História Esquizofrenia - Camren - Questionamentos

POV CAMILA

A minha mãe não parava de insistir na porta do meu quarto

-você precisa ir para a terapia querida, é apenas aos sábados, sabe que é necessário

-eu não quero, é chato, e aquela clínica é cheia de pessoas estranhas, elas ficam me encarando, eu não gosto, já basta os remédios que me fazem tomar

-seu médico que indicou, vai te fazer se sentir melhor

-não! me deixa sozinha, isso vai fazer eu me sentir melhor

-mas Kaki..

-não mãe! Se quiser me levar será a força, amarrada!

-sabe que eu não faria isso contigo

-então me deixa, por favor, eu não quero ser rude

Ela então trancou a porta me deixando em minha solidão. Já se sentiu como se não pertencesse a esse mundo? Eu não consigo me encaixar em nada, as garotas normais da minha idade estão saindo com os amigos, com namorado e eu aqui, parece que criei raízes na solidão, minha interação social é péssima, eu sempre fico nervosa ou com medo de acabar tendo uma crise, não é todo mundo que entende, não é todos que tentam se colocar no meu lugar, a esquizofrenia é um dos principais transtornos mentais pelo qual infelizmente ainda é algo pouco conhecido pela sociedade, é cercada de tabus e preconceitos, sempre achando que esquizofrênicos são violentos e imprevisíveis, alguns já me falaram que sou culpada por ter essa doença, mas eu não tenho culpa alguma, acha mesmo que eu optaria por sofrer preconceito, ser aterrorizada por pensamentos ruins e vozes que parecem querer explodir a minha cabeça? Ninguém sã gostaria de algo assim, as vezes eu quero matar o que está tentando me matar, ou seja... esquizofrenia, ela se tornou a minha sombra diária e é por causa dela que eu sou assim, EU A ODEIO! EU A ODEIO TANTO!

Eu gostaria de ser como as outras meninas pelo menos uma vez, queria sair para um encontro casual, me apaixonar e estar em meio a galera como fazem, eu posso fazer isso mas... isso não significa que vou agir como naturalmente as pessoas fazem, em uma festa eu sou sempre aquela que fica parada ao canto de parede vendo as outras dançarem, é como se minha inimiga pessoal ficasse me dizendo ‘’você não consegue ter uma vida normal como elas’’ ‘’ah vai embora, aqui não é lugar pra você’’ ‘’já se olhou no espelho hoje? Seu cabelo é ressecado, olha para o delas, não tem chance alguma de alguém te olhar com desejo’’ o que fazer quando não conseguimos lidar com os nossos monstros internos? Aceita-los e seguir em frente? Eu tenho feito isso, eu tenho aceitado a minha condição e tentado constantemente aprender a viver com ela.

Os seres humanos são uns hipócritas egoístas! Quem realmente se importa com você? Quem realmente se importa em querer desejar um bom dia, um boa tarde ou boa noite, ninguém de fato quer saber como você se sente, há alguns que até perguntam mas na maioria das vezes é por educação, elas no fundo não querem saber a sua resposta. Elas só se importam com elas mesmas, estão mais preocupadas com o celular novo que foi lançado, com a nova roupa que está na moda e que elas precisam desesperadamente comprar para se sentirem felizes, ou com o carinha que todos querem pegar, ela também precisa pegar para se sentir boa o suficiente, as pessoas gastam mais tempo pensando em coisas pelo qual não tem utilidade alguma, elas não entendem que os maiores bens e os mais importantes o dinheiro não pode comprar, ele compra objetos mas não compra afeto, compra roupas de marca mas não compram autoestima, certo que uma maquiagem nos deixa mais bonitas, mas já parou para pensar que é como uma máscara? Depois a maquiagem derrete, sai da pele, do que adianta? Eu não quero o que as pessoas normalmente querem, não sonho com um carro do ano, com uma roupa de marca, com um garoto cobiçado, com um celular de ultima geração, eu sonho em ser feliz! Eu sonho em poder parar de me sentir vazia, em poder verdadeiramente me olhar no espelho e me sentir bela, eu sonho em receber flores de um admirador secreto, em ser surpreendida, em poder interagir com as pessoas sem medo, sonho em ser normal, mas não o normal padrão da sociedade, o normal que me permite enxergar com clareza, saber o que é realidade e o que é alucinação da minha mente, o normal que me permite estar em meio a uma multidão sem sentir meu coração batendo rapidamente e o meu corpo travando, como se a qualquer momento eu fosse desmaiar, sonho eu não depender de tantos remédios, eles me fazem mais mal do que bem, eu fico tonta, eu fico fraca, eu não tenho fome, eu tenho enganado meus pais em questão de alimentação, já faz dois dias.  Porque as pessoas não se importam com as palavras que saem da boca delas? Elas não se importam se isso vai ou não te atingir de forma negativa, sabe os demônios? A maioria se libertaram do inferno e estão aqui na terra, eles possuem rosto, SOCIEDADE E SEUS CONCEITOS, padrões de beleza, MODA! Mas que grande babaquice!

Uma vez ao chegar no colégio ouvi de um garoto, Austin, ele sempre me detestou, ele olhou pra mim e falou ‘’você até que ficaria bonita se cuidasse mais da aparência, é até inteligente, uma garota inteligente e perturbada’’ eu passei dias pensando nisso, PERTURBADA, é... talvez eu seja mesmo, eu corri pra casa, me senti na cama, me abracei, sim, envolvi meus braços em meu próprio corpo e chorei, o que há de errado com o mundo? Quer dizer, o que há de errado com as pessoas que nesse mundo habita? Elas arrancaram várias partes de mim, me açoitaram com cada palavra suja e medíocre, me deixaram marcas. Eu só queria alguém que pudesse fazer o meu dia valer a pena, então ela veio... a bad girl do colégio, eu vejo  a máscara que ela usa todos os dias, sempre sorrindo e bancando a garota impenetrável, como se nada pudesse quebra-la, mas talvez, só talvez... Lauren Jauregui seja como eu, uma garota perdida.