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História Estação 12.3 - Transmissão 0.3: Roach


Escrita por: deteguk

Capítulo 3 - Transmissão 0.3: Roach


O toque que marcar o fim das aulas parece despertar todos os alunos que se encontram afogados no sono profundo que a aula de física consegue causar a eles. Não que eu seja um aluno exemplar, no entanto, tenho certa pena do professor que tenta forçar a si mesmo um divertimento que claramente não é de sua personalidade para conseguir atrair a atenção dos alunos.

Recolho minhas coisas com certa calma, principalmente pela radiola estar completamente despedaçada em uma caixa média de madeira de primeiros socorros que encontrei nas coisas da mamãe, enquanto a maior parte dos alunos correm com desespero para fora da sala de aula e outros ocupam-se em conversar com alguns colegas. É meio engraçado ver que quase todos os dias as mesmas cenas se repetem de forma quase singular. Assim como é singular que eu grude os fones em meus ouvidos e caminhe apressadamente até o refeitório.

Não vou mentir e dizer que passar o intervalo inteiro em um espaço tão cheio é algo que me agrade, porém, Song afirma que é algo bom mostrarmos que nosso namoro sempre está firme e forte para todos. Que somos perfeitos juntos. Minhas mãos se fecham em puro nervosismo quando avisto meu namorado encostado a uma das mesas metálicas, cercado pelo grupo de jogadores e algumas meninas peitudas e babacas, com os sorrisos falsos sendo jogados em todos os ângulos e por todas as direções.

Não toquei uma palavra sequer com Song desde a noite passada. Sinto algo ruim. Torço para que o corretivo tenho coberto bem minhas olheiras recentes, por conta de ter passado bons minutos chorando e ainda tentando consertar o rádio até tarde da noite. Inclusive, os pequenos cortes em meus dedos são culpa das farpas que o objeto quebrado me causou.

Quando meu namorado sorri para mim, tenho certeza absoluta que o desentendimento de ontem é algo que deverá ser “esquecido” por mim.

Suas mãos seguram minha cintura de forma possessiva e seus lábios me selam rapidamente.

— Oi, amor. — Sua voz sai carinhosa. Posso sentir o olhar de todos focados em nós dois, algo que me incomoda profundamente.

— Oi… — Sua mão aperta ao redor de mim. — Amor.

— Está com fome? — Song me pergunta, novamente se aproximando para me beijar, no entanto, sem saber o por que, me afasto. — Vem, vamos pegar algo para comermos..

Yunhyeong me puxa pela mão, entrelaçando nossos dedos e me obrigando a segui-lo. Distraio-me observando todo o refeitório, distraído com o barulho que todos os jovens em conjunto conseguiam causar.

Avisto um rosto um tanto conhecido em meio a multidão de jovens, meus olhos se abrindo um pouco mais pela surpresa e uma certa alegria surgindo. Taehyung. Não posso chamá-lo. Por algum motivo, não quero que ele me veja na companhia de Song e por isso desvio de seu rosto o mais rápido o possível, olhando cuidadosamente ele sair do refeitório.

Yun para em frente as bandejas que são postos nossos lanches, pegando duas bandejas ao soltar minha mão e entregando o dinheiro necessário para pagar meu lanche e o dele. Não o questiono, afinal, me acostumei ao fato de ele ser alguém de certo mais carinhoso em público.

Eu o sigo até retornarmos a mesa de antes e me sento em silêncio quando os amigos dele nos rodeiam.

Deixo o sanduíche de lado e me contento em comer a pequena maçã ao canto da bandeja. Ela não está doce.

— Jeongguk. — Song me chama após ficar alguns minutos conversando com seus amigos. — Vou precisar sair mais cedo hoje… Tenho a vistoria do meu histórico escolar para a bolsa.

Não sei do que ele está falando, nunca chegou a comentar algo comigo.

— Que bolsa? — Pergunto por instinto, sem pensar quais consequências elas podem causar.

