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História Escute quem te ama (Imagine Ukitake Juushiro) - Como bonsai


Escrita por: ezreals

Notas do Autor


Quero dedicar essa one shot giganorme para minha amiga Steph, @NahimanaMayfair, que por sinal é apaixonada demais nesse lindo e perfeito do Ukitake <3
Demorei um tiquinho para terminar, mas sabe-se lá Enel como, minha inspiração para Bleach está simplesmente enooorme, a flor da pele, então até acabar, terá mais one-shots como essa *---*
Bem, vamos as fofuras né? Espero que gostem!

Capinha LINDA e banner LINDO por @fornio

Capítulo 1 - Como bonsai


Fanfic / Fanfiction Escute quem te ama (Imagine Ukitake Juushiro) - Como bonsai

Quando as tosses resolviam atacar, poderia ser marcado em um calendário que Ukitake Juushiro teria que descansar por no mínimo uma semana. Não havia remédio que conseguisse no mínimo dar a ele condições de se manter de pé por muito tempo.  Eram raros os dias em que encontrava-se tão mal, mas estes existiam. Abria os olhos escuros pela manhã e então vasculhava o quarto. Ignorava a dor no peito e a tosse, seguindo então para suas atividades como capitão, pelo menos quais eram permitidas.

Entretanto, naquele dia em particular havia certa dificuldade para que o capitão se mantivesse quieto e resguardado. A Soul Society encontrava-se em certo risco devido a algum portal aberto por alguém habilidoso. Havia tanto a ser estudado, pesquisado... E Ukitake não queria ficar parado... Mesmo que isso significasse ir contra [Nome].

Ah bendito fosse o corajoso homem que a desobedecesse. Não porque [Nome] fosse médica ou uma mulher autoritária, ela era simplesmente uma mulher preocupada demais, atenciosa demais e sobretudo... Osso duro.

Ukitake ja estava junto dela há mais tempo do que poderia contabilizar. Décadas de vida não eram suficientes para demonstrar ou explicar o tamanho carinho e amor que o capitão tinha com ela. Não havia um dia em que [Nome] não caminhava com ele entre bosques secretos na Seireitei, preparava remédios caseiros e o auxiliava a dormir nos seus piores dias. Todo aquele carinho e atenção ganharam o coração de Juushiro Ukitake, em em questão de dias ele já se considerava mais saudável. Dizia que a alegria que sentia por ter [Nome] era o melhor remédio que poderia existir.

Ninguém nunca duvidou daquilo, exceto o próprio Juushiro, que em sua teimosia decidiu deixar um pouco de lado o pedido de [Nome] para que ele não se envolvesse naquele problema da Seireitei. Tudo começou naquela noite escura e fria, quando de braços cruzados a moça bateu o pé no chão, tentando ignorar a fofura no olhar de Ukitake, justificando sua vontade de sair aquela hora.

— Pode se deitar e descansar porque não tem nem condições de eu deixar você sair com o Shunsui essa hora! -ela bradou, tentando manter certo tom de doçura na voz. Como ser objetiva e firme com alguém com o rosto tão angelical quanto o de Ukitake?

Embora achasse que [Nome] ficasse absurdamente linda com raiva, o homem não quis discutir. Ele ergueu as mãos, como se tentasse acalmá-la, mas sem a tocar. Os cabelos brancos estavam levemente úmidos devido ao banho morno que tomara antes de dormir, decisão completamente ignorada após o aviso de Shunsui Kyoraku de sair da Seireitei para uma pesquisa.

— Eu não posso ficar parado, [Nome] -disse, o tom de voz reconfortante e seguro. Tinha um sorriso pequeno e agradável. — Preciso ajudar meu amigo nessa pesquisa. Já tem dias que eu estou bem, tenho que aproveitar e ajudar no que eu posso.

