficara até tarde comigo e acabou pegando frio na hora de voltar para sua casa, tudo por minha causa? Ele não podia estar enjoando de mim, certo? Se bem que passamos uns oito dias seguidos grudados um no outro como um casal que estava junto há anos, e não há poucas semanas. E se eu fiz algo errado no final das contas mesmo? Puta que pariu!

Mordi a parte interior da minha boca, inquieta, parecia uma paranoica com aqueles pensamentos, talvez não fosse nada demais, talvez eu estivesse imaginado coisas, pensando demais, só isso... Abaixei um pouco meus ombros e cabeça atrás de Lysandre. – que se sentara na minha frente hoje. – o que fora uma boa coisa, já que ele era bem alto e podia me cobrir da visão da professora. Peguei meu celular e reli a conversa com mais calma. Péssima ideia, lidas pela segunda vez as mensagens ficavam ainda piores!

Não, não precisa.” ele dissera. Tá, talvez realmente não precisasse, tudo bem, mas... Fora de forma tão rude e direta que não tinha como não estranhar. Kentin nem tinha visualizado o WhatsApp desde o momento que terminamos de conversar. Que diabos?!

Ok ok, ele só deve ter voltado a dormir, com certeza foi isso. Respira Lilith, sua anta!

Mas...

Passei a palma da mão vagarosamente pelo rosto, tentando raciocinar direito.

E se ele se arrependeu de ter me pedido em namoro oficialmente, então por isso não venho na aula hoje? E se tivesse achado que foi precipitado o anel ou precoce demais o pedido? Não... Não...

Kentin definitivamente não era assim.

Balancei a cabeça em silêncio para afastar os pensamentos agourentos. Aquilo já era demais, estava realmente ‘paranoiando’ - palavra que serquer sabia se existia mesmo - com algo desnecessário e que nem fazia sentido direito. Até porque, nós éramos unha e carne, tudo estava às mil maravilhas, nos provocávamos, entendíamos, zoávamos, cuidávamos um do outro, trocávamos muito carinho, ríamos juntos, passávamos horas a fio juntos, até mesmo sem precisar falar sequer uma única palavra, porque só a presença já era mais que suficiente para nós dois. Era exatamente o tipo de relacionamento que qualquer um sonharia em ter. Eu e Kentin estávamos muito bem, obrigado. De nada.

No entanto... Aquela inoportuna vozinha no fundo de meu âmago não parava de confabular motivos ruins.

Mas e se...

Mas e se o que, Lilith?

Não. Impossível. Rá!

A maldita mente não dava um minuto de descanso mesmo!

E se ele se arrependeu de ter transado comigo ontem?!

A pergunta retórica venho como um estalo alto, um choque elétrico, uma pancada forte, uma facada bem no meio do cérebro. Senti até uma pontada aguda na hora. Foi o ápice final da completa calúnia mental!

— Meu Deus! — murmurei intrigada com o pensamento, quase engasgando. — Só pode ser isso!

Kentin ficara estranho um dia depois de termos transado pela primeira vez. Que pessoa não faz isso de evitar contato quando se arrepende?

— Disse algo? — perguntou baixinho Lysandre logo a minha frente se virando minimamente para me ver de esguelha, tomando cuidado da professora não pegá-lo no flagra.

— Não, não disse nada. — sorri sutilmente, disfarçando minha preocupação.

Lysandre se virou quase que completamente para mim, ele abriu um sorriso simples mas muito simpatizante, depois voltou para a posição que estava, retornando a prestar atenção na aula, como se não tivesse feito nada fora do normal.

Mas o que caralhos foi isso...

[...]

12h01min. – Horário de almoço.

— Muito obrigado mesmo! — agradeci apressadamente, guardando as anotações dentro da mochila entre o meio de um dos cadernos, sem prestar realmente atenção no que fazia.

— Não foi nada demais. — Nathaniel acenou com a cabeça. Ele havia me dado as anotações da matéria nova de química para que eu pudesse estudar em casa.

Já ia me virar e sair da sala às pressas quando parei e voltei-me em direção à ele novamente.

— Nathaniel.. — chamei-o com a respiração um pouco acelerada.

— Pois não? — ele ergueu as sobrancelhas loiras, sem entender o porquê de minha volta.

— Sinto muito por andar meio distante nos últimos tempos, estava meio... Hm, que com problemas antes, e na última semana fiquei de atestado. — dei de ombros. — Mas ainda somos amigos, certo? — sorri levemente culpada. Pareciam séculos que não falava com ele.

— Claro. Eu entendo, você passou por vários problemas desde a vez que Peggy publicou o vídeo e aquela matéria nada didática sobre você...

— Sim, isso também.. — desviei os olhos não querendo aprofundar o assunto chato. Kentin nem podia imaginar toda àquela merda.

Droga, lembrei de novo... Kentin. Porcaria!

— Mas somos amigos sim, nunca deixamos de ser. Aconteceu algo? — perguntou parecendo nitidamente preocupado.

— Não, nenhum! — neguei de imediato, sorrindo mais brandamente para disfarçar. — Só me senti péssima por estar tão fora de ar... — olhei para o chão da sala por um instante antes de prosseguir: — Será que você pode voltar a me emprestar alguns livros seus? Como costumávamos fazer antes.

— Sim, será um prazer. — acenou novamente, claramente contente pelo meu pedido.