— Shhin… — Um dos amigos de Yun ri, batendo no ombro do Song. — O próprio namorado não sabe da sua vida, Yunhyeong.

Song ri, suas mãos apertando minhas coxas por debaixo da mesa e seu sorriso forçado me mirando.

— A bolsa que eu te falei, amor. — Ele repete. Sinto a obrigação de concordar com suas palavras. — Que eu estou tentando conseguir para entrar na faculdade, a bolsa de esportes.

— Ah, claro! — Uso o máximo de empolgação que consigo, disfarçando a mágoa. — Lembro de ter me falado dela.

— Então, hoje é um dos processos para entrar na lista dos possíveis bolsistas…

Song aperta ainda mais os braços ao redor de mim. Quando ele faz isso é um sinal silencioso para que eu seja mais animado, ao menos é o que ele me diz.

— Espero que dê tudo certo. — Sussurro, deixando meu corpo pesar mais para ele. Sinto falta dos tempos onde Song não fazia questão de nos expor para todos e se focava em ser mais carinhoso.

— E vai.

Ele me afasta sem notar minhas reais intenções e pega uma batatinha de uma dos lanches das meninas que sorriem forçadamente para ele. Encaro os cortes pequenos em minhas mãos, pedindo para que todo o tempo do intervalo passe o mais rápido o possível.

— Eu preciso ir. — Song comenta após conversa algo com um dos amigos dele, beijando meus lábios ao me puxar repentinamente. — Não se esqueça que após a aula você tem treino, precisa trabalhar mais seu corpo, Jeongguk.

— Tudo bem…

— E não fique papeando com outros, se foque no treino e depois vá direto para casa, sem passeios.

Song pega sua mochila, antes jogada sobre a mesa de metal, e sai andando sem dizer nada. Penso em respondê-lo, mas o medo que sinto é o suficiente para me calar por completo. Não sinto mais fome.

Meus pés se movem por conta própria ao me arrastar para fora do refeitório, minha barriga arde devido ao tempo que já passei sem comer, entretanto, sinto que se tentar comer algo vomitarei no mesmo instante. Os corredores da escola continuam movimentados e por esse motivo resolvo me isolar na área do antigo clube de dança, que acabou por ser fechado pela falta de membros e dinheiro para manter ele. A maioria dos alunos evita aquela área no período de aula por ser mais afastados das salas de aula e muitas vezes sequer lembram da existência daquela sala de aula, mas sinto que ficar sozinho é a única coisa que pode me fazer bem agora.

Preciso dar um jeito na radiola, mesmo não entendo absolutamente nada em como proceder nesta situação, mas não posso simplesmente deixar um dos bens que mais me dá atenção naquela casa, completamente quebrado. Posso pesquisar no google ou sei lá, ver tutorias no youtube, meu celular é bem antigo, não sei o ano de publicação, mas é um Nokia 5320 que Song diz ser eficiente para as poucas coisas que eu preciso fazer. Ele trava muito e eu ainda tendo que apagar muitas coisas para sustentar o aplicativo do Spotify, mas é por uma boa causa, preciso da Estação 12.3.

A área dos clubes é dividida em duas partes em um corredor bem estreito, é simplesmente enorme e separada por um vão que dá para os banheiros do segundo andar, nas primeiras cinco portas existem os mais populares e rentáveis para a escola, depois, nas outras três, por fim o de dança que é necessário descer apenas dois degraus e empurrar com força uma porta de latão, foram brutalmente massacrados pela necessidade de formar nossas mentes para os vestibulares. Song é presidente de dois, só não sei quais.

Contudo, quando forço a porta improvisada, me segurando em um dos degraus para não levar um tombo, percebo que não estou sozinho.

— Opa! — exclamo quase de imediato, ao perceber alguém acomodado no chão empoleirado. — Sinto muito.

