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História Ella - Seu nome é Ella


Escrita por: Believe8

Notas do Autor


OK, DEIXA EU EXPLICAR. CÊS PRESTENÇÃO AQUI!
Eu tava conversando com uma amiga e falando sobre histórias de conhecidos e conversamos sobre uma parecida com essa. E eu sonhei com essa poha de história e o nome Ella ficou grudado na minha cabeça como chiclete. E era para ser uma oneshot, mas já estava com 15 mil palavras, então resolvi dividir em 2 ou 3.
Espero que gostem!

Capítulo 1 - Seu nome é Ella


Aquela era a maior merda que já havia acontecido na sua vida, realmente. A maior, mais gigantesca, mais repleta de consequências. E nenhum dos dois estava pronto para isso.

Jorge tinha completado dezessete anos em janeiro, Margarida completaria no começo de junho. Tinham acabado de entrar no último ano do Ensino Médio, e agora conversavam sobre qual curso e universidade tentariam ir no próximo ano.

O namoro dos dois começara no baile de encerramento do primeiro ano, e agora estavam juntos há quatorze meses. Após um estranhamento inicial entre a garota e Rosana, a relação dos dois com a família do outro se tornou maravilhoso, e vira e mexe almoçavam todos juntos aos domingos.

Apesar da personalidade ainda muito difícil do riquinho, Margarida sabia como domar o namorado e contornar as situações, e surpreendentemente, eles dois pouco brigavam. Não sabiam ao certo o que o futuro reservava para eles, ao contrário de muitos dos casais de amigos, mas sabiam que amavam muito um ao outro, e isso bastava.

Até aquele momento.

“E então, Margarida?” Perguntou um nervoso Jorge, sentado na cama da namorada, a encarando no banheiro do outro extremo do corredor. “O que deu?”

A garota caminhou até ele, segurando o teste de farmácia nas mãos. Ela encarou o namorado, e ele percebeu que ela estava sem cor alguma no rosto.

“Deu positivo, Jorge, os três.” Ela disse com um suspiro, vendo-o perder a cor também. “Eu estou grávida.”

~*~

“Grávida? Como diabos você está grávida, Margarida?” Gritou Sérgio, seu pai, transtornado.

“Acho que nós sabemos muito bem como, Sérgio.” Rebateu Alberto, enquanto fuzilava o filho.

“Não é disso que estou falando, Alberto. Eu estou perguntando como diabos dois jovens de dezessete anos, estudados, inteligentes, e eu esperava que espertos, conseguiram a proeza de uma gravidez.” Rebateu o Garcia, indignado. “Pelo amor de Deus, nunca ouviram falar de camisinha? Anticoncepcionais?”

“A gente acha que a camisinha estourou.” Disse o rapaz, já que a namorada chorava demais para conseguir falar. “Nós só transamos duas vezes, não imaginamos que isso poderia acontecer.”

“Só precisaria de uma, Jorge, você sabe disso.” Rosana repreendeu o filho, decepcionada. “Vocês sabem o tamanho da responsabilidade que é um filho?”

“Claro que eu sei, mãe.”

“E você, Margarida? Sabe no que acabou de se meter?” Perguntou Andreia, sua mãe.

“Na maior merda do mundo.” Soluçou a garota, o rosto escondido entre as mãos.

“E quais as nossas opções?” Perguntou Jorge, sério.

Aquela conversa só estava acontecendo porque a mãe da namorada os flagrou com o teste. Do contrário, ele sabia qual seria sua opção, e nem os pais e nem os sogros ficariam sabendo que aquilo um dia aconteceu.

“Opções? Jorge Cavalieri, você cale a sua boca antes que eu me esqueça que você já é quase um homem e te bata como se você fosse um moleque.” Gritou Alberto, possesso.

“Vocês não têm opções, Jorge. Vocês têm uma criança a caminho, para os dois cuidarem.” Decretou Sérgio.

“E se nós dermos a criança para adoção? Tenho certeza que tem várias pessoas que dariam tudo por um bebê lindo, loiro e de olhos claros, como o nosso vai ser.” Assim que ele disse isso, sentiu uma bofetada em seu rosto. Não vinda de seu pai, mas de Margarida.

A garota não disse nada, apenas se levantou e saiu andando em direção ao jardim. O rapaz ficou parado alguns instantes, chocado, assim como seus pais e sogros. Foi quando sentiu que o pai da namorada o levantava e empurrava para o jardim que percebeu que deveria ir atrás dela.

Encontrou Margarida sentada na beira da piscina, chorando novamente.

“Por que você fez isso, Marga? Por que me bateu?” Ele perguntou ressentido.

“Para ver se você para de falar merda, Jorge.” A grávida respondeu, irritada. “Dar nosso filho para adoção? Você pirou?”

“Ah, e você por acaso está afim de ser mãe aos dezessete?”

“Claro que não estou, Jorge, mas é o que vai acontecer. Nós fizemos uma merda gigantesca, que tenhamos um pingo de maturidade para aceitar e assumir isso. Essa criança é nossa, nós que teremos que cuidar dela.”

“Mas eu não quero ela.”

“E você acha que eu quero?” A essa altura os dois gritavam. Quando ela ia falar mais, sentiu o mundo rodar e caiu para trás, despencando dentro da piscina.

“Margarida.” Jorge pulou atrás dela sem pensar duas vezes, a tirando da água enquanto tossia. Ela o abraçou com força, começando a chorar mais. Ele apenas a abraçou de voltar, afagando seu cabelo.

“Eu não quero nada disso, Jorge, eu só quero que a nossa vida volta ao normal. Mas não importa o que a gente faça ou decida, que a gente tire essa criança ou entregue ela para a adoção, nossa vida nunca mais vai ser a mesma.” Ela disse baixinho entre os soluços. “Por favor, não me deixa sozinha.”

“Você não vai ficar sozinha, meu amor.” O loiro disse beijando a testa dela. “Eu te amo, tá bom?”

“Eu também te amo.” A morena apoiou a testa no peito dele. Levou a mão até a barriga, suspirando. “Só não sei se amo ela.”

~*~

Segredos pesam, ainda mais quando se esconde eles dos amigos. Mas Margarida e Jorge não estavam prontos para dividir seu novo fardo com as pessoas ao seu redor.

Todos perceberam que algo ia mal, é claro. O relacionamento dos dois, sempre tão cheio de carinho e riso, logo era frio e distante. Margarida emagreceu, estava sempre passando mal, vira e mexe faltava.

Começaram a planejar sua viagem de formatura e a pensar no baile que a marcaria, mas os dois amigos não se manifestavam, não opinavam, não pareciam entusiasmados. Alguns tentaram conversar, mas foram rudemente respondidos.

Por fim resolveram esperar, tendo a certeza de que, na hora certa, os amigos lhes diriam o que estava acontecendo.

~*~

Aquele era o dia da primeira consulta e também do primeiro ultrassom. Já tinha três semanas que tinham feito o exame de sangue no hospital, e pelas contas que os dois fizeram, baseados na menstruação dela e nas duas vezes que haviam dormido juntos, ela estava entre a décima e décima primeira semana.

Quem marcou a consulta foi a mãe da menina, após ver que os dois sequer pensaram nisso. A médica havia sido indicada por Miguel, e era especializada em gestações adolescentes.

Ela explicou que a gravidez é considerada na adolescência até os 21 anos, e que tem alguns riscos a mais do que uma gestação “comum”. Como Margarida ainda não estava completamente desenvolvida, teriam que tomar alguns cuidados a mais para garantir o bem estar da mãe e da criança.

“Alimentação é o principal item, já que o seu corpo, que ainda está em formação, precisa formar outro. Nada de dietas, nada de comer o que bem entender. Você será acompanhada por uma nutricionista e provavelmente tomará vitaminas em comprimido.” Ela explicou logo no início. “Mas, o mais importante a ser cuidado é do seu psicológico, Margarida. De vocês dois, na verdade. A partir de agora suas vidas irão mudar drasticamente, e é preciso que estejam firmes e contem com o apoio de suas famílias para passar por isso sem fazerem besteiras.”

“Mas eu corro algum risco de vida?” Perguntou a jovem, assustada.

“Se fizermos um bom pré-natal, eu diria que não. Muitas adolescentes sucumbem em decorrência da gravidez, mas são jovens sem acompanhamento ou condições para tal. Como eu citei a questão da alimentação, ela ajuda a prevenir problemas como a anemia. Outros, como eclampsia, pré-eclâmpsia e rompimento do colo de útero, que também são comuns, vão sendo analisados periodicamente com os exames, para que possamos tratar, se necessário.” A doutora Ellen sorriu tranquilizadora. “Mas você me parece uma pessoa com boa saúde, Margarida. Tenho certeza que não vamos ter que nos preocupar com nada disso.”

“Vai ficar tudo bem, querida.” Rosana sorriu para a nora, segurando sua mão.

“E você, futuro papai? Como está?” A médica virou para Jorge, que estava em um silêncio sepulcral. “Pronto para o que está por vir?”

“Não, não estou.” Ele disse simplesmente, se levantando. “Desculpa, Marga, mas eu não posso fazer isso.”

“Jorge.” Ela o chamou, surpresa, observando enquanto ele caminhava para fora do consultório. “Jorge, volta aqui.”

“Eu vou falar com ele, querida, espere aqui.” Pediu Rosana, saindo atrás do filho. “Jorge, o que você está fazendo?”

“Eu não estou pronto, mãe. Para passar por nada disso.” Ele disse destruído, parado no meio da sala de espera. “Me desculpa, tá bom? Mas... Eu não quero isso, eu não quero nada disso. Eu não pedi por essa criança, e não vou deixar minha vida por ela.”

“E quanto a Margarida?”

“A Margarida fez sua escolha, mãe. E eu fiz a minha.” Jorge decretou, saindo andando.

Rosana ficou plantada no lugar, o observando sumir pela porta da frente. Quando se virou, encontrou Margarida encarando o mesmo lugar, o rosto banhado em lágrimas.

“Eu sinto muito, querida.” Ela disse com sinceridade, antes de abraçá-la.

~*~

Jorge vagou por um bom tempo antes de ir para sua casa. Não queria encontrar a mãe, e muito menos o pai, tão cedo. Não queria ouvi-la recitando tudo que teriam visto e ouvido durante a maldita consulta, e nem nada que se relacionasse aquela criança.

Mas é claro que teria que enfrentá-los uma hora, e fez isso quando sentiu que não conseguiria mais controlar sua ansiedade.

Os dois estavam no sofá, e assim que cruzou a porta, Alberto voou sobre o filho, o pegando pelo colarinho e prensando na parede.

“No que você está pensando, moleque?” Gritou o homem, o rosto roxo de raiva.

“Me larga, pai.”

“Você acha que pode simplesmente sair andando assim? Que pode deixar seu filho para trás, como deixava seus brinquedos velhos?” Alberto estava aos berros.

“Eu não tenho filho.”

“Tem, tem sim. É uma criança inocente, que não tem culpa de nada além de ter dois pais irresponsáveis. Quer dizer, um pai, porque a mãe está fazendo o que ela pode.” Sibilou o mais velho, possesso. “Você está fodido na minha mão, moleque.”

“Vai fazer o que? Me botar para fora de casa?” Gritou Jorge, assim que ele o largou.

“Não, não... Você vai trabalhar, Jorge, para ter algo se quiser. A partir de hoje, o único dinheiro que você tira, de mim ou da sua mãe, é para pagar a sua escola e a comida que você come dentro dessa casa. Você vai trabalhar para ter dinheiro para qualquer outra coisa, além de dar uma parte do dinheiro para a Margarida.” Decretou Alberto, impassível.

“O quê? Mãe, você concordou com isso?” Gritou Jorge, desesperado.

“Fui eu quem dei a ideia, Jorge. Eu já te protegi por tempo demais, mas agora chega. Você não é mais um bebê, sequer é uma criança. É um jovem que quis ter atitudes de adulto, e agora vai ter que assumir as responsabilidades de um.” Avisou Rosana, decepcionada.

“E vocês querem que eu faça o quê? Saia na rua pedindo emprego na vendinha?” O jovem loiro estava fora de si, prestes a explodir.

