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História Encruzilhada - Capítulo I


Escrita por: Mira-a

Notas do Autor


Se você acabou de cair aqui de paraquedas, entre os dias 20 de fevereiro e 20 Abril de 2020, por favor, leia o jornal "Mudanças em Encruzilhada" antes de prosseguir com essa leitura, caso não, desconsidere essa nota e boa leitura.
<3

Capítulo 1 - Capítulo I


 

Encruzilhada

Capítulo I

Império Aquemênida

Persepólis.

 400 a. c.

 

 

                O vento assoviava ao rebatar nas montanhas rochosas, cheio de más intenções. Surrupiava rasteiro pelo chão de mármore, por entre as colunas de cedro até finalmente se extinguir em algum lugar a Oeste, apenas para nascer no Leste e voltar novamente, com um novo deboche. A música e a balburdia dos homens e mulheres que festejavam naquela noite, era, entretanto, mais angustiante para o general persa do que os presságios cantados pela natureza.

 Sasuke se perguntava como seus homens, os imortais, podiam festejar aquela derrota. Ele via as mulheres que dançavam de forma exótica, rodopiando com suas vestes de véu e seus olhos de lobo. Seus corpos se movendo como as serpentes do deserto, deveria ser hipnotizante. A comida farta por sobre as mesas, o vinho da melhor qualidade sendo despejados nas taças de seus vasilhames de ouro.

Soldados comemoravam, Sátrapas* haviam trazidos presentes gloriosos. E ele, Sasuke, o general do maior exército conhecido, o segundo príncipe de um grande Império, condenado ao martírio de um matrimônio arranjado. E por isso, e apenas por isso, até mesmo o vinho que era tão adorado por ele, amargava em sua boca.

Cada riso dado por aqueles que apreciavam da música, da comida, da bebida ou de qualquer que fosse a coisa, era como uma nova zombaria aos olhos negros daquele homem.

 As palavras sopradas por seu irmão, que estava sentado ao seu lado, com a simples intenção de lhe acalmar o espirito, despertava ainda mais sua cólera. Não era partidário da opinião de que seria preciso casar-se com uma princesa para ganhar a lealdade de seu povo, não gostava da diplomacia que seu pai e irmão insistiam em usar, dando aos inimigos a chance de rendição e no pior dos casos, aceitando de forma tão medíocre acordos políticos como aquele.

— Já que gosta tanto de casamentos, você é quem deveria estar casando-se, irmão — respondeu, tomando em seguido o restante da bebida de sua taça.

   Itachi apenas sorriu, já tomado pelo vinho que inflara em animo seu corpo. Era um homem sábio, seria um rei ainda melhor que seu pai. A face que levava constantes linhas de cansaço estava vivida naquela noite, um belo sorriso lhe adornava os lábios finos e gargalhadas lhe escapavam diante as respostas ásperas que partiam de seu tão amado irmão.

— Por que, se eu já possuo uma mulher?! Não desejo um novo casamento, Alexia já me é suficiente irmão, não preciso de outra.

— Sim, sim. Você é um tolo apaixonada.

Através dos tempos, aquele povo havia conquistado tudo ao seu alcance. Eles não possuíam medo, não sentiam dor, eram o exército de imortais que caminhava sobre a terra, lavando-a com o sangue dos homens... Eles eram os persas.

Entretanto, ali, na noite fria e de solene celebração, eles se tornavam escória aos olhos do general.

Nunca em todos os seus anos chegou a desejar por um casamento, sua posição — e beleza —, lhe agraciava com as mais belas conquistas, e seu coração negro não ansiava pelo desconhecido. Todo sentimento que diferia do prazer, seja o proporcionado pelo corpo de uma bela mulher ou por matar os inimigos e vencer guerras, lhe era dispensável.

O vento ressurgiu em uma nova risada, debochando do terceiro homem mais poderoso da Pérsia. O aclamado senhor da guerra. O homem que preferia rasgar a garganta de centenas de inimigos a ter que desposar uma mulher em um maldito tratado de paz.

Mas essa era a ordem do seu rei... e nunca se conheceu homem mais leal que aquele.

Os pensamentos que tanto lhe irritavam e o tragavam para um mundo longínquo só foram dispersos ao ouvir a voz de seu amigo, fazendo a carranca em seu rosto se tornar ainda mais acentuada. Ele conversava com os homens a pouca distância, uma taça na mão e movimentos alegres demais para um guerreiro. E o assunto que despertava tanto riso e animação? Era o pior de todos.

— Ela deve ser enorme, com toda certeza maior que ele. — Disse o homem de cabelos loiros e pele bronzeada, sorrindo ao descrever a mulher e futura princesa persa, senhora de seu general. — Vocês viram os irmãos dela não é mesmo? Dizem que eles são idênticos! Exceto pelo fato de ela ser mais violenta, é claro. Ouvi alguns soldados de berço nobre dando graças por finalmente ela ter sido dada em casamento, eles estavam com medo de serem os próximos da lista, afinal, nossa futura princesa costuma arrancar a cabeça dos pretendentes.

Todos riam, enquanto o segundo em comando continuava sua descrição da filha do bárbaro Taros, rei da Macedônia. Para evitar mais uma guerra o rei havia concordado com um tratado de paz, o qual culminara em um casamento real. O primeiro príncipe Itachi já era casado e mesmo podendo ter mais uma esposa, decidiu que essa dádiva deveria ser passada a seu irmão, e era apenas por isso que Sasuke teria a honra de ter como esposa, Sakura, a mais nova das filhas de Taros.

