I hope that you see me,
Cause I'm staring at you,
But when you look over,
You look right through,
Then you lean and kiss her on the head,
And I never felt so alive, and so.. dead
“Levanta, você vai sair comigo hoje”
A fala fez Seungkwan receber uma expressão confusa em resposta, Seokmin estava deitado na cama com cara sonolenta e o cabelo bagunçado. Ao seu lado, uma massa de fios castanhos ㅡ que Seungkwan julgava ser Soonyoung ㅡ remexeu-se tentando esconder o rosto nas cobertas. Nenhum dos dois amigos fez qualquer movimento que indicava que levantariam dali.
“Vamos, levantem!” Gritou Seungkwan batendo palmas, caminhando até a janela do quarto para puxar as cortinas.
A luz invadiu o ambiente e Seokmin, que estava com o rosto desprotegido, grunhiu antes de esconder os olhos nos ombros de Soonyoung. A visão seria até adorável caso não estivesse sem paciência, o modo como ambos estavam abraçados de forma torta amontoados nos braços um do outro,e a coberta azul vivo de Seokmin os escondendo do resto do mundo. Seungkwan tinha quase certeza que, por baixo dali, as pernas de ambos estavam encaixadas e tentou ignorar o aperto de solidão que prendia seu peito.
“Meu Deus, Seungkwan, o que você quer!?”
Seungkwan fez um som ofendido, as mãos dramaticamente em seu peito “Eu apenas quero passar um dia com os meus amigos, sou uma pessoa ruim por isso?”
Saindo de seu esconderijo nos ombros de Soonyoung, Seokmin olhou para o amigo e sentou-se na cama, de modo que a coberta caísse e expusesse seu peito nu. O garoto parecia acordar aos poucos, esfregando os olhos e os cobrindo com óculos de armação grossa em seguida.
“Para onde você quer ir?”
A voz de Seokmin era rouca devido ao sono, mas não soava menos gentil por isso, o que fez Seungkwan sorrir.
“Preciso de roupas novas”
Um grunhido indignado saiu debaixo das cobertas, logo, Soonyoung com o cabelo completamente amassado e bagunçado o encarou mal humorado.
“Você acordou a gente porque precisa comprar roupa?”
Seungkwan cruzou os braços e sentou preguiçosamente na cadeira junto a escrivaninha de Seokmin, virando os olhos, suspirou. Possivelmente os amigos teriam ouvido a briga que tivera com Hansol na noite anterior, porém, era muito cedo para mencioná-la agora. Não queria pensar em Hansol, muito menos já estressar sua mente com as coisas que foram ditas entre eles, mas sabia o que precisava dizer no momento.
“Eu tenho um encontro, bom, quase isso pelo menos"
O garoto observou seus amigos trocarem olhares antes de se voltar a ele, ambos claramente curiosos e com um sorriso malicioso nos lábios.
“Não me olhem assim, não é nada demais” Começou a dizer Seungkwan desviando o olhar para a janela “Eu só vou com Mingyu para a festa de sábado”
“Sabia! Rá, você me deve vinte pratas, Seokmin!”
“Hm, do que vocês estão falando?”
Soonyoung o olhava com a expressão vitoriosa, enquanto Seokmin suspirou antes de cair na cama de novo.
“Nós apostamos e eu ganhei”
“Isso eu percebi" Retorquiu Seungkwan “Mas apostaram sobre a minha vida amorosa?”
“Caso você não tenha notado, ela é bem movimentada”
A incredulidade que Seungkwan sentia possivelmente estava expressada em seu rosto, pois logo Soonyoung tentou desviar o foco da atenção e não falar mais sobre a aposta ridícula que fizeram.
“Então, por isso as roupas novas?”
“Eu vou deixar essa passar porque já estou com coisa suficiente na cabeça” Respondeu Seungkwan, recebendo em troca um 'obrigado’ silencioso de Seokmin “E, sim, é por isso. Acham que conseguem ficar prontos em quinze minutos?”
“Fico pronto até mesmo em cinco”
Ao contrário de sua resposta, Soonyoung levou cerca de uma hora para se arrumar e, quando chegaram ao shopping, já era quase almoço. O lugar estava consideravelmente lotado para um dia de semana, Seungkwan não tinha aulas no dia ㅡ Soonyoung estava faltando, enquanto Seokmin encontrava-se em uma situação semelhante a de Seungkwan ㅡ mas não esperava que fosse encontrar o ambiente tão cheio.
“Isso parece o inferno, tem certeza que você dirigiu em direção ao shopping, Seokmin?”
“Absoluta, eu usei o GPS!” Seokmin respondeu parecendo extremamente orgulhoso do uso de tal tecnologia.
Revirando os olhos, Seungkwan guiou os amigos no meio da multidão. Não tinha certeza do que procurava, porém andava com certeza suficiente para enganar os outros dois. Na realidade, Seungkwan já começava a sentir o arrependimento formigar em sua pele, queria desabar nos amigos sobre Hansol mas sabia o que ouviria e, pior que isso, tinha consciência que eles estariam certos. Não deveria ter espaço em Seungkwan para todo o arrependimento ou segundas ideias sobre suas ações, precisava tentar sair do ciclo de dependência que havia iniciado com Hansol. Mingyu talvez fosse uma solução.