— Eu comprei alguns HQ’s há pouco também, posso te emprestar se quiser! — ofereci atenciosamente.

— História em quadrinho? Bom, eu nunca li, então..

— Nada disso! Você vai gostar, acredite! É de investigação! — insisti.

— Tudo bem, pode ser interessante. — concordou, sorrindo ainda mais. — Obrigado Lilith.

— Por nada... Bom, eu... — olhei para saída da sala. — Desculpa mas eu tenho que ir agora. Amanhã trago o HQ sem falta! — prometi, já saindo apressada.

— Até! — despediu-se ao longe.

Me continha para não correr pelo corredor principal. Mas estava ansiosa, ainda cheia de caraminholas na cabeça. Que se danasse a aula da tarde, iria para casa! Não estava conseguir prestar atenção em nada mesmo. Então que eu fosse pensar abobrinhas dentro do meu quarto, sozinha. Era bem melhor do que ter um monte de gente por volta.

— Opa, cuidado. — repreendeu Lysandre segurando meus ombros sutilmente quando eu me bati de frente com ele.

— Desculpa Lysandre. — pedi passando a mão pelo nariz um tanto afoita. Tinha batido a cara com tudo no peito dele.

Em que mundo eu andava? Ah sim! Kentin, só pra variar!

— Você tem um minuto? — questionou calmamente, me lançando outro sorriso como o de antes na sala de aula.

— Lys, desculpa, eu tenho que ir pra casa agora. Não 'tô me sentindo muito bem. — contei fazendo uma careta. Não que eu estivesse ruim de saúde, mas estava ruim de mente. Não era de fato uma mentira então.

— O que você tem? — o sorriso dele se desfez, ele pressionou um pouco os dedos nos meus ombros como se esperasse que eu desmaiasse a qualquer momento.

Coisa que aconteceria mesmo se eu estivesse certa do que pensava.

— Não é nada, não se preocupe. Preciso ir para casa um pouco, conversamos amanhã, pode ser? — tive que forçar um pouco o sorriso. Só queria sair daquela escola e parar de matutar besteira! Ou tentar parar.

— Quer que eu te acompanhe até em casa? Você pode passar mal no caminho.. — insistiu prestativo, tirando aos poucos, hesitante as mãos dos meus ombros.

— Tudo bem mesmo, Lys. Logo passa... Até amanhã! — já ia passar por ele quando lembrei. — Ah, e eu não esqueci que seu aniversário é amanhã! — saí dali antes mesmo dele ter tempo de responder algo.

Já estava por pouco de sair do portão de escola quando desta vez foi alguém que esbarrou em mim.

— Ai! — resmunguei passando a mão na barriga.

Não era meu dia, só podia!

— Ai digo eu, sei que sou pequena mas não sou invisível. — reclamou a garota loira, limpando com as mãos o vestido delicado semelhante a de uma boneca.

— Nina? O que tá fazendo aqui? — questionei quando me dei conta que era ela.

Nina invadira a escola incontáveis vezes durante o ano por causa de Lysandre. E também incontáveis vezes ela foi expulsa por algum professor, já que a escola era somente para ensino médio. Nina tinha apenas quatorze anos e ainda estava no ensino fundamental, não devia estar aqui. Mas parecia que o cérebro pequeno dela não entendia isso.

— Procurando o Lys, é claro! — respondeu como se fosse algo óbvio, e realmente era, nem sei porque perguntei. — Sabe aonde ele está?

— Lá no corredor. — respondi rápido já saindo sem nem me despedir. Nem fazia questão na verdade.

Ela era muito chata para o tamanho pequeno que tinha. Juro ter visto um olhar fuzilador quando cruzei por ela. Mas não fora a primeira vez que vi algo do tipo vindo dela nos meses que andava bastante com Castiel. Sem contar que a voz da mesma era um porre também, chegava a me dar calafrios quando ela falava possessivamente sobre Lysandre.

Menina louca de pedra... Pensei ao encolher os ombros. Lembro-me até mesmo do primeiro dia em que a vi, achei ela tão fofinha se dizendo ser gerente do fã-clube do Lysandre. Ledo engano. A garota tinha até mentido se chamar “Lysandra”. Hoje em dia só sentia calafrios ao vê-la, parecia o ‘capiroto’ encarnado em uma menininha.

De qualquer maneira, nada daquilo me importava agora, sendo que só outra coisa se passava por minha mente. E aquilo estava me deixando nervosa e com raiva ao mesmo tempo.

Eu não podia ter sido feita de trouxa. Não de novo. Certo? Não podia de forma alguma!

— Idiota! Para de pensar nisso! — resmunguei colocando as mãos com tudo dentro dos bolsos da jaqueta. — Ridículo. Dia Ridículo. Tempo ridículo. Mensagem Ridícula. — se eu não estivesse tão mau humorada riria da minha própria cara emburrada. — Que lixo! — revirei os olhos, me apressando para ir para casa de uma vez.

Queria minha cama. O restante das aulas que tomasse bem naquele lugar em especial...

[...]

20h42min. – Em casa.

Preto. Sim, essa foi a cor escolhida. Fiquei olhando para minhas unhas, agora com o esmalte escuro já seco. Talvez a cor representara minha aura interior. Ou o luto interno que estava por um resquício de sentir. R.I.P. Lilith Weyland Parker.