Sinto uma estranheza no peito, não tenho outro lugar para ir se não aqui, sinto como se fosse o único lugar que não tivesse pares de câmeras me observando. Talvez possa ficar aqui com seja lá quem…

— Jeon? — essa voz. Quase sinto um solavanco confuso quando Kim Taehyung ergue-se e sorri para mim, caminha em minha direção apenas para ligar o interruptor, o salão todo se ilumina, lonas para todos os lados, e o que um dia foi uma parede espelhada, contudo, agora só existem alguns poucos cacos fixos. — Ei, olha você aí! Gosta desse lugar também?

Não preciso ir embora! Droga, se Song souber disso… mas, eu não preciso ir embora.

Kim se aproxima de mim, com aquela mania de querer deixar as pontas de seus dedos em contato com a minha pele, me puxa para o centro e sentamos de frente um para o outro. A radiola pesa nas minhas costas e deixo a mochila repousar cuidadosamente ao chão, mas o tilintar do metal acaba chamando atenção de Taehyung. Ele consegue perceber tanta coisa, isso é tão interessante.

— O que você tem aí, hein?

— Acho que se eu te contasse você riria de mim! — estou sorrindo, é mais o medo de mostrar que em uma pequena caixa a destroços de um rádio antigo do que qualquer outra coisa. Porém, quero contar a ele, não sei, pedindo um pouco de ajuda? — É algo antigo e… quebrado.

— Estou curioso agora, me mostra! — Taehyung falta saltitar de um lado para o outro com a bunda sentada no chão. Seus cabelos estão tão grandes, parecem não ver uma tesoura a dias, os fios acastanhados caem em seus cílios e moldam uma cortina fascinante em seus olhos. — O que seria algo antigo e quebrado? Quer tentar uma charada? Ande, tente uma charada, quero tentar adivinhar.

— Posso te mostrar…

— Charada é mais divertido! — ele inclina-se em minha direção e toca a ponta de meu nariz com seu dedo indicador, por uns instantes, fecho meus olhos apenas absorvendo, mesmo que tão singelo. — Pense, pense. Quero tentar adivinhar da melhor maneira possível!

Penso na radiola, nem ao menos me dei o trabalho de dar um nome a ela. Tem a parte revestida em madeira, as pequenas caixas de sons claramente do século passado, as partes em metal e uma antena meio desigual que não capta muito bem as frequências. Passava parte do meu dia com ela, não me sinto bem assistindo televisão, filmes ou coisas do tipo, mesmo que Song seja apaixonado em ver filmes de lutas todo o santo sábado. Só gosto da radiola e as diversas coisas que ela me proporciona.

— Bom, ela tem uma parte em madeira e uma parte de metal.

— Ela é mulher?

— Ela é alguma coisa… — droga, num sei fazer isso. Suspiro e Taehyung solta um risinho, de certo modo, isso me acalma. — Bom é, ela me ajuda a escutar uma coisa que anda me fazendo muito bem ultimamente e eu nem sei o motivo. Hmmm, ela tem uma antena e usa ondas para se comunicar com… hmmm? O mundo, acho.

— Você usa para escutar? É como… um rádio? Ou é… não sei direito, acho que é um rádio, só não sei bem o por quê.

Não respondo, apenas puxo o zíper até o final e retiro a pequena caixinha preta com todo o cuidado do mundo do meio das minhas apostilas e cadernos de anotações. Abro o pequeno pino dourado e mostro os pequenos pedaços da radiola a Kim Taehyung, as partes da madeira em tons de carmim parecem bem firmes, contudo, os feixes em metal parecem meio desiguais.

— É uma radiola, minha mãe comprou algumas coisas para mim em um feira de antiguidades que teve aqui na cidade há alguns anos! Eu tenho até alguns vinis, e uma vitrola Ion Max em vidro. — Ótimo, agora estou tagarelando sobre minhas baboseiras, porém, Kim me surpreende, ele está analisando meu pequeno rádio. — Eu nem sei se tem conserto.