Todos aqueles homens concordavam com o general, eles preferiam o ardor da batalha àquele tratado, pois aquela princesa seria para sempre a mancha de suas honras, a desgraça de seus nomes.

Todavia, cada um deles contava com a alegria de saber que o tão temido general seria aterrorizado por uma mulher. Todos já tinham ouvido falar da princesa sangrenta que a Macedônia abrigava. A mulher sem rosto, que arrancara a cabeça de cada homem que ousou tentar desposá-la. Sakura não costumava aparecer para seus súditos e daí surgiram as histórias sobre sua beleza — ou nem tão beleza assim. Comumente como as más línguas profanavam, a mulher demônio, nascida da profanação dos bárbaros, que possuía corpo de homem, rosto de fera e a alma de um demônio. 

Não eram tolos o bastante para acreditarem nisso, mas, Naruto fazia questão de explanar como ela seria segundo sua fértil imaginação, e isso estava a arrancar gargalhadas de todos, até mesmo do general que se aproximava do grupo, apesar de esse ter sido mais discreto ao esboçar apenas um mínimo sorriso.  

— Ainda poderei ter a mulher que quiser, caso tenha se esquecido disso, Naruto. — A voz rouca rompeu o gargalhar de todos, surpresos e até temerosos com a aproximação do homem. Naruto apenas virou o rosto para trás e cerrou os seus olhos azuis ao observa-lo.

— Não, não terá — disse o mais sério que pode, porém, foi incapaz de manter a tal seriedade com o concluir da frase — ou ela lhe arrancara a cabeça.

O riso estrondoso rasgou não só a sua garganta como a de todos os presentes, ao terminar sua sentença.

Aquela, apesar de tudo, era uma noite de festa.

Mais comentários como aquele foram feitos por Naruto ao decorrer da noite, só cessando quando o vinho entorpeceu tanto seus sentidos a ponto de ele desabar sobre os próprios pés. A maioria dos presentes nem mesmo se importou, continuaram a festejar. Desde que houvesse bebida, comida e belas mulheres dançando, eles estariam felizes.

Sasuke foi o responsável por levar o amigo, praticamente carregado, até seus aposentos. Pensou seriamente em deixa-lo dormir lá, jogado no chão e sendo pisoteado pelos outros, seria merecido depois de todos os comentários daquela noite. Contudo, não o fez, pois se estivessem em posições diferente, sabia que Naruto faria o mesmo por ele.

O homem já dormia antes mesmo de ser jogado sobre a cama com lençóis de seda, porém, Sasuke não dormiu naquela noite, e não voltou ao centro da festa. De seus aposentos ele olhou para as estrelas tentando achar entre os caminhos formados no céu, um que o levasse a qualquer lugar em que Sakura não existisse.

O orgulho ferido lhe fazia imaginar a filha de Taros sorrindo naquele momento, o mesmo sorriso odioso que todos aqueles grecos tinham, afinal, ela seria uma princesa persa. O próprio Taros deveria estar a comemorar, como seu povo fazia. Todos pereciam ver vantagem naquele casamento, apenas ele, o que deveria ser o maior interessado, não a enxergava. Ele não possuía pelo povo o mesmo amor que seus pais e irmão. Não lhe era importante saber que pais não perderiam filhos e que filhos não perderiam pais naquela batalha, porque ela não seria travada.

Não haveria mais órfãos e viúvas do que aqueles que já perambulavam pelas ruas de todas as cidades daquele país. Lágrimas não seriam derramadas, sonhos não se perderiam e nenhuma vida seria desperdiçada. Mas um guerreiro, justo aquele que foi forjado para ser o melhor, não conseguia enxergar tais coisas.

Para ele, centenas de mortes era um preço pequeno a se pagar pela vitória. Milhares nasceriam nos anos seguintes para povoar uma terra perfeita em paz. Seus homens, os quais ele mesmo treinou, pensavam da mesma forma.

A Pérsia era uma mãe gentil para seus filhos, e eles, os imortais, existiam apenas para protegê-la, para impedir que homens de pouca fé profanassem seu solo, machucassem suas crianças e suas mulheres. Que roubassem suas terras e seus animais. E para isso, a única coisa que importava era que eles fossem temidos. Os homens deveriam perecer ao ouvir seus nomes. Reis deveriam curva a cabeça perante suas espadas.

Não precisavam de tratados, de acordos e muito menos de casamentos.

 


Notas Finais


Encruzilhada tem como cenário a Macedônia e a Pérsia, datadas 400 a. C.
Persépolis é uma palavra grega que designa Cidade dos Persas, qual foi uma das capitais do Império no seculo VI a. C.
Vou usar o palácio de Dario, pois acho ele lindo e era realmente o palácio da época.
E sim, a Macedônia e a Pérsia foram grandes inimigas. No ano 330 a. C. Alexandre, o Grande (da Macedônia) conquistou o Império Persa. Ele morreu invicto em batalhas, e é considerado um dos comandantes militares mais bem sucedidos da história.
Mas claro, essa fanfic não é baseada em outros fatores históricos além dos citados a cima. Tudo que vocês leram é fruto da minha imaginação.

Sátrapas: nome dado aos governantes das províncias do Império.


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