História Entre Lençóis e Mentiras - Idfc (I Don't Fucking Care)

"Cause I have hella feelings for you
I act like I don’t fucking care
Like they ain’t even there"

A água fria escorria pelo corpo de Seungkwan como pequenas navalhas, no entanto, ele não se importava, gostava da sensação gelada arrepiando cada pelo de seu corpo. Parte de si queria perder-se completamente na sensação de paz que a água trazia, outra era um furacão de pensamentos e questões nervosas que gritavam por uma resolução. Os eventos dos últimos dias passavam pela sua mente como um filme, seu próprio corpo era como um mapa de lembranças de cada toque das mãos de Hansol.

O pensamento fez Seungkwan esfregar o próprio corpo com força, a ação deixava sua pele avermelhada, como um lembrete que ele não conseguiria apagar de si mesmo o que havia feito. 

Quando saiu do banho e se olhou no espelho, pela primeira vez, Seungkwan não sentiu orgulho do seu próprio reflexo. Espalhados pela sua clavícula, roxos adornavam sua pele como um colar. Devagar, passou a toalha por cima do local como se o tecido macio fosse capaz de levá-los embora junto com as gotas de água em seu corpo, porém ele sabia que essas marcas ficariam ali por mais alguns dias até sumirem completamente; deixariam para atrás apenas a vergonha e culpa que dominavam seu ser por completo.

Seus olhos arderam e, quando deu por si, lágrimas rolavam pelas suas bochechas. O que ele havia feito? Foi a bebida? Não, Seungkwan sabia que o álcool era apenas uma desculpa, no fundo, tudo que aconteceu aquela noite foi resultado dos desejos que guardava dentro de si há anos. 

A cabeça de Seungkwan rodava ao se lembrar da noite que passaram juntos, a sensação de prazer estava em uma linha tênue com a culpa, entretanto, o que mais aumentava a sua raiva e humilhação era o acordo que havia feito com Hansol.

"Eu não quero esquecer"

Seungkwan encarou o garoto incrédulo. Qualquer palavra que havia considerado dizer estava entalada em sua garganta o sufocando, seu coração parecia desesperado preso dentro do peito e aos poucos podia sentir suas palmas da mão suar.

"O-O que? Hansol, eu não estou entendendo"

"Eu não quero esquecer, eu quero que a gente faça um acordo" Hansol suspirou e olhou para suas próprias mãos "Não me entenda mal, eu realmente gosto da Yuna e ela é perfeita em tudo pra mim, mas ela e eu nunca... Você sabe"

Oh... Então foi por isso que Hansol passou a noite com ele? Por que ele e Yuna nunca tiveram nada? Seungkwan segurou uma risada amarga no fundo de sua garganta, enfincando as unhas nas palmas das mãos, tentou evitar dizer qualquer uma das coisas ácidas que passavam em sua mente. 

"E o que eu tenho a ver com isso, Hansol?"

"Você é meu melhor amigo, Seungkwan" Ao notar que o garoto lhe encarava sem nada dizer, Hansol continuou "Amigos... Amigos ajudam uns aos outros" 

"Não"

A resposta deixou a boca de Seungkwan de modo brusco, mesmo sendo uma palavra curta, sua força era tanta que reverberava pelas paredes do quarto. O garoto sentia o olhar de Hansol queimá-lo, a sensação lhe causava ânsia e ele sentia que podia desmaiar a qualquer minuto. 

"Não é nada demais e-"

"Nada demais, Hansol?" Seungkwan estava começando a se desesperar, a voz fraca e nervosa "Você está pedindo para que eu te ajude a trair a Yuna!"

"Seungkwan, você é meu amigo, não seria traição" A risada amarga que segurava saiu exagerada pelos lábios de Seungkwan "É só por um tempo, ok? Só até a Yuna estar confortável com esse tipo de coisa"

"Use sua mão, Hansol!" 

"E o que você acha que eu tenho feito nos últimos sete meses?"

O quarto ficou silencioso de repente, a tensão era perceptível e, naquele momento, o mundo inteiro parecia se resumir a presença dos dois. Um turbilhão de coisas corriam pela mente de Seungkwan, um barulho de escolhas e rotas que podia tomar sobre tudo que estava sendo dito, quando tudo que queria era o silêncio absoluto. Hansol parecia sem jeito a sua frente e ㅡ mesmo que seu lábio inferior tremesse levemente ㅡ seus olhos possuíam determinação que divergia do modo como seu corpo estava aparentemente arrependido dos últimos minutos.

