— Robin?
Ao escutar seu nome ser chamado, Robin se virou brevemente, mostrando que estava atento. — O que aconteceu? — Questiona preocupada. — Estou te achando muito abatido.
Ele não lhe responderia a verdade, apesar de ser a sua vontade, mas, desde o dia em que cometeu o grande erro de sua vida, ao ir para cama com Marian, sua atual noiva, e deixou ir, a pessoa que realmente amou, e lhe amou de volta, Robin já não era mais o mesmo. Estava sempre triste, mas demonstrando o contrário, e muito decepcionado consigo mesmo.
Naquela noite, ele sabia: havia perdido de vez o grande e único amor de sua vida, que agora estava em algum lugar dentro de um avião, indo para o outro lado do mundo, só por sua causa. E não pôde nem ao menos se despedir, como nos velhos tempos. Ele se sentia mal por isso.
Ele gostaria de ter podido ir atrás de Regina naquele aeroporto, e impedi-la de entrar no avião, exatamente como vira tantas vezes nos filmes românticos que gostava de assistir com ela. Mas infelizmente, sua vida não era como no filme ou livro de romance. Ele não podia simplesmente deixar Marian em casa, e ir atrás de Mills, como ele fez tantas vezes quando quis o carinho dela.
Agora estava prestes a se casar obrigado com uma pessoa que nunca amou. Estava destinado a viver uma vida que não queria, ao lado de uma pessoa que só quis se divertir em alguns momentos.
Marian era legal, era bonita, fazia-o feliz. Mas nunca despertou o amor verdadeiro em Robin. Nunca despertou a paixão. Apenas o tesão. O seu amor, definitivamente era de outra pessoa, que por um grande erro seu, deixou ir, para nunca mais voltar. Erro esse, que não dava para ser concertado, pois sendo o homem de palavra que diz ser, tinha que honrar e manter a sua, assumindo o compromisso com Marian, imposto pelos seus pais, que ainda viviam no século passado.
Agora, não havia mais nada que Robin pudesse fazer, a não ser finalmente tentar esquecer aquela garota que foi seu primeiro amor, sua primeira paixão, que o ensinou a lutar pelo que queria, que o ensinou a amar, a perdoar, a ser uma pessoa melhor, e que estava sempre ao seu lado nos momentos mais difíceis da vida.
Robin tinha conhecido de fato, Marian, em uma festa de jovens em uma das baladas do Rio de Janeiro. Festa essa, que Regina o tinha proibido de ir por saber o que teria no local, e as pessoas de má índoles, que frequentariam, porém ele não lhe deu ouvidos, e foi escondido. Acabou bebendo demais, e no fim da noite, com uma Marian na cama. Para piorar a situação, foi pego pelos pais da moça no meio do ato, que logo o obrigaram a casar com ela, ameaçando-o a denunciar por estupro, já que a moça era muito mais nova que ele.
Se Robin pudesse voltar no tempo, com certeza o faria.
— Não é nada, meu amor. — Respondeu-lhe finalmente, virando-se de novo. A verdade é que não estava aguentando o sentimento de culpa, dentro de si. Amava Regina mais que tudo, mas tinha essa barreira entre os dois, separando-os. Mas ele não iria dizer isso a ela. Quem errou foi ele. Marian não merecia ouvir os seus reais sentimentos. — Só estou pensando aqui, como tudo entre nós aconteceu tão rápido. — Fez uma pausa, um pouco pensativo. — E agora estamos aqui, juntos, morando na mesma casa, praticamente casados. — Como estava de costas para a noiva, ele fez uma expressão enjoada e triste ao falar a palavra casado. Não era com aquela mulher que queria usar essa palavra, e sim com outra. — Há um ano, nem olhávamos um na cara do outro, nem nos falávamos. Passávamos vez ou outra, um pelo outro, e apenas isso. — Fala com sarcasmo, porém a morena não percebe. — E hoje estamos aqui, compartilhando o mesmo teto, o mesmo quarto, a mesma cama. E daqui a dois meses iremos nos casar. — Murmurou cabisbaixo, chamando a atenção da morena, que tocou em seu ombro, e o apertou de leve.
— Então por que essa expressão triste? — Sentou-se na cama, juntando os joelhos e os abraçando.
— Não estou triste. É apenas impressão sua. — Virou-se para ela com um sorriso falso, que passou despercebido. — Agora vamos dormir que já está tarde, e amanhã o dia é longo e cheio de trabalho.
E então, puxa o braço de sua noiva consigo, e se vira novamente, rodeando o braço por seu corpo em um abraço. Fecha os olhos e, silenciosamente, pede aos céus, que tenha bons sonhos, e que todos sejam com Regina Mills.
•§•
Dez anos depois...
Nova Iorque — Estados Unidos da América. 03-07-2014
— Bom dia, Nova Iorque! — Mills murmura ao se levantar da cama e ir para a janela de seu apartamento localizado em Upper East Side para olhar a cidade que nunca dorme. Sendo um dos melhores prédios da redondeza, o apartamento ficava no último andar do prédio, dando a dona uma ótima vista da cidade e do Central Park.