“Era o que deveríamos fazer, mas não. Você precisa se formar na escola para fazer uma boa faculdade e poder sustentar a criança que vai nascer.” Avisou Alberto. “Você vai trabalhar meio período como aprendiz na firma, e vai ganhar um salário igual aos demais. E 40% do valor vai direto para a Margarida.”

“Você está me sacaneando, pai?”

“Não, estou sendo na verdade muito bonzinho. Se fosse o meu pai, Jorge, eu não veria um único tostão desse dinheiro. Porque não é trabalho meu ou da sua mãe sustentarmos essa criança, e sim seu. E você vai fazer isso, Jorge Cavalieri, por bem ou por mal.”

~*~

Margarida havia convocado os amigos para irem à casa abandonada. Após o que aconteceu com Jorge, a médica aconselhou que se abrisse e cercasse de amigos, e foi o que ela fez.

Contou a todos que estava grávida e que Jorge... Bom, não sabia dizer ao certo o que estava acontecendo, mas tinha quase certeza que esperava um filho sem pai.

“Quando você descobriu, amiga?” Perguntou Marcelina, abraçada a ela com carinho.

“Tem três semanas. Eu só não me sentia pronta para contar a verdade para vocês, me desculpem.” Pediu a grávida, secando os olhos.

“Não se desculpa por nada, Marga, pelo amor de Deus.” Daniel segurou a mão dela, sorrindo. “Fica tranquila, ok? Nós vamos te ajudar, eu prometo.”

“Obrigada, gente... Ainda bem que eu posso contar com vocês.” Ela sorriu para os amigos, antes de ouvir uma gritaria. “Mas o quê?”

Jorge vinha gritando o nome dela, transtornado. Ele entrou na sala e mal podiam reconhecer, tamanha a máscara de raiva e desespero em seu rosto.

“Você acabou de arruinar a minha vida, Margarida.” Ele vomitou, possesso.

“Jorge, abaixa essa bola aí.” Jaime levantou e foi até o amigo, mas o que conseguiu foi um soco no olho.

“Você perdeu a cabeça, Jorge?” Gritou Margarida, se levantando irada. “Por que bateu nele?”

“Porque essa conversa é entre nós dois.” Ele rebateu, nervoso. “Você tá vendo isso no meu pescoço? É a marca do meu pai me segurando contra a parede por conta dessa maldita gravidez.”

“E o que eu tenho a ver com isso, Jorge?”

“Quem mais aqui está grávida, hã?”

“Ah é, e eu fiz esse filho com o dedo, né?” Ela revirou os olhos, prestes a perder a paciência. “Você tem tanta culpa nisso quanto eu, seu mimado dos infernos.”

“Meu pai tirou tudo de mim, Margarida. Vai me fazer trabalhar e te dar metade do meu dinheiro para você cuidar dessa coisa irritante, que nem nasceu e já está fodendo com a minha vida.” Ele chutou uma cadeira ao dizer isso.

“Chega, Jorge.” Paulo interveio na briga, puto. “Você não tem direito de dizer essas merdas para a Margarida e muito menos para uma criança inocente.”

“Inocente. Todo mundo fala isso, mas ela só precisou de algumas semanas para foder com tudo. O quão inocente alguém pode ser assim.” O loiro riu com escárnio, encarando Margarida. “Obrigado por isso, amor.”

E saiu andando, tremendo. Ela ficou parada, de olhos fechados. Por fim não aguentou e gritou.

“Obrigada por manter sua promessa.” Ele parou ao ouvir o sarcasmo na voz dela. A garota se virou, o encarando. “Você prometeu que eu não iria ficar sozinha.”

“Eu não queria te deixar, Margarida. Eu só não quero essa criança.” Ele rebateu, desarmado.

“Mas agora eu e ela somos uma coisa só, Jorge. E é por isso que sua promessa está valendo. Eu nunca mais vou ficar sozinha. Ela vai estar sempre comigo de agora em diante.” Disse emocionada, abraçando a barriga com força. Ele a mediu de cima a baixo antes de sair andando. “Mas eu queria que você ficasse também.”

~*~

Demorou três dias até Margarida se sentir pronta para voltar à escola. As amigas falavam com ela todos os dias por mensagem, mas a garota não se sentia pronta para ver ninguém. Precisava de um tempo para digerir tudo o que estava acontecendo.

Quando voltou, foi surpreendida por Paulo no portão, a esperando.

“Paulo?” Perguntou verdadeiramente surpresa.

“Olá, Marga. Deixa eu pegar sua mochila.” Ele disse sorrindo, apanhando a bolsa dela e jogando sobre o próprio ombro.

“Mas por quê?” Ela gaguejou, confusa. “Eu consigo carregar minha bolsa.”

“Tá maluca? Eu sei quantos livros temos que trazer hoje, e isso é peso demais para uma grávida carregar. Principalmente a senhorita, que precisa se cuidar bem.” Ele rebateu, ajeitando as duas mochilas.

“Hã, obrigada. Eu acho. Mas por que você está fazendo isso, Paulo? É alguma ideia da turma ou...”

“Eu pensei muito no que aconteceu, Marga. E fiquei pensando se fosse a Alicia ou a Marcelina ali, no seu lugar. Não que eu ache que fosse ser babaca a ponto de abandonar minha marrentinha, ou que o Mário seria maluco o bastante para isso, mas mesmo assim.” Ela riu do devaneio dele e isso o fez sorrir. “Se isso acontecesse com as duas, eu iria querer que alguém estivesse lá por elas. Porque eu sei que, nesse momento, é disso que você precisa. Alguém do teu lado, para te ajudar a ir passando por essa barra. E se você deixar, eu vou ser o máximo que eu conseguir.”

“Paulo, isso é a coisa mais adorável que eu já ouvi de você.” Garantiu Margarida, gaguejando pela emoção. “Mas... A Alicia não vai ficar com ciúmes?”

“Não, porque eu vou fazer todo o resto que ele não conseguir.” A marrentinha apareceu nessa hora, abraçando a amiga. “Até mesmo te cobrir de amor, mesmo que eu não seja muito com isso.”

“Mentira, ela é bem carinhosa quando quer.” Rebateu Paulo, fazendo as duas rirem.

“Obrigada por isso, gente. De verdade.” Agradeceu Margarida, deitando a cabeça no ombro de Alicia.

“E ainda tem mais uma coisa. Nós fomos ontem no shopping e compramos isso.” Avisou a skatista, entregando um pacote fofo para a amiga. “Abre.”

Ela rasgou o papel cheio de ursinhos, encontrando uma roupinha dobrada. Esticou o bori nas mãos, lendo o que estava escrito no tecido branco.

“O bebê mais amado do mundo.” Disse baixinho, os olhos se enchendo de lágrimas.

“O que foi, Marga? Você não gostou?” Perguntou Paulo.

“Não, eu adorei. É que eu acabei de perceber que isso é a primeira coisa que o meu bebê ganha. Pelo menos a primeira coisa que seja ódio, repulsa ou rejeição.” Ela disse, emocionada. “Ela acabou de receber amor de vocês dois.”

“E vai receber muito mais, principalmente de você.” Alicia sorriu, abraçando a amiga com força. “Agora vamos, mocinha... Não é só porque está grávida que pode ficar perdendo aula. Eu quero ver você se formando com ótimas notas, ouviu?”

~*~

“Jorge? Seu pai está te chamando na sala.” Avisou seu supervisor enquanto ele terminava de organizar alguns papéis.

O rapaz largou o que fazia e se arrastou para a sala do pai. O encontrou sentado na mesa sério, impassível, e se largou na cadeira em frente à ele.

“O que foi?” Resmungou o loiro, amargo como sempre.

“Aqui está o salário do seu primeiro mês.” Isso animou Jorge, que estendeu a mão para o envelope. Contou o dinheiro, fazendo uma careta. “Algo errado?”

“Isso é a parte da Margarida?”

“Não, Jorge, é a sua parte.”

“Só tem quatrocentos reais aqui.” Ele reclamou.

“Eu sei. A Margarida precisou comprar as vitaminas e remédios, então eu e sua mãe invertemos as partes esse mês. Aqui estão os seiscentos reais que eu vou entregar para ela, para ajudar com todos os custos que ela teve esse mês.” Alberto indicou um envelope em sua mesa.

“É impossível que ela tenha gastado tanto com aquela criança em tão pouco tempo.” Rosnou o rapaz.

“Ainda não gastou, mas logo vai começar. Vai precisar comprar o berço, a cômoda, o carrinho, as roupas, fraldas. Isso sem contar nas ultrassonografias que o plano não cobre e ela vai precisar fazer pelo risco da gestação. E como eu sei que a Margarida é uma mulher ajuizada, tenho certeza que não vai usar um centavo desse dinheiro para nada que não diga respeito a criança.”

“E vocês ainda dizem que ela é inocente, hã? Criança desgraçada.” Rosnou Jorge, se levantando e deixando a sala com uma porrada na porta.

~*~

“Amiga, como sua barriga está grande.” Valéria comentou com um suspiro, enquanto se trocavam para a educação física. Margarida havia tirado a camiseta que usava para colocar o uniforme da aula e com isso acabou mostrando o abdômen que começava a ganhar forma.

“Eu sei, estava vendo isso pela manhã. Está ficando redondinha.” Riu a morena, sem graça. “A médica explicou que, como eu sempre fui muito magra e comi pouco, ia ganhar peso rapidamente com a dieta. E que a minha barriga e os meus seios seriam a primeira coisa a aparecer.”

“Realmente, você está mais peituda.” Concordou Bibi.

“Os enjoos pararam?” Perguntou Maria Joaquina.

“Logo depois que eu contei da gravidez para vocês. Eles geralmente terminam no fim do primeiro trimestre, e eu já estou entrando no quarto mês.” Ela comentou, encarando a barriga. “Eu conversei com ela hoje pela primeira vez. Com a criança.”

“Por que você não chama de bebê, Marga?” Questionou Alicia. “Você sempre fala criança, criança, criança... Nunca chamada seu filho de bebê.”

“Eu acabei pegando a mania do Jorge. Ele se recusava a chamar de bebê, dizia que não conseguia, e sempre falava criança. E eu também não consigo mais.” Ela deu de ombros, colocando a camisa do treino.

“Você ama o seu filho, Marga?” Alicia perguntou novamente. “Porque se você faz a mesma coisa que o Jorge fazia, é porque ainda sente a mesma repulsa que ele no início.”

“Eu, eu não sei, Alicia. Eu não sinto mais raiva ou desprezo, ou nada de ruim. Mas eu não consigo amar essa criança ainda, não da forma que ela merece e que eu sei que um dia eu vou conseguir amar.” Margarida sentiu algumas lágrimas escorrendo. “Mas eu sei que ela entende que me perdoa por isso. Ela sabe que eu estou fazendo o melhor que eu posso.”

“E nós também sabemos.” A marrentinha a abraçou, logo sendo acompanhada pelas amigas. “Nós sabemos que você vai ser uma grande mãe para o seu bebê, já é aliás. Vai dar tudo certo, ok?”

~*~

Sua vida havia se tornado algo miserável. Não achou que sentiria tanto a falta de Margarida como sentia, e nem que doeria tanto o desprezo dos amigos. Trocou de sala na escola, mas por onde ia, todos o julgavam.

Menos as meninas saidinhas da escola, claro. Elas continuavam no seu pé, afinal, ainda era um dos meninos mais bonitos do colégio todo. Pegava uma por semana, transou com várias, mas isso não preencheu o buraco que a ausência da sua caipirinha causava em seu peito.

E enquanto ele se afundava em escuridão e sua aparência definhava, ele observava a luz cercar Margarida e seu corpo ganhar forma. A menina magrela ganhou peso, seu quadril se alargou, seus seios cresceram e sua barriga aumentou de uma forma delicada, simétrica, perfeita.

Sem que percebesse, seu interior começou a mudar também. Não soube ao certo quando, mas de repente passava todo o tempo possível a admirando e analisando a forma como ela se portava.

Aos poucos, sua indiferença deu lugar a carinho. Os braços que sempre ficavam em riste ou largados ao lado do corpo, começaram a circundar sua barriga e então a acariciá-la. O olhar frio e distante logo era dirigido diretamente para o ventre e repleto de carinho, afeição e bondade, enquanto ela sussurrava pequenas palavras de alento e conforto.