Haviam vasculhado quatro lojas diferentes quando Seungkwan, finalmente, pareceu encontrar algo que julgava ideal. Soonyoung fez questão de o empurrar para o provador mais próximo, era a primeira vez que não brigavam pela sua demora nas compras (o que o garoto julgava ter algo relacionado com a aposta que os amigos fizeram).
Quando deixou o provador vestindo a calça jeans escura e a camisa de botões vermelha, Seungkwan foi recepcionado por aplausos e assobios que chamaram a atenção de pessoas ao redor. O garoto não ligou, pelo contrário, deu uma voltinha e desfilou no espaço entre os provadores e o sofá que os outros dois estavam sentados.
“Então, estou maravilhoso?” Perguntou Seungkwan parando com uma mão na cintura.
“A calça realça sua bunda” Respondeu Soonyoung com uma piscadela, enquanto Seokmin fazia um jóia com os dedos.
Rindo, Seungkwan foi até o espelho. Observou seu reflexo em choque com as olheiras embaixo dos seus olhos, seu cabelo já estava desbotado e pedindo por uma nova tintura, mas sentia-se bem. Gostava do que via ali e esperava que Mingyu não se arrependesse de tê-lo chamado para sair.
“Sabe, estou… Ou, melhor dizendo, estamos orgulhosos de você, Seungkwanie” Disse Soonyoung em algum atrás de si.
O seu reflexo no espelho sorriu e Seungkwan percebeu que ele também sentia-se orgulhoso.
~*~
O resto do dia passou como um flash diante de seus olhos. Em um minuto estava comendo pizza e discutindo sobre a temporada de American Next Top Model com Soonyoung, no outro recebia uma mensagem de Mingyu avisando que o buscaria às oito.
Havia uma sensação eufórica em seu estômago que possivelmente o engoliria em minutos. Seungkwan sabia que o álcool abaixaria seu desespero mas não queria encontrar Mingyu já bêbado, aquilo seria um modo de decepcionar a si mesmo. Por isso mesmo distraiu sua mente com música, enquanto tomava banho deixou que sua ansiedade fosse substituída por animação. Gostava de festas e prometeu se divertir naquela.
Vestiu a roupa que havia comprado como quem prepara-se para ir a guerra. O tecido da camisa vermelha lhe envolveu de forma macia e, com medo do vento frio, escolheu uma jaqueta escura como a calça para colocar. Sentia-se bem consigo mesmo ao ver seu reflexo no espelho, com ou sem Hansol, aquela noite seria para o seu próprio proveito. Não queria pensar no amigo e, caso se encontrassem na festa, esperava que tivesse a decência de não lhe dizer besteiras.
Uma mensagem de Mingyu no seu celular fez Seungkwan sorrir, sim, iria aproveitar o máximo possível aquela noite.
~*~
“Achei que a temática era filmes de terror?” Disse Seungkwan apontando para a roupa de Mingyu.
“Pode até ser, mas eu não queria que a sua noite fosse igual a um” Respondeu o garoto dando de ombros.
Seungkwan sorriu antes de entrar no carro do outro. A verdade é que Mingyu estava simples, a camisa branca que usava contrastava com o dourado de sua pele e o jeans escuro adornava perfeitamente o contorno de suas pernas. Ele podia se perder observando o quão belo o garoto era, às vezes, Seungkwan pensava o porque dele se interessar por si.
O caminho até a república onde seria a festa não era longo e, entre conversas banais e algumas risadas, não demorou muito para que Mingyu chegasse ao destino e achasse um lugar para estacionar.
A música era alta até mesmo fora da casa e dominava completamente seus arredores, fazendo com que as batidas de um pop do momento fossem ouvidas independente da distância. Uma das primeiras coisas que Seungkwan notou ao se aproximar do local, foi que a temática de terror havia sido levada a sério. A grama verde ao redor da casa estava infestada de insetos de plástico ㅡ a maioria deles, no entanto, já estava sujo de bebida ㅡ, e uma teia falsa de aranha cobria a entrada da casa por inteiro.
Assim que adentraram a casa, Mingyu fez questão de entrelaçar seus dedos com os de Seungkwan, oferecendo apenas um sorriso quando o garoto o olhou surpreso. Havia pessoas em excesso por metro quadrado, grupos diversos conversavam espalhados rindo e balançando seus copos de plástico. Ali dentro posters de filmes de terror lotavam as paredes, enquanto máscaras de personagens clássicos do gênero ㅡ como Jason e Pânico ㅡ estavam penduradas pelos cantos.
O ambiente inteiro estava mal iluminado e o que assemelhava-se a velas falsas espalhavam o pouco de luz, fazendo com que enxergar algumas coisas exigisse certa concentração.
“Eu vou tropeçar daqui a pouco” Reclamou Seungkwan baixinho para Mingyu, que apenas riu e ergueu a mão que segurava a do garoto.
Enquanto atravessavam a sala de estar ㅡ ou, pelo menos, era isso que Seungkwan julgava ser ㅡ ambos seguiam em direção a música, onde possivelmente estava uma área para dançar. O caminho era difícil de ser executado, no pequeno corredor alguns casais usavam a parede como cama vertical, enquanto algumas pessoas bêbadas atrapalhavam o percurso dos dois.