Fazia dez anos desde que Regina Mills decidira recomeçar sua vida no país e não podia estar mais feliz pela escolha que fez anos atrás.
Mais tarde sairia com os amigos para comemorarem mais um ano de sua nova vida. Se dependesse deles, essa comemoração nunca acabaria.
— Bem que Ariel e Graham podiam estar aqui comigo hoje. — Diz triste. Sentia muito a falta dos amigos e nada tinha o poder de diminuir isso se não fosse a presença deles ao seu lado. — Bem que poderiam ser menos teimosos e me deixarem comprar como um presente, a passagem deles para cá. — Revira os olhos ao se lembrar da teimosia dos dois. Sempre que pedia aos amigos para comprar as passagens, para que pudessem passar um tempo com ela, diziam que não, porque não queria incomoda-la e que preferiam usar o próprio dinheiro para isso. Era sempre a mesma coisa. Sempre a mesma resposta. E por isso, desde o dia em que foi embora, só viu os amigos pessoalmente, doze vezes. Dez das vezes foi nas visitas que faz anualmente aos pais e as outras duas quando eles, finalmente, acompanharam seus pais e sua irmã em dois fins de ano e vieram lhe visitar. Mas isso já faz anos. Foi logo no começo, assim que se mudou. — Ah que saudade eu sinto de vocês, seus ridículos. — Sorri, passando as mãos pelo rosto. — Que saudade de vocês, Henry e Cora Mills. — Olha para a bela paisagem que há em sua frente, mas com um olhar perdido no nada. Sua mente viajando até seus pais no Rio de Janeiro, lembrando de bons e ruins momentos que já viveram ali. — E por incrível que pareça, até de você Rafael, eu sinto falta. — Murmura sorrindo, balançado a cabeça de um lado para o outro. Nunca pensou que sentiria falta do antigo trabalho e muito menos do chefe chato, mas que lhe ajudou tanto, dando-lhe a primeira oportunidade de trabalho no mercado, que só exigia experiência. — Preciso ligar para Ariel ou então morrerei de saudade. — Limpa as solitárias lágrimas que desceram pelo rosto e sai pelo apartamento à procura de seu celular.
•§•
— Ariel? — Chama animada, assim que a ligação é atendida.
— Não minha linda, aqui é o Graham. — Responde-lhe sorrindo. Ao seu lado, Ariel pede-lhe que coloque no alto-falante para que também pudesse ouvir a conversa e interagir.
— Espera... O que? — Fez uma expressão confusa e afastou o aparelho do ouvido por alguns segundos, olhando o identificador de chamadas para ter certeza de que havia ligado certo. — Graham? — Pergunta confusa. — O que você faz na casa da Ariel uma hora dessas? — Questiona extremamente curiosa. Ao escutar a risada do rapaz, e a da própria amiga, a resposta óbvia passa por sua cabeça. — Vocês... — Abre um enorme sorriso ao imaginar os amigos como um casal de namorados. — Vocês estão...
— Sim, nós estamos... — Responde rapidamente, interrompendo-lhe a fala.
— Ah meu Deus, que notícia boa. — Sinceridade e felicidade transpareciam em sua voz. — Eu quero tanto bater em vocês por não estar aí para ver isso. — Gargalha, fazendo os outros rirem também. — Quanto tempo faz?
— Desde a última vez que você nos ligou, duas semanas atrás. — Falou de uma vez, já sabendo que a amiga não iria gostar de saber que não disseram antes.
— E só agora você me diz? — Indaga irritada, como previsto. — Deveriam ter me ligado para me dizer, logo quando tudo começou. — Apesar de não ter gostado de saber só agora, e sua voz soar com irritação, não conseguia ficar de fato com raiva do casal. — Estou muito feliz por vocês dois. De verdade. — Joga-se no sofá, cruzando as pernas em cima da mesa de centro. — Meu Deus, meus melhores amigos estão juntos. — Fala consigo mesma, ainda tentando acreditar que algo que torcia desde o começo da adolescência, estava realmente acontecendo finalmente. — Eu não poderia estar mais feliz com essa notícia. — Diz emocionada, a ficha caindo. — Exceto que eu queria muito que vocês estivessem aqui comigo, hoje. Faz dez anos que estou aqui e só vi vocês pessoalmente, doze vezes. — Murmura triste, já mudando o humor e também o rumo da conversa.
— Estamos sentindo tanta falta de você, como você está sentindo a nossa, amor. — Garante Graham, respirando fundo, tentando evitar que sua saudade desça por seus olhos. — Nossos dias sem você ao nosso lado não são a mesma coisa.
— Por favor, venham passar um tempo aqui comigo. Não precisam se preocupar com nada. Eu cuido de tudo. Vocês sabem disso. Sabem que eu posso. — Implora fazendo bico e se ajoelhando no chão, como se os amigos pudessem ver.
Antes que Humbert pense em responder, Ariel toma o celular da mão do namorado.