[Nome] sabia bem o quão teimoso Ukitake poderia ser. Observou-o por alguns segundos, sorriso no rosto, demonstrando o quão tranquilo estava. Até mesmo suas bochechas estavam rosadas, indicando a saúde que estava antes adormecida em seu corpo. Embora debilitado, ele sabia que aquele tipo de missão não seria capaz de matá-lo, mas mesmo assim sabia também que teria que lidar com a moça diante dele. 

Entretanto, aquela era uma missão importante. Ukitake se aproximou dela então e segurou-lhe os ombros. Os dedos eram mornos e o toque era extremamente suave. De perto então ele pôde ver o nível de preocupação em que a moça se encontrava. Parecia implorar para que ele ficasse alí, para que não teimasse como sempre fazia. 

— Não há com o que se preocupar, [Nome] -ele falou, doce como sempre quando se dirigia a ela. Uma de suas mãos foi até o rosto dela, onde tocou uma das bochechas com o polegar e fez um leve afago. Sorriu para a reação imediata dela, que foi cerrar os olhos e suspirar. — Nada vai me acontecer... além disso Shunsui estará comigo. 

[Nome] nunca estaria 100% convencida sobre a boa saúde momentânea de Ukitake. Não confiava nos dias em que ele encontrava-se bem, pois em pouco tempo seu estado parecia piorar como se pulasse três estágios de uma doença de uma só vez. Começava com uma tosse, logo vinham calafrios indicando uma febre branda, e depois disso Ukitake lutava para sobreviver. [Nome] jamais queria passar por aquilo outra vez, como da primeira vez que o viu sofrer de verdade. Chorara como se não houvesse amanhã diante do leito dele, e depois daquilo não teve um dia que não olhou por ele, zelando por sua frágil saúde.

— Não, Juushiro... não posso permitir que você  vá -ela disse então, falando baixo. Olhava para ele, o rosto lindo e delicado. Notou o tom de surpresa no olhar dele, como se não pudesse acreditar que ela estava dando uma ordem tão difícil de cumprir. — Se alguma coisa acontecer com você outra vez... não posso deixar, não por causa da sua teimosia.

Ukitake a entendia. Não queria confrontá-la, então apenas a confortou em um abraço forte. Permaneceu com os lábios conectados na testa dela, acariciando os cabelos com leveza e cuidado. Ouvia o ressonar que ela emitia, indicando o quanto estava com sono, e ele como a conhecia bem sabia que logo dormiria. Bem devagar caminhou com ela até a cama, como costumavam fazer quase todos os dias. Deitaram-se bem devagar, [Nome] se enterrando no corpo dele como se fossem uma só alma, exigindo o abraço temendo que ele sumisse de alguma forma. 

Ficavam daquela forma por horas. Ukitake contava histórias de quando estava no auge de sua saúde quando capitão. Contava experiências que lhe causaram mágoa, e na mesma proporção que as contava também ouvia. Naquele instante tudo o que o homem queria era mostrar para [Nome] que ele estava bem, que não havia motivos para que se preocupasse. Gostava de mostrar a ela saúde, já que ela era a pessoa que estava sempre ao lado dele, como diziam os humanos da terra, na saúde e na doença. 

Naquela noite, observando os olhinhos quase se fechando da moça, Ukitake deu um doce beijo nos lábios dela, a fazendo despertar na hora. Ele sorriu entre os lábios úmidos ao sentir a mão fria dela ir até seus cabelos brancos e imensos, acariciando-os. Ele era levemente sensível quando seus cabelos eram manipulados, e aquilo divertia [Nome], da mesma forma que ele conhecia seus pontos fracos. 

— Eu vou cuidar de você também, [Nome] -ele disse, sussurrando, o sorriso encantador de sempre estampado em seus lábios. Capturou novamente os lábios dela, desta vez aprofundando-se até deixá-la sem ar. 

Como em muitas das noites, eles se amaram naquela, de uma forma que [Nome] talvez nunca imaginaria que acontecesse. Ukitake tomara conta da situação, demonstrara um poder que ela desconhecia, quase como se quisesse deixar marcado em sua carne o quanto ele estava saudável e bem. Era aquela sua intenção? [Nome] não tinha a mínima ideia. Olhava no fundo dos olhos castanhos dele, o calor que seu corpo emanava a prendendo sobre o colchão enquanto se movimentava sobre ela de forma vagarosa e firme. Ukitake não deixava aquele sorriso angelical sumir nem mesmo em um momento tão íntimo, nem mesmo quando gemia de prazer sem inibições, sem medos.