Quando, finalmente, chegaram ao foco da música, Seungkwan sorriu. Aquela possivelmente era uma outra sala, mas não havia móvel nenhum ali, apenas um som com caixas potentes o suficiente para fazer a música ser ouvida pelo quarteirão inteiro. Ali a iluminação era diferente, tudo estava escuro, porém havia luzes negras espalhadas pelas paredes o que causava um efeito particularmente interessantes no cômodo. A pista de dança improvisada era abarrotada de pessoas, e Seungkwan pode reconhecer as batidas de Drunk In Love preenchendo o local.
“Quer pegar algo para tomar primeiro?”
Mingyu sussurrou no seu ouvido, as mãos já estabelecidas em sua cintura. A proximidade fez o garoto tremer, um arrepio percorrendo seu corpo.
“Você por acaso é do tipo que bebe e dirige, Kim Mingyu?”
“Definitivamente não, Boo Seungkwan” Respondeu rindo “Mas eu sou do tipo que tenta agradar”
Sorrindo, Seungkwan fitou Mingyu por um tempo antes de deixar um beijo de leve em seus lábios. A ação pareceu surpreender o garoto, mas antes que dissesse algo, Seungkwan já falava.
“Pode me trazer qualquer coisa, não faço questão de beber”
Com uma piscadela, Mingyu afastou-se do garoto e desapareceu entre a multidão, provavelmente indo procurar a cozinha. Estando sozinho, Seungkwan permitiu que um suspiro escapasse de seus lábios, havia uma espécie de ansiedade em seu peito que não sabia explicar. Estava feliz por estar ali com Mingyu, sabia que sim, entretanto a sensação de que as coisas pareciam fora de lugar não o abandonava.
Braços envolvendo os ombros de Seungkwan em um abraço o despertaram de seus devaneios, no entanto, quando virou preparado para brigar com a pessoa, o garoto sorriu.
“Você, veio!” Junhui falou, as palavras levemente pesadas e o hálito de vodca dominando o ar entre eles “Cadê o resto?”
Entendendo o “resto" como Soonyoung, Seokmin e Hansol, o garoto riu.
“Não sei, eu cheguei agora com outra pessoa”
Seungkwan observou enquanto Junhui erguia as sobrancelhas, então lembrou-se que o amigo nada sabia do seu envolvimento com Mingyu, para ele, o garoto ainda era um obstáculo entre ele e Wonwoo. Aquela era a o oportunidade perfeita para tirar a ideia da cabeça do outro e, talvez, dar um empurrãozinho nos dois amigos.
“Escuta, Jun, eu vim pra cá com o Mingyu”
Na mesma hora Junhui tirou o braço que envolvia os ombros de Seungkwan, franzindo o cenho e comprimindo os olhos como se analisá-lo exigisse esforço.
“Mingyu? O cara que você viu praticamente babar em cima do Wonwoo na biblioteca?”
“Você entendeu tudo errado, Jun, os dois são só amigos e-”
“Seungkwan” A voz de Junhui era firme e brigava com o volume da música que tocava “Há quanto tempo você está com esse cara?”
“Não muito, umas duas semanas?”
Seungkwan viu o rosto de Junhui passar por surpresa e depois irritação, o garoto não conseguia entender o motivo para tal reação, ele não deveria ficar feliz que Wonwoo não estava com ninguém? Antes que qualquer um dos dois dissesse algo, Mingyu apareceu sorridente carregando dois copos de plástico.
“Um refrigerante sem álcool para mim” Falou o garoto erguendo um copo, oferecendo em seguida outro para Seungkwan “E uma batida que duas meninas na cozinha insistiram que eu trouxesse"
Agradecendo sem graça, Seungkwan manteve seu olhar fixo no de Junhui. O amigo, no entanto, deu de ombros e ㅡ roubando o copo de Seungkwan ㅡ foi embora, deixando que a multidão de pessoas o levasse para longe.
“Ah! Agora eu vou precisar pegar outro copo” Mingyu disse, cruzando os braços rente ao peito “Aquele não era um amigo do Wonwoo-hyung?”
“Ex-namorado, melhor amigo com relacionamento mal resolvido… Você escolhe o nome"
Aquilo pareceu calar Mingyu e, antes que mais perguntas surgissem, Seungkwan apressou-se para o arrastar até a pista de dança. Havia muitas coisas que o garoto não compreendia, assim como ele e Hansol estavam entrelaçados em suas mentiras, parecia que não eram os únicos. Naquela noite, porém, queria os problemas longe de si e abandonados em um lugar bem longe de sua mente.
~*~
Quando o vento gelado atingiu seu rosto, Seungkwan sorriu em resposta, depois de tanto dançar seu corpo estava quente, as roupas que usava pareciam pesadas demais para o calor que sentia. Sendo assim, ele e Mingyu decidiram sair um pouco da casa, indo até o quintal do lugar. Ali fora o som da música ainda era alto, entretanto, ele misturava-se com os ruidos de uma piscina ㅡ que, por incrível que fosse, não estava lotada de pessoas.
“Aqueles não são seus amigos?” Questionou Mingyu apontando para um canto do jardim.