Mas ela ainda tinha medo e insegurança, um pouco de frustração e desalento. Conseguia enxergá-la melhor do que qualquer um, mesmo que de longe. Sabia que ainda sofria, mas estava se esforçando muito para não se deixar sucumbir a isso e sim se erguer com tudo de bom que aquela criança trazia.

E com isso ela entrou no quinto mês e começou a se aproximar do sexto.

~*~

“No que está pensando, filha?” Sérgio entrou na sala do apartamento, encontrando Margarida deitada no sofá com a barriga de fora, a acariciando pensativa.

“Que só faltam três meses para essa coisinha pequena nascer.” Ela comentou, brincando com os dedos sobre a barriga. “E eu não faço ideia de onde vou colocar ela.”

“Eu queria que nosso apartamento fosse maior, filha, mas você sabe que isso é o que nós podemos pagar.” O homem sentou ao seu lado, acariciando sua barriga. “Você sabe que eu e sua mãe não vamos nos chatear se você aceitar morar com os Cavalieri, ou que eles banquem a reforma para termos outro quarto.”

“Os pais do Jorge já fazem muito, pai, eu não posso concordar com isso. Quem tem que cuidar dessa criança sou eu.” Garantiu a menina. “Nós vamos ficar apertadas no meu quarto no começo, mas ano que vem, assim que ela desmamar, eu vou atrás de um emprego e vou me esforçar para ajudar vocês a melhorar nossa vida, ok?”

Sérgio sorriu ao ouvir aquilo, se inclinando e beijando a barriga da filha, antes de beijar sua testa. Ela o olhou, curiosa.

“Eu estou muito orgulhoso de você, minha querida. Quando nós viemos para a cidade, eu queria dar uma vida melhor para você, filha. Eu achei que tinha conseguido, e então você engravidou, e eu me senti um fracassado. Porque eu achei que todo o meu esforço, toda a minha luta, tinha sido em vão... Que apesar de todo ele, você havia perdido sua vida. E agora... Agora eu vejo com orgulho a mulher que você conseguiu se tornar em poucos meses.” Ele declarou emocionado. “Eu sei que ainda temos um caminho difícil, e que tem muitas provações por vir. O que você fez foi um erro, mas você está sabendo assumir sua responsabilidade e enxergar uma luz no fim desse túnel. E eu só posso me orgulhar disso, minha florzinha. Você é uma guerreira, Margarida, e o papai está orgulhoso de você.”

“Obrigada, pai.” Disse a garota, se sentando e o abraçando. “Quer sorte a nossa por ter você. Eu sei que você vai ser um grande avô, assim como é um grande pai.”

“O Jorge também vai ser um grande pai.” Aquilo a pegou de surpresa. Ela encarou Sérgio, que sorria. “Eu o vi ontem, quando fui te buscar na escola. Ele estava te olhando de longe, e aquele era um olhar bem diferente do que ele tinha alguns meses atrás.”

“Eu não sei se conseguiria perdoar ele, pai. Não depois do que ele disse, depois de ter me abandonado.”

“O Jorge é um menino mimado e assustado que de repente se viu confrontado por tudo o que ele temia e desconhecia. Ele precisou trabalhar, ganhar seu próprio dinheiro, lidar com o julgamento, a rejeição e a responsabilidade. A diferença é que, ao contrário de você, ele conseguiu se afastar de tudo isso. Mas, assim como você, ele está aprendendo a lidar com seus sentimentos e com o que está acontecendo na sua vida. E eu sei, bem lá no fundo, que ele vai cuidar muito bem dessa criança, Margarida.”

“E quanto a gente, pai? Eu e ele?”

“Isso quem tem que saber são vocês dois, minha filha.” Sérgio beijou sua testa carinhosamente. “Mas, a partir de agora, sua prioridade não é mais esse relacionamento.”

“Não, minha prioridade é ela, é a minha criança.” Margarida sorriu, acariciando sua barriga. “A partir de agora, é tudo sobre ela.”

~*~

Jorge estava em sua casa, aproveitando que era sábado e não tinha que trabalhar. O pai estava ao seu lado, mas havia muito tempo que os dois não trocavam uma palavra sequer fora da firma.

Foi quando a porta se abriu e Rosana entrou cheia de sacolas, com o pobre motorista soterrado embaixo de outras tantas mais.

“O que é tudo isso, Rosana?” Perguntou Alberto, chocado.

“Eu estava no shopping e passei na frente de uma loja para bebês. E eu não resisti, querido. Agora que eu sei que vamos ter uma netinha, tudo o que é cor de rosa me atrai.” Explicou a mulher, virando uma das sacolas no sofá. “Olha esses vestidinhos, meu amor.”

“Achei que vocês não sabiam o sexo.” Comentou o homem, confuso.

“A Alicia deu a ideia de fazer um chá de revelação, para ajudar a melhorar o astral da Margarida. Mas eu precisava saber o que era o bebê, para poder preparar tudo. E eu sei que prometi não comprar nada sem a Margarida e a Andreia, mas tenho certeza que elas vão adorar tudo isso.” Se derreteu a avó coruja. “Olha isso e... Alberto, você está prestando atenção?”

Em resposta, ele apenas apontou para o rapaz ao lado dela. Rosana se virou devagar, encontrando Jorge com um vestidinho lilás na mão, tão pequeno que pareceria de uma boneca. Seus olhos azuis tinham um brilho diferente e um pequeno sorriso brincava em seu rosto.

“Algo errado, filho?” Perguntou Rosana com a voz doce.

“Eu só estava imaginando como isso ficaria com um bebê dentro.” Ele confessou, distraído. Quando percebeu o que fazia e que os pais o encaravam, deixou o vestido de lado e se levantou. “Hã, eu vou sair.”

“Claro, só não volte tarde.” Pediu a mãe, vendo-o pegar a carteira e sumir pela porta. “Você viu isso, Alberto?”

“Vi, querida. O coração dele está amolecendo.” Concordou o marido, sorrindo.

“Você sabe que isso não era o que eu queria para ele, nem de longe. Um filho, assim tão novo e despreparado. Ter que colocá-lo em uma situação tão estressante, tão difícil... Mas eu estou orgulhosa de ver como ele está mudando, mesmo que na velocidade de uma lesma.”

“Por mais que amemos nossa neta, Rosana, o Jorge e a Margarida cometeram um erro. Eles não tinham condições físicas, psicológicas ou econômicas de cuidar de uma criança, e fizeram uma. Eles ainda têm muitas provações no caminho, mas também me alegro e me orgulho de ver que a Margarida está fazendo seu melhor, e que uma luz está surgindo no nosso filho.” Concordou o homem, se recostando no sofá. “Eu tenho esperança que ele vai ser um bom pai.”

“Eu tenho muita fé nisso, querido.”

~*~

Alicia havia acabado de sair da casa de Margarida. A amiga teve uma vontade incontrolável de comer sorvete de manga com geleia de goiaba, chocolate meio amargo e sementes de chia, e pediu ajuda para ela e Paulo. Os dois, como prometido meses antes, não hesitaram em ajudar e logo conseguiram tudo o que a grávida queria.

O rapaz precisou encontrar os pais, então ficou para a namorada levar a “guloseima” para a amiga. Ficou um tempo conversando com ela e paparicando sua barriga, antes de tomar seu caminho para ir jantar com os próprios pais.

Qual não foi sua surpresa ao encontrar Jorge em frente ao prédio de Margarida, sentado em um banco de praça com um embrulho de presente nas mãos. Caminhou até ele sem que o garoto a visse e sentou ao seu lado.

“Se veio até aqui para falar mais merda para a Margarida, eu quebro a sua cara agora mesmo.” Avisou a morena, o assustando.

“O que faz aqui?” Perguntou o loiro.

“Ah, aquela criança tem estômago de bode. Ou ela, ou a mãe dela.” Riu Alicia. “Nunca vi uns desejos mais estranhos.”

“A Margarida está tendo desejos. Eles são normais, não são? Servem para o corpo da grávida pedir aquilo que precisa. Você sabia que algumas grávidas chupam prego, por causa da deficiência de ferro no sangue?” Ele comentou distraído, surpreendendo Alicia.

“E como você sabe de tudo isso, Jorge?”

“Eu andei pesquisando, sabe? Li alguns livros e sites de gravidez, baixei até um aplicativo.” Ele mostrou o celular.

“E por que você está fazendo isso?”

“Por que eu me preocupo com ela, tá bom? Eu me preocupo com a criança.” Admitiu o rapaz, e Alicia sorriu discretamente.

“E o que você vai fazer com isso, Jorge? Porque só se preocupar e continuar a agir como um babaca não serve de nada.” Avisou a morena, séria.

“Eu não sei o que fazer, Alicia.” Confessou Jorge, envergonhado. “Eu não entendo o que eu sinto, mas eu sei que eu me preocupo muito com a criança, e com a Margarida, obviamente. Mas eu fiz merda, muita merda. Eu não estava pronto para tudo isso, e ainda não estou. Mas eu vejo como a Margarida está vencendo o próprio medo por ela, e me sinto mais forte para fazer o mesmo.”

“Já sei o que você vai fazer então.” Alicia se levantou e o puxou junto, o puxando até o portão. “Você vai subir agora mesmo até o apartamento da Margarida, vai entregar esse presentinho para ela e vai pedir perdão, de joelho se for preciso. E você vai começar a se esforçar para colocar em prática tudo isso que você leu e viu.”

“Tá bom.” Ele gaguejou, observando-a colocar a senha no portão. “Alicia, e quanto eu e ela? Você acha que ela ainda gosta de mim?”

“Eu acho que, por agora, você deve se preocupar em se tornar um bom pai, Jorge, e provar para ela que você pode fazer isso. Ela não quer um namoradinho, ela quer o cara que a engravidou sendo responsável e assumindo as consequências dos atos assim como ela assumiu.”

“Queria tanto ter essa força dela.”

“Eu chamaria de falta de opção. Você pode fingir que nada aconteceu, engomadinho, mas ela anda com a prova do crime por baixo da camiseta.” Lembrou a garota, colocando seu skate no chão. “Ela não pode acordar e pensar: ah, hoje eu não quero que lembrem que estou grávida, vou deixar a barriga em casa. Ela não teve outra escolha, se não ser forte e lidar com isso de frente. E foi inevitável para ela, com um coração bom como o que tem, se apaixonar por aquela criança. Espero que você tenha um coração minimamente bom.”

~*~

Margarida estava sentada no sofá com os pés em cima de uma mesinha, descansando. Comia feliz as coisas que Alicia havia levado para ela, sentindo uma movimentação suave dentro de sua barriga, fazendo-a se movimentar.

“Você podia chutar, né, coisinha? Sabe, criar um calombo de verdade. Você só fica se revirando aí dentro, toda encolhidinha. Chuta para mim.” Pediu ansiosa, sem receber resposta nenhuma. Pelo menos, não a que esperava. “Ué, a campainha.”

O porteiro não havia interfonado, e só Alicia tinha a senha de acesso do portão do prédio. Deduziu que a amiga havia esquecido algo e caminhou até a porta distraída, os olhos ainda na TV.

“O que você esqueceu, doidinha?”

“Hã, eu não esqueci nada.” Jorge disse sem jeito, assustando a ex-namorada. “Oi, Margarida.”

“Jorge?” Ela gaguejou, espantada. Viu que ele estava com uma cara estranha e seguiu seu olhar, caindo diretamente na barriga descoberta. Ela puxou a bata para baixo, a cobrindo e fazendo-o corar. “O que faz aqui?”

“Hã, eu queria conversar com você.” Ele estava bastante sem jeito.

“Conversar ou brigar?”

“Conversar, Margarida. Eu juro, eu não vim brigar. Eu só quero conversar com você.” Ele disse e ela acreditou que ele estava sendo sincero.

“Pode entrar.” Ela deu passagem e fechou a porta atrás dele. “Quer sentar?”

“Claro.” Ele concordou, assumindo uma das poltronas. Ela voltou ao seu lugar no sofá, esticando as pernas e pegando o sorvete. “Foi o que a Alicia trouxe?”

“Você encontrou com ela?” Perguntou, já sabendo a resposta. Claro que teria sido a Gusman a liberar o portão para Jorge. Só não sabia ainda se a agradecia por isso ou socava.

