[Allie]
Hoje vai ser um dia maravilhoso. Com muito esforço consegui ingressar na melhor faculdade de medicina do país — MUL: Medical University of Lisarb —, então é normal eu ter uma mistura de sentimentos na cabeça. Acabo de entrar na minha enorme sala e por algum motivo eu escolho sentar na cadeira n°22. Gostei desse número.
[David]
Minha cabeça tá uma loucura hoje. Entro na sala por uma segunda porta — assim eu não preciso enfrentar o congestionamento e consigo pegar um assento melhor que os outros. O número 22 vem na minha cabeça. A cadeira está vazia. Corro focado nela, como se estivesse me chamando. Até que algo sólido esbarra em mim… ou eu nele.
— Poxa! Quer que eu empreste o óculos pra você poder enxergar as pessoas?! — Falo, pegando os óculos para limpar as lentes, ainda no chão. Eu sempre jogo uma dessas em situações assim.
— Ai meu Deus! Mil perdões! Eu sou uma desastrada mesmo… — diz a moça, parecendo estar um pouco machucada.
Caramba ela é linda! É a primeira vez que a vejo mas já me sinto perdido nos seus olhos negros. Demoro alguns segundos para perceber que estava no mundo dos pensamentos há um tempão.
— Tá tudo bem, q-quer dizer… caramba! Você tá bem? Eu tou bem! M-mas e você?
— Não esquenta não! Estou bem. Me chamo Allie Simmons! — Ela vai levantando e me dá a mão. Quando puxo pra poder me levantar caímos de novo, agora ela por cima de mim. Ela só queria me cumprimentar. Não sei onde enfiar a cara.
[Allie]
Acho que machuquei a clavícula no queixo dele. Sou a primeira a me levantar de novo e dessa vez ajudo de verdade. Arrumamos nossas coisas do chão e fomos achar um lugar pra sentar. Acabamos sentando nas cadeiras 43 e 44.
— A propósito, qual é o seu nome mesmo? — pergunto enquanto o professor apresenta a metodologia da aula. Ele (esse cara que eu esbarrei) é um pouquinho desastrado, mas quem liga? Ele é lindo e parece ser muito legal.
— Ah, é mesmo — agora ele parece mais à vontade —, me chamo David Hayes, pode me chamar de Dave. É um prazer! — Ele é lindo sorrindo. Caramba, ele é muito lindo!
•••
Nos beijamos. Não sei explicar como aconteceu. A pele dele chamava a minha. É como se fosse algo que estive procurando a vida toda.
[Dave]
É como se fôssemos pólos opostos de um ímã se atraindo com toda a força. Foi um momento mágico… até que voltamos pro mundo real. Todos pararam pra olhar pra gente.
— Eu não vou aturar isso na minha aula! Vocês querem ser médicos ou atores pornográficos? — fala o professor com a raiva estampada.
Dizem que esse é o professor mais rigoroso do campus. Parece que não vamos sair ilesos.
•••
Fomos levados para a sala de suspensão e não tem ninguém aqui além de mim e da Allie (apesar de eu achar que estão nos observando). Conversamos por um certo tempo e mais uma vez sem explicação nos beijamos novamente, mas agora estamos mais conscientes — pelo menos eu sim. Mas, dessa vez não fomos interrompidos por alunos ou professores. Três homens gigantes, todos de smoking preto, entram na sala com algumas armas. Um deles começa a se aproximar com semblante sério sem falar nada e percebo uma espécie de algema aprimorada nas suas mãos.
— O-o que tá acontecendo? — pergunta Allie um pouco trêmula em meus braços.
O homem avança em cima dela como um vulto. Mas consigo puxá-la rapidamente para outra direção. Outro homem se aproxima com rapidez. Olho pela fenda da porta e é possível ver o professor deitado sobre uma poça de sangue. Então as armas não eram pra nós. — "Eles querem a gente vivo", penso.
[Allie]
Incrivelmente, consigo manter a calma agora. E no movimento mais rápido que eu posso, jogo uma cadeira (de aço) em um dos homens. Dave rapidamente faz o mesmo com o outro — como se tivesse lido minha mente. Começamos a correr e pulamos pelas janelas que davam próximo à entrada do campus.
Tivemos a sorte (ou o azar) de encontrar um bueiro aberto logo ao sair do estabelecimento. Fechamos o portão para atrasá-los — normalmente teria uns guardas por ali, mas eles devem ter tomado conta disso também — e para podermos nos esconder sem que nos vejam. Pulo primeiro depois o Dave vem com a tampa do bueiro, que estava logo a ao lado do buraco.
O cheiro aqui deve ser horrível, mas tudo que eu consigo sentir de verdade é meu corpo indo de encontro ao abraço do Dave. Pensando bem, agora acho bem estranho a gente ter se beijado assim tão rápido. Nem nos conhecemos direito…
Ficamos ali, parados, por um bom tempo. Escutamos eles caminhando, conversando em outra língua e indo embora. O que realmente está acontecendo? Tenho medo de descobrir. Não tenho certeza de nada, mas sinto que vou perder tudo que construí até agora. Meus sonhos já eram. Acho que estou em pânico.
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