Ele sussurrava no ouvido dela, beijando o pescoço e o lóbulo da orelha, alternando bem devagar enquanto apaixonadamente se enfiava, ora aumentando a velocidade, ora diminuindo. Dizia o quanto a amava, o quão linda ela era e o quão feliz ele estava por tê-la ao lado em sincronia e intervalos deliciosos e preguiçosos. Não havia um pingo de pressa naquele instante. 

A cada palavra dita, [Nome] parecia se contorcer debaixo do corpo do homem, apertando os quadris em movimento com as pernas, envolvendo os cabelos brancos com uma das mãos enquanto que com a outra arranhava-lhe as costas. 

— Eu... te amo, [Nome]... sempre vou te amar -ele disse naquele momento, enterrando o rosto sorridente entre o vão do pescoço dela, estremecendo então de gozo enquanto a ouvia gemer seu nome.

— Juu-Juushiro~ 

Ela adormeceu nos braços dele. Ukitake a olhava, acariciando-lhe a face com carinho, aquele sorriso sem dentes estampando seu rosto. Quando ficara mais doente e mais debilitado, lá estava [Nome]. Quando esquecia-se de algum remédio, novamente lá estava ela para brigar e gritar, quase batendo nele pelo esquecimento. Ele riu com a lembrança, depositando então um beijo em sua testa. Ainda com os lábios grudados na pele, ele sorriu.

— Eu não vou demorar... estarei aqui antes que você desperte...

***

Shunsui Kyoraku demonstrava preocupação sobre a saúde do amigo enquanto faziam certa pesquisa no mundo dos vivos. Olhava para ele de canto de olho de vez em quando, como se pudesse ver de antemão qualquer problema que ele tinha, uma tosse desordenada, qualquer coisa, pois isso significaria que eles teriam que evadir com urgência. Até o presente momento, Ukitake demonstrava estar muito bem. Ótimo.

— Então... você saiu sem que a [Nome] soubesse? -ele perguntou. Caminhavam por uma viela escura em uma cidadezinha do Japão, os trajes de shinigamis como pontos de luz na escuridão. 

Ukitake riu um pouco e coçou a cabeça. Ele sabia que se sentiria extremamente culpado se [Nome] acordasse e não o visse alí. Seria como uma traição, e querendo ou não, o homem não conseguia tirar aquilo da cabeça. Foi mesmo necessário sair sem que ela soubesse, correndo o risco de deixá-la preocupada? Apenas refletir sobre o que fizera deixava o capitão levemente agitado e ansioso para voltar pra casa.

— Na verdade deixei um bilhete -disse, bem humorado e tentando não demonstrar o leve nervosismo por ir contra um desejo de sua amada. — Mas não quero que ela chegue a ler, precisamos ser rápidos com isso.

Tudo corria bem, exatamente como os dois capitães queriam. Fizeram uma boa pesquisa, encontraram fontes e já estavam prontos para ir embora e notificar a Soul society de tudo. Entretanto, ninguém tinha ideia de onde vinham tantos hollows de uma só vez, ocupando todo o comprimento de uma estrada, impedindo a saída dos dois capitães e ameaçando a segurança da população. Shunsui bocejou, preguiçoso, mas já mostrava-se de prontidão para derrotar todos. Não era tarefa difícil para eles.

— Ah... já estava sentindo falta de diversão -murmurou Shunsui espreguiçando-se no lugar, lentamente, dando pouca atenção aos urros e movimentos agressivos dos hollows diante deles. — Quer fazer as honras?

Ouviu então um pigarro seguido de uma repentina tosse. Ukitake estava curvado para frente, ambas as mãos cobrindo a boca. Precisou de equilíbrio para controlar a tosse, apoiou-se no amigo, que prestando atenção no perigo eminente e no outro, tornou-se sério e calculista.