Seguindo o olhar de Mingyu, Seungkwan encontrou na mesma hora o rosto de Hansol, odiando como algo pareceu se remexer dentro de si. O garoto estava sentado na grama verde, rindo de corpo todo de algo que Seokmin havia dito. O cabelo estava arrumado de forma que deixasse sua testa a mostra, e a camisa branca que usava estava coberta por uma blusa xadrez cinza. Hansol parecia tão tranquilo, tão ele mesmo que parte de Seungkwan queria se manter afastada do grupo para não modificar aquilo.
Entretanto, Yuna ㅡ que estava sentada entre as pernas de Hansol ㅡ viu o garoto antes que tivesse tempo de dizer a Mingyu para irem embora.
“Seungkwan! Aqui!”
Forçando um sorriso e respirando fundo, o garoto foi até o grupo puxando Mingyu consigo. Quando chegou ali, viu sorrisos maliciosos idênticos nos rostos de Seokmin e Soonyoung, mas os ignorou concentrando-se no semblante alegre de Yuna.
“Senta com a gente!” Disse a garota gesticulando para que os outros abrissem espaço “Ainda não conheço o seu amigo"
A palavra 'amigo’ havia sido dita carregada de malícia incomum para Yuna, entretanto, Seungkwan sabia no que ela pensava e não poderia repreendê-la, não quando era verdade.
Conseguia sentir todos o olhando com curiosidade, com exceção de Hansol. Este parecia entretido com a grama, e os braços que envolviam Yuna mal ofereceram resistência quando a garota saiu do seu aperto, sentando-se ao seu lado em seguida. Assim como havia previsto, o sorriso de Hansol morreu no momento em que Seungkwan aproximou-se do grupo com Mingyu ao seu lado, entretanto, ninguém além dele parecia incomodado.
Com uma troca rápida de olhares com Soonyoung, o garoto percebeu que ele havia notado a aparente distração de Hansol, e ao mesmo tempo que ele sorria para Seungkwan, uma leve centelha de preocupação era aparente em seus olhos.
“Este é Mingyu, meu…”
Sem terminar a frase, Seungkwan congelou. O que era Mingyu para ele? Chamá-lo de amigo parecia errado, principalmente depois de como o garoto agia com ele, mas então eram o que? A realização de que, talvez, seu relacionamento com Mingyu estivesse ultrapassando as rédeas de controle aterrorizou Seungkwan, não queria envolver-se demais e brincar com os sentimentos do garoto quando ele próprio não sentia o mesmo.
“Amigo” Respondeu Mingyu por fim, sorrindo ao acrescentar: “Por enquanto”
Engolindo o seco e juntando-se ao grupo no chão, Seungkwan pode sentir suas pernas tremerem. Não tinha a menor ideia do que estava fazendo, não mais. As coisas pareciam lentamente tomar uma direção que não sabia se estava pronto para seguir, a sensação de falta de controle novamente o atormentava. Não era aquilo que queria.
Como sempre, Seokmin e Soonyoung notaram a tensão que envolvia Seungkwan e o incômodo de Hansol, e como um bote salva-vidas vieram ao resgate dos dois com piadas. Ambos conseguiram distrair a atmosfera nada leve do grupo, e se alguém notou que aquele foi um ato proposital, ninguém o disse.
Não sabia muito o que dizer ou como participar da conversa, então Seungkwan preferiu o silêncio ㅡ pela primeira vez na vida ㅡ forçando um sorriso enquanto os amigos questionavam Mingyu. O garoto parecia divertir-se com a situação, respondendo alegremente todas as perguntas e engajando-se em qualquer assunto que surgia.
Se não estivesse sentado exatamente entre Hansol e Mingyu, Seungkwan possuía absoluta certeza que estaria se divertindo mais.
Ao seu lado esquerdo, Hansol era uma estátua de mármore com olhos pensativos focados no nada. Um de seus dedos estavam entretidos em agarrar a grama, quase em uma ação involuntária de tão longe que o garoto estava. Ele tampouco participava da conversa do grupo e, nas vezes que alguém dirigia-se a ele, oferecia um sorriso sem graça que não iluminava seus olhos. Da mesma forma que Seungkwan evitava o olhar pelo cantos dos olhos, Hansol fingia que o amigo não estava ao seu lado.
“Vocês falaram com o Jun?” Questionou Seungkwan, interrompendo um assunto sobre raças de cachorro entre Mingyu e Seokmin.
“Bom… Falar não seria a palavra certa, talvez 'ver’” Respondeu Soonyoung trocando olhares com Seokmin.
Quando notaram que Seungkwan os encarava confuso, Seokmin tomou a frente para respondê-lo.
“Ele e Wonwoo estão em um dos quartos do segundo andar, nós vimos os dois entrando enquanto procurávamos um banheiro”
O garoto não conseguiu segurar o próprio choque, definitivamente não esperava por aquilo. Qual era o problema entre os dois? Seungkwan simplesmente não conseguia juntar as peças daquele quebra-cabeça, mas sabia que ㅡ caso aquilo não fosse uma junção definitiva ㅡ estaria em breve com Junhui chorando em seu ombro novamente.
“Aqueles dois deveriam parar com isso” Disse Hansol de repente, chamando para si a atenção do grupo “Será que Wonwoo não consegue ver o quanto machuca o Jun?”