— Isso está fora de cogitação Srtª. Ricaça. — Diz em tom repreensivo. Era sempre a mesma coisa, em todas as conversas. Regina sempre fazia o mesmo apelo, e eles sempre respondiam a mesma coisa. Mas ela nunca cansava de pedir, e Ariel nunca cansava de negar. — Espere nós juntarmos todo o dinheiro necessário, e assim que pudermos, nós vamos aí para ver você e matar a saudade, do jeito que todos nós queremos. — Garante.
— Ariel, meu amor... — Fala, ignorando o que lhe foi dito anteriormente e abre um enorme sorriso, ao ouvir a voz da amiga do outro lado da linha. — Eu já estava morrendo de saudades de ouvir sua voz. Como é que você está, meu bem?
— Eu estou ótima. Melhor impossível, na verdade. — Fala em tom de malícia, olhando para Graham bem do seu lado.
— É... — Murmura. — E eu imagino o porquê... — Rebate sorrindo, e escuta a risada da amiga também.
— Ei, eu ainda estou ouvindo a conversa, Regina. — Humbert grita, fingindo desconforto, arrancando gargalhadas dos dois.
— Ok, desculpe-me... — Pede sarcástica.
— Então, como estão as coisas por aí? — Ariel questiona, aproveitando que, após a resposta de Regina, o namorado se levantou para ir ao banheiro. — Já encontrou alguém? Algum gatinho?
— Ariel... — Repreende a amiga, mas sorri de canto.
— Desculpa, é força do hábito. — Regina revira os olhos, mas deixa escapar outro sorriso. Afinal, sentia falta desse jeito da amiga, mesmo que não lhe agradasse. — E então, está namorando? — Refaz a pergunta.
— Não Ariel, estou solteira. — Solta um suspiro. — Namorei um rapaz há uns meses, mas não deu certo... — Fala frustrada. — Ele era gay. — Sussurra.
— O que? Você é tão ruim assim? — Questiona zombeteira.
— Ei, eu não sou ruim. — Finge tom de indignação, arrancando gargalhadas da outra. — Sou muito boa. — Diz, ajeitando-se no sofá, numa pose altiva. — Sou ótima, na verdade. — Acrescenta, arqueando a sobrancelha, empinando o nariz. — O que posso fazer se ele desde pequeno tem uma grande queda por músculos grandes e masculinos, e barrigas saradas e raspadas? — E as duas caem na gargalhada.
— Regina... — Graham se faz presente na conversa novamente. Havia acabado de voltar do banheiro, quando ouvira todo o fim da conversa. — Não esqueça, minha linda, eu estou bem aqui, ouvindo tudo. — Relembra-a. — Eu fui no banheiro, mas voltei a tempo de ouvir tudo que você disse por último, e posso afirmar que essa conversa não é boa de escutar. — Faz uma careta e balança a cabeça negativamente. — É no mínimo nojenta.
— Para você que não gosta de homens. — Garante, tendo o apoio de Ariel. — Mas Ok, desculpe-me. — Levanta as mãos para o céu, rendendo-se. — Mas então, como estão os meus pais? — Pergunta, adquirindo um tom preocupado, pois não conversava tanto com eles, como gostaria, e sente que eles lhe escondem as coisas para não lhe preocupar.
— Ah, eles estão bem, na medida do possível sabe? — Ariel responde-lhe em tom sério, porém vago. Na verdade, não tinha muito o que falar. — Sua mãe sempre liga aqui para casa para saber se tenho notícias suas. Ela acredita que você liga mais para nós do que para eles... — Acrescenta.
— Mamãe... — Balança a cabeça negativamente. — Apesar de sua resposta ter sido vaga, fico mais aliviada de saber que eles estão realmente bem, como costumam me dizer, quando eu ligo para conversar. — Dá um sorriso fraco. — Eu estou sentindo muito a falta deles também. Dos abraços, dos beijos, das conversas, dos conselhos e dos sermões. — Dá uma fungada, segurando a vontade de desabar. — Também sinto falta de Madonna e Zelena... — Acrescenta num murmúrio. Parecia mais falar para si do que para a amiga. — Você tem notícias da minha irmã? Eu perdi o número dela.
— Infelizmente não. Fiquei sabendo que ela perdeu o celular e está em outra cidade, mas é só isso... Mas e o seu trabalho? Está indo bem? — Muda de assunto antes que a amiga começasse a chorar. Ela odiava ouvir Mills chorar e não poder estar perto para ao menos lhe dar um abraço.
— Sim, está tudo bem, e inclusive eu já estou muito atrasada e não comecei nem a me arrumar ainda. — Levanta-se do sofá, e começa a andar apressada pelo apartamento, até o banheiro do quarto. — Preciso desligar, meus amores. — Avisa, olhando para o relógio e vendo o quanto as horas avançaram. — Até outro dia.
— Vai com Deus, Regina. — Graham despede-se da amiga, pegando o telefone das mãos da namorada.
— Se cuida e não esquece que te amamos muito. — Relembra Ariel.
— Eu também amo vocês. Muito mesmo. Beijos... — E então encerra a ligação, jogando o celular em cima da cama, respirando fundo e seguindo para o banheiro.
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