— Péssima hora pra ficar mal, Juushiro -ele disse. Sentou o amigo no chão, encostando-o na parede enquanto este tossia miseravelmente. — [Nome] vai acabar com você.

Ukitake sabia que a tosse e a dor no peito não pararia tão cedo. Precisava de certos medicamentos, do auxílio de Unohana e principalmente... Precisava de [Nome]. Ela tinha razão, como sempre.

Entretanto, a fraqueza tomou conta do corpo do homem. Os cabelos brancos caíram sobre o rosto enquanto este se apoiava no chão, tossindo e cedendo a doença. O corpo queimava, suando desesperadamente na esperança de evitar um choque térmico, o que seria fatal. Estava longe demais para ter os primeiros socorros, e Shinsui estava naquele momento cuidando de Hollows complicados. Por que aquilo parecia durar uma eternidade?

[Nome]...

Tudo o que o capitão queria era ver [Nome] outra vez. Pela dor que sentia, podia jurar que não duraria nem mesmo uma hora. Será que aquilo era suficiente para desfazer o que fizera? Será que [Nome] tinha acordado e se deparado com a cama vazia? Estaria ela então preocupada como sempre?

Aquilo só fazia a dor de Ukitake aumentar. Agora que estava passando pelo pior, percebeu o quão teimoso fora. Não podia evitar, era de seu feitio ser assim. Sentira que tinha acabado de trair sua companheira da pior forma, traído sua confiança e colocando a própria vida em risco por una missão que teria sido um sucesso mesmo sem ele.

O homem não mais conseguiu pensar. Não sabia se poderia consertar o que achava que tinha feito, cometido o maior erro da vida. Só queria acordar, ver [Nome] ainda nua ao seu lado, olhando-o com afeto e dizendo "obrigada por não ter ido".

*-*-*-*-*-*

[Nome] observava Ukitake sendo tratado por Unohana, os olhos lacrimejando e os braços cruzados com força no peito. Ignorava ao máximo a presença de Shunsui, como se este fosse um dos culpados pelo que acontecera naquela noite. A moça acreditava profundamente que mesmo que Ukitake fosse teimoso, relevaria a infeliz decisão de partir para aquela missão caso o amigo recusasse levá-lo. Ukitake sempre escutava Shunsui, e isso a magoava.

— Olha, [Nome]... -o homem começou dizendo, virando-se para a moça e a olhando com cautela. — Ele é teimoso, nem eu conseguiria pará-lo.

— Mentira, Shunsui! -gritou então ela, atraindo ate mesmo a atenção de Unohana. A capitã já tinha terminado toda a medicação do paciente, apenas o mantinha em observação para possíveis reversões de quadro. — Ele sempre te escuta! Você o levou e não pensou na saúde dele, não pensou no quanto eu sempre evito que ele se meta nesses problemas, você ignorou tudo!!!!

A medida que [Nome] gritava, seus olhos se enchiam mais e mais de lágrimas. Estava irada, preocupada, com vários sentimentos a flor da pele. Ter acordado naquela noite, sentindo o lado de Ukitake na cama completamente vazio apenas parecia matá-la aos poucos. Sentia como se tudo pelo que lutara por tantos anos fosse desperdiçado, esforços jogados ao chão pela teimosia do homem que amava, pela falta de preocupação que ele demonstrava com a própria saúde e com o tanto que ignorou sua súplica para que este ficasse com ela aquela noite.

Ela se sentiu fraca. Abraçou o próprio corpo ao invés de apertar-se, chorando em silêncio, mordiscando o lábio inferior. Queria brigar mais com Shunsui, descontar nele a raiva que sentia por não ter conseguido impedir Ukitake... Mas não conseguia. Via Ukitake adormecido, o rosto retorcido de dor... Um rosto tão lindo como de um anjo sofrendo daquela forma, procurando alívio para aquela dor em um sonho que ela nem mesmo sabia qual... Até quando eles continuariam a sofrer daquela forma? Ele pela dor e ela pela dor que ele sentia?