“É, ela que me deixou subir.” Ele contou e caíram em um silêncio sem graça. Ele a observou por um tempo, curioso. “Seus pés estão inchados?”

“Bastante. É parte do pacote.” Ela deu de ombros.

“Imaginei. Você tem problemas de retenção de líquido, não é?” Ela concordou, surpresa. “Acho que aqueles problemas que a médica disse na primeira consulta não apareceram, não é? Os desejos eu sei que são normais, uma forma do seu corpo pedir o que ele precisa para o desenvolvimento do bebê, mas você parece corada e saudável.”

“Como você sabe tudo isso?”

“Eu li bastante. Tenho lido há semanas, na verdade. Tenho até um aplicativo no celular, para ir me informando. Você está de 22 semanas, não é? Terminando o segundo trimestre. O bebê é do comprimento de uma cenoura. Só não sei direito que tamanho é isso, porque eu fui no mercado e tinha de vários tamanhos.” Ele contou animado, vendo os olhos da garota se enchendo de lágrimas. “O que foi?”

“Por que você está fazendo isso, Jorge? Sabe, agindo como se estivesse feliz, como se você se importasse?”

“Mas eu me importo, Marga, me importo muito. Eu fui pego de surpresa, assim como você. Mas você não teve a opção de fugir, eu tive. E eu não queria aceitar que, mesmo fugindo, eu estava preso. Tudo o que eu não queria aconteceu, eu perdi todo mundo que eu gostava, fui forçado a uma situação que me desagradava. E você sabe que eu não sou nem de longe a melhor das pessoas do mundo, e não lidei com isso de uma forma boa. Eu sei que isso não é desculpa, não existe desculpa, mas eu acabei me envolvendo por sua causa.”

“Minha causa?” Ela perguntou confusa e ele riu.

“Eu não consigo te esquecer, garota, estou bem longe disso. E eu te observei todos os dias desses últimos meses, religiosamente, e observei sua mudança. A mudança do seu corpo, seu jeito, suas atitudes. Como você ganhou luz e vida conforme foi se deixando envolver pela criança que está aí dentro, enquanto eu só me afundava a cada vez que rejeitava ela. E então eu me permiti me importar, me interessar, e comecei a me senti melhor comigo mesmo. Mas eu não quero que isso fique escondido.” Ele pulou para o sofá, parando ao lado dela. “Margarida, se você deixar, se você conseguir me perdoar, eu quero fazer parte. Eu quero aproveitar esses últimos meses com ela aí dentro e fazer tudo o que eu puder. Quero te ajudar quando ela nascer, aprender a trocar fraldas e perder noites de sono. Eu quero tentar ser pai, Marga. Você deixaria?”

“É claro que sim.” Ela o abraçou com força, chorando. “Você sabe que isso era o que eu mais queria, Jorge.”

“Me perdoa pela minha mancada, Marga.”

“Eu não quero guardar ressentimento, Jorge. Eu quero que a nossa coisinha chegue em meio a paz e união, e para isso precisamos deixar todas as mágoas para trás. O que importa é daqui para frente, ok?” Ela sorriu para ele, encarando o embrulho de presente na poltrona. “O que é aquilo?”

“Ah, é um presente.” Ele apanhou o embrulho. “Eu sei que você já ganhou muita coisa do pessoal, mas eu não tinha dado nada até agora. Então eu fui no shopping e comprei. É coisinha simples, mas eu posso me orgulhar de ter comprado com o meu trabalho.”

Ela sorriu orgulhosa, rasgando o papel colorido e puxando a roupinha. Era um vestidinho branco bordados os dizeres Princesinha do Papai. Os olhos dela brilharam ao ver aquilo.

“Minha mãe comprou uma infinidade de vestidos, mas eu tenho certeza que nenhum é igual a esse.” Ele contou e ela o encarou surpresa. “O que foi?”

“É uma menina?”

“Como assim?” Ele perguntou confuso.

“Só a sua mãe sabia o sexo do bebê, Jorge. Ela vai fazer um chá de revelação sábado que vem, por ideia da Alicia. Eu não sabia o que era.” Explicou Margarida, algumas lágrimas escorrendo. “É uma menina.”

“Ai meu Deus, já dei mais bola fora.” Jorge afundou o rosto nas mãos. “Desculpa, Marga, de verdade.”

“Não, tudo bem.” Ela disse depressa. “Eu gostei bem mais de ter descoberto assim do que em uma festa. Foi muito mais especial, porque foi você que me contou.”

“Você acha que ela gostou do presente? Digo, eu achei esse da princesinha fofinho.” Ele explicou sem jeito e Margarida riu, pegando a mão dela e levando até sua barriga.

“Fala para ele se você gostou de ser chamada de princesinha do papai, coisinha.” Pediu a morena e os dois arregalaram os olhos. “Ela chutou.”

Ela nunca tinha chutado?”

“Não. Ela se movimenta o tempo todo, minha barriga fica toda deformada, mas ela nunca chutou para valer. Essa foi a primeira vez.” Contou a grávida, toda animada. “Acho que ela gostou do presente, do apelido e, principalmente de você estar aqui.”

“Eu vou ficar sempre aqui, princesinha. Eu vou fazer de tudo para ser um bom pai, ok?” Ele disse próximo a barriga dela, depositando um beijo. Se endireitou, vendo os olhos molhados de Margarida. “Marga, quanto a nós dois...”

“Jorge, eu acho que agora não é hora.” Ela suspirou.

“Era isso mesmo que eu ia dizer.” Ele riu, vendo-a murchar. “Eu não desisti de você, Margarida Garcia, e nem pretendo desistir tão cedo. Eu continuo tão apaixonado por você hoje quanto estava há seis meses atrás. Mas, agora, a coisa mais importante para mim é me preparar para a chegada dela e aprender a ser um pai aos dezessete anos, terminando o colégio e me preparando para a faculdade. E eu acho que essa é sua prioridade também, não é?”

“É, é sim.”

“Então... Quando a nossa filha estiver um pouquinho maior, nós dois formados, craques em ser pais, aí você não me escapa mais, garota.” Ele prometeu, lhe dando um selinho.

“Mas você sabe que não precisar ficar preso, não é?” Ela não queria dizer aquilo, mas sentia que precisava. “Você é livre para fazer o que quiser, caso sinta vontade.”

“Eu tive várias garotas nesses últimos meses, Marga.” Ele confessou e isso doeu nela. “Mas nenhuma, nem a mais gostosa delas, conseguiu diminuir um pingo da minha saudade de você, ou então chegar perto dos seus pés. Você é a única para mim, caipirinha... Aceite isso.”

Ela sorriu e o abraçou, sendo retribuída. Ficaram assim por um tempo, antes de ele soltá-la e puxar seus pés para o colo.

“O que você vai fazer?” Perguntou a curiosa.

“Eu achei uma massagem boa para desinchar os pés, já que sabia que os seus provavelmente estaria parecendo pães. Posso tentar?” Ele pediu timidamente.

“À vontade. Você liga de nós duas continuarmos a comer?” Ele negou aos risos, observando-a se ajeitar nas almofadas.

~*~

“Mas que surpresa agradável encontrá-lo aqui, Jorge.” Comentou a doutora Ellen ao vê-lo entrar no consultório com Margarida. “Como vai, rapaz?”

“Vou bem, doutora, e a senhora?” Ele apertou a mão dela, se sentando ao lado da ex-namorada.

“Muito bem, obrigada por perguntar. E você, Margarida? Como está você e esse bebezinho?”

“Nós duas estamos bem.” Garantiu a morena, surpreendendo a médica. “Eu descobri sem querer. Mas a minha mãe ainda não sabe, nem a mãe dele sabe que eu sei.”

“E onde estão as duas, aliás? Elas sempre te acompanham nas consultas.”

“Na sala de espera. Elas resolveram que só nós dois entrássemos e as chamássemos caso fosse importante.” Explicou Jorge, um tanto inquieto. “Tem alguma coisa errada para precisar chamar elas?”

“Calma, Jorge, ela nem me examinou ainda.” Margarida acabou rindo da inquietação dele e a médica sorriu satisfeita.

“Bom, primeiro eu vou fazer os exames no consultório, e então nós passamos para a sala de ultrassonografia.” Os olhos de Jorge se arregalaram de uma forma único ao ouvir aquilo. “Vai ser a primeira vez que ele vai ver a bebê?”

“Sim, eu não mostrei nenhum dos exames antigos para ele.” Contou Margarida, caminhando para a maca.

Depois de analisar a saúde da mãe e confirmar que estava tudo nos conformes, a doutora os chamou para a sala anexa, onde ficava o equipamento de ultrassonografia. O jovem pai pulava inquieto na cadeira, enquanto observava a médica e a técnica preparando tudo para o exame.

“Bom, Margarida, você conhece o processo.” Avisou a técnica e a menina assentiu. “Primeiro vamos ouvir esse coraçãozinho, e depois vamos observar se está tudo ok.”

“Jorge, tenta não desmaiar.” Pediu a grávida, observando que ele estava pálido.

“Eu não achei que ia ficar tão ansioso, sabe?” Ele confessou, fazendo os presentes rirem.

“Bom, então vamos lá.”

“Ai, caramba. Isso é o coração dela?” Guinchou o loiro, seus olhos se enchendo de lágrimas.

“É sim, Jorge. O som é um pouco aquoso porque ela está envolta por líquido amniótico.” Explicou a técnica, sorrindo.

“É lindo.” Ele suspirou. Margarida secou o olho discretamente, maravilhada com a reação dele.

“Vamos passar para as imagens então?” Pediu Ellen.

A reação de Jorge foi como a de uma criança vendo televisão pela primeira vez, ou admirando uma vitrine repleta de brinquedos novos. Sua curiosidade era enorme, ele perguntava e queria saber de tudo, se maravilhava com cada pequeno detalhe.

“E aqui está... A prova de que a garotinha de vocês, realmente, é uma garotinha.” A técnica mostrou e os dois sorriram. “Você vai ter trabalho, hein papai?”

“É, eu vou. Porque ela é linda demais.” Suspirou o rapaz, segurando a mão de Margarida. “Certeza que puxou a mãe.”

“Bom, do que eu vejo, está tudo nos conformes, doutora.” A técnica virou para a médica, que assentiu. “A previsão de parto é começo de outubro.”

“Mas você tinha falado início de setembro.” Estranhou Margarida.

“Considerando que você provavelmente teria um parto prematuro, Margarida. Mas, pelo que os exames estão mostrando, acredito que essa mocinha vá conseguir chegar nas quarenta semanas e nascer tranquilamente.” Ellen viu que os dois suspiraram aliviados ao ouvir aquilo. “Ainda mais agora que, além de todo o carinho da mamãe, ela vai ter também o cuidado do papai.”

“Tudo o que eu puder fazer.” Concordou Jorge, beijando a mão da garota na maca.

~*~

“Quer dizer que o Jorge procurou a Margarida?” Perguntou Maria Joaquina, estarrecida. “Por essa eu não esperava.”

“Eu sim. Já fazia tempo que eu estava observando ele mudar de atitude na escola.” Contou Paulo. “Talvez, se ele não tivesse mudado de sala, teria tomado essa atitude antes.”

“Será que ele volta para a nossa agora? Sabe, depois das férias.” Perguntou Davi, já que o semestre havia se encerrado na semana anterior.

“Não sei, cara. Espero que sim. Pior que eu sinto falta daquele mimadinho.” Riu Daniel com a namorada sentada em sua perna.

“Eu também sinto falta de vocês.” Todos viraram para a porta, encontrando Jorge e Margarida ali. A garota não cabia em si de felicidade, enquanto o rapaz parecia tímido. “Oi, gente.”

“Oi.” Os amigos o cumprimentaram, todos se levantando em silêncio.

“Hã, eu queria pedir desculpas para vocês. Sabe, pelas minhas atitudes.” Ele continuou, ainda sem jeito.

“Você sabe que não é para nós que precisa pedir desculpa, Cavalieri.” Lembrou Mário.

“Eu sei. Mas a Marga já me perdoou, assim como a minha princesinha. Mas faltam vocês, que são meus amigos.” Ele encarou os presentes, e podiam ver que ele era sincero. “Pelo menos, eu espero que ainda sejam.”

“Claro que somos, seu bobão.” Riu Marcelina.