— Conserto tem sim, na verdade ela só desmontou. Os fios ainda parecem fixos está vendo? Só precisaria trocar algumas peças pequenas talvez, e uma antena nova, essa não vai funcionar nem com reza braba! — Os capacitadores e os resistores estão em perfeito estado, talvez o problema seja o cordão, mas tenho certeza que posso dar um jeitinho. Tenho uns rádios antigos lá em casa também, ou os restos dele. Gosta de desmontar e montar, me relaxa um pouco.

Essa é a informação mais interessante que eu ouvi, talvez a presença de Kim Taehyung e tudo o que ele faz possa estar mudando um pouco a minha percepção do que é certo ou errado. Mas ele conserta rádios e tem alguns dentro da casa dele, daria tudo para ver.

— Eu adoraria te mostrar, sabia? É só que a minha casa é… diferente.

— Se me deixar ir ver os seus rádios eu vou ficar super feliz, mas só se você quiser, claro. — será que o Song aceitaria ir comigo? Ou pior, me deixaria ir? — Você vai consertar mesmo? Não vai ser ruim para você, hyung?

— Vai ser um prazer consertar algo seu, Jeon, na verdade, é um prazer estar com você!

Não sei o que dizer que ele sorri de forma tão aberta ao me falar coisas que me deixam sorridente e constrangido, mas feliz. Sem saber o que dizer, eu abaixo minha cabeça e fito os pedaços quebrados da radiola que agora está na posse dos dedos bonitos de Taehyung.

Sinto vontade de elogiar suas mãos e seus dedos compridos, mas temo que isso possa parecer estranho demais. Então, encaro minhas próprias vendo como meus dedos são mais inchados. Nem minhas mãos são bonitas. Song está certo, preciso trabalhar meu corpo para ficar bonito e esquecer de vez os salgadinhos que sujam as mãos que tanto gosto.

— Seus dedos são legais, hyung. — falei como se fosse melhorar a situação em que entrei.

— Os seus também, Jeon.

Taehyung pegou na minha mão, aproximando-a de si e olhando para meus dedos que se comprimiam em dois punhos nervosos. Naquele momento ele sorriu como se conseguisse sentir todo o meu nervosismo e receio por um pequeno toque e não soltou minha mão, tentando entender o que se passava pela minha cabeça tonta. Senti meu rosto queimar e o medo de ser pego novamente voltou em um lampejo, me fazendo puxar minha mão de vollta e ficar deslizando ela pelo chão empoeirado.

Acho que foi nesse momento que Taehyung entendeu que eu ainda era alguém perdido e que não sabia exatamente o que fazer ao ir para uma sala abandonada carregando uma radiola velha e quebrada enquanto me escondia dos olhares julgadores, pois ele se aproximou de mim, seus dedos tocando meu queixo e me fazendo encará-lo por mais tempo que o recomendado.

Ele sorriu, tocando a ruguinha que se formava entre minhas sobrancelhas quando eu me sentia aflito.

— Você é legal, Jeongguk.

12.3

Eu não queria e não sinto vontade de correr hoje, na verdade, são raros os dias que me sinto realmente disposto a correr várias e várias vezes no campo de corrida. No entanto, sei que as chances que tenho de escapar da corrida naquele dia eram muito menores que zero. Sentia-me condenado a vestir o uniforme quente de educação física e entrar no campo onde todos os outros alunos que correriam já se alongavam e preparavam corretamente para a competição.

Não cumprimentei nenhum deles e muito menos o treinador, que parecia distraído o suficiente com o celular em suas mãos, e me dirigi até o canto do campo, me sentando na grama fofa e desamarrando meus cadarços, para amarrá-los novamente, com mais força e menos chances de que eles se soltassem e me derrubassem no meio da corrida.

Pensava sobre rádios e músicas calmas quando a luz do sol foi barrada por uma sombra sobre mim. Meus olhos se desfocaram dos cadarços brancos e se concentraram na imagem do desconhecido sorridente, que agora de agachava e ficava na minha frente.