Seungkwan respirou fundo, a ideia inteira parecia absurda e completamente errada diante de seus olhos, mesmo que nunca tivesse sido próximo de Yuna, admirava a garota pelo pouco que conhecia. Ela não merecia nada disso. Por outro lado, seu peito ardia. Quantas vezes não desejou Hansol e controlou suas ações pois sabia que ele pertencia a outra pessoa? E agora, aqui estava ele, quase implorando para ter um relacionamento ㅡ mesmo que puramente físico ㅡ com Seungkwan.

Ignorando todos os avisos e alarmes que sua mente insistia em mandar, Seungkwan mordeu de leve o próprio lábio em um gesto nervoso.

"Eu aceito, Hansol"

Já fazia cinco dias desde a noite que havia passado com Hansol, no entanto, nenhum dos dois voltou a tocar no assunto ou mencionar o acordo que haviam selado. Inicialmente, Seungkwan estava com medo de como iria reagir quando encontrasse com Yuna, para sua surpresa, fingir que não havia transado com o namorado dela noites antes não foi tão difícil quanto imaginava. Isto é, se o garoto ignorasse o gosto amargo que dominava sua boca e a sensação de ânsia constante.

O assunto não voltou à tona até o final da semana seguinte, quando Seungkwan estava deitado no chão do quarto de Hansol ignorando o falatório de Soonyoung. Hansol morava no dormitório da faculdade, mas seu companheiro de quarto quase nunca estava presente, sendo assim, era como se não houvesse com quem dividir o local. O espaço era pequeno e ㅡ graças as decorações que Seungkwan havia ajudado o garoto a fazer quando se mudou ㅡ de certa forma aconchegante mas estavam acostumados, o tamanho do quarto era apenas mais um motivo que os obrigava a manter o foco nos estudos.

Eles haviam se reunido ali para estudar ㅡ mesmo que seus cursos não fossem os mesmos, era um hábito que guardavam dos tempos de escola ㅡ porém, Soonyoung estava mais interessado em contar piadas ruins e distrair os outros dois.

"Eu realmente preciso terminar esse texto pra segunda, será que você pode calar a boca, Soonyoung?"

"Me desculpe se um de nós quer tentar fazer os minutos passarem mais rápido, Seungkwan"

"Acredite, a única coisa que você tá fazendo é eles durarem mais" Seungkwan respondeu virando os olhos "Você não tem nada pra fazer não?"

"Olha como você fala comigo, eu sou seu hyung!" 

"Como se isso algum dia tivesse feito diferença" O garoto ouviu Hansol rir de seu lugar na cama, enquanto Soonyoung lhe dava um tapa nos ombros.

"Já que minhas piadas não te interessam, talvez tenha outro assunto que te interesse... Tipo o que você e o Hansol fizeram na última sexta do alívio"

Ao ouvir essas palavras, Seungkwan pode sentir seu corpo congelar na posição que estava. Sua boca rapidamente ficou seca e o coração dentro de seu peito batia tão rápido, que ele não estranharia se os outros dois fossem capazes de ouvir. Os olhos arregalados de Seungkwan, no entanto, pareceram encorajar Soonyoung a continuar a falar.

"Sabe, em seis anos de amizade, eu nunca esperaria que a primeira vez de vocês dois juntos seria assim: bêbados. Inclusive não se preocupe, Hansol, nenhum de nós vai contar pra Yuna, mesmo que eu não concorde"

Hansol começou a tossir e Soonyoung sorriu satisfeito, levantando-se em seguida e juntando suas coisas, o garoto se dirigiu a porta do quarto.

"Acho que vou pra casa mais cedo, não quero atrapalhar os estudos de vocês. Até mais"

Seungkwan observou em silêncio o amigo abrir a porta e ir embora sorrindo, dentro de si um misto de raiva e humilhação por ter sido exposto, porém ele sabia que era a forma ㅡ nada sutil ㅡ de Soonyoung dizer que achava que os dois deviam conversar, mesmo assim, não conseguia esconder o quanto aquilo tudo o afetava.