“Mas você sabe que vai ter que passar pelo castigo, não é?” Perguntou Koki e ele suspirou.

Os amigos formaram um corredor e ergueram os braços. O loiro encarou a grávida, que apenas riu, antes de passar correndo pelos amigos, recebendo uma série de tapas onde eles alcançavam.

“Pronto, está oficialmente perdoado.” Garantiu Alicia, abraçando a amiga. “E como foi o ultrassom hoje?”

“Tá tudo certo. A médica tem quase certeza que ela não vai nascer prematura.” Margarida sorriu animada.

“Espera, achei que nós só íamos saber o sexo no final de semana.” Lembrou Valéria.

“Ah, nós acabamos descobrindo juntos.” Mentiu Jorge, sorrindo cúmplice com a mãe de sua filha.

“Por isso ele chamou o bebê de princesinha.” Carmen fez a ligação.

“Então nossa coisinha é uma menininha?” Perguntou Bibi, animada.

“Ah, isso é tão romântico.” Suspirou Laura.

“Vocês precisavam ver esse mimadinho chorando durante o ultrassom. Não conseguia parar quieto.” Margarida contou, querendo dividir a alegria que sentiu ao ver tal reação do ex-namorado.

“Era a primeira vez que eu via minha filha e escutava o coração dela, dá um desconto.” Ele resmungou e os amigos sorriram animados. “Mas guardem segredo, tá? Nossas mães não sabem que nós sabemos de nada.”

~*~

Quando as aulas voltaram em agosto, Margarida estava terminando o sétimo mês de gravidez. Sua barriga agora estava enorme e ela havia sido liberada formalmente de usar uniforme. Apesar dos protestos dos pais e de Jorge, resolveu que iria continuar frequentando as aulas até a chegada da filha.

O Cavalieri foi transferido de volta para a sala dos amigos, o que o deixou muito feliz. Mas também o fez começar a ver e sentir as coisas de outra forma.

Estando em uma sala separada de Margarida, além de não conversando com ela, não tinha noção do que ela passava em relação a opinião de terceiros. Claro que observava a forma que as pessoas a encaravam, mas não imaginava as provocações que chegavam até ela.

“E não é que a caipira conseguiu mesmo dar o golpe da barriga? Eu achei que o Jorge era mais esperto, mas pelo visto ela tem buceta de ouro mesmo.” Foi o primeiro dos comentários maldosos que escutou, tão logo os dois entraram na escola no primeiro dia. Agora que as coisas estavam bem, ele fazia questão de acompanhá-la sempre e carregar todo o peso para ela.

“A buceta até pode ser de ouro, mas a barriga parece uma melancia torta. Imagina quanta celulite e estria tá escondida nesse vestido cafona?” O grupinho de meninas maldosas riu.

Jorge encarou Margarida, que tentava a custo ignorar as provocações. Entendia o que Alicia havia dito, sobre a garota ter que carregar a prova do crime embaixo da camiseta... Todos sabiam que ele era culpado também, mas por não “carregar” as provas, ninguém nunca tinha mexido com ele até aquele momento.

Ela até podia ficar quieta, mas aquilo não era o estilo dele.

“Ela continua sendo mais bonita e gostosa do que vocês, mesmo com uma melancia na barriga. E por que ao invés de ficar destilando veneno, vocês não procuram alguém que queira ir para a cama com vocês, hein, crias do Satanás?” Ele rebateu em voz alta, surpreendendo Margarida e as venenosas.

“Perdeu a noção, garoto?”

“Eu é que te pergunto, garota? Perdeu a sua no mesmo lugar que arranjou esse bojo torto para o teu sutiã?” Ouviram alguns risos ao redor e perceberam que algumas pessoas escutavam a conversa. “Volta pro mar, oferenda.”

E saiu puxando Margarida pela mão. Ela não disse nada, mas Jorge pôde ver o sorriso agradecido em seu rosto.

Nas aulas, as surpresas continuaram. Ficou chocado com a indiferença e frieza que os professores tratavam a garota, alguns até disparando comentários maldosos. Ela permanecia calada grande parte do tempo, e os amigos faziam o possível para distrair a atenção dos professores.

“Isso é um absurdo.” Ele se indignou durante o intervalo. “Os professores não podem te tratar dessa maneira.”

“Eles têm tratado ela assim há meses, Jorge, você só não estava lá para ver. Nós tentamos falar com a gorda, mas não tem muito o que ela possa fazer.” Desabafou Jaime. “O máximo que ela conseguiu foi um passe livre para a Margarida sair das aulas sem faltas, já que nem no banheiro os babacas estavam deixando ela ir.”

“Mas nenhum desses professores tem me tratado mal.” Jorge comentou, surpreso.

“É você que está com uma barriga enorme?” Questionou Valéria, observando que a amiga estava cabisbaixa. “Não liga para eles, amiga.”

“Não ligo, Val, é sério.” A grávida deu um sorriso bastante amarelo. “Eu só estou um pouco cansada hoje.”

“Quer ir para casa?” Perguntou Jorge, recebendo um aceno negativo.

“Hora de voltar para a aula.” Suspirou Bibi, ouvindo a sineta tocar.

A aula era de matemática, com uma professora tão antiga que com certeza havia sujado os pés no barro da grande inundação da arca de Noé. Ela passou um desafio na lousa e avisou que o primeiro a acertar ganharia dois pontos na média do trimestre.

Era um exercício bastante complexo, tanto que Daniel, Carmen e Majo se equivocaram diversas vezes. Jorge conseguiu chegar a um caminho, mas antes que pronunciasse a solução, Margarida ergueu a mão sorrindo.

“O resultado é 72.” Avisou a garota e todos a olharam admirados. Realmente, era o mesmo resultado ao qual ele havia chegado naquele momento.

A professora, porém, a ignorou nitidamente, continuando a andar pela sala como se nada tivesse acontecido. Se deteve na carteira de Jorge.

“72. Está certo, sr. Cavalieri.” A mulher lhe sorriu.

“Obrigado, dona Mercedes, mas a Margarida acertou antes de mim.” O sorriso sumiu do rosto da mulher ao ouvir aquilo. “Ela disse o resultado há mais de um minuto, logo, quem merece os dois pontos é ela.”

“Veremos.” A mulher pegou o papel em que a garota havia feito sua conta e o conferiu. “Hum, está certo. Quem te contou como fazer, srta. Garcia?”

“Ninguém, dona Mercedes. A senhora, na verdade, durante as aulas.” A menina estava novamente cabisbaixa.

“Bom, então os dois pontos são seus, não é?” Resmungou a professora, largando o papel. “Seus e do sr. Cavalieri.”

“Como?” Perguntou Jorge, surpreso.

“Francamente, sr. Cavalieri, todos sabemos que a srta. Garcia não conseguiria resolver um desafio desses. É claro que o senhor a ajudou, e dessa vez eu deixarei passar. Não é porque ela está nesse estado que deixarei que ela faça o que quiser.”

“E não é porque você é minha professora que deixarei que trate a Margarida dessa forma.” Ele se levantou, a assustando. “A Margarida sempre foi uma das melhores alunas da sala. Por que ela não teria capacidade de resolver um exercício desses?”

“Oras, senhora Cavalieri... Não teve capacidade nem de evitar uma gravidez assim tão jovem, quem dirá de resolver um exercício que nem o sr. Zapata ou a srta. Carrilho conseguiram resolver.” Desdenhou a professora.

“Então deixa eu te contar uma coisa, dona Mercedes: para uma criança ser feita, é preciso um pênis e uma vagina, um óvulo e um espermatozoide, e duas pessoas. Foi o meu pênis que liberou o espermatozoide que entrou na vagina dela e fecundou o óvulo que gerou nossa filha, logo, as duas pessoas irresponsáveis que deveriam ser culpadas somos eu e ela. E só o que eu estou vendo é a Margarida ser crucificada por gente mal amada e mal comida, que não deve transar há décadas e acha que por isso é melhor do que nós dois, que somos dois adolescentes prestes a se tornarem pais.”

Todos se assustaram com a explosão do rapaz, principalmente a professora e Margarida. Enquanto a primeira tinha os olhos arregalados de forma cômica, a segunda tinha um grande sorriso no rosto.

“Para fora, sr. Cavalieri. E pode considerar sua nota desse trimestre zerada.” Avisou a professora, séria.

“E pode se considerar demitida, dona Mercedes. Porque eu vou te denunciar para o ministério da educação e te processar por discriminação. E tenho certeza que todos os meus amigos vão depor contra a senhora com prazer.” Jorge jogou as coisas na mochila de qualquer jeito. “Pega suas coisas, Margarida, nós vamos embora.”

Ela nem ousou discutir. Apenas colocou as coisas na bolsa depressa, a entregando para o rapaz e se levantando. Ele pegou sua mão e caminhou para a porta, ouvindo mais um comentário mordaz da professora.

“Se ela já não estivesse grávida, diria para usarem camisinha. Mas aparentemente não sabem o que é isso, então não adiantaria.”

“Ah, vá arranjar alguém que te coma, mal amada.” Jorge gritou, batendo a porta logo depois e ouvindo palmas dentro da sala.

~*~

Sérgio e Alberto estavam conversando com o advogado, sérios. Apesar de saber que a filha estava sendo vítima de comentários maldosos e destrato por parte dos professores, o Garcia nunca imaginou uma situação como a que Jorge descreveu. Sabiam que Olívia havia feito o que podia, assim como a professora Helena, mas a decisão de demitir professores cabia ao conselho. O que eles queriam saber com o advogado é de que formas poderiam proteger a garota de tais descasos, além de punir a professora por seus comentários maldosos.

Os dois adolescentes estavam no quarto do rapaz, assistindo um filme no Netflix. Não tinham conversado muito, já que Margarida conhecia bem o ex-namorado para saber que naquele momento ele estava uma verdadeira bomba relógio.

Quando quisesse, Jorge falaria o que estava sentindo.

Ouviram a conversa no andar de baixo se identificar e, sem prévio aviso, Jorge caiu no choro. Margarida o encarou, chocada, vendo-o deitar no seu colo e abraçar sua barriga com força.

“Me desculpa, Marga.” Ele pediu entre soluços.

“Pelo o que, Jorge?” Perguntou a morena, assustada.

“Por te fazer passar por tudo isso. É culpa minha, você sabe. Você pediu para eu esperar você ir na ginecologista e começar a tomar o anticoncepcional, mas eu te convenci a fazermos mesmo assim, que a camisinha seria o bastante. E olha tudo o que você está passando, amor.” Fazia meses que ela não o ouvia tratar por aquele apelido.

“Não se culpa, meu loirinho.” Ela acariciou a cabeça dele com carinho. “Eu quis isso tanto quanto você, você sabe disso. A culpa de tudo isso é de nós dois.”

“Mas por que é só você que está pagando o pato, Margarida?” Ele a encarou com olhos tristes. “Você que é apontada, humilhada, xingada e ofendida. Você quem teve que abrir mão do seu corpo, das suas vontades, da sua vida, para carregar e gerar essa criança. E eu? Eu perdi minha mesada? Recebi alguns olhares feios. Isso não é justo.”

“Não, não é, mas é o que nós temos. Eu tenho sofrido o inferno mesmo, Jorge, isso é verdade, mas tenho descoberto coisas nos nossos amigos que eu nem imaginava. Você sabia que o Paulo é carinhoso e atencioso? Ou que a Alicia é toda melosinha? Que o Jaime faz o melhor sanduíche de madrugada, ou que a Bibi sabe tricotar? Que a Marcelina estuda yoga há anos?” Ele negou todas as informações. “Pois eu descobri tudo isso enquanto nossos amigos tentavam me ajudar a passar por tudo isso. Eu sabia, desde o princípio, que não seria fácil. Que eu seria humilhada e chacoteada, mas eu não tinha o que fazer, Jorge. Nossa filha é inocente nessa história toda, ela não merece pagar pelos nossos erros.”

“Obrigado por cuidar tão bem dela, Marga.” Ele agradeceu com sinceridade.

“Meu único medo é nunca conseguir amá-la incondicionalmente, Jorge.” Ela confessou deixando algumas lágrimas escorrerem. “Eu a amo, claro que amo. Ela é minha filha, é parte de mim, está crescendo dentro de mim. Mas eu ainda não consegui deixar o rancor, a mágoa, a dor... E isso não me deixa amar ela da forma que deveria. Você consegue entender?”

