Pov Camila
Parecia que as minhas pernas tinham controle próprio, eu apenas abri a porta de casa e sai a procura de um delírio da minha mente, mas é claro que Lauren não estaria no nosso lugar, ela está em Orlando, mas eu só cai na realidade quando vi a minha frente o clarão dos faróis de um carro e meu coração quase salta para fora quando ouvi o barulho do freio e quase fui arremessada para o outro lado da rua, teria sido fatal. uma mulher desesperada saiu de dentro do carro.
-ai meu Deus, você está bem?
eu não conseguia me mover, eu não conseguia falar, fiquei apenas estática olhando para o veículo que faltou pouquíssimo de espaço para bater em mim, e tudo por minha culpa, eu sou uma grande idiota.
-moça, fala alguma coisa
-eu... eu estou bem, por favor, só me leva pra casa
-claro, me diz onde é
eu não tinha andado muito, apenas apontei para o final da rua e entrei dentro do carro que quase me matou. meu coração ainda martelava no peito, a sorte foi que ela não estava vindo em uma velocidade rápida, ou eu já era.
-você não parece bem
-eu não estou...
-o que foi isso na sua mão?
-um corte com vidro, quebrei um copo acidentalmente
a mulher parou o carro, ela parecia mais nervosa do que eu
-eu quase matei uma pessoa, ai meu DEUS
-mas não matou... -respondi baixo e abri a porta
-obrigada
-se quiser eu posso...
-não, eu posso me cuidar sozinha agora
ela então assentiu e saiu com o carro. eu apenas entrei dentro de casa as pressas, e dei de cara com o meu pai.
-onde estava?
-eu... eu sai pra tomar um ar..
-sem mentiras Camila, eu não acordei a sua mãe, mas já ia atrás de você, não pode fazer isso, você está medicada
-eu só achei que... que Lauren estava..
-ela está em Orlando minha filha, você precisa lidar com isso, vocês duas precisam ser fortes
-eu sei, e eu quero ser, mas eu me acostumei com a presença dela, me acostumei a ser forte porque eu tinha ela
-tinha não, você tem! ela ainda é a sua namorada e te ama, só está pensando no futuro de vocês duas, depois de amanhã já é o seu primeiro dia de aula e precisa estar bem pra isso, precisa se esforçar e estudar, eu sei que 3 anos não é pouco, mas vocês vão conseguir passar por isso, veja eu e Sinuhe, nossos pais viviam em guerra, eu tive que lutar muito pra ficar com ela, mas aqui estamos, construímos uma família, agora vamos ter mais outra filhinha, nós superemos os obstáculos juntos, vocês podem fazer isso também. quando se sentir desesperada, respire fundo, chore, ou nos chame pra conversar, mas não saia de casa desse jeito
-eu quase fui atropelada pai
disse chorando e abraçou Alejandro
-você vai me dar bronca? eu sinto muito
-calma.. eu não vou brigar com você, tudo bem... está tudo bem agora, você só precisa descansar querida
ele segurou na minha mão e me conduziu até o quarto, me cobriu e alisou os meus cabelos, do jeito que fazia quando eu era criança e acordava por ter tido um pesadelo.
-durma minha menina, quando o dia amanhecer vai se sentir melhor, apenas esvazie a sua mente e pense positivo, confie no amor da Lauren por você
-obrigada papa...
-durma... eu vou ficar aqui até que você adormeça
eu então fechei os olhos e me tranquilizei por não estar sozinha. faria como ele pediu, eu daria tudo de mim para estar bem, pra continuar firme, porque Lauren merecia isso, que eu conseguisse ser forte.
