— Você tem certeza disso? Pode se arrepender depois — disse Frank, sendo guiado pelo homem. Porém, ele fora ignorado por Charles que continuava a andar em frente, pois não queria ficar perto da área do poder de Gracie, e muito menos ficar num espaço pequeno, onde não poderia evocar seu exército. A pedido do Juiz, Frank aceitou trocar o local do duelo, assim não precisaria se conter com o gás venenoso, temendo atingir seus companheiros.
— Aqui — decidiu Charles, avançando alguns passos e se virando, desferindo seu olhar frio.
— Nada mal — falou Frank, se sentindo em desvantagem. Estavam num campo de areia, onde os civis jogavam futebol há muito tempo. Um local aberto e com fortes correntes de vento, terrível para alguém que usa gás como arma. — Não sei se já tinha isso em mente, mas devo dizer que ainda sei lutar em local aberto.
— Bom para você — respondeu de forma apática. — Últimas palavras?
— Sem conversa então? Que pena — o gás venenosos saia pelas laterais de sua boca, como se estivesse escorrendo, formando uma nuvem ao seu redor. Sua coloração era amarelada, semelhante a cor da areia. Frank sabia que independente do que o homem fosse fazer, se tentasse se aproximar iria ser envenenado.
— Sem palavras finais? Maravilhoso — Charles deu uma pisada forte no chão, fazendo o solo tremer. Os pequenos grãos de areia começaram a se agitar, fazendo leves ondulações. Do local, designado pelo homem, formas humanoides de areia se erguiam: vestiam uma espécie de armadura leve, um elmo que fechava toda a face e nas mãos uma lança que ultrapassava sua altura, ainda assim conseguiam empunhá-la habilmente. Frank se mostrou mal humorado, não imaginava que teria que lutar contra alguém que podia criar soldados, mantendo-se numa distância segura contra seu gás. — Avance, Valkyria.
O esquadrão de dez soldados seguiram em frente, de acordo com a ordem dada. O cientista rapidamente moveu seu gás contra eles, na tentativa de afastá-los. Frank se mostrou sorridente, pois a pressão da névoa venenosa conseguia empurrar os grãos de areia, desfazendo os soldados. Antes que as criaturas pudessem tocá-lo, Frank suspirou ao ver que estava salvo. Haviam sido destruídos de forma rápida, “mais fácil do que imaginava”, concluiu.
— Erguam-se! — ordenou Charles, em tom firme. Imediatamente, os soldados se levantaram, surpreendendo Frank. O homem tentou refazer a mesma ação de antes, para tentar evitar a investida, porém estavam próximos demais. Ele tentou se esquivar, pondo seu corpo na lateral, mas em vão; as pontas das lanças o atingiram de todos os lados. Sentindo as dores, Frank abriu os olhos, cético de ainda estar vivo.
— Como? — se perguntou, ao perceber que os soldados haviam desaparecidos.
— São feitos de areia, não matam — explicou Charles, sentado na arquibancada da quadra, como se fosse um imperador. Frank cerrou os dentes, sentindo-se humilhado. A visível apatia do homem refletia o quão desimportante o Juiz lhe considerava.
— Sei — o cientista fez sua névoa se erguer, afastando a poeira ao redor. Os grãos de areia se movimentaram em direção ao Juiz, retornando a formação de soldados. Charles levantou sua mão, ordenando o ataque. Todos os soldados avançaram com suas lanças, e como resposta Frank avançou com seu gás venenoso, dessa vez numa intensidade maior. As criaturas de areia caíram, como previsto, porém a névoa amarelada continuou avançando contra seu alvo, que permanecia parado; aparentemente indefeso.
— A ordem foi dada! — ergueu a voz, batendo com o pé na arquibancada. O solo firme tremeu, formando fissuras; ergueu-se um grupo de escudeiros de terra, formando uma parede impenetrável. Os soldados possuíam tamanho dobrado aos anteriores, assim como os escudos que ultrapassavam a distância de suas cabeças. A névoa venenosa foi impedida de atingir seu alvo. Frank ficou desconformado, mas não desistiu. Sua névoa espalhou-se pelas laterais, cercando o Juiz que começava a ter uma expressão de preocupação. Charles pôs a mão na face, para tentar não inspirar o ar contaminado. A névoa lhe cercou, tentando se aproximar pelas costas.
