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História Esperançar - Lembranças


Escrita por: _hobisunshine

Notas do Autor


Disse que não ia demorar, não disse? Segue a foto do novo visual do Yoongi.

Capítulo 36 - Lembranças


Fanfic / Fanfiction Esperançar - Lembranças

O sol que entrava pela janela pequena deixava o quarto quente e se já não bastasse o verão e tamanho calor que beirava o insuportável, havia um corpo colado ao meu.

Sentia o suor se desprender do meu tronco com facilidade, molhando os lençóis e a pessoa ao meu lado. Mesmo assim Joohyun me prendia em um aperto sufocante.

Não importava o quanto tentasse me desprender, só conseguiria quando ela desejasse que eu o fizesse, e que fincasse as unhas em minha carne como um aviso de não tentar uma outra vez.

Porém, hoje era um daqueles dias, um daqueles quais acordo com raiva de tudo e de todos. Precisaria de muito esforço para não pirar diante da prisão.

— Acho que está na hora de acordar, meu bem — me remexi, tentando fugir do sufoco, mas ela me apertou com as unhas afiadas. — Juro por Deus que tento não me aborrecer, mas as vezes você passa de qualquer limite — bufei, segurando o braço fino que me rodeava a cintura.

Arqueei as sobrancelhas, indicando que falava sério, que não estava disposto a passar mais nem um minuto naquela posição desconfortável apenas para agradá-la.

Ela fizera como todas as outra vezes, forçando um bico gigantesco e finalmente me deixando ir. Respirei aliviado e corri para o banheiro, sem me importar a cena ridícula que dever ter sido meu pau balançando de um lado para o outro.

Após alguns meses de namoro estava a ponto de enlouquecer e jogar tudo para o alto. Um relacionamento pode ser sufocante, um relacionamento com alguém sem amor é de fato uma prisão. Para piorar, Joohyun tinha alguns comportamentos problemáticos.

Minha privacidade foi para os ares, junto com meu grupo de amigos. Joohyun vasculhava meu celular, computador e andava grudada em mim por todos os lugares.

Entre todas as coisas que me incomodavam, estava a falta de personalidade. Joohyun parecia querer se tornar uma cópia feminina minha. Até mesmo os fios ela tingiu, ruivos como os meus.

As mesmas roupas, mesmas músicas, mesmas comidas. Uma verdadeira obcecada. Meus escritos foram as únicas coisas que nunca permiti que se aproximasse, era meu segredo, uma parte de mim que ninguém conhecia.

A caixa permanecia guardadinha, recebendo cada vez mais folhas.

Depois de passar tempo demais na cama e em um banho qual tinha mais cara de fuga, precisei me arrumar correndo para chegar a tempo na segunda aula. Seokjin saiu mais cedo, sequer me acordou e não deixou nada para que pudesse comer.

Certamente também resolveu se juntar ao clube "Odeio Min Yoongi". Meus amigos estavam negligenciados, admito, mas é que meu tempo era curto e vê-los se tornara artigo de luxo.

Por vezes saíamos aos finais de semana, mas Joohyun sempre estava lá, grudada, como um verdadeiro carrapato. Talvez isso os irritasse só um pouquinho.

— Quando sair da aula, vou buscar você. Nós precisamos conversar — disse sério e ela me encarou com seus olhos chorosos.

Minha namorada vinha fugindo de falar comigo porque sabia exatamente que daria um fim em tudo, que tinha chegado ao meu limite. Mas eu não poderia continuar sendo a pessoa escrota, fazer a coisa errada.

— Acho que vou sair tarde do trabalho, então essa sua conversa vai precisar esperar um pouco mais.

Ao chegar na faculdade notei que estava mais atrasado do que pensei. Conseguiria chegar a tempo para segundo aula, mas não a tempo de comer alguma coisa. Precisei correr apressado pelos corredores, com a mochila remexendo a cada segundo.

— Hyung? — uma voz conhecida chamou e eu parei no meio do corredor, dando de cara com Jungkook. — Hyung, ainda bem que te encontrei! Estava começando a ficar nervoso.

— Kookie? — parei, olhei para o relógio e depois para a face confusa do mais novo. — Tenho cinco minutos, o que está fazendo aqui?

— Como sempre sem tempo para nós, não é mesmo? Eu vou estudar aqui, hyung! — ele sorriu, concordando com minha nova indagação em um aceno de cabeça. — Mas não consigo achar a droga da sala. Será que pode me ajudar?