O quarto, já pequeno, de Hansol pareceu ficar ainda menor. O ar entre eles era denso, cheio de vozes dizendo coisas que Seungkwan preferia ignorar, coisas que sabia que uma hora ou outra eles deveriam falar sobre, mas que eram intensas demais para serem ditas repentinamente.

Sentando-se sem jeito e virando de costas para Hansol, Seungkwan começou a arrumar suas coisas. Não conseguiria estudar e muito menos ficar ali após o que Soonyoung havia dito. Talvez estivesse fugindo ㅡ de certa forma realmente estava ㅡ no entanto, era mais fácil correr e se esconder do que enfrentar seus próprios sentimentos.

Ouviu a cama atrás de si ranger e pode sentir Hansol se aproximar em silêncio, quando uma mão tocou seu ombro, Seungkwan sentiu sua pele queimar ao toque.

"Você não precisa ir embora" A voz de Hansol estava perto demais, Seungkwan era capaz de sentir seu hálito percorrer sua nuca "Nós já conversamos sobre isso, não?"

Um nó se formou no fundo da garganta de Seungkwan, o garoto queria ser capaz de gritar e jogar suas coisas na cara de Hansol, entretanto, se manteve em silêncio. 

Quando sentiu os lábios de Hansol em seu pescoço, o garoto pode observar sua armadura desmoronar em pedaços. A resistência e vergonha que cobriam seu corpo dissipavam-se com tanta naturalidade, que Seungkwan não conseguia evitar a raiva de si mesmo por ser tão fraco aos toques do outro. Aos poucos, seu corpo começou a mover-se sozinho e, quando percebeu, estava em cima de Hansol pressionando seu corpo no colchão.

Sua mente estava em branco quando os lábios de Hansol encontraram os seus, os movimentos que faziam já não eram mais pensados, algo no perfume de Hansol o atraía o suficiente para que esquecesse a culpa. Os corpos dos dois dançavam uma música interna onde quadris misturavam-se junto com mãos e mordidas, dos lábios de ambos, pequenos sons eram emitidos ajudando na composição que construíam e, por um minuto, Seungkwan decidiu esquecer de tudo. Esqueceu de que Yuna era aquela no coração de Hansol, esqueceu que ele era somente um passatempo dispensável e, mais do que tudo isso, esqueceu que estava se atirando de um precipício com um sorriso nos lábios.

~*~

Seungkwan andava apressado pelo campus da faculdade, o relógio em seu pulso indicava que estava dez minutos atrasado para a próxima aula e, mesmo que não suportasse o professor de Teoria da Comunicação, ele não podia ter mais uma falta irresponsável em seu histórico acadêmico. Seus pés tropeçavam sem jeito devido a pressa e nervosismo, mas de certa forma conseguia manter seu equilíbrio, porém, quando um grupo de estudantes correndo passou por ele rindo, Seungkwan foi de encontro ao chão enquanto um palavrão saía de sua boca.

O joelho do garoto ardia e, ao observá-lo, notou que havia rasgado sua calça no cimento do chão. Como se não fosse o suficiente, os livros que carregava haviam caído e alguns agora encontravam-se amassados na borda.

"Adolescentes estúpidos" Xingou pra si mesmo enquanto reunia seus pertences no chão, a disposição para chegar a tempo na aula já completamente esquecida "Certeza que são calouros, a maioria é tão imaturo... Eu devia ir atrás de cada um e fazer eles me pagarem uma calça nova!"

"Bom, eu conheço três deles, quer os nomes?"

Uma voz respondeu despertando Seungkwan de seu monólogo, ao olhar para cima, avistou Yuna sorrindo. A garota logo em seguida se ajoelhou para ajudá-lo a pegar o resto dos livros, logo depois, estendeu uma mão para que o garoto se levantasse com ela.

"Você tá bem? Seu joelho tá sangrando um pouco, Seungkwan, se quiser eu posso te ajudar"

O garoto apenas concordou com a cabeça e deixou ser levado por Yuna até um dos bancos de madeira, sentando logo em seguida e observando a garota ao seu lado. 

Não havia como descrever Yuna sem usar a palavra adorável. Seu cabelo era de um castanho escuro ㅡ assim como seus olhos ㅡ e mal chegava a altura de seus ombros, mas emolduravam seu rosto fino com graça. As mãos ocupadas em abrir um band-aid eram delicadas de dedos longos, Seungkwan tentou evitar mas seu olhar ficou preso em um anel prateado com um coração gravado em seu dedo anular. Ao notar que o garoto matinha atenção fixa no mesmo, a garota sorriu tímida.