Antes que pudesse refrear, uma risada amarga deixou a garganta de Seungkwan, dissipando-se no ar de forma estática e atingindo todos no processo. Olhando para Hansol, viu que o amigo não transparecia qualquer tipo de emoção no rosto, apenas o encarava vazio.
“Realmente, Hansol, você entende muito sobre não magoar os outros”
O garoto arregalou os olhos momentaneamente, deixando depois que a surpresa fosse substituída por algo indecifrável.
“Eu entendo que as pessoas sabem no que estão se metendo quando concordam com alguma coisa. No caso, nenhum dos dois conversaram e combinaram algo para fazer”
“Você não acha que é egoísta pensar assim? Que mesmo concordando com algo, as pessoas podem mudar de ideia?”
“Você mudaria?” Indagou Hansol com a voz mais baixa do que antes.
Só então que Seungkwan lembrou-se de onde estava e notou que os outros quatro encaravam ele e Hansol, os olhares confusos ㅡ exceto por Seokmin e Soonyoung ㅡ possivelmente renderiam em perguntas. Ambos precisavam parar com aquilo.
“No lugar do Jun, eu possivelmente não saberia mais o que fazer” Respondeu por fim “Acho que, quando se gosta de alguém, as pessoas fazem coisas burras”
Aquilo pareceu surpreender Hansol, seus olhos momentaneamente brilhando em confusão. Seungkwan observou então o garoto levar seu olhar até Mingyu, sentado ao seu lado tão perdido quanto Yuna na conversa, silenciosamente, Hansol assentiu.
“Talvez Wonwoo-hyung ainda não tenha percebido que Jun gosta dele”
O ar de repente pareceu sumir dos pulmões de Seungkwan, de alguma forma, já não tinha mais tanta certeza que discutiam sobre seus hyung. Desejou que estivessem em outra situação, ou que não sentisse tanta mágoa de seu melhor amigo. Sabia que as coisas entre si e Hansol não estavam resolvidas, porém, as peças pareciam expostas diante de si esperando que as montasse. Até agora, tudo que Seungkwan fora capaz de fazer foi errar as combinações de encaixe, talvez ele pudesse…
“Vocês dois estão intensos hoje” Disse Yuna rindo “Mas eu concordo que a situação entre os dois é complicada, até triste de ver”
O pronunciamento de Yuna fez com que Seungkwan lembrasse da realidade. Não havia um talvez, apenas o concreto e o atual. A realidade era que Hansol já tinha alguém, e que foi egoísta o suficiente para usar o melhor amigo por questões ridículas. Ações ambíguas e palpites não o fariam sentir menos sozinho, mas Mingyu sim.
“Eu concordo com você, Yuna, estamos muito sérios” Começou a dizer Seungkwan levantando-se e limpando os jeans que usava “E isso é uma festa, estou sóbrio e quero dançar"
A garota riu e, quando Seungkwan a ofereceu uma mão, levantou-se com ele.
“Finalmente alguém com juízo entre nós!”
Girando Yuna com a mão que estava entrelaçada com a dela, ambos riram e começaram a andar. Virando-se por cima do ombro, Seungkwan gritou:
“Vocês vão ficar aí assim ou vão entrar?”
Os outros quatro não demoraram muito para acompanhá-lo casa a dentro, sem qualquer pausa, Seungkwan os guiou até a sala com a pista de dança improvisada, rindo quando Yuna o puxou para dançar. A garota balançava a cabeça ao som de uma música agitada que não conhecia, e Seungkwan a acompanhava sentindo-se leve no meio do barulho.
Foi entre risadas e movimentos de dança com Yuna que Seungkwan sentiu Mingyu se aproximar, envolvendo sua cintura com as mãos. A garota o olhou achando graça e levantou uma sobrancelha sugestiva em sua direção, fazendo Seungkwan sentir as bochechas corarem.
“A próxima eu danço com você, ok?” Sussurrou para Mingyu, que o respondeu com um sorriso antes de afastar-se.
Assim que ele se foi, Yuna puxou Seungkwan para perto.
“Então é esse o responsável por…?”
“Sim, foi ele” Seungkwan respondeu dando de ombros.
“Eu gostei dele, Seungkwan, espero que ele seja bom com você"
'Eu espero que eu seja bom com ele, Yuna’ ㅡ pensou o garoto em silêncio, oferecendo apenas um sorriso. Quando a música que dançavam acabou, ambos viram seus amigos em um canto da sala mais afastado, segurando copos plásticos.
“Seu favorito" Disse Hansol oferecendo um copo para Yuna, que aceitou sorrindo.
“Eu não disse que queria alguma coisa, Han”
“Eu sei” Respondeu o garoto dando de ombros “Mas também sei que dançar dá sede”
Um gosto amargo inundou a boca de Seungkwan enquanto ele assistia a interação entre os dois, havia certos limites que seu corpo aguentava e outros que simplesmente lhe causavam ânsia. Quando Hansol abaixou-se para beijar Yuna e, em seguida, olhou diretamente para seus olhos, um 'click’ aconteceu na mente do garoto.
Era proposital.
Hansol estava propositalmente agindo assim como se quisesse provar algo para Seungkwan, ou talvez para si mesmo. Nada fazia o menor sentido para ele, apenas que uma chama acendeu dentro de si e a vontade de virar o copo de Hansol em sua camisa branca era enorme.