“Consigo, minha linda, porque eu sinto a mesma coisa. Por mais que ame muito ela, uma parte minha ainda a culpa por tudo o que está acontecendo nas nossas vidas.” Confessou o loiro, encarando a barriga à sua frente. “Desculpa a mamãe e o papai por isso, minha princesinha... Um dia nós vamos conseguir deixar os sentimentos ruins para lá e te amar da forma como você merece, está bem?”

“Eu to muito feliz que agora você esteja aqui, Jorge, para passar por tudo isso com a gente.” Margarida sorriu para ele, beijando sua testa.

“Eu quero te pedir uma coisa, Marga.” Ele sentou na cama, secando os olhos compulsivamente e tentando se recompor. “Eu queria estar presente quando ela nascer.”

“Como?”

“É, eu sei que só uma pessoa pode entrar com você na hora que você for dar à luz, e que você provavelmente iria querer a sua mãe, mas eu queria estar lá. Eu queria estar junto com você quando a nossa filha nascer.” Ele confessou, bastante envergonhado. “Eu quero que nós dois sejamos as primeiras pessoas que ela vai conhecer.”

“Eu não tinha pensado em chamar minha mãe em momento nenhum, Jorge. É você que tem que estar lá comigo, para ser o primeiro abraço que ela vai receber, para ela saber quem vai protegê-la pelo resto da vida.” Margarida o abraçou, emocionada. “Vai ser a primeira vez que nós vamos ser uma família, não é?”

“Nós somos uma família, Marga.” Ele acariciou o rosto dela com carinho. “Estamos separados por enquanto, mas logo vamos voltar a ficar juntos. Eu, você e ela. Nós já somos uma família, meu amor, eu tenho certeza disso.”

“Não sei ao certo se estamos separados. Eu diria que estamos aprendendo a lidar com a confusão na nossa vida, porque eu ainda me sinto sua, Jorge.”

“Isso é bom, Margarida, porque eu nunca deixei de ser seu.” Ele se declarou, puxando o rosto dela para um longo beijo. “Te amo, linda.”

“E eu amo você, loirinho.” Ela acariciou o rosto dele, descendo a mão para sua barriga. “E da nossa forma, ainda errada, nós te amamos, filha.”

“E vamos sempre cuidar de você, princesinha, o papai promete.” Margarida adorava ouvi-lo falar daquela forma. “O que me leva a outro assunto importante: eu quero que você venha morar aqui, Margarida.”

“Como? Morar aqui, na sua casa?” Ela perguntou surpresa.

“Você mesma disse que não sabe onde vai colocar ela e as coisas dela no apartamento dos seus pais. E eu quero estar por perto para tudo, Marga, inclusive para te ajudar a cuidar dela no meio da noite. E se mal cabe ela, quem dirá caber eu no apartamento. O quarto aí da frente é grande, você sabe... Se quiser podemos dividi-lo em dois, ou então você divide o quarto com ela.”

“Eu não sei, Jorge.”

“Não é algo definitivo, Marga, até porque eu pretendo que as coisas entre a gente mudem logo, e com isso nós saíamos daqui juntos, nós três, para um lugar nosso. Mas, pelo menos nesse começo, aceita. Por mim, por você e, principalmente, por ela.”

~*~

As famílias de Jorge e Margarida estavam reunidas, almoçando. A garota e seus pais tinham acabado de trazer as últimas coisas dela, agora que estava resolvido que ela passaria a viver com o (ex?) namorado. Mesmo que ainda tivesse quase dois meses até o bebê nascer, Jorge estava determinado a se envolver ao máximo no resto da gravidez, e para isso queria estar sempre por perto.

Como havia prometi, nem Sérgio e nem Andreia se chatearam ou magoaram com a decisão da filha. Sabiam que era o andar natural das coisas, e que realmente seriam ela e Jorge que precisariam cuidar da criança que iria nascer, juntos. E para isso, o mais indicado era que estivessem debaixo do mesmo teto.

“Marga, eu posso te mostrar uma coisa?” Perguntou Jorge, quando já tinham terminado a sobremesa.

“Claro.” Ela concordou, se levantando e o seguindo escada acima, ouvindo risinhos vindos de seus pais. “O que é?”

“Hã, é uma surpresa.” Ele sorriu sem graça, parando em frente à porta do quarto de hóspedes, que passaria a ser dela e do bebê. “Se você não gostar, podemos mudar, tá?”

“Do que vo...” Mas as palavras sumiram assim que ele abriu a porta. “Jorge...”

Ela caminhou para dentro do quarto, emudecida. Encarava o ambiente com um misto de encantamento e vontade de chorar. Era tudo tão simples, delicado, perfeito. Tudo branco com detalhes rosa suaves. Nada extravagante, do jeitinho que ela teria imaginado.

“Minha mãe queria fazer um quarto rosa, cheio de laços, tules e coroas de princesa. Mas eu achei que assim era mais a sua cara.” Jorge tinha as mãos nos bolsos, sorrindo sem graça. “E mais a cara dela também.”

“Ficou lindo, Jorge.” Margarida suspirou, acariciando o berço. “Eu sequer tinha imaginado um quarto para ela, muito menos um tão perfeito.”

“É seu também, né. Eu deixei esses porta-retratos para você colocar as fotos que quiser.” Ele indicou a parede atrás da cama, se sentando ali. “Mas já ocupei um, se você me permite.”

“Qual?” Ela caminhou até o lado dele, encarando a imagem. “É o ultrassom 3D?”

“É, nosso primeiro vislumbre do rostinho dela.” O loiro a abraçou, segurando sua barriga. “Eu sei que as coisas materiais não vão compensar, Marga... Mas eu quero que ela chegue sentindo que é bem-vinda, apesar de toda essa loucura.”

“Tenho certeza que ela vai sentir, ou melhor, que ela já sente.” A garota deitou a cabeça no ombro do rapaz. “Eu tenho uma coisa para você também, Jorge. Onde está minha mala?”

“No meu quarto ainda, por que?”

“Vem comigo.” Ela o puxou pela mão, sentando com ele na cama e pegando a mala. Abriu e remexeu rapidamente, pegando um embrulho. “Toma. Feliz dia dos pais.”

“Como?”

“É, hoje é dia dos pais.” Margarida riu da cara dele. “Vai dizer que você não sabia?”

“Esqueci completamente.” Ele fez uma careta. “Preciso pedir desculpa para o meu pai.”

“Ele vai entender. Mas abre o seu presente, quero ver se você vai gostar.” Ela pediu cheia de ansiedade.

Ele rasgou a embalagem e encontrou uma camiseta com o emblema do Superman.

“Eu sei que é seu herói favorito.”

“Realmente. Adorei, Marga.” Ele a abraçou com um sorriso no rosto. “Nem me passou pela cabeça ganhar alguma coisa no dia dos pais.”

“Bom, você é pai, não é? Mesmo que a nossa filha ainda esteja aqui dentro.” Ela deu de ombros.

“Você ganhou alguma coisa no dia das mães?” Ele perguntou.

“Minha mãe me deu um vestido.” Ela riu baixinho. “E eu ganhei uma flor. Estava escondida no meu armário na segunda-feira, mas eu não sei quem do pessoal que colocou lá.”

“Um lírio branco com um cartão escrito ‘Feliz dia das mães para você que já está vencendo o mundo por alguém que ainda nem nasceu’.” Ele recitou, vendo os olhos dela se encherem de lágrimas. “Acabou de descobrir o culpado.”

“Foi você?” Ela sussurrou, segurando a mão dele.

“Eu passei o domingo sentado em frente à sua casa, tentando criar coragem de ir falar com você. Mas não consegui, claro. Então eu cheguei mais cedo na escola e, como eu sabia sua combinação, escondi no seu armário.” Ele confessou de forma tímida. “Como eu disse outro dia, eu estava te observando faz tempo.”

“Ah, meu amor.” Ela se arrastou sobre o colchão, entrelaçando seu pescoço e colando seus lábios em um beijo longo e cheio de saudade. Ele retribuiu com a mesma intensidade, até nenhum dos dois aguentar a falta de ar.

“Uou, isso foi intenso.” Comentou um ofegante Jorge.

“Nem me diga.” Margarida riu, colando a testa com a dele. “Eu acho que não é hora para conversarmos e debatermos nossa relação, Jorge, depois de tudo o que aconteceu. Mas eu não aguento mais isso de estarmos separados ou sermos ex-namorados. Ex é uma coisa do passado, e você é completamente parte do meu presente e futuro.”

“Graças a Deus você concluiu isso logo, meu amor... Porque eu já estava no meu limite.” Jorge admitiu, fazendo-a rir. “Eu gostei muito da camiseta, Marga, mas isso foi meu verdadeiro presente de dia dos pais: você de volta.”

“Bobo.” Ela estapeou o braço dele.

Seu bobo, Marga. Na verdade, seu e dela.” Ele disse se deitando na cama e a puxando junto de si.

“Jorge, nossos pais estão lá embaixo.” Lembrou ela, se aconchegando a ele. “Meu Deus, você é o suporte de barriga perfeito. Você não sabe quanto é difícil achar uma posição para dormir com essa melancia gigante.”

“Ótimo, então eu sirvo de travesseiro para você.” Os dois riram. “Nossos pais devem estar tomando um cafezinho, Marga. Embora eles não vão sem se despedir de você, isso eu tenho certeza. Então vamos aproveitar esse momento só nosso, ok?”

“Para mim está ótimo.” Suspirou a garota, recebendo um beijo na testa e fechando os olhos.

~*~

Se tornou mais fácil abrir mão dos programas dos amigos agora que estavam juntos. Margarida se frustrava a cada festinha, balada ou programa que tinha que abrir mão por sua gravidez, dias em que ela ficava sozinha em casa, observando tudo pelas redes sociais.

Agora, porém, tinha uma boa companhia. Os amigos, assim como no início, se esforçavam para marcar saídas em que o casal pudesse ir, ainda mais agora que a gravidez chegava na reta final, mas não podiam abrir mão de viver sua própria vida. E nessas horas Jorge se esforçava para compensá-la com um filme legal, um jantar diferente ou algo que os distraísse. Ela havia aprendido a fazer crochê e ele a ajudava nisso, mesmo que fosse péssimo.

Também aproveitavam esse tempo para ler os livros de nomes de bebês e formar uma lista de ideias. Sim, uma lista, porque tinha mais que 15 nomes escolhidos por eles, isso sem contar os sugeridos pelos amigos.

“Gabriela, Rafaela, Sara, Letícia, Luiza, Rebeca, Amanda, Caroline, Lorena, Maria, Laura, Isis, Duda, Sabrina, Lara, Emília, Julia, Helena, Sophia, Bianca, Beatriz, Mariana e Ana Clara. Será que podemos tirar na sorte?” Perguntou Jorge, encarando a lista com uma careta.

“Claro que não, Jorge. O nome dela não pode ser escolhido pelo acaso.” Repreendeu Margarida. “Eu gosto de todos esses nomes, mas não consigo ligar a ela.”

“E se nós esperássemos ela nascer para escolhermos o nome?” Propôs o loiro. “Olhamos para a carinha dela e vemos o que combina.”

“Acho que é uma boa ideia.” Concordou Margarida, animada. “Viu, coisinha? Você que vai nos ajudar a escolher seu nome.”

“Só não vamos ficar chamando ela de coisinha, Marga... Ela vai nascer traumatizada assim.”

“Eu chamava ela de coisinha para não chamar de bebê.” Confessou a grávida, acariciando e encarando sua barriga. “Mas, agora, eu consigo chamar ela assim, sabe? Bebê. Nossa bebezinha, e nossa coisinha sim, mas nossa coisinha fofa e cheia de amor.”

~*~

“Caramba.” Murmurou Jorge, admirado. “Ficou tudo lindo.”

“Claro que ficou, filho. Eu e a Andreia não medimos esforços pela nossa netinha.” Rosana sorriu para o filho, os dois admirando a decoração do chá de bebê. “Seria melhor se ela tivesse um nome, não é?”

“Mãe, eu e a Margarida já dissemos que vamos esperar ela nascer.” Resmungou Jorge, admirando as fotos penduradas. “Foi uma boa ideia fazer esse ensaio fotográfico. As fotos ficaram lindas mesmo.”