Shunsui não se incomodou. Queria encorajar [Nome] a brigar mais com ele, a descontar aquela raiva reprimida que a impedia de gritar, queria até que ela o espancasse até se cansar. Pensou que realmente poderia ter evitado que algo de ruim acontecesse com o melhor amigo, mas não o fez pela tamanha confiança que tinha em suas habilidades. O homem se entristeceu um pouco e aproximou-se de [Nome], envolvendo o corpo dela com um dos braços. Depositou um beijo no rosto molhado e sussurrou então.

— Você tem que confiar mais no quanto ele é forte -ele disse, a voz calma até mesmo tranquilizado [Nome]. — E ele tem que começar a te ouvir. Nada mais saudável do que ouvir quem te ama.

Ele saiu então. Sentia que Ukitake estava para acordar. E ele não queria estar na pele do amigo quando este fosse lidar com aquela [Nome], irritada e magoada.

A capitã Unohana explicou a [Nome] sobre as próximas medicações, indicando repouso absoluto pelos próximos sete dias para Ukitake. Sabia que a moça era capaz de cuidar sozinha do capitão, que tinha fibra para mantê-lo mais saudável e preocupado consigo mesmo. Ela se foi também, sabendo o que aconteceria. Sabia que a Seireitei ouviria gritos por muito tempo naquela noite.

Sozinha com Ukitake, [Nome] então se ajoelhou diante dele, observando a face adormecida, agora mais estável e tranquila, como em um sono. Sentia vontade de acordar Ukitake para gritar com ele, brigar e então deixá-lo descansar, sumindo durante dias como se planejasse puní-lo por sua teimosia. [Nome] era orgulhosa, brava e difícil de lidar. Ukitake era o único capaz de amansar a fera que existia na amada, e aquilo foi o que o fez se apaixonar por ela desde o primeiro dia.

Amava a forma autoritária com que [Nome] mandava-o tomar os remédios, como brigava com ele para que ficasse em casa, quieto, descansando e apreciando a companhia dela. Ukitake adorava aquela parte... Era quando ambos compartilhavam experiências, contavam histórias e se amavam incontáveis vezes. Descobriram segredos sobre o outro, confessaram amor das formas mais variadas, até mesmo no simples ato de cultivar um bonsai juntos nos jardins. Ukitake a ensinava a cortar os galhos para que estes se ramificassem, explicando que assim também era o amor deles.

— Bem como veias e artérias de um corpo, os galhos se ramificam no bonsai -Ukitake explicava a ela, ensinando a cortar perfeitamente os galhos corretos da pequena arvorezinha. Envolvia o corpo dela com um dos braços enquanto a auxiliava com o cortador com a outra. — Quando nós amamos alguém, podemos seguir um conceito parecido. Não importam os nossos erros, ou o que quer que nos desmembre de certa forma... Nosso amor sempre vai continuar crescendo e criando novos caminhos e ramificações, bem como o bonsai.
         E após as palavras, [Nome] ria, emocionada. Ela se agarrava mais a ele e recebia um beijo, tão doce quanto qualquer outro, uma marca deles. Era como o bonsai... Ela sempre conseguia amá-lo ainda mais.

****

Quando Ukitake conseguiu acordar, já era manhã na Seireitei. Seus olhos castanhos olharam para o teto, a visão embaçada. Procurou entender o que sentia naquele instante. Seu corpo estava cansado, sentia dores no peito e a garganta parecia inflamada por conta das tosses. De certa forma parecia completamente remediado, e buscou ansioso por sua cura medicinal naquela manhã tão estranha e usual.

De repente, sem que ele pudesse controlar ou perceber, começou a recobrar a consciência do que acontecera no dia anterior, e imediatamente ele se sentiu punido. Uma das mãos foi até os cabelos brancos, empurrando-os para trás e secando o suor da testa. Apenas um nome vinha em sua mente, apenas uma lembrança lhe ocorria, o que gerava nele uma culpa irreparável.