De repente, aquele ambiente inteiro lhe pareceu um jogo em que Seungkwan movia suas peças de todas as formas erradas. A sensação que tomava seu ser era de raiva, mas também o orgulho que queimava sua pele por ter sido ferido. Puxando Mingyu pelo braço, gesticulou para que o garoto fosse para a pista de dança e, com um último olhar fuzilante para Hansol, o acompanhou.
Quando se aproximou de Mingyu, Seungkwan conseguia sentir o olhar de Hansol queimando suas costas, o incentivando a continuar. Colocou uma de suas mãos no braço quente e exposto do garoto, acompanhado de um de seus sorrisos provocantes, ele sabia que havia conseguido o efeito que queria.
Mingyu mexeu-se inquieto, os olhos fixos em Seungkwan enquanto sorria sem graça, visivelmente nervoso com a situação. Do outro lado do cômodo, Seungkwan podia ver Hansol apertando o copo em sua mão com mais força que o necessário; olhos brilhando em um misto de raiva e algo mais que não conseguia decifrar. A sensação era boa, sentia-se triunfante com aquela pequena reação.
Pensando em fazer Hansol provar um terço dos sentimentos que sentia, Seungkwan enroscou suas mãos na nuca de Mingyu e trouxe o garoto para um beijo. Ao sentir os lábios quentes de Mingyu nos seus, fixou seus olhos nos do garoto que o observava a distância, dividido entre entregar-se ao momento e continuar com seu plano original.
Enquanto moviam-se juntos, Seungkwan esqueceu da música que tocava ao redor e das pessoas que dançavam ali. Era quente ter as mãos de Mingyu agarrando seu quadril, os lábios macios junto aos seus misturando o gosto das bebidas que tiveram mais cedo. Os dedos de Seungkwan enroscavam-se nos fios negros do cabelo do outro, controlando a intensidade dos beijos, mas sem evitar que Mingyu tivesse acesso para qualquer área de seu corpo que desejasse.
Quando quebraram o beijo, ambos se olharam. Seungkwan sabia que Hansol o observava, conseguia sentir o garoto acompanhando cada mínimo movimento que fazia. O conhecimento lhe dava uma sensação estranha e curiosa, seu orgulho recobrado em contraste com o peso de seus sentimentos por saber que aquela noite terminaria com Hansol nos braços de Yuna.
“Vamos embora daqui, Mingyu”
O garoto de pupilas dilatadas não precisou que Seungkwan o dissesse duas vezes antes de abrir caminho entre as pessoas.
~*~
Entraram no apartamento de Mingyu aos tropeços, lábios selados e mãos percorrendo qualquer parte exposta. Quando as costas de Seungkwan atingiram o sofá o fazendo cair, o garoto riu dos beijos de Mingyu em seu pescoço, suas mãos apertando o contorno de seus braços.
“Você tem alguma coisa, Mingyu?”
“Você quer fumar de novo, Seungkwan?” Perguntou Mingyu sem afastar seu rosto do pescoço do garoto.
“Eu estava pensando em bebida, mas aceito qualquer coisa que você tenha”
Mingyu riu e finalmente encarou o garoto por alguns segundos, como se considerasse as opções disponíveis.
“Eu acho que tenho algumas cervejas na geladeira, mas também tenho maconha se você quiser”
Seungkwan inclinou-se para sentar, de modo que Mingyu estivesse praticamente em seu colo agora. Sorrindo, beijou-lhe novamente antes de responder.
“O que você quiser”
No fim, ambos optaram por fumar enquanto dividiam as latas de cerveja que Mingyu tinha. Entre risos e beijos, Seungkwan quase conseguia esquecer o desastre e perguntas que assolavam seus sentimentos, não queria lidar com aquela confusão dentro de si e estar com Mingyu era fácil. Quando os beijos entre eles começaram a progredir, desta vez, Seungkwan não sentia vontade alguma em parar o que acontecia. Deixando assim que, entre beijos urgentes, fosse guiado até a cama de Mingyu.
A cabeça de Seungkwan estava leve assim como seu corpo sensível, a droga fazia cada toque da boca de Mingyu em seu corpo muito maior, como pequenas explosões que arrepiavam sua nuca. As roupas não demoraram para serem descartadas no chão, logo, os dois eram apenas dois corpos se movendo através do desejo.
Fechou os olhos ao sentir Mingyu penetrando dentro de si, sua cabeça girava devido ao álcool que tomaram horas antes, seu corpo tremeu ao sentir os toques firmes dos dedos do garoto em seu quadril. As mãos de Mingyu eram ásperas, diferentes da maciez que estava acostumado. O corpo dos dois se encaixavam como peças quebradas de um brinquedo de montar, errado e doloroso.
A pele de Mingyu era quente contra a sua e, quando o garoto começou a mover-se, Seungkwan pode sentir um misto de sensações dentro de si. O prazer de estar se sentindo completo por outro alguém fez seus dedos enroscarem-se entre os lençóis e ㅡ quando Mingyu encontrou o ponto de nervos dentro de si ㅡ arqueou as costas da cama, torcendo os dedos do pé em meio a gemidos urgentes.