“Sim, ficaram. Tão cheias de amor.” Observou a mulher, vendo o sorrisinho bobo do filho. “Eu estou tão feliz por vocês terem reatado.”

“Não mais do que eu, mãe, isso eu garanto.” Jorge observou a namorada aparecendo na porta da cozinha. “Nossa vida está uma loucura, toda errada, mas eu estou feliz, de verdade. Eu vi tantos casos de gravidez na adolescência que são uma tragédia, e só posso ser grato. A Margarida está bem, com saúde, e a nossa filha também. Nós temos o apoio dos nossos pais, um teto nas nossas cabeças, apoio financeiro, além do meu emprego. Não posso reclamar de nada.”

“Rosana, tá tudo tão lindo.” Margarida se aproximou nessa hora, maravilhada. “Não é, bebê? Fala para a vovó que ela e a vovó Andreia fizeram um ótimo trabalho. Sua festinha tá linda.”

“Deixa eu sentir.” A Cavalieri pousou a mão na barriga da nora, sorrindo logo depois. “Princesinha da vovó.”

“Quem diria que minha mãe seria uma avó tão babona.” Jorge comentou aos risos, recebendo uma careta de sua mãe, que logo se afastou. “Animada?”

“Mais do que eu esperava.” Garantiu Margarida, o abraçando pela cintura e deitando a cabeça em seu peito. “Vai ser gostoso estarmos cercados pelos nossos amigos, mas não sei se quero aguentar os olhares de reprovação das minhas tias e das amigas da minha mãe.”

“Pensa assim, elas vão trazer fraldas.” Os dois riram. “Você viu o preço de um pacote de fraldas?”

“Vi, e fiquei pensando que é dinheiro jogado na merda, literalmente. Muito dinheiro, inclusive.” Ela suspirou. “Você sabe quantas fraldas por dia ela vai usar quando nascer?”

“Prefiro não pensar nisso, mas sim que as amigas ricas da minha mãe vão nos dar todas que vamos precisar, até mais se bobear. E então ela vai poder cagar a vontade, porque nosso bolso estará feliz.”

“Que exemplos de pais nós somos, não é?”

“Em nossa defesa, só temos 17 anos. Isso nos faz ouvir merda, mas nos dá liberdade para falar também.” Ele brincou, fazendo-a rir. “É tão bom te ver sorrindo de novo, Marga... Eu já tinha me acostumado a te ver triste.”

“Era saudade de você, amor. Acho que o que mais me doía em tudo isso era o fato de você ter me deixado. Mas agora que eu tenho você comigo de novo, eu não tenho motivos para sofrer.”

“Eu ia pedir desculpa de novo, mas você já ameaçou me bater se eu fizer isso mais uma vez.” Jorge sorriu tristemente. “Eu só vou prometer que eu não vou te deixar de novo, Marga. Nem você, nem ela.”

“Eu sei que não, Jorge. A partir de agora somos nós três contra o mundo.” Ela se esticou para lhe dar um selinho. “Pronto para curtir a festinha dela?”

Ela deve estar radiante aí dentro, não é? Afinal, hoje é tudo sobre ela.”

“Não, Jorge, nos últimos meses e pelo resto das nossas vidas vai ser tudo sobre ela, não só hoje.” Garantiu a grávida, o puxando pela mão para verem o resto da festa.

~*~

“Com licença, pai... Pediu para me chamarem?” Jorge abriu a porta do escritório do pai devagar, em uma atitude muito diferente da que apresentava apenas alguns meses antes.

“Pedi sim, filho. Sente-se, por favor.” Alberto também tinha uma postura diferente, condizente com a admiração que estava criando pelo filho. “Hoje é dia do seu pagamento.”

“Nem me lembrava.” O rapaz recebeu o envelope e o abriu, surpreso. “Tem dinheiro a mais aqui, pai.”

“Não, não tem. Tem o justo, Jorge.” Sorriu o homem. “Primeiramente, a partir de agora eu vou dar seu salário integralmente, para que você e a Margarida o administrem juntos, da melhor forma possível. Em segundo lugar, você vai ser promovido.”

“Como?” O rapaz perguntou, surpreso.

“Jorge, quando você veio trabalhar aqui, sua atitude era um lixo. Você destratava a todos, era grosseiro, desinteressado, fazia tudo de qualquer jeito. Mas então você começou a mudar, a agir diferente. E eu percebi que tudo isso foi logo antes de você ir atrás da Margarida.” Relatou Alberto, recostado em sua cadeira. “Agora, todos te elogiam. Você tem demonstrado um trabalho excelente, Jorge, e muito jeito para a contabilidade. O seu supervisor recomendou que eu o promovesse de aprendiz para estagiário. Não é um grande salário, mas é maior. E se você concordar em fazer a faculdade de contabilidade ano que vem, eu te efetivo e seu salário aumenta ainda mais.”

“Você sabe que, mesmo se eu não quisesse, eu faria isso pela minha filha e a Marga, não sabe?” O pai assentiu. “Mas para a minha sorte, eu quero. Obrigado, pai.”

“Você sabe que eu não faria isso se você não merecesse, Jorge.” Os dois sorriram um para o outro. “Pode voltar ao trabalho, filho.”

“Sim, senhor.” Jorge guardou o envelope no bolso da frente da calça e voltou para o escritório.

~*~

“Já disse que, na minha opinião, essa viagem é uma loucura?” Se manifestou Maria Joaquina.

“Só umas duzentas vezes, mas nós preferimos ignorar.” Rebateu Valéria, deitada no ombro do namorado. “Margarida, você está confortável?”

“Muito, Val, obrigada.” A grávida sorriu de seu banco no ônibus, com as pernas esticadas. “Eu não acredito que vamos passar a semana no sítio da minha avó!”

“Eu muito menos. Você está com quase 38 semanas de gravidez, sua maluca. Tinha que estar repousando em casa, não fazendo uma viagem de sete horas de ônibus.” Riu Marcelina.

“Depois que ela nascer, eu não sei quando eu vou conseguir visitar minha avó de novo. E eu sinto falta desse lugar.” Suspirou a moça, olhando os campos pela janela.

“Foi aqui que você cresceu?” Perguntou Adriano.

“Eu morava na cidade, na verdade. O sítio da minha avó fica há quase uma hora de lá.” Contou a morena.

“Então celular e internet é uma vaga lembrança, certo?” Choramingou Bibi.

“Pelo menos tem energia elétrica?”

“Tem sim, Val. E realmente, Bibi, o celular não pega muito bem lá. Mas em compensação temos cavalos, o lago, a cachoeira, a piscina, as redes e toda a natureza à nossa volta.” Margarida sorriu para as amigas, que resmungaram frustradas. A grávida então encarou o namorado, sentado no branco paralelo ao dela. “Obrigada por ter organizado essa viagem, amor.”

“Tudo para fazer você feliz, meu amor.” O loiro sorriu para ela. “Hã, por que a bolsa de maternidade da minha filha está no bagageiro?”

“Eu que trouxe.” Avisou Alicia. “Caso essa coisinha resolva nascer, nós já estamos com as coisas aqui.”

“Gente, a médica me examinou há três dias. Ela garantiu que o bebê não nasce antes do começo de outubro, fiquem tranquilos.” Margarida gargalhou, voltando a encarar a paisagem da janela.

~*~

“Admito que eu fiquei decepcionada quando sua mãe me contou sobre a sua gravidez.” Margarida e Santa, sua avó, estavam sentadas na varanda da casa. Os amigos estavam explorando a fazenda, mas ela não tinha pique ou autorização para acompanhá-los.

“Sinto muito, vovó, de verdade. Eu decepcionei todo mundo.” A garota se afundou na cadeira, pesarosa.

“Hey, erga esses ombros, Margarida. As mulheres da nossa família não devem se abaixar a nada, jamais, nem mesmo aos seus erros. Devem enfrentá-los de cabeça erguida e peito aberto, como vitoriosas que serão ao final de tudo. Comece a ensinar isso para a sua filha desde já.”

“Eu tenho certeza que ela vai nascer cheia de atitude, vó. Minha menininha vai ser forte e vai dar muita força para eu e o pai dela continuarmos lutando.” A morena sorriu para sua barriga, a acariciando. “Não é, filha? Nós nos enfiamos em uma rabuda, mas vamos passar por isso vitoriosos.”

“Eu sei que vão, querida. Sua mãe me conta tudo o que está acontecendo e, como eu dizia, no início fiquei decepcionada. Admito que ainda estou um pouco, porque esperava mais para a sua vida, mas estou orgulhosa de tudo o que você e o Jorge tem feito e conquistado nesses últimos meses. Tenho certeza que minha bisneta está em ótimas mãos.” Santa abraçou e beijou Margarida, que sorriu agradecida.

~*~

“Marga, esse lugar é lindo.” Suspirou Carmen, deitada em uma pedra enquanto tomava sol. “Uma cachoeira no jardim de casa... Que bela aquisição.”

“Eu adorava brincar aqui quando criança. Quebrei o braço duas vezes pulando no rio.” Contou a garota, ocupada em se banhar com o sol. “Então tomem bastante cuidado, meninos.”

“É muito engraçado ver a Margarida deitada. Parece que tem uma montanha se erguendo no abdômen dela.” Riu Kokimoto e todos os acompanharam.

“Três montanhas, né. Porque você está com uns peitões, amiga... To até com inveja.” Elogiou Marcelina.

“Tira o olho, seus tarados.” Rosnou Jorge. “Eu disse que esse biquíni estava pequeno, amor.”

“Jorge, eu engordei 24 quilos desde a última que vez que usei um biquíni. Todos eles estão pequenos.” Riu Margarida, encarando a barriga banhada pelo sol. “Mas ela queria tomar um solzinho, né, filha?”

“O sol ajuda o corpo na produção e absorção de vitamina D, e é muito importante na gravidez.” Daniel entrou no modo nerd. “Diminui o risco de diabetes, pré-eclâmpsia e ajuda a mãe a ter um parto normal, além de prevenir o parto prematuro e o baixo peso no recém-nascido. Alguns cientistas dizem que a falta de vitamina D durante a gestação aumenta a propensão de crianças com autismo.”

“Que ótimo termos uma biblioteca ambulante.” Suspirou Paulo. “Alicia, quando tivermos filhos, você vai tomar bastante sol, ok? Quero nossos filhos nascendo bem gordinhos.”

“Morra, Guerra, morra.” Resmungou a morena, os olhos fechados por baixo dos óculos escuros, quase adormecida.

“Gente, a vista daqui é linda.” Davi estava no alto da cachoeira, admirando a paisagem.

“Cuidado, Davizinho. A Margarida disse que é perigoso, ok?” Valéria gritou para o namorado.

“É, tem muito musgo aí. Cuidado para não escorregar.” Pediu a herdeira do sítio, encarando o amigo.

“Fiquem tranquilas, meninas. Vou descer com cuidado e...” Ele começou a caminhar com cuidado, até que um animal pulou na sua frente. “Caralho.”

O macaquinho surgiu e sumiu em um átimo, desequilibrando Davi. Ele escorregou no musgo que Margarida o alertou e despencou do alto da cachoeira em meio aos gritos dos amigos. Assim que seu corpo se chocou com a água, Paulo, Mário e Jaime já pularam atrás. Logo o levavam para a margem em meio a tosses e gritos de dor.

“Davi, Davi, meu amor.” Valéria estava desesperada, observando os meninos retirarem o namorado da água. “Você está bem?”

“Minha perna.” Gritou o garoto, e todos viram que a perna dele estava em uma posição estranha.

“Será que quebrou?” Perguntou Cirilo, assustado.

“Não sei, acho que vai precisar ir até o hospital para descobrir.” Sentenciou Mário, ouvindo outro grito de dor do amigo.

~*~

“Eu disse que tomassem cuidado.” Margarida resmungava na cama, logo após o banho.

“Você conhece os nossos amigos, linda. São especialistas em fazer merda.” Jorge riu, se enxugando e encarando a janela. “Tem uma tempestade chegando.”

“Elas são comuns aqui. Só espero que minha avó consiga chegar antes dela.” A garota comentou e ouviram o telefone da casa tocar. “Ou não.”