— Vem, eu te ajudo! — me aproximei, passando o braço sobre o ombro dele e logo começamos a andar lado a lado. Nesse tempo ele havia ficado mais alto que eu, o que tornava a tarefa um pouco trabalhosa. — Tem muita sorte, no meu primeiro dia precisei me virar sozinho. Qual seu campus?

— Esse!

— Esse? — perguntei e ele concordou, sorrindo com aqueles dentinhos fofos e pequeninos. — Vamos nos ver com mais frequência então.

 

 

 

 

[...]

 

 

 

 As pessoas me encaravam, confusas enquanto eu guardava o material de trabalho às pressas. Assim que o final da reunião foi decretado, me levantei. Me curvei nervosamente em desculpas mais algumas vezes, correndo o mais rápido que pude em seguida.

Na saída do prédio acenava freneticamente para todos os táxis, mas nenhum parecia parar e foi aí que resolvi sair andando, rua após rua, até que um aceitou me levar.

Ofegante, disquei o número de Dawon e me rasguei em desculpas, dizendo que logo estaria lá. Os nossos encontros eram escassos, mas ainda aconteciam, e esse era um muito mais especial.

Finalmente uma das decisões que fizera após todos esses anos foi voltar ao antigo apartamento que morava com Hoseok, e prometi para mim mesmo que seria apenas para buscar minhas coisas esquecidas lá.

Mesmo que Dawon tivesse outros planos por todo esse tempo, eu só pensava em recuperar minhas coisas, minhas memórias. Assim que desci do veículo ela pulou em minha direção e me sufocou em um abraço.

Continuou grudada em mim quando subimos as escadas e tagarelava sem parar sobre o quanto as coisas estavam maravilhosas no namoro dela. Esse tempo não fizera grandes mudanças, minha ex-cunhada continuava a mesma desde que a conheci.

— Pronto? — segurava a maçaneta e me encarava, apreensiva. Apenas concordei com um movimento de cabeça e ela a abriu, dando espaço para mim. — Você primeiro.

O lugar não estava como no último dia, sim limpo, impecável, mas com os mesmos móveis. Entrar naquela sala trazia lembranças, muitas delas, e no primeiro momento senti a garganta fechar.

Cheguei a travar, mas Dawon se aproximou, apertando levemente meu ombro em um aviso de que estava tudo bem. Olhei ao redor, sentindo os olhos arderem e um aperto gigantesco no peito.

Continuei o caminho pelo cubículo, andando em direção ao quarto, e por mais tolo que fosse, me decepcionei ao não ver Hoseok ali.

Me aproximei do amontoado que minhas coisas faziam antes sobre a mesa, agora em algumas caixas, que logo foram vasculhadas. Fotos, roupas, presentes, bilhetes, material do trabalho de Hoseok, listas de supermercado, os cadernos que escrevia. Estava tudo ali.

— Você guardou tudo. Tudo. — Era um agradecimento.

Funguei, desistindo de lutar com as lágrimas ao pegar da caixa uma das fotos que tirei de Hoseok em uma de nossas tardes. O cabelo dele apontando para todos os lados, o sorriso preguiçoso no rosto.

Sorria para mim e caso fechasse os olhos, poderia até mesmo ouvir o "Eu te amo" que me disse naquele momento, sentir o beijo que ganhei em seguida. Tudo me acertou com muita força.

— O filho da puta é muito lindo, não é mesmo?

Meu rosto banhado denunciava o misto de sensações e a verdadeira confusão que se alastrava por todo o corpo.

O coração em um esmurrar frenético causando sufoco que me impedia de respirar e todo o sorriso idiota no rosto, por mais que não estivesse feliz, muito menos bem. Maldito.

Esquecera até mesmo tudo que viera preparando, minhas desculpas esfarrapadas para ficar forte. Solucei, baixando a cabeça e recebi um abraço apertado.

As lágrimas ganhavam força, murmurava coisas desconexas colado ao corpo da mulher que me apertava, a essa altura já chorando também. Talvez saudade. Era sim, saudade. De formas diferentes, mas nós dois estávamos com saudade.

 

 

 

 

[...]

 

 

 

 

O café estava em seu funcionamento normal, mesmo assim alguns funcionários se aglomeravam ao redor de Seokjin em seu dia de despedida ali.

Em pouco mais de dois anos ele fez muitos amigos, como em todo lugar que passou, ganhou a confiança de todos. Jungkook e eu fomos os únicos a vir.

Os outros estavam ocupados demais com seus deveres, a responsabilidade que a vida adulta trazia. Observávamos tudo ao longe, tomando um café. Não demorou para que Seokjin se juntasse a nós.

— Se não precisasse mesmo, não deixaria esse lugar tão cedo — comentou ao sentar, segurando um doce em mãos.