— Você sabia que os ucranianos inventaram uma forma de o cadarço nunca soltar? — Ele parecia animado ao divagar sobre cadarços. — Apesar de que não parece ser muito conveniente um cadarço que nunca se solta, sempre tem aqueles dias que a gente gosta de deixar o sapato folgado e saindo do pé ou então quando quer que ele fiquei bem apertado. Uma vez eu pensei que se mandasse meu sapato para a Ucrânia para testar esse nó eles nunca me mandariam ele de volta.

— Parece uma decisão difícil. — Comentei sem saber direito o que falar diante as informações novas e repentinas. Porém, minha resposta pareceu ser o esperado diante o sorriso que ganhei.

— E é! Pense bem, prender a circulação do nosso pé ou ter que pôr o sapato direito a cada passo que damos? É uma questão de vida ou morte. — Ele pôs o queixo sobre a mão. — Por falar nisso, eu me chamo Hoseok. Jung Hoseok.

Hoseok me direciona mais um dos surpreendentes sorrisos, a mão esticada em minha direção. Não aperto sua mão, no entanto, meus lábios se curvam minimamente em uma tentativa de sorriso.

O apito  do treinador me chama atenção, vendo todos os outros correrem para perto e decido que é o momento certo para imitá-los.

— Preciso ir, sinto muito.

É a única coisa que consigo dizer para o menino de sorriso animador antes de correr para a linha de partida. Sinto o suor frio antes mesmo de me preparar na largada e meu estômago dá sinais de vida novamente, o que eu fielmente ignoro, focado em me manter dedicado na corrida. Ganhar essa competição é uma das coisas que Song constata como minha obrigação e temo desapontá-lo. Balanço minha cabeça quando me agacho rente a todos os outros corredores.

Ouço os gritos vindo da arquibancada e me pergunto como deve ser a sensação de ter alguém gritando seu nome e torcendo por você. Desde que entrei para o time de corrida, Yunhyeong sempre veio assistir todas as corridas e frequentemente via os treinos, porém, nunca gritava por mim ou se mostrava eufórico com minhas conquistas.

Minhas mãos tocam o piso quente da pista, pronto para dar o impulso quando for permitido. Quando ouço a buzina alta ferir meu ouvido, me fazendo disparar em alta velocidade, assim como todos os outros corredores. Minhas pernas ardem e minha visão embaça rapidamente quando a adrenalina sobe de uma só vez, minha respiração fica presa em algum lugar de meu corpo enquanto me foco em correr o mais rápido que consigo.

Consigo ultrapassar quase todos os corredores, mas fico atrá de um único que parece voar de tão rápido. Quero xingar em alto e bom som meu próprio corpo que permanece tenso e amedrontado, me impossibilitando de me concentrar totalmente na corrida, e sim me depreciando mais que o comum.

Sinto um desejo incomum de desistir. Simplesmente parar com todo o esforço sem razão e ir embora. Sem notar deixo com que outros dois corredores me ultrapassem e toda minha visão se desfoca, tornando minhas ações inconscientes e automáticas.

— Vai Jeongguk! Você consegue!

Meus olhos são atraídos para a plateia que continua a vibrar e encontro Kim Taehyung sorrindo minimamente, seus olhos direcionados para onde estou e sua cabeça coberta por um boné branco, que esconde seu cabelo liso e brilhante. A altura de sua voz é duplicada quando ele põe as mãos ao redor da boca, gritando novamente estímulos com meu nome.

Estou sorrindo, mesmo sentindo tudo em mim ferver de uma maneira terrível, encontrar Kim Taehyung de forma aleatória foi um dos poucos combustíveis que me consumiu como algo bom, estou entrando em colapso, perco completamente o ritmo de minha respiração e me vejo desacelerar aos poucos, Jung Hoseok me passa facilmente assim como outro corredor, meus batimentos se intensificam que forço meus próprios pés a aumentarem o ritmo. Minha cabeça doí, algo está me sufocando.