Juro que tentei me distrair de todas formas possíveis, revisando a matéria nova de química que cairia amanhã, desenhando, ouvindo músicas agitadas, calmas, pesadas, cabreiras – (quê?!) –, qualquer coisa! Até anime coloquei a rodar durante a tarde, nada me tirava da cabeça Kentin e o modo como falara comigo pela manhã. Ficava preocupada, pois se ele estivesse ruim da garganta, queria cuidá-lo como fez comigo. Ao mesmo tempo tinha as conceituais paranoias allá Lilith Parker.

Kentin não se comunicara o dia todo desde a manhã, nem ficara online. Eu fiquei no dilema de chamá-lo ou não, e quanto mais os minutos passavam, mais eu ficava com ideias idiotas na cabeça de que ele estava arrependido do namoro, de ter dado os anéis, de ter transado comigo. Talvez ele ache que tenha sido cedo demais. Quem sabe... Quem sabe qualquer coisa!

Bufei descendo as escadas de casa, e indo em direção a cozinha, prepararia um café, não tinha nada melhor. Então... Foi aí que eu vi em cima da bancada de mármore do lugar que a garrafa de vinho ainda estava ali, lacrada, completamente intacta. Compramos e acabamos por nem tomarmos...

— Hm. — sorri de canto, o lampejo de luminosidade surgindo em mente. Talvez ele fosse me odiar muito pelo o que eu estava prestes a fazer. Talvez. Mas que desculpa melhor eu poderia inventar? Estava definitivamente paranoica, precisava dar um jeito de esclarecer todas minhas recentes e talvez muito idiotas dúvidas.

[...]

21h41min. – Em frente à casa de Kentin.

Escova de dentes e de cabelo, celular, garrafa de vinho, HQ’s para Nathaniel, caneta para a prova, anotações da matéria nova de química – seria outra boa desculpa de aparecer ali –, roupas para dormir, chicletes para mau hálito. Missão silenciosa de fugir pela janela do quarto como aprendera há meses atrás com Castiel – sem tomar nenhum tombo – fora efetuada com êxito, Agatha nem suspeitaria na manhã seguinte, pois pensaria que apenas fui para aula mais cedo.

E ali estava eu, na frente da casa familiar, aonde provavelmente habitava meu namorado, no qual me deixara o dia todo tendo ideias retardadas – ou quem sabe verdadeiras.

— Ok, tudo bem, Lilith. Você já assistiu Naruto, sabe bem como é que se faz. — tranquilizei-me, quando comecei a escalar o mais silenciosamente possível as grades do portão.

Por sorte não era muito alto, então não foi muito difícil, tive de sorrir vagamente com minhas habilidades ninjas. Teria que agradecer à Castiel pelas vezes que me fez fugir de casa à madrugada e pular o muro da escola só para ficar de bobeira no porão a noite inteira.

Assim que pus os pés dentro do pátio da casa de Kentin, o coração começou a bater mil vezes mais rápido do que já estava antes de pular o portão. As luzes da casa estavam ligadas, não era muito tarde. Então era bem provável que os pais dele estivessem acordados ainda, incluindo ele.

— Tarde demais para desistir agora. — murmurei tentando criar coragem.

O melhor era sair da trilha de entrada. Afinal, era casa de um militar, era provável que eu tomasse um tiro antes mesmo do pai de Kentin ver que se tratava de mim.

Devagar e um pouco agachada andei pelo gramado da frente, dando a volta na casa, passo por passo cautelosamente até ir a janela do quarto do moreno. A luz estava acesa ali também.

Me aproximei mais da janela de vidro que estava apenas fechada com cortinas pela parte interior, aproximei meu ouvido para ver se eu escutava alguma coisa. Não poderia dar bandeira de chamar Kentin com alguns dos pais dele junto ali, seria plano falhado na certa. Pude apenas ouvir um burburinho extremamente baixo de música, fechei os olhos e prendi a respiração para tentar escutar melhor. Parecia ser... Fireside do Arctic Monkeys. Sorri de canto, ao menos ele devia estar bem no seu canto.

É agora... Levantei o punho meio hesitante, soltando o ar preso nos pulmões, voltando a respirar. Bati no vidro duas vezes, não muito forte para que somente quem estivesse no quarto ouvisse.

Silêncio. Podia escutar meu próprio coração. Estava com o cu na mão. Alguns passos ocorreram quase que imperceptivelmente até que a cortina da janela fosse aberta mostrando um Kentin de olhos arregalados mirando minha pessoa.

Levantei a mão e abanei rápido como se dissesse ‘olá’ na maior cara de pau possível, no entanto minha expressão devia estar muito estranha, afinal, não era esperado que eu o visse de óculos.

Depois de se recuperar do pequeno choque, não demorou-se a deslizar o vidro da janela para cima.

— Lilith? — perguntou incerto, se aproximando como se duvidasse que eu estava mesmo ali. — O que faz aqui? — indagou estreitando os olhos, como se estivesse vendo uma miragem.

— Vim te ver, é claro. — dei de ombros fingindo indiferença, mesmo que por dentro estivesse me desmanchando em caquinhos como se fosse a primeira vez que o visse. — Fiquei preocupada com você. — ‘E preocupada de você estar querendo dar as contas’. Mas isso não seria verbalizado, claro.