— Quer servir café a vida toda? — zombou o mais novo. — Vai ser um médico, Jin. Pode fazer isso vestindo jaleco depois que conseguir o diploma.

— É o tipo de lugar que te acolhe e te recebe tão bem que parece tão errado ir embora. Tenho tantas memórias boas aqui — continuou ignorando o que o outro dissera. O que fez Jungkook rir e eu lhe dar um tapa forte. — Faz sentido?

— Faz sim. Te entendo, não sei como seria hoje sair daquela revista. Me hab- — a frase morreu quando olhara ao sino que indicava um novo cliente. — Só um minuto.

Sem dar importância aos chamados confusos dos meus amigos, levantei totalmente por impulso, indo em direção de uma das mesas recém ocupadas.

Em direção à Lee Soonkyu, para ser mais exato. Os meses sem contato parecia décadas, muitas delas. O rosto antes totalmente infantil se tornara mais sério, mais maduro.

E sem dúvida não me lembrava de todas aquelas curvas antes. Belas pernas estavam expostas em shorts jeans, não escondidas em calças largas.

O cabelo crescera consideravelmente e remexia enquanto ela ria da piada de uma amiga, passando sobre o decote que me deixou babando. Parecia uma mulher, não mais uma menina da escola. Não lembrava em nada a garota que conhecera.

— Soonkyu? — chamei, me aproximando da cadeira. — Desculpe incomodar, só te vi entrar e resolvi dar um "oi". Já faz tanto tempo.

Soonkyu e eu ainda trocávamos mensagens, mas não tão constantemente como antes. Nossos encontros começaram a ser raridade, ainda mais quando comecei a namorar. Ela ainda estava por dentro da minha vida, mas não aparecia muito.

— Yoongi? Meu Deus, quase não te reconheci. Essas roupas, esse cabelo, os brincos. O que aconteceu com você? — ela sorriu, levantando e me cumprimentou com um aperto de mão. — Quer sentar conosco? Viemos no intervalo do estágio comer uma torta. Essa é minha amiga, Seohyun.

— Olá, é um prazer! — me curvei educadamente, recebendo um sorriso de volta. — Estou na outra mesa com os meninos, só vim até aqui porque senti sua falta durante esse tempo e quis dizer olá. Mas não vou atrapalhar a conversa de vocês, já estou indo.

— Espera — segurou meu braço antes que desse o primeiro passo. — Primeiro me diz que vai parar de fugir de mim.

 

 

 

 

 

 

[...]

 

 

 

— E então, amigo — Dr. Shin cruzou as pernas, sentando confortavelmente na poltrona. — O que aconteceu?

Pensei nas semanas passadas e em todas as novidades que aconteceram. Poderia enumerar as confusões, uma por uma, de acordo com a gravidade ou dia em que ocorreram, mas já me sentia sufocado uma outra vez só de pensar no assunto.

Acabar guardando tudo para mim resulta em um eu à beira de uma crise de nervos e isso não era legal, não tinha boas lembranças da primeira vez.

Numa primeira Jungkook sofreu, não queria que mais ninguém além de mim sofresse com as consequências dos meus erros. Por esse motivo corri no meio da noite até aqui, certamente acordando-o de um sono muito bom, já que a expressão no rosto do homem não era das melhores.

— Dawon me convidou para o casamento dela, vai acontecer daqui a um mês e... — olhei sobre os ombros dele, vendo uma mulher passar de pijama. — Eu posso passar no consultório amanhã? Tenho tanta coisa para contar, estou quase enlouquecendo. Sei que não deveria ter aparecido aqui essa hora, sinto muito.

Simplesmente corri até a casa dele porque me sentia sufocado com a novidade. Estava bem, indo muito bem, mas bastou uma pequena coisinha acontecer e tudo pareceu desandar.

— Você não precisa mais da terapia. Já se passaram três anos, Yoongi — suspirou, ajeitando os óculos. — Tente conversar, enfrentar seu problema. Se abra com os seus amigos, nunca é bom guardar coisas demais. Você é forte, mas não precisa aguentar tudo sozinho.

— Estou com medo — assumi.

— Medo?

— É claro. Todo mundo está notando minhas mudanças de comportamento, vivem me perguntando o que há de errado comigo, o que só tornas as coisas piores. Eu não era assim, não mais.

— E o que mudou? Estava tudo indo tão bem.

— Ele vai voltar — murmurei e ele franziu o cenho, indicando que queria mais. — Eu acho, sei lá. É o casamento da irmã dele!

— E o que tem de ruim no fato dele voltar?