***
escuro, vazio, silencioso. era o quarto onde Kaya estava, a mesma abraçava as próprias pernas sem conseguir dormir, estava cansada de estar ali, não aguentava mais se sentir como um bicho enjaulado, a última vez que sorriu verdadeiramente foi quando viu Emily, e foi tão breve, mal teve tempo pra conversar direito com ela, a garota já iria pra Orlando e a deixaria... mas era por ela que estava aguentando tudo aquilo, a abstinência que passou por ela lhe estraçalhando por dentro, fazendo-a passar mal. o medo da solidão, o medo de perder a si mesma e perder a melhor coisa que aconteceu em sua vida, Emily.
-o que faz acordada a essa hora mocinha?
a enfermeira perguntou ao entrar no quarto tão branco que dava dor de cabeça
-não consigo dormir, eu preciso falar com ela
-sabe que as coisas não são assim, falta pouco pra você sair
-as aulas na universidade começam depois de amanhã, não tem como apressar isso? eu estou bem! eu quero viver uma vida normal como as outras garotas da minha idade, eu quero falar com a minha namorada, sinto falta dela
-eu tentar conversar com os médicos e com os seus pais
-faça isso por favor Isabel, eu vou enlouquecer caso fique aqui por mais tempo
-você foi forte até agora Kaya, não vai fraquejar
por todo o tempo em que ela esteve na clínica Isabel se tornou a única confidente que ela tinha, a única que confiava ali dentro, talvez se não fosse por ela já teria perdido a cabeça.
-Isabel...
-sim?
-me deixa ligar pra ela, por favor
-já está perto de amanhecer, o médico virá cedo, o que vão fazer comigo se souberem? eu posso perder o meu emprego
-eu sei, mas vai ser rápido, eu prometo, você fica corredor, vigia a porta, por favor, eu te imploro
-ela deve estar dormindo
-ela vai me atender
a mulher pensou um pouco, e mesmo correndo riscos ela assentiu
-tudo bem, você tem 5 minutos
entregou o celular a Kaya e saiu do quarto pra ficar no corredor. ela digitou o número rapidamente e então chamou uma, duas...
-alô
seu coração acelerou de imediato, assim que ouviu a voz doce do outro lado da linha
-Emy...
-Kaya?!
-sim amor
-ai meu Deus, Kaya, como? como conseguiu?
-depois eu te explico, eu só precisava falar com você, eu sei que estou aqui por causa das drogas, mas quer saber? o meu maior vício é você EMY.. eu não aguento mais de saudade, eu preciso de você
-eu sei, eu também preciso de você, estou morrendo de saudades, a gente vai se ver logo, eu prometo tá? você nem imagina o quanto estou feliz por ouvir a sua voz
-eu também estou feliz, mas não tenho muito tempo, você chegou bem?
-sim, e tenho uma colega de quarto muito legal, mas aviso logo que não precisa ficar com ciúmes tá?
ela fez bico mesmo que ela não pudesse ver, mas Emily conhecia ela tão bem que sabia
-não faça bico
-Kaya, precisa desligar -Isabela colocou a cabeça na porta
-só um minuto
-quem é?
-a enfermeira, amor... eu tenho que desligar
-t-tudo bem, eu... eu vou ser forte ok? por nós
-eu também, eu vou sair daqui, vou cursar a faculdade e vou te ver assim que puder, não esquece de mim
-nunca, não consigo pensar em outra coisa
-eu te amo
-eu também te amo demais
-se cuida
-você também
-Kaya! -Isabela falou de novo
-eu vou desligar! espera.. Emy..
-sim?
-não me troque
-nunca
ela então respirou fundo se sentindo aliviada e desligou. entregou o celular a Isabel
-obrigada! muito obrigada
-agora você tem que dormir
-eu vou... agora posso dormir tranquila. obrigada mesmo
a enfermeira sorriu e puxou o cobertor, cobrindo o corpo pálido e magro da garota
-fique bem
beijou a testa dela e saiu do quarto. encostou as costas na parede e fechou os olhos
-eu me arrisquei por você..
disse baixinho, a enfermeira que nutria sentimentos pela paciente, e ainda mais, a paciente que já era completamente apaixonada por outra.
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