A única forma de comunicação do sítio era um telefone com fio. E quem ligava era Santa, avisando que Davi precisaria ficar internado para observação e havia quebrado a perna. Ela e Valéria teriam que acompanhá-lo até seus pais chegarem no outro dia, além de não quererem enfrentar a tempestade que estava chegando.

Passou todas as recomendações e pediu que os jovens as seguissem. Disse que, pior do que as chuvas de março, as de setembro e outubro estavam judiando bastante nos últimos anos. A última, segundo ela, havia durado dois dias e interditado algumas estradas.

A chuva, realmente, castigou a casa durante toda a noite e assustou muito o grupo de amigos. Continuou forte e impiedosa no dia seguinte, os mantendo recolhidos e silenciosos. Não conseguiram contato com ninguém pelo telefone, que estava mudo, e resolveram esperar e torcer para tudo ficar bem.

Mas o ditado de que desgraça pouca é bobagem é realmente verdadeiro. Naquela manhã, Margarida acordou com um desconforto grande na barriga. Havia dormido mal e acreditou ser a inquietação pela chuva, até perceber que o incômodo tinha um padrão. E esse padrão mudava e se tornava mais preocupante depressa.

Até que ela percebeu que estava ferrada, logo depois do almoço.

“Gente, não é querendo deixar ninguém desesperado, mas eu preciso contar uma coisa.” Ela saiu do banheiro, atraindo a atenção dos amigos. “Minha bolsa acabou de romper.”

“O quê?” O grito foi coletivo.

“Como sua bolsa rompeu? Faltam duas semanas para outubro, três para o parto.” Gritou Jorge, correndo até ela para acudi-la.

“Eu estava sentindo contrações desde a madrugada, mas achei que podia ser o nervoso. Mas agora a bolsa rompeu e eu sei que não é brincadeira.” Gemeu a garota, se apoiando nele. “Minhas contrações estão a cada três minutos.”

“E o que isso quer dizer?” Perguntou Alicia, enquanto a deitavam no sofá.

“Que está perto.” Cirilo disse o óbvio.

“Não temos telefone, não temos veículo, está acontecendo uma tempestade lá fora... Alguém me diz o que diabos a gente faz?” Gritou Jaime, nervoso.

“O parto.” Marcelina disse o óbvio.

“E alguém aqui sabe fazer um parto?” Perguntou Kokimoto.

“Não é questão de saber fazer, japonês. A questão é que, daqui a pouco, essa criança vai escorregar para fora da Margarida. Resta saber se ela vai fazer isso sozinha ou se nós vamos ajudar.” Paulo estava pálido de nervosismo. “Daniel, você sabe mais que a Wikipedia. Como se faz um parto?”

“Primeiramente precisamos checar a dilatação.” Avisou Daniel.

“E como se faz isso?”

“Com a mão. É preciso colocar a mão dentro da vagina e chegar até o colo do útero, para checar a dilatação.” Explicou o rapaz.

“E quem vai enfiar a mão lá dentro?” Perguntou Laura, horrorizada.

“Jorge, você já enfiou tudo o que podia lá dentro, faz o seu trabalho agora.” Mandou Paulo, enojado.

“Não é melhor levarmos ela para cima?” Perguntou Bibi.

“Gente, cala a boca.” Gritou Alicia, irritada. “Aqui nós temos acesso a tudo na casa, e eu sei que vamos precisar de muita coisa. Todos os meninos, menos o Jorge e o Daniel, fiquem na cozinha. Laura, Bibi, Majo... Vocês são muito frescas e molengas, fiquem lá também. Vocês nos ajudam a pegar as coisas que precisarmos.”

Nos minutos seguintes, Daniel instruiu tudo o que iriam precisar. Os meninos buscaram um colchão no andar de cima, onde deitaram Margarida. O tempo das contrações estava entre dois e quatro minutos, e durando pouco mais de um.

“Muito bem, como eu faço para medir?” Jorge lavou as mãos e colocou as luvas que Maria Joaquina emprestou, parte do kit de maquiagem dela.

“Você insere o indicador e o médio. Você vai levá-los até sentir o colo do útero e então abri-los até sentir as duas extremidades. Depois você vai tirar e nós medimos essa distância.” Explicou o rapaz.

“Ok, isso não parece muito agradável.” Comentou Marcelina.

“Desculpa, amor, vou tentar ser cuidadoso.” Prometeu Jorge, se ajoelhando em frente à namorada. Ele inseriu os dedos e ela resmungou. Conseguiu sentir o ponto que Daniel indicou e afastou os dedos. “Hã, gente... Eu to sentindo uma coisa estranha.”

“O quê?” Perguntou Carmen.

“Cabelo.” Ele fez uma careta. “É a cabeça da minha filha.”

“Dan, o que isso quer dizer?” Perguntou Carmen, desesperada.

“Que ela está totalmente dilatada. E pelo tempo, logo vai sentir necessidade de empurrar.” O nerd comentou, ficando mais pálido.

“Daniel, olha para mim.” Alicia segurou o amigo. “Fala o que nós vamos precisar fazer.”

“Vocês vão precisar... Aquilo é sangue?” Perguntou ele, vendo a mão se Jorge manchada em carmim. E no minuto seguinte, estava apagado no chão.

“Puta que o pariu, eu to imaginando o dia que nossos filhos nascerem.” Gritou Carmen. “Meninos, ajudem aqui. O Daniel apagou.”

“E agora, caralho, o que a gente faz?” Perguntou Paulo, enquanto carregavam o amigo.

“Eu ajudo.” Avisou Mário, surpreendendo a todos. “Eu já fiz o parto de cachorras.”

“O que você quer dizer com isso?” Rosnou Jorge.

“Eu to sentindo vontade de empurrar.” Gritou Margarida, assustando os amigos.

“Todos voltem a suas posições. Só trocando o Daniel molenga pelo Mário.” Mandou Alicia, enquanto sentavam no chão. “Muito bem, Bross... O que nós fazemos agora?”

“Eu li em um livro que a melhor posição para o parto é cócoras, ajuda o bebê a descer mais rápido.” Lembrou Jorge.

“Então vamos invocar os instintos primitivos aqui, gente.” Suspirou Marcelina.

Ajudaram a parturiente a ficar de cócoras, Jorge a segurando enquanto Marcelina e Carmen a auxiliavam. Como não conseguiam medir e calcular as contrações, confiaram na intuição dela. A cabeça surgia e sumia entre os empurrões, até que ela afinal saiu.

Mário logo a sustentou, trêmulo. Assim que a bebê a movimentou, ele gritou.

“O ombro está vindo, Margarida. Faz força uma última vez.” Pediu ele, gaguejando. “Alicia, prepara o cobertor.”

Realmente, no empurrão seguinte, o ombro escorregou e com ele o resto do corpo. Mário segurou a menina e Alicia colocou o cobertor por baixo, enquanto Margarida despencava nos braços do namorado.

“Que sorte a nossa que a Alicia trouxe a mala da maternidade.” Comentou Carmen, vendo a amiga aspirar o nariz e a boca da criança com a bombinha de borracha.

Ela está bem, Ali?” Perguntou Margarida, nervosa.

“Veja você mesma, amiga.” A marrenta ergueu a criança, que começou a chorar naquele momento. “Tira a camiseta, Marga.”

“A bebê tem que sentir o contato com a sua pele.” Avisou Carmen, ajudando a amiga a se livrar da parte de cima da roupa.

Alicia colocou a recém-nascida diretamente sobre o peito de Margarida, pele com pele, ajeitando o cobertor para que as protegesse. Assim que se tocaram, a mãe começou a chorar com força.

“Olá, você. Oi, coisinha. Era você que estava aqui dentro, é?” Ela perguntou carinhosa, a cabeça apoiada nas pernas cruzadas do namorado. “Você viu, amor? Como a nossa princesinha é linda?”

“Perfeita.” Lágrimas copiosas escorriam dos olhos do loiro, encarando a filha nos braços da namorada. “Oi, princesinha do papai. Como você é linda.”

“Marce, me ajuda a tirar o sutiã? Se eu amamentar ela, vai ajudar na expulsão da placenta.” Margarida lembrou da informação que havia lido.

“Melhor nós ajeitarmos vocês direito. O pessoal está quicando ali na porta da cozinha.” Riu Carmen.

Tiraram todos os panos sujos e envolveram Margarida em cobertores limpos. Jorge sentou atrás dela, usando seu peito para apoiá-la. Ela apanhou um pouco para colocar a bebê no peito e fazer com que ela começasse a mamar, mas logo obteve sucesso. Deixaram então que os amigos viessem, e eles vieram depressa.

“Que bonequinha.” Suspirou Bibi, encarando a bebê nos braços de Margarida, mamando avidamente.

Ela é perfeita.” Concordou Paulo, admirado. “É impressão minha ou o olho dela é azul?”

“Não sei direito.” Comentou Jorge, babando na filha. “Ela é perfeita de toda a forma.”

“E está tudo bem com ela?” Perguntou Daniel, um pouco atordoado.

“Do que podemos ver, sim. Mas precisamos levar as duas para o hospital logo.” Comentou Mário. “O que é meio difícil sem carro.”

“E que tal todos aqueles que estão chegando?” Perguntou Cirilo da janela.

Nos minutos seguintes a casa foi invadida por pais encharcados. Os pais de todos, ansiosos. Aparentemente, após o acidente de Davi, Andreia teve uma intuição sobre Margarida e todos correram parra o sítio.

Chegaram um pouco atrasados, claro.

“Nasceu.” Comentou Alberto, embasbacado.

“Nasceu, pai. E ela é linda.” O novo pai sorriu para o próprio pai. “Dez dedinhos nos pés, dez dedinhos nas mãos... Toda perfeita.”

“E como isso aconteceu?” Perguntou Miguel, já se aproximando. “Como vocês fizeram um parto?”

“O Daniel deu algumas dicas que ele leu, e o Mário fez o que ele faz com as cachorras.” Paulo explicou da melhor forma possível. “Mas é bom que um médico de verdade esteja aqui.”

Ela está respirando normal, Miguel, e já está mamando. Só estamos esperando a placenta ser expulsa.” Explicou Jorge. “Só não sabemos ao certo como cortar o cordão umbilical.”

“Isso pode esperar, Jorge. Por enquanto, deixe a pequena se alimentar ainda ligada a mãe.” Miguel sorriu docemente após ver o que estava encoberto por baixo dos cobertores. “Aparentemente, vocês fizeram um bom trabalho.”

“E quanto ao nome, já decidiram o nome dela?” Perguntou Andreia, ajoelhada ao lado da filha.

“Eu não acho que se parece com Gabriela, nem Rafaela, ou Sara, Rebeca e Amanda.” Comentou Margarida, listando seus nomes favoritos.  

“E não tem cara de Letícia, Luiza, Caroline, Laura, Isis, Duda, Lara, Emília ou Sophia.” Concordou Jorge.

“Eu não gostei de Lorena, Maria, Julia, Helena, Mariana ou Bianca.” Margarida murchou.

“O mesmo para Sabrina, Beatriz e Ana Clara.” Jorge riu. “E com isso se acabaram nossas opções de nomes para ela.”

“Querem mais ideias?” Perguntou Adriano.

“Não, porque eu acho que já sei qual é o nome dessa pequenina.” A mãe sorriu para a criança. “Acho que tem sido o nome dela desde o princípio.”

“É o que eu estou pensando?” Jorge sorriu para a namorada. “Achei que você o tinha descartado logo após pensar.”

“Mas agora, olhando o rostinho dela, parece certo.”

“E que nome seria, Margarida?” Perguntou Alicia, curiosa.

O casal trocou um olhar cúmplice, antes de encarar a filha e sorrir. Quem anunciou foi Margarida, beijando a testa da criança.

“O nome dela é Ella.”


Notas Finais


Fim da primeira parte. Calma que tem mais duas.
Eu realmente gostei dessa história, me julguem. To escrevendo ela há quatro dias direto, vida tem dessas HAHAHAHAH
Mandem perguntas no ask, se quiserem, e comentem!
Ah, esse é o quarto da Ella: https://www.soumae.org/wp-content/uploads/2014/12/quarto-de-beb%C3%AA-menina-delicado.jpg
Só não garanto que a Margarida vá dormir aí algum dia na vida, enfim! HAHAHAHAH
http://ask.fm/WPKiria
Beeeeijos


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