"Hansol me deu esse anel quando começamos a namorar, é como uma forma de sempre ter ele por perto"

Seungkwan se forçou a sorrir enquanto Yuna colocava o band-aid em seu machucado, as palavras da garota rodando em sua mente. Dentro de si, uma tempestade havia começado em um misto de ciúmes e culpa, sobretudo raiva das suas próprias escolhas. 

"Pronto" Yuna disse sorrindo "Se você tiver tempo livre, quer ir comigo comer alguma coisa? Eu passei a manhã inteira aqui sozinha já que Hansol não tem aulas hoje, companhia seria ótimo"

'Não, eu quero ir pra minha casa e me enrolar nas cobertas, dormir e acordar em um mundo em que eu não sou o amante do seu namorado' ㅡ Seungkwan pensou, o desespero dominando pouco a pouco seu corpo.

"Tudo bem, eu possivelmente já perdi metade da aula mesmo"

Queria bater em si mesmo, porém não conseguia achar forças em si para negar qualquer coisa a garota. Ela sorria demais (assim como Hansol) e fazia gestos exagerados ao falar, entretanto, algo em sua personalidade era cativante o suficiente para que Seungkwan realmente a seguisse pelo campus. Quando chegaram a uma lanchonete, sentaram em uma das mesas a janela para aproveitar os raios de Sol que indicavam o final da tarde.

Seungkwan nunca havia passado tanto tempo com Yuna antes, muito menos a sós, mas achava irônico que isso estava acontecendo logo agora, que ele havia iniciado seu relacionamento com Hansol, desesperando-se aos poucos pensando que de alguma forma a garota tivesse descoberto tudo, tentava se distrair com piadas repetidas. Era estranho, porém, como realmente estava se divertindo com Yuna. 

A sensação só lhe trouxe mais raiva da nojeira que havia concordado em participar.

Mais tarde, quando Hansol descansava nu ao seu lado na cama, o garoto encarava o escuro do teto em silêncio. Ele havia concordado com tudo isso, mas o sentimento de culpa parecia nunca ir embora, apenas o enforcando mais e mais. Seus pensamentos não eram mais homogêneos, uma sequência lógica que devia ser seguida sem discussões e sim uma gritaria, sentia-se perdido em um mundo torto que construía com vigor e que, no final, desmoronaria em sua cabeça.

"Você passou a tarde com a Yuna hoje, Seungkwan?" 

Seungkwan voltou-se para o garoto ao seu lado, antes que pudesse responder, Hansol continuou.

"Ela me mandou mensagem dizendo que você era uma ótima companhia, fico feliz que vocês tenham se dado bem, ela não tem tantos amigos homens" 

O estômago de Seungkwan estava dando voltas, podia sentir uma âncora o puxando para baixo em um oceano de arrependimento. Será que Yuna ainda o acharia boa companhia se soubesse as coisas que ele e Hansol faziam? Certeza que não. 

"Hansol, será que a gente pode não falar dela? Pelo menos não agora, não com você na minha cama"

Hansol arqueou uma sobrancelha mas assentiu de leve, deixando o silêncio preencher o vazio do quarto. Aos poucos, enrolou os braços na cintura de Seungkwan e, quando o trouxe pra perto, o garoto permitiu que fosse levantado e colocado em seu colo.

"Ok, então vamos falar sobre você" Hansol ergueu uma de suas mãos e acariciou a bochecha de Seungkwan, que se inclinou ao toque "Como foi seu dia?"

"Péssimo" 

"Hmm... Eu posso tentar melhorar isso"  O garoto respondeu sorrindo.

A mão de Hansol que não estava no rosto de Seungkwan acariciava sua coxa com movimentos leves, aos poucos o calor do toque expandiu-se pela pele do garoto e, quando percebeu, ele já começava a se movimentar no colo de Hansol aos poucos, como uma provocação ao outro.

Quando olhou para baixo e seus olhos se encontraram, Seungkwan podia jurar que sentiu um arrepio elétrico percorrer sua espinha. Abaixando para encontrar os lábios de Hansol com os seus, ignorou o machucado em seu joelho latejando o lembrando dos cuidados carinhosos de Yuna.

A culpa ainda existia, mas a parte de si que não se importava mais por enquanto ganhava.