Mingyu pareceu entender e concentrou-se em continuar seus movimentos no mesmo ângulo, fazendo o prazer de Seungkwan aumentar as voltas que sua mente dava. Eram dois corpos suados movendo-se na cama e, mesmo que estivesse com alguém maravilhoso como Mingyu, Seungkwan lembrava dos toques de Hansol. Seu corpo, tão acostumado com o outro, possuía a memória do amigo em todos os cantos. A pele de Seungkwan queimava pedindo por alguém que não era Mingyu.
Quando abriu os olhos, não era mais Mingyu com o cabelo negro colado a testa de suor, mas Hansol e seus olhos brilhantes. A mão que tomou seu membro latejante e esquecido era de Hansol, Seungkwan podia vê-lo ali sorrindo de lado com olhos brilhando de malícia. Um arrepio percorreu sua espinha com a imagem que sua memória lhe trouxe, ao longe, uma voz estranha lhe dizia coisas que não identificava.
Seus ouvidos apenas ouviam a voz rouca de Hansol lhe dizendo elogios, uma cascata de frases sobre como ele amava ter Seungkwan para si.
Os movimentos de Hansol/Mingyu se tornaram descompassados, em um ritmo frenético que a mão no pênis de Seungkwan não acompanhava mais. O prazer fazia a visão de Seungkwan turva, seus arredores já não tinham importância alguma e o corpo acima do seu era uma lembrança substituindo o real.
Erguendo uma das mãos, tomou o pescoço do garoto acima de si, o puxando para um beijo torto. Quando sentiu seu orgasmo, um nome deixou seus lábios.
"Hansol”
Assim que Seungkwan acordou e permitiu-se abrir os olhos, uma dor lascinante pulsou em sua cabeça, de forma que o garoto ocupou-se em fechar os olhos rapidamente. Tudo parecia doer em si, seu corpo lhe dava a sensação de ser mil vezes mais pesado do que realmente era, o que apenas fazia a ação de levantar da cama algo quase impossível.
Com demasiado esforço e gemidos de dor, o garoto conseguiu virar-se na cama para longe do foco de luz, abrindo os olhos com cuidado. Mesmo lembrando da noite passada, encontrar Mingyu ao seu lado foi como receber um choque, a realidade do que haviam feito evidenciada pela falta de roupas. Era uma sensação estranha ter o garoto ali, Seungkwan não sabia ao certo até que ponto havia agido corretamente por ter deixado as coisas irem longe demais.
Não sentia-se arrependido por ficar com Mingyu, pelo contrário, algo parecido com orgulho inflava seu peito ao pensar no fato. Entretanto, ele não podia fingir para si mesmo o que havia acontecido. Seungkwan tinha consciência completa de quem sua imaginação o fez pensar, e quem sou corpo pareceu gritar para tocá-lo.
A sensação de ter usado Mingyu, assim como Hansol o usara, fez seu estômago dar voltas nada relacionadas com o álcool da noite anterior.
Não conseguiria ficar ali por muito mais tempo, e mesmo sabendo que soaria como um babaca, Seungkwan deixou o conforto da cama. Achando um papel e caneta abandonados, escreveu uma rápida mensagem para Mingyu, inventando uma desculpa qualquer que soasse convincente o suficiente.
~*~
O som incessante de uma campainha fez a cabeça de Seungkwan rodar, o barulho incômodo não ajudava em nada sua dor e ressaca, porém a pessoa que insistia em ser atendida não parecia ligar. Engolindo sua aspirina ㅡ e depositando o copo com mais força do que o necessário na pia ㅡ, o garoto dirigiu-se até ao foco do som.
Ao abrir a porta com um nervoso 'espera, caramba!’, Seungkwan congelou ao notar quem estava ali. Parado na porta mexendo os pés sem parar e com olhos baixos, estava Hansol. O cabelo do garoto estava bagunçado e coberto por uma touca, usava um moletom escuro consideravelmente maior do que seu próprio número, e de certa forma ele parecia completamente perdido ali. Quando seu olhar encontrou o de Seungkwan não havia brilho algum nele, muito menos um sorriso nos seus lábios. Hansol assemelhava-se a uma criança que foi pega pelos pais fazendo algo de errado.
Talvez, em outro dia, Seungkwan teria paciência para lidar com ele. Contudo o garoto já havia sido interrompido por Hansol ㅡ mesmo que na sua própria imaginação ㅡ ao passar a noite com Mingyu, não precisava que ele também o atrapalhasse agora.
“Eu acho melhor você voltar amanhã" Disse Seungkwan já fechando a porta.
Hansol, porém, foi mais rápido e colocou seu pé para impedí-lo, resultando em um gemido de dor do mesmo.
“A gente precisa conversar, Seungkwanie. Além disso, eu trouxe pizza” Respondeu Hansol sorrindo timidamente.
Suspirando, Seungkwan fitou o garoto. Nem ao menos havia notado que em uma de suas mãos segurava uma caixa de pizza, mas agora que tinha conhecimento do fato, o cheiro de queijo derretido fez seu estômago roncar em resposta.