[Nome]... ela devia estar extremamente magoada com ele, além de preocupada.

Quando notara que já estava em seu quarto, o homem percebeu que já estava salvo e bem, porém o que incomodava de verdade naquela solidão era a falta da presença de [Nome] diante dele. Geralmente quando acordava após se sentir mal, ela estava ao lado dele, as olheiras profundas por não conseguir pregar os olhos durante a noite, apenas para cuidar dele. Desta vez ela não estava lá.

Ukitake sentou-se na cama com dificuldade. Olhou para o futon vazio, sem a presença de sua amada. Tudo o que pôde sentir era tristeza e mágoa, tanto consigo mesmo quanto pela situação... e mais ainda por não poder se levantar e ir atrás dela. Suspirou profundamente, agradecendo aos pulmões por serem capazes de fazer proveito do oxigênio. Pelo menos estava bem, a saúde melhorando consideravelmente.

A porta se arrastou fazendo um som alto, atraindo o olhar do homem. A esperança encheu-lhe o coração quando a viu, linda como sempre, descansada e sem olheiras. Parecia ter acabado de sair do banho, o cheiro de rosas invadindo o ambiente e causando arrepios em Ukitake, que imediatamente sorriu feliz. 

— [Nome]! -ele chamou por seu nome com alegria, estendendo uma das mãos para sentir o toque dela, mas este não veio.

[Nome] parou onde estava, fechou a portinha e se encostou sobre ela, cruzando os braços no peito. Sua expressão era de decepção, raiva e coisas que Ukitake não soube definir, mas se sentiu imediatamente preocupado. Recolheu a mão, envergonhado por agir daquela forma quando notavelmente [Nome] estava chateada com ele. E com razão. O homem se entristeceu, sentiu como se seu coração se apertasse até sangrar. Vê-la daquela forma foi mais doloroso do que passar mal.

— Unohana senpai disse que você precisa ficar uma semana em repouso absoluto -ela disse, a voz calma, porém indiferente. Evitava olhar para o homem, mantendo os olhos no chão. — Não ficarei aqui durante essa semana pra ver você mentindo pra mim e agindo com teimosia. Não suporto isso, Juushiro. Eu nunca me senti tão traída como ontem.

Ao ouvir isso, Ukitake sentiu o sangue esfriar. Os olhos castanhos se arregalaram em um estado de desespero instantâneo. As palavras pareceram se cravar como ferro em brasa em seu coração, causando uma dor pior do que a da tosse que lhe afligiu anteriormente. Procurou no rosto de [Nome] algo que indicasse que era tudo uma brincadeira, que ela não estava com raiva e nem mesmo chateada... mas ela estava. Apenas pelo fato de que ela não olhava com afeto já denunciava.

Antes que ele pudesse abrir a boca para pedir perdão e dizer o quanto a amava em uma desesperada tentativa de se sentir menos culpado, mas [Nome] o impediu levantando a mão.

— Não terminei ainda -ela disse, ríspida. Lágrimas começaram a escapulir de seus olhos, o que machucou ainda mais Ukitake. — Você imagina como foi doloroso pra mim acordar e não te ver aqui?! Como eu fiquei preocupada com você??!! -a essa altura, [Nome] já não mais controlava as lágrimas. Chorou sozinha, longe do homem. — Você é teimoso e eu... eu só faço o que eu faço porque eu te amo!

E então ela se afastou mais ainda, topando na parede e ficando alí, de cabeça baixa, chorando. Amava Ukitake mais do que qualquer coisa no mundo, e apenas imaginar que o tinha perdido já era uma dor inconsolável. Não conseguia imaginar viver uma vida eterna sem o capitão que a conquistara com sua bondade e carinho extremos... viver sabendo que ele arriscara a própria vida por sua teimosia. Não quis olhar para o rosto de Ukitake.