— E-eu... — gaguejou, piscando algumas vezes. — Disse que não precisava, está tudo bem. — desviou o olhar, enrubescendo um pouco.

— Ah. — soltei um muxoxo descontente. Que fora, meu Deus. — Então tá bom, vou indo então. — abri o meu melhor sorriso. — Só vim para ver se estava tudo bem mesmo. — menti fazendo menção de me virar.

— Espera! — pediu rápido, contendo a voz para não chamar a atenção de seus pais na casa.

— O quê? — arqueei a sobrancelha, voltando-me para ele novamente.

— Não quer entrar? — questionou rápido, olhando para trás, como se esperasse alguém abrir a porta d seu quarto.

— Achei que não fosse convidar. — abri outro sorriso, agora genuíno mesmo que ainda estivesse cheia de dúvidas. — Deixa eu pular. — pedi, já tirando a mochila dos meus ombros e estendendo para ele segurar.

Kentin pegou o objeto enquanto eu me virava de costas e colocava ambas mãos para trás no parapeito da janela, com as palmas das mãos me impulsionei para cima, sentando na mesma, inclinei meu tronco pra frente para não bater a cabeça no vidro – mais acidentes não! –, depois girei o corpo colocando uma perna para dentro do quarto e em seguida fiz o mesmo com a outra, entrando no local.

— Que isso... — exasperou baixo. — Minha namorada é a mulher-gato. — afastou o pescoço, nitidamente surpreso.

— Oi. — foi tudo o que consegui dizer, abrindo um sorriso de leve com o canto da boca.

— Oi. — sorriu de volta. — Então.. — pôs minha mochila sobre sua cama, aproximando-se de mim logo após para fechar a janela.

— Legal... Os óculos. — elogiei meio sem jeito, pondo as mãos nos bolsos das calças.

— Valeu. — pigarreou, completamente desconfortável.

— Você... Tá melhor da garganta? — me afastei um pouco para olhá-lo melhor. Ele parecia perfeitamente bem ne realidade...

— Estou, foi bem pouca coisa, só pela manhã estava incomodando. — explicou.

— Na verdade... — suspirei, não gostando no clima que pairava no ar. — Eu estava preocupada também de você ter, sabe... — passei a mão pelo cabelo, escolhendo as palavras. — Se arrependido ou algo do tipo, de alguma coisa. Qualquer coisa. — fui sincera, querendo me livrar do peso nos ombros o quanto antes.

— Quê? Não! — negou de imediato, chegando mais perto. — É que, hoje pela manhã eu tinha ido há ótica com minha mãe, para ver isso aqui. — apontou para o próprio óculos, envergonhado. — Eu preferi dizer que não iria para a aula por causa da garganta, porque se você soubesse eu aposto que iria querer ver eu com essa merda na cara. Mas que seja, agora você já viu mesmo. — deu de ombros, embaraçado.

— Você mentiu? — as palavras escaparam pela minha boca, já enrugando naturalmente a testa.

— De maneira alguma. — falou quase de forma emergencial. — Eu meio que omiti. — riu consigo mesmo. — É que... hm, eu estava com um pouco de vergonha que me visse assim. — justificou-se.

— Nada a ver. — balancei a cabeça, sorrindo um pouco, olhando-o melhor na face. Kentin usava um óculos diferente do seu antigo. Tinha a armação preta e de formato retangular, ficava extremamente bonito nele. Como se fosse uma parte que faltava nele e só agora com ele usando deu para perceber. — Você escolheu bem, ficou ótimo. Tá lindo. — elogiei em total honestidade. Era até meio intimidador vê-lo daquele jeito tão... Atraente, por assim dizer.

— Obrigado. — agradeceu, ajeitando o objeto no rosto que escorregava pelo nariz fino com o dedo do meio, o gesto era tão ambíguo mas esta ação vinda de Kentin ficou muito sexy.

Caramba! Que merda estou pensando?!

— B-bom.. — desta vez eu gaguejei por conta das porcarias em que pensava. — Fico mais aliviada de saber que você não se arrependeu de nada, sabe.. Tudo e tal. — aproximei mais um passo dele, querendo fazer contato.

— Que besta. Aposto que você ficou de paranoia o dia todo. — inclinou o rosto um pouco na minha direção. — Nunca vou me arrepender de estar contigo. — contou ao depositar um selinho calmo na minha boca.

— Rum.. — soltei uma risada nasal, gostando do afeto recebido. — Você falou estranho comigo de manhã e depois sumiu o dia inteiro, meu dia ficou uma bosta depois disso. — revelei, roçando a ponta do meu nariz com o dele.

— É mesmo? — sorriu um pouco mais, como se meu dia ter sido uma droga fosse uma boa notícia para ele. — Isso são sintomas de paixonite. — analisou, falando baixo ao me dar mais um selinho, desta vez mais longo e molhado.

— Só agora percebeu? — indaguei retoricamente, sorrindo provocativa. — Nunca mais faça isso hein. — avisei, ficando séria no mesmo instante. Era tão bom sentir o hálito dele batendo contra meu rosto... Nunca cansaria.

— Não vou. — concordou, acenando com a cabeça duas vezes agilmente. — Desculpe te preocupar à toa. — desculpou-se timidamente. — Mas agora eu só quero que você venha aqui, já estava com saudades. — pediu de mansinho, encaixando de vez nossas bocas, roubando um beijo lento e intenso.