“Se você está querendo comprar minhas desculpas com uma caixa de pizza, já estou te avisando que não vai funcionar”
“Eu sei” Falou Hansol achando graça, e levantando o outro braço onde uma sacola plástica estava pendurada “Por isso eu trouxe frango também"
O quão injusto o mundo poderia ser? Seungkwan queria socá-lo e enfiar o frango sua guela abaixo até que engasgasse, mas como poderia ficar bravo com o garoto quando ele agia como o amigo do qual sentia falta? Aquelas coisas eram tão comuns entre eles, o conhecimento que tinham um do outro de suas preferências e como agradar para receber um sorriso. Havia tanto que o acordo estúpido entre eles havia tirado de Seungkwan, em um desespero para ter o imaginário do amor que sentia, ele havia perdido seu melhor amigo.
Silenciosamente ㅡ e virando rapidamente de costas para esconder de Hansol seu sorriso triste ㅡ deixou o garoto entrar no apartamento, caminhando para a cozinha com o mesmo em seu encalço, Seungkwan tentou controlar a massa de pensamentos que o atormentava. Ressacas não foram feitas para se pensar, ele precisava evitar de alguma forma que sua cabeça explodisse até o fim do dia.
Nenhum dos dois disse alguma coisa quando sentaram-se na mesa e começaram a comer, tampouco olhavam-se nos olhos. Ambos pareciam saber que deveriam tocar no assunto, mas nenhum dos dois tinha qualquer ideia de como começar. Naquele momento, Seungkwan percebeu o quão fragilizada havia se tornado a relação entre eles, até onde as mentiras dos dois os levara. Sabia que a sua culpa existia tanto quanto a de Hansol, ele não era isento dela.
Da mesma forma que Hansol mentia para Yuna, Seungkwan mentia para si próprio e o amigo. Hansol não tinha a menor ideia dos sentimentos que ele nutria, como poderia? O segredo era o peso que trazia consigo há tempo suficiente para que se acostumasse com isso, para o amigo, Seungkwan provavelmente só estava cansado de ser usado fisicamente enquanto queria manter uma relação com outra pessoa.
“Desculpa, Seungkwan"
A voz de Hansol cortou os pensamentos do garoto, ele o encarou mas seus olhos estavam fixos na pizza que segurava.
“Eu não tenho sido um bom amigo, tenho?” Havia um sorriso magoado em seus lábios, algo que Seungkwan nem ao menos sabia se poderia considerar um sorriso “Você e o Mingyu…”
Hansol não continuou a frase, sendo assim, as palavras ecoaram no ar para depois morrer sem conclusão. Ter o amigo falando sobre ele e Mingyu o causava náuseas, algo parecido com um incomodo pesado o suficiente para o fazer afundar na cadeira que sentava. Não sabia o que dizer para aquela frase não terminada, sua mente estava em branco e o frango em sua boca não tinha gosto algum.
“O que tem eu e Mingyu?” Questionou por fim, voltando seu olhar para o de Hansol, que o olhou com surpresa.
“Você gosta dele, não gosta?”
“Nós passamos a noite juntos”
Seungkwan viu o amigo erguer as sobrancelhas e dizer um 'oh’ baixinho, porém não havia surpresa em seu rosto, era como se já esperasse por isso. De alguma forma, isto o incomodava mais do que se Hansol fosse um completo otário, reagindo tão mal quanto no dia que viu os roxos em seu corpo.
“Eu deveria ter percebido antes, mas nunca passou pela minha mente, entende?” Disse Hansol olhando o amigo “Você sempre me contou tudo, Seungkwanie, e então de repente…”
“De repente o que?”
“De repente eu não sei de nada sobre você"
O silêncio estabeleceu-se entre eles de forma assustadora, fazendo ambos desviarem o olhar para lados opostos. Seungkwan não conseguia achar motivos em si para ficar irritado com o outro, pois sabia que o que Hansol dizia era verdade. Aquela talvez fosse ㅡ pela primeira vez em muito tempo ㅡ uma das conversas mais sinceras que tinham, e por mais babaca que Hansol estivesse sendo nos últimos meses, Seungkwan sabia distinguir quando o amigo era sincero.
Tudo parecia fora de lugar nos minutos em que nenhum deles atrevia-se a dizer algo, a angústia crescia no peito de Seungkwan de fora desesperadora. Queria ter coragem para dizer a verdade por inteiro, mas sabia que aquela seria uma ação de muito risco onde colocaria tudo a perder. Novamente, Hansol pareceu decidir que deveria ser aquele encarregado em falar, algo tão incomum entre eles que surpreendia aos dois.
“Eu pensei muito sobre isso tudo e, você está certo, eu fui egoísta. Eu estou sendo egoísta"
As palavras pesavam tristeza e Seungkwan quase podia sentir o gosto do arrependimento que elas carregavam, Hansol mexia inquieto nos próprios dedos, mania de quando estava nervoso. No entanto, quando seu olhar cruzou novamente com o de Seungkwan, havia determinação ali, assim como uma espécie de súplica silenciosa.
“Isso não é justo com você, Seungkwan, e eu sinto muito por ter feito isso com a nossa amizade”
“Hansol, eu tamb-”
“Me deixa terminar" Falou Hansol interrompendo o garoto e suspirando em seguida “Eu acho que devíamos voltar as coisas ao normal”
“Como assim?”
“Eu quero acabar com o nosso acordo, Seungkwan”
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