Era raro para alguém tão gentil como Juushiro Ukitake sentir-se como a pior pessoa do mundo. Era sempre tão cheio de amor, cuidado, fazia de tudo para não magoar ninguém, e naquele instante simplesmente magoara a pessoa mais importante de sua vida. Ele olhou para as mãos, enroscadas no colo. Sua visão ficou turva, e quando achou que estava passando mal, notou que gotas de lágrimas mornas escapuliram escorrendo pelo rosto. Ele se apressou em secá-las com as mangas da roupa. Sentia tanta vergonha de si mesmo, uma vergonha impossível de se lavar com tantas lágrimas. Não conseguia acreditar em si mesmo, no quão cruel fora com [Nome] deixando-a preocupada, mentindo pra ela por uma missão.

Tudo isso quando a moça apenas estava preocupada com sua saúde. E ela tinha razão.

Sentiu que quando sofreu na noite anterior no mundo dos humanos, aquela foi sua punição por não escutar quem tanto o amava. Mentir após fazer amor com ela, deixando-a sozinha na cama acreditando que ele não iria para aquela missão foi o que mais corroeu a alma de Ukitake... e ele mesmo sabia que não se perdoaria por aquilo.

Ouví-la chorar era ainda pior. [Nome] tinha toda a razão de ficar com raiva dele, tinha todo o direito, e se não quisesse mais vê-lo ou falar com ele, ele entenderia. Ukitake a traiu e agora tinha ciência daquilo. Sentia-se tão mal que apenas queria poder levantar e abraçar [Nome], dizer o quanto a amava e como sentia muito por tudo aquilo... mas como quando a vergonha estampava seu rosto?

— Juushiro... -ela então chamou o nome dele, em prantos. Continuava de cabeça baixa, abraçando os próprios braços. — E se você morresse? Se eu te perdesse antes que você.... 

Ela se calou. Ukitake não conseguia mais suportar. Levantou-se da cama, sem se importar com a dor que sentia. Tinha um olhar tão doce quanto todos os outros, mesmo com tantas lágrimas molhando-lhe o rosto. Foi guiado pelo amor que sentia, pelo carinho que tinha para com [Nome]. Ela tentou protestar, fazer com que ele ficasse na cama, mas ela mesma sabia que ele era teimoso.

E ele foi até ela, andando bem devagar, a fraqueza implorando para que ele ficasse quieto, imóvel. Repouso absoluto era uma ordem para ele... mas não aguentaria ficar repousando, não quando [nome] estava sofrendo tanto por culpa dele. Ele não permitiria. Se era tão teimoso, era justo que fosse teimoso em recuperar a felicidade dela. Era obrigação dele fazê-la feliz, não sofrer daquela forma.

Ela não o impediu de abraçá-la. Aceitou quando os braços dele lhe envolveram, procurando encerrar alí as lágrimas. O abraço de Ukitake era como sempre muito quente e carinhoso, daquela vez demonstrava culpa e medo de perdê-la. O homem sorriu entre os cabelos dela, tentando expressar com palavras o quão linda ela era e o quanto ele a amava.

— [Nome]... eu nunca quis te machucar desse jeito... -ele disse, a voz grave demonstrando uma dor camuflada. Acariciou os cabelos dela, acolhendo seu rosto choroso em seu ombro. — Me perdoe por isso... você sempre faz tudo pelo meu bem... e foi egoísmo meu ter saído daquela forma. Por favor, aceite minhas desculpas, prometo que não deixarei minha determinação se sobressair a minha saúde. 

— Eu sempre te perdoarei, Juushiro... -ela disse, a voz abafada pelos cabelos brancos. Enquanto chorava, agarrou-se com mais força na roupa do homem. Isso só fez com que ele a abraçasse mais forte.   — Só... por favor... não me deixe assim outra vez...

— Não, nunca mais -ele prometeu, abandonando lágrimas de tristeza, substituindo-as por de alegria. Afastou-se um pouco de [Nome], apenas o suficiente para olhá-la nos olhos. 