E eu nunca me acostumaria com isso, já que as sensações sempre vinham cada vez mais fortes e acentuadas. Era ótimo. No final das contas me preocupei o dia todo à toa, a parte boa, é que por causa de toda minha insegurança e paranoia agora eu podia sentir o beijo dele de novo e de novo. E mais uma vez. E mais outra. E quantas vezes mais eu quisesse!

[...]

‘Two Hours Later...’

— Sério, você é beeem loouca às vezes. — comentou Kentin alongando as palavras e contendo o riso, provavelmente já tendo que raciocinar o que realmente dizia antes de deixar-se falar.

— Tá bêbado, é? — coloquei a palma da mão sob a boca, evitando rir também.

Pfff... — bufou fazendo os lábios tremerem. — ‘Tô é nada. — abanou o ar com a mão, como se afastasse a pergunta idiota. Ele estava bêbado mesmo.

Um pouco mais de meia garrafa de vinho faz isso? Parece que são dois fracos com álcool – no meu caso, já sabia do meu fraco com bebida desde a festa da Rosalya – mas Kentin, digamos que ele estava bem ‘lélé’ da cuca até o momento.

Após entregar as anotações para a prova do dia seguinte de química, tentei ajudá-lo a estudar – isso mesmo, tentei só, porque deu ruim –, ele não prestava atenção em nada, absolutamente nada! E confesso que com aqueles óculos novos me tirava a concentração, acabava por sucumbir aos encantos do moreno. Ele estava mesmo maravilhoso usando aquilo, lhe dava um ar mais adulto, sério, e cara, era quase um Christian Gray para minha Anastasia interior, seria completamente submissa à ele sem problema algum. Só de lembrar ele usando aquilo eu poderia até mesmo lamber aqueles olhos verdes agora. Quê?!

Infelizmente Kentin ficou de frescura por conta da sua vergonha em usar óculos e agora estava com as costumeiras lentes de contato. Maior palhaçada na minha opinião. Estava tão gato usando aquilo antes, mais do que já normalmente era...

— Acho que bebi um pouco demais. — conclui passando a mão por todo rosto e chacoalhei a face, tentando me manter mais lúcida e parar de pensar tanta merda. Parecia uma tarada.

— Que fraquinha. — provocou Kentin, se inclinando no colchão e me dando um beijo rápido nos lábios.

— Só eu, né? — balancei a cabeça em indignação.

— Só você. — concordou, atirando-se para trás na cama de braços abertos e fechando os olhos. Estava definitivamente sobre efeito de álcool.

— Você trancou a porta né? — perguntei baixo pela milésima vez. Que Deus o tenha se alguém entra ali e vê nos dois escondidos e bêbados. Daria bosta na certa.

— Já disse que sim, medrosa. — riu, mesmo assim baixo, ele também se preocupava de sermos descobertos.

— Idiota. — chutei a canela dele, ainda sentada sobre a cama com as pernas cruzadas, peguei a garrafa de vinho e tomei mais um gole da mesma. Eu certamente devia ter trazido um copo, mas enfim... Que seja.

— Olha que temos prova amanhã, não vai exagerar. — argumentou o moreno, espiando-me só com um dos olhos.

— Quer? — ofereci a garrafa verde de plástico, ignorando o aviso dele.

— Sim. — concordou pegando o recipiente e tomando deitado, como se nem ele tivesse se dado conta que estava exagerando já. É claro que não ia dar certo, o líquido arroxeado escorreu por sua boca sujando a gola de sua camisa, fazendo-o se afogar um pouco.

— Você não sabe beber. — acusei, mesmo que nem eu mesmo soubesse.

Shh... — riu de leve, coçando a garganta e limpando a boca com as costas das mãos — Porcaria. — resmungou me estendendo novamente a garrafa e sentando-se outra vez sobre o colchão. — Vou trocar a camisa antes que eu fique fedendo a vinho. — levantou-se meio cambaleante indo até seu armário.

Voltei a beber da garrafa enquanto o fitava na maior cara dura trocar a camisa. Nem parecia que a dois dias atrás aquilo iria parecer o fim da picada, como um pecado ou algo do tipo, agora era tão natural quanto respirar ou piscar. Kentin tinha um corpo bem convidativo. Talvez fosse apenas meu coração apaixonado que o deixasse ainda mais bonito do que já era. Não, definitivamente ele era bem convidativo, com ou sem paixão no meio.

Agora usando uma camiseta cinza de manga longa que ficava bem folgada em seu corpo, ele voltou-se na minha direção, caminhando meio alienado por conta do álcool até a cama.

— Eu vi que você estava me secando. — contou com um sorrisinho debochado nos lábios.

— Estava mesmo. — admiti, fechando a garrafa quase vazia de vinho e largando-a embaixo da cama dele. No dia seguinte ele colocaria fora sem dar bandeira para os pais.

— Que pervertida, Lilith. — disse em um tom acusatório, como se fosse um ultraje.

— Sou a única. — ironizei ao revirar os olhos. Péssima ideia, quase deu um nó no meu cérebro. — Ai. — resmunguei, colocando a mão na testa. Esperava só não ter ressaca por causa da porcaria de um vinho doce.

— Tudo bem? — indagou voltando a ficar sério. — Quer remédio pra dor de cabeça? — perguntou atencioso.