— Estou assustado. Odeio sentir medo de tudo, ser um verdadeiro covarde. Não quero voltar a ser assim — desviei o olhar para meus dedos que descasavam sobre as coxas. — Estou com medo de encará-lo, pensando seriamente em desistir de ir nesse casamento, ver meus amigos. Qualquer coisa para não ter que olhá-lo, não ter que sofrer como da última vez. Tenho tanto, tanto, tanto medo.

— Não há como fugir dele, Yoongi. É seu problema, sua fraqueza. Enfrento-o! — se arrumou sobre a poltrona, jogando o corpo para frente para que pudesse se aproximar de mim. — E ser alguém corajoso não tem nada a ver com não sentir medo. E sim com o que você é, e as escolhas sensatas que faz. E se faz a coisa certa. Enfrente Hoseok e faça a coisa certa.

 

 

 

 

[...]

 

 

 

Nossas provas terminaram, assim como mais um semestre de esforço. Me sentia livre de um peso gigantesco. As noites viradas estudando finalmente tiveram um fim. Seokjin por outro lado parecia ainda preocupado com sua nota, mesmo que fosse um dos melhores da turma.

A mania estranha dele de perfeição estava acabando com qualquer resquício de bom humor, por essa razão ele era o único no outro sofá, enquanto os meninos e eu nos apertávamos no outro, encarando-o enquanto resmungava sobre uma questão.

Ninguém se atreveria a atrapalhar o monólogo, mas também ninguém queria ficar por perto. Jungkook levou a mão até minha coxa, apertando-a.

O encarei e ele rolou os olhos (certamente cansado daquele mau humor), o que me fez soltar uma risadinha.

Ficamos mais próximos, levando em conta que nos esbarrávamos todos os dias pelos corredores, ainda tinham as saídas com todos os meninos que se tornaram mais frequentes outra vez.

— Aquele professor fez de propósito, eu juro por Deus. Esse homem me odeia — Seokjin fez uma pausa e levamos nossos olhos até ele outra vez. — Vocês dois estão flertando?

— O que há de mal nisso? — Taehyung falou pela primeira vez desde que chegou. Andava pregado no celular há algum tempo, sempre resolvendo algum problema. — Yoongi hyung está solteiro agora, Jungkook também não tem ninguém.

— Ele terminou o namoro ontem, ontem! Não está nem um pouco mal? — neguei com a cabeça e os dois ao meu lado riram. Jin respirou fundo. — Meu Deus, o que fizeram com seu coração? Colocaram uma pedra no lugar?  Você namorou com ela por dois anos!

— Você está muito sensível, hyung — o mais novo entre nós rolou os olhos. — O que aconteceu?

— Eu sei lá, essas provas acabaram comigo. Preciso mesmo beber, comer um chocolate, foder. Ou os três... — a frase fora interrompida pelo celular tocando. — É o meu namorado. Se me dão licença, vou conversar com alguém que me ouve de verdade.

Em um pulo ele levantou, se afastando para atender e deixou nós três gargalhando para trás. Taehyung levantou, jogando uma almofada no mais velho que acertou a porta, sentando em seguida no sofá agora vago.

Tirou o celular do bolso e me afastei, agradecido pelo espaço livre que nos deixou. Mas antes que respirasse aliviado por não ter ninguém me sufocando, lá estava Jungkook, deitado sobre minha coxa, com aquele olhar de criança pidona.

Deixei um carinho nos fios agora em um tom de castanho mais claro, assistindo a face se alegrar com o contato.

— O que acha de sair hoje? — passou a língua nos lábios rapidamente. — Estamos de férias, vamos beber.

— Estou de férias da faculdade, não do trabalho. Amanhã ainda precisarei estar na revista.

— Você bem que podia conseguir alguma coisa para mim lá, não é? — rapidamente sentou sobre as pernas, me olhando esperançoso. — Pensou o quão bom seria se trabalhássemos no mesmo lugar?

— Pra quê? — mais uma vez Taehyung se intrometeu, mas ainda tinha os olhos no celular. — Você só quer ficar grudado no Yoongi hyung.

— É minha área, e um estágio em uma das melhores revistas do país seria bom para o meu currículo — rebateu, ofendido. — Mas ficar perto de Yoongi não é nenhum sacrifício, ainda mais quando ele está solteiro e cheio de amor para dar.

— Vou pensar no seu caso — coloquei um travesseiro embaixo da cabeça, deitando confortavelmente —, também não é de um todo ruim olhar para você.


Notas Finais


Dou um doce pra quem adivinhar quem vai chegar no próximo capítulo.


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