Eles amavam o contato visual, esse era um importante detalhe em seu relacionamento. Ukitake acariciou o rosto dela com os dedos, sorrindo com a forma com que ela parava de chorar. Estufava-se de felicidade por ter sido perdoado, por não ter que passar uma semana inteira sem sua amada ao seu lado, sofrendo sozinho. Ela fazia de tudo por ele, ficava sem dormir e agia como uma mãe... e ele só podia retribuir da forma que conhecia: amando-a com todas as forças e obedecendo seus mais singelos pedidos.

[Nome] arregalou os olhos de repente. Ela olhou para todo o corpo de Ukitake e então começou a conduzí-lo para a cama.

— Juushiro, trate de ir se deitar! -ela exclamou, acompanhando-o até o leito. 

Ukitake riu um pouco, e logo em seguida tossiu. Imediatamente tentou confortar [Nome], dando leves palmadas nas costas dela. Deitou-se na cama, não querendo ouví-la brigar. Se era hora de se redimir, precisava começar daquela forma. Quando se deitou, ficou apenas observando o rosto dela, sentindo seus dedos acariciar os cabelos enormes e brancos. Ela o olhava com afeto agora, não mais com aquela raiva reprimida, o que confortou ainda mais o homem. 

Aliviada por toda aquela situação, [Nome] se permitiu deixar a raiva passar. Já tinha gritado tanto com Shunsui e com praticamente todos na Seireitei. Não aguentaria gritar mais com Ukitake. Ele já tinha aprendido uma importante lição e isso era evidente apenas por seu olhar meigo e carinhoso. Embora tivesse aparência abatida, Ukitake continuava esbanjando vitalidade em seu olhar e nos gestos. Além disso, [Nome] conseguia ver muito além do que isso... via nele a determinação e aquela velha teimosia. Mesmo que ela não tivesse o perdoado e escolhido ficar dias longe, sabia que ele se levantaria, iria atrás dela e se desculparia. Era do feitio dele ser tão teimoso.

E que ao menos não fosse teimoso na hora de ouvir quem o amava profundamente.

— Deite aqui comigo, [Nome] -ele pediu, sorrindo. Usou o dedo para secar as lágrimas que ainda umidificavam o rosto macio da amada. Ela sorriu com o pedido. — Quero te abraçar... e prometo que quando você acordar, ainda estarei aqui.

[Nome] então confiou nele. Sempre confiava. Deitou-se ao lado dele, acomodando o corpo magro entre o dele, sentindo o calor da pele febril lhe aquecendo bem devagar e o amor que ele tinha se espalhando, bem como os galhos de um bonsai, como antes já havia explicado a ela. Permaneceram por um bom tempo apenas compartilhando olhares e trocando carícias nos cabelos e rostos. Ukitake nunca deixava aquele sorriso, feliz demais para poder explicar o quão feliz estava por ter sido perdoado por ela. Em algum lugar de sua alma ainda se sentia um pouco culpado por ter feito [Nome] sofrer tanto por sua teimosia... mas aquilo seria consertado com o tempo, ele se esforçaria muito para aquilo.

Sorrindo, agora completamente feliz, [Nome] cerrou os olhos, confiando que após aquilo, Ukitake jamais esqueceria o quanto ela o amava. E com aquela promessa saindo dos lábios dele, ela sabia que ele também a amava.

Quase adormecendo, Ukitake sorriu vendo o rosto calmo e pacífico cedendo ao cansaço. Quanto tempo ela devia ter ficado acordada zelando por ele, mesmo com raiva? Ele então beijou a testa dela, com leveza. Pediu perdão mais uma vez em voz baixa, mas sabia que ela tinha escutado.

— Eu te amo, [Nome]... obrigado por cuidar de mim... eu vou cuidar de você também, e te amar para sempre.

Se amavam assim como um bonsai. Não importava quantas vezes errassem, o amor continuava a crescer e se ramificar. 


Notas Finais


E aí, o que acharam meus lindos e lindas??? *-* Ukitake merece todo o amor do mundo por ser tão fofo <3
E você Steph? Consegui destruir e reconstruir seus feelings?? te love, garota!


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