— Não precisa. — sorri ladeado. — É só eu não ficar revirando os olhos que nem bola de Pinball que vou ficar bem. — afirmei.

— Se você diz... Sou só eu ou esse vinho deu sono? — questionou, dando um bocejo longo e preguiçoso, os olhos ficando umedecidos pela sonolência. A ação fora tão contagiosa que acabei por bocejar meio segundo depois, tapando a boca com a palma da mão. — Não precisa nem me responder. — riu ao vislumbrar meu reflexo sob o bocejo dele. — Vamos deitar. Não quero estar morrendo de sono durante a prova amanhã. — deitou-se puxando a coberta que estava na beirada da cama para se cobrir.

— Deixa só eu trocar de roupa antes. — avisei, indo catar minha mochila que agora se encontrava no chão do quarto.

— Trouxe até roupa para dormir? — sorriu de canto, satisfeito com meu planejamento. — Você já estava pensando em dormir aqui mesmo que eu não te chamasse para entrar, não é?

— É claro, se você não convidasse, eu ia entrar mesmo assim e me auto convidar para dormir escondida aqui, claro, antes te daria uns bons tapas por não ter me chamado. — confessei, sorrindo sem vergonha nenhuma.

— Ainda bem que perguntei se você queria entrar então. — suspirou aliviado.

— É, é. Agora vira pra lá. — ordenei com as roupas em mão.

— Ah, qual é! Não vale! — ria. — Você me olhou trocando de camisa. — usou a desculpinha furada.

— Sou mulher, é diferente. Vira. Agora. — mandei pausadamente, olhando-o de forma ameaçadora.

— Tá legal. — bufou, virando-se na cama para ficar de costas. — Até parece que não tomamos banho juntos ontem mesmo. — retrucava em um murmúrio desconte como uma criança emburrada, mantendo-se na direção oposta à mim.

Olhei-o por um breve instante, só para ter certeza de que ele ficaria mesmo de costas enquanto eu me trocava. Ele permaneceu virado, então usei a deixa para me trocar o mais rápido possível, depois de me despir do casaco, camisa e calças, enfiei um short preto de tecido frouxo e uma camiseta comprida branca que tinha estampado um ‘smile’ na frente, igualmente na cor preta.

— Deu. — avisei, começando a dobrar parcamente as roupas que antes usava, pondo-as na mochila. Seriam recolocadas pela manhã para ir à escola, de qualquer forma.

Kentin nada disse, apenas se virou novamente na cama, olhando-me.

— Que foi? — interroguei. — Achou que eu ia pôr um baby-doll super sexy? — fiz piada. Nem morta que daria uma dessas.

— Sinceramente? — ergueu ambas sobrancelhas apoiando a mão sobre o rosto e o cotovelo no colchão para me olhar melhor. — Acho bem melhor a camisa larga e comprida com as suas coxas à mostra. — disse em total sinceridade, não usando nenhum tom sequer de brincadeira.

— Érr, obrigado, eu acho. — ri sem graça indo até a porta do quarto e desligando a luz pelo interruptor, em seguida me aproximei da cama apressadamente para esconder a recente vergonha crescente. — Xô, vai mais pra lá. — pedi meio sem jeito, fazendo menção de juntar-me à ele na cama.

— Eu não reclamaria se você deitasse por cima de mim, mas tudo bem, eu vou mais para lá já que você insiste. — brincou, jogando o corpo um pouco para trás para me dar espaço.

— Sem graça. — fechei a cara ao deitar ao seu lado na cama e puxar o cobertor por cima de mim assim como ele.

Após me ajeitar ao seu lado, Kentin juntou o corpo evitando deixar espaço entre os corpos na cama, silenciosamente ele passou o braço sob o osso do meu quadril, abraçando-me por ali. Mesmo com a cortina da janela fechada, um pouco da luz da rua lá fora e da lua adentravam o quarto minimamente, dando possibilidade de nos enxergamos após as vistas se acostumarem com o quase completo breu.

A cabeça ainda rodava um pouco por conta do vinho, nada que algumas horas de sono não resolvesse o caso.

— Ei.. — o moreno chamou de repente, os corpos e rostos um de frente para o outro bem próximos.

— Sim? — sussurrei, reparando no silêncio que pairava em volta. Os pais dele já deviam ter ido dormir também. Por sorte, ninguém bateu à porta.

— Quando você imaginou a gente assim? — perguntou devagar, como se ponderasse sobre a própria questão. — Sabe, namorando, você dormindo escondida na minha casa, passarmos quase todos os dias juntos ou... ficarmos assim deitados juntos? — mesmo no escuro podia reparar que ele fitava meus orbes com intensidade, ergueu o queixo um pouco encostando nossos lábios suavemente. — Ou isso? Honestamente, nunca pensei que teria a liberdade para te beijar quando quisesse. — comentou incrédulo mas o tom de voz visivelmente contente.

Eu tive de abrir um sorriso, deixando os dentes à mostra antes de pronunciar-me:

— Você não me beijou, você me deu um selinho. — pontuei aproximando nossas bocas novamente e iniciando um beijo tranquilo, movimentando o maxilar conforme sentia o gosto bom dele misturado com um resquício de vinho, passei meu braço sobre o tronco do mesmo, fazendo mais contato físico. Assim que a falta de ar começou a fazer-se presente afastei o rosto minimamente para voltar a falar. — Isso foi um beijo. — afirmei baixo, fitando a face um tanto surpresa e satisfeita do moreno pela atitude recebida. — E bom... — prossegui. — Para ser sincera, eu nunca consegui imaginar essas coisas até realmente estar vivendo tudo. — contei lentamente. — Mas toda vez que fazemos algo diferente, eu percebo que queria isso tudo há muito tempo...