O conjunto de bancadas levantou-se, cobrindo o homem numa espécie de bolha. O minério impossibilitava da passagem do gás contra si, protegendo-o. Frank praguejou, incrédulo sobre sua investida ter sido interceptada. Ainda assim, estava contente por ter seu inimigo nas mãos. Para o cientista, sua cobaia estava presa naquele cásulo. A névoa girava ao redor do alvo, em alta velocidade sendo impossível não ser afetado. Frank sorriu, e liberou um novo gás de coloração transparente; quando de repente, um som estranho lhe chamou atenção. Ele se virou, se surpreendendo com a elevação de terra. No momento que o solo cedeu, o Juíz se revelou imponente.
— O que? — fingiu surpresa, voltando sua atenção para a esfera de terra que continuava sendo circulada pelo gás venenoso amarelado. — Impossível! Como? Pensei que apenas pudesse criar soldados ou...
— Eu nunca disse que meu poder era criar soldados, apenas o faço por ser o mais apropriado, não? — falou Charles, avançando em passos lentos.
— Apropriado?
— A Morte... Nada mais apropriado que um exército de não-vivos — falou em tom misterioso, deixando o homem confuso. A cada passo que Charles dava, soldados surgiam da solo formando um corredor. Eram os mesmos lanceiros de antes, mas desta vez feitos de terra, o que lhes deixavam mais resistentes e fortes. Frank percebeu que seu inimigo não era alguém que pudesse derrotar simplesmente. Compreendendo a diferença de força, ele decidiu recuar para planejar algo, porém... seus pés foram segurados por mãos. Abaixo de si, soldados de areia o agarravam, o impossibilitando de se mover. Charles mostrava um sorriso satisfeito, pois todo o campo ao seu redor era sua arma. Frank moveu seu gás, destruindo os soldados de areia e conseguindo se soltar, mas o exército de terra já estava muito próximo para querer fugir. — O fim se aproxima.
— Não brinca com isso...
— Silêncio, o julgamento será efetuado.
— Ainda podemos conversar se quiser...
— Pelo crime contra a humanidade, você será... — Charles se auto interrompeu, sentindo um mal estar lhe dar ânsia de vômito. Ele encarou o homem na frente, que se mostrava sorridente. O Juíz logo concluiu que havia sido envenenado, apenas não sabia em que momento isso acontecerá; ele tinha certeza que havia tomado todas as medidas preventivas para se proteger.
— Deve estar se perguntando: como pôde ser envenenado, certo? Pois bem, permita-me falar — Frank tinha um tom como se já tivesse vencido. Estava visivelmente despreocupado, pois sabia que o homem sofria de uma paralisia do sistema nervoso central. — Meu poder se resume em criar vários tipos de venenos gasosos; sua mortalidade varia de acordo com sua coloração, como pode ver, estive usando somente a amarela, que é uma das menos letais, usadas somente para analisar o combate. Admito, que houve momentos em que me deu medo, mas foram sustos rápidos. Sim, você deve estar concluindo que tomou todas as medidas de prevenção, mas não sou tão idiota assim. Quando você...
— Fala demais, faz de menos — a voz feminina surgiu em suas costas, assustando-o. Frank se virou, mostrando uma expressão, repentinamente, furiosa.
— Você me salvou de uma falação — dizia Charles, movendo-se. Ele estava sentindo a fúria lhe percorrer a mente, mas conseguia reprimir o sentimento explosivo. O fato de estar se movimentando deixava o cientista intrigado, fazendo sua raiva aumentar intensamente.
— Impossível! — Frank virou-se para a mulher, quem aparentemente era responsável por destruir seus planos. — Quem é você?
— O que importa? Vamos ao julgamento final.
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