— É o mesmo pra mim. — admitiu Kentin, sorrindo torto. — Acho que eu bati a cabeça na escola militar, fiquei em coma e agora estou sonhando que tenho a vida que tanto queria. — riu suavemente.

— Bobo... — adjetivei dando um tapinha fraco em suas costelas, quando na verdade era eu que me sentia meio boba com o que ouvia.

— Se ser bobo é me sentir assim, vou ser bobalhão para sempre. — balbuciou quase sem voz, puxando minha cintura devagar para então voltarmos a nos beijar.

Não tinha como não sentir a felicidade invadir escutando tais frases uma seguida da outra. Kentin sempre fora alguém doce, atencioso e sincero, o ponto era que o que mais agradava era saber que mesmo tendo de enfrentar o verdadeiro limbo na escola militar, ele mantinha-se com todas aquelas qualidades inigualáveis. Sem quaisquer dúvidas, eu sabia bem que tinha um namorado que qualquer garota almejaria ter, este fato nunca se quebraria.

A linha de pensamentos foi cortada de repente por um riso baixo após afastar-se do beijo que trocávamos.

— Está tão bêbado que fica rindo sozinho aí? — zombei.

— Não, nada a ver... — descordou balançando a cabeça ao negar. — É que... — respirou fundo, contendo outro riso. — Bonita sua calcinha preta. — contou sua análise sem vergonha, gargalhando mudo me fazendo sentir seu corpo tremer pelo controle de tentar não rir alto.

— Pau no rabo! — segurei o tom para não soar estridente. — Você olhou! — dei outro tapa em suas costelas, agora mais forte, só fazendo ele ter mais vontade ainda de rir. Provavelmente o infeliz olhou pra trás no momento em que eu olhava para baixo para pôr a bermuda de pijama.

— Foi bem rapidinho, juro. — sorria largamente.

— Rapidinho vai ser os sopapos que vai ganhar nesses dentes aí. — arreganhei a boca, tentando evitar achar graça na situação também.

— É engraçado ver você tentando ficar zangada comigo...

— Mas eu estou zangada! — acentuei.

— Tá nada, te conheço. — prosseguia a sorrir só para provocar, como quem não queria nada ele deslizou a mão pelo meu quadril até entrar com os dedos pela minha camisa. — Caramba que estranho. — franziu a testa, tateando sutilmente as falanges pela minha barriga.

— O quê? — questionei confusa mas sorrindo por sentir cócegas.

— Minha mão criando vida própria. — riu mais uma vez. — É intrigante. — fingiu contemplação ao alcançar a ponta dos dedos na parte frontal do meu sutiã.

— Olha o assédio... — avisei já desregulando a respiração. Era tão fácil perder o ar com ele.

— Não é assédio se você concede permissão... — murmurou adentrando a mão lenta e perigosamente por dentre a veste, apalpando a carne avantajada do seio com vontade.

— Tá certo.. Tem razão. — concordei mordendo a parte interna do lábio inferior ao sentir seu toque.

— Eu sempre tenho. — assinalou roçando a boca na minha enquanto ainda me apertava sem usar força bruta. — Lilith... — suspirou, fechando os olhos parcialmente. — Você me deixa meio fora de mim... — delatou parcamente sôfrego.

— Isso é ruim? — inquiri anulando a voz em quase zero.

— De maneira alguma. — engoliu secamente, umedecendo os lábios com a língua.

— Então fique fora de si. — assegurei fechando os olhos para sentir melhor a sensação diferenciada que me transmitia.

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Lilith. — garantiu, tirando a mão de onde estava e resvalando novamente pelo meio da minha barriga. — Confia em mim? — interpelou de mansinho, roçando a boca perto do meu ouvido.

— Sempre. — afirmei de imediato, abrindo os globos oculares e acenando positivamente algumas vezes.

— Fica parada então... — pediu — Eu tive uma ideia. — pronunciou ao tirar a mão de dentro da camiseta que eu usava.

— O que você.. — antes de poder indagar o que ele faria, Kentin pôs o dedo indicador sobre minha boca em pedido de silêncio, então devagar ele passou a palma da mão sobre meus olhos incitando para que eu os fechasse de novo.

— Somente confie em mim. — pediu quando percebeu que eu obedecia aos seus pedidos internalizados.

Permaneci de olhos cerrados enquanto ouvia sua movimentação na cama, o coração começou a pular o quíntuplo do que precisava para fazer o sangue circular. O sentimento temeroso mas também audacioso afundou em meu estômago ao sentir ele descer com o corpo para baixo das cobertas sem fazer muito rebuliço.

Sem pressa, escorregou a bermuda curta que eu usava por minhas coxas despidas, levando junto a lingerie até a altura dos tornozelos. Usando uma das mãos ele impulsionou meus joelhos para lados contrários abrindo ambas pernas. Antes de poder protestar ou tentar perguntar novamente o que ele faria tive de dentar minha própria boca ao sentir algo úmido e quente fazer pressão contra minha intimidade resvalando por toda a extensão vagarosamente.

— Caraca. — grunhi contento a vontade tortuosa de gritar de repente.

Kentin apertou o início da parte exterior da minha coxa em outro pedido interno de quietude, tive de trincar os dentes com força, rangendo a arcada de cima com a de baixo usando certo desespero. O moreno prosseguiu com os mesmos movimentos de língua, mas sempre fazendo tudo de modo lento e extremamente sublime. Minha cabeça não conseguia nem sequer encaixar os fatos do que ocorria, a vontade de exclamar um enorme palavrão era forte, o restante dos sentidos corporais pareciam ter se dissipado e terminara se concentrando exatamente no ponto em que era tocada, trazendo uma sensibilidade indescritível e deliciosa junto a si, deixar os olhos lacrados apenas acentuava mais ainda o marasmo de sensações tão distintas mas também tão boas.

Sem saber que bulhufas devia fazer, o corpo só dava avisos involuntários de envergar a coluna, retorcer o quadril, apertão na cama, vontade de arranhar o próprio colchão ou morder a coberta com a intenção de arrancar um pedaço do tecido.

Era demais para um coração de dezessete anos, mesmo assim, Kentin não arregou ou retrocedeu no que fazia, no momento que percebera o estado de calamidade em que eu me encontrava, iniciou-se a inserir a falange com cuidado pelo caminho interno, torturando-me centímetro por centímetro em adentrava até chegar ao ponto em que a vontade de gritar passasse para berrar com insistência.

— Kentin... — chamei-o com a voz completamente entrecortada e embargada, abrindo os olhos e reparando que o garoto se escondia por debaixo da coberta com o corpo mais abaixo, infiltrando a cabeça por entre minhas pernas.

Desta vez, além de apertar ele arrastou as unhas curtas pela polpa da minha nádega, acarretando uma sutil ardência na região, deixando claro para que eu não fizesse mais barulho algum. Com o braço tremulo eu trouxe a mão até o rosto e passei os dedos por entre meus cabelos trazendo-os para trás, quase puxando-os com força no processo, prosseguia a morder os lábios, fechar a mão contra a cama e enrijecer as juntas deixando-as embranquecidas de tanto esforço para não escandalizar enquanto Kentin resvalava a língua molhada de cima a baixo ou circularmente pela parte do clitóris enquanto movimentava o dedo em investidas constantes e pressionadas, juntando um segundo dedo pouco tempo depois, sem cessar cadenciando as estocadas de forma vibrante.

Era muito pra mim, bom, isso era o que eu pouco conseguia raciocinar. Piorou muito no momento em que ele afastou sutilmente os lábios e assoprou o local sensível, depois retornou a posição anterior fazendo uma sucção ao comprimir os lábios contra a carne. Tive de virar o rosto bruscamente para o lado e dar uma abocanhada avantajada no travesseiro logo abaixo da minha cabeça, evitando a todo custo fazer muito som. O único barulho incontrolável fora do gemido comprido e arrastado que ressoou no fundo da garganta enquanto mantinha a boca ocupada com a mordida que dava.

A eletricidade iniciou-se de onde Kentin fazia contato físico e espalhou-se por todas as pernas, bambeando-as e amolecendo aos poucos junto com o sangue que corria freneticamente por minhas veias.

Com cuidado, Kentin retirou os dedos e puxou minha calça de volta para o lugar inicial, tirando a coberta de inverno da sua cabeça, respirava alto, quase sem fôlego por ter ficado tempo ali embaixo no ar quente.

— Tenha... — iniciei a falar com dificuldade. — Mais ideias como essa. — finalizei, sorrindo de canto, o corpo agora estava como um pudim derretido sob a cama.

— Viu como é bom confiar em mim. — deu ênfase, jogando-se ao meu lado com a respiração desregular.

— Eu nunca vou cansar de você. — ri, sentindo ser abraçada. — Agora é certeza.

— Precisou disso para ter certeza? — riu também. — Por pouco não morro asfixiado e você me solta uma dessas? — controlava o riso.

— Sacríficos são necessários para um bom relacionamento. — avaliei fechando os olhos de forma sonhadora.

— Isso não é um sacrifício, é uma honra na visão de um homem. — ironizou, me apertando um pouco mais contra ele.

— Homens e suas vontades estranhas. — comentei fazendo pouco caso.

— Nossa, realizei um sonho da vida. — debochou, entrelaçando suas pernas com as minhas carinhosamente.

— Não tem de quê, então. — fingi complacência, aconchegando-me no calor do corpo dele. — Vamos... Tomar vinho mais vezes. — sugeri fechando olhos aos poucos.

— Vamos. — concordou. — Boa noite, amor. — suspirou, encostando a ponta do nariz com o meu assim como a testa contra a minha.

— Boa noite... — balbuciei de volta, deixando-me cair no sono pela primeira vez junto à ele.


Notas Finais


Muita paranoia mas tudo fica bem quando acaba bem né. (?)

Música do Capítulo: (Stay The Night - Zedd feat. Hayley Williams.):
https://youtu.be/i-gyZ35074k
Música Citadas: (Shots - Imagine Dragons.):
https://youtu.be/ndtQ6ReXO-s
É meu despertador toda santa manhã xD
(Fireside - Arctic Monkeys.):
https://youtu.be/EU1GIzE3mR0
A voz desse cantor ♡♡
---

Byebye!


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