Fim, sinto a linha de chegada me fornece uma paz quase mínima, os gritos parecem cegar meus sentidos, algo toca meus ombros e alguém parece ter ligado uma sinfonia desafinada próximo a minha audição esquerda, tampo meus ouvidos quando bravejam meu nome. Finjo que vai ficar tudo bem, deixo o bendito escuro me reconfortar.

12.3

Tem algo tocando meu pulso, quero continuar deitado, mas é bom, esse contato. Sei quem é, a pessoa que o faz e é apenas isso que me faz tentar abrir meus olhos, mesmo tendo o torpor como meu mais novo melhor amigo. Contudo, sinto algo se mover, o travesseiro que me reconforta parece levantar-se suavemente para receber algo.

— Jeon? — É o Taehyung, essa voz é quase irreconhecível. — Ei, oi?

Minha atenção, mesmo que completamente desfocada e completamente embaçada, seu rosto visivelmente preocupado: — Você me matou de preocupação lá!

Não sei ao certo o que responder, e nem tenho um tempo longo para isso, Kim Taehyung é brutalmente interrompido por um estardalhaço em uma sala de um hospital tão populoso, Song aparece devastado, quase em colapso, me sinto tremer por dentro e meu estômago saltita, revirando-se e quase me forçando a vomitar a comida que ao menos ingeri. Meu corpo não está colaborando para a visão que meu namorado deseja.

— Yunhyeong? — estou atordoado, a voz de Taehyung não é direcionada a mim e isto me confunde um pouco, tento fundir minha cabeça ao travesseiro, forçando a dor sumir, só que é completamente em vão. — O quê? Jeon, você está bem? Quer que eu chame alguém?

Por favor, preciso de remédios.

— Taehyung? É claro que ele está bem. Você não está bem, Jeon? — tento concordar, é um fingimento mas eu tento. Só não consigo, quero dormir, quero que o Taehyung continue tocando meu pulso. Preciso muito disso. — O que você está fazendo aqui? Foi quem ajudou meu namorado?

— Namorado? — Kim está surpreso, será que eles se conhecem? — Ele não está bem Hyeong, precisamos chamar alguém! Jeon?

Suspiro, preciso manter a calma, é só que está difícil, preciso dormir. Ou só preciso de um pouco de paz: — Yun, eu acho que preciso de unas analgésicos. — minha voz quase não saí, mas Song parece ter percebido minha súplica. — Eu estou bem, só é a minha cabeça, ela está latejando.

— Tudo bem, eu vou cuidar de você. Taehyung, peço que se retire. Vou cuidar bem do meu namorado agora, tudo bem? Jeon, você está bem, tudo bem? Estou aqui com você. — Isso não me reconforta em nada. Song caminha em direção a porta, porém, para no meio do caminho esperando alguma ação do Taehyung, sei que não vai aceitar sua presença aqui, precisa me ter só para ele. Só queria que isso não acontecesse, não tem problema algum a presença do hyung aqui, somos amigos. — Você não vem?

— Tudo bem, tudo bem. — Kim sorri de leve para mim, e tento não prestar muito atenção em si, contudo, seus lábios formam a seguinte frase: Olhe seu travesseiro. Tudo bem, quis dizer, vou olhar, vou ficar bem; mas, apenas fecho os olhos e espero que Taehyung se retire e que Song arrume a porcaria dos analgésicos.

12.3

Song não deixou o quarto sequer um minuto, mamãe apareceu logo no fim da tarde completamente preocupada com o meu prontuário, tem algo errado com a minha alimentação e aparentemente, minha anemia está voltando. Ela não ficou muito feliz com isso e vai me retirar da equipe de corrida, Yun concordou e ainda me deu alguma espécie de bronca.

Me senti culpado, eu só não sei exatamente o que fiz de errado. Mas, no momento, é quase de madrugada e Yun está dormindo como um bebê em uma poltrona e mamãe está fazendo a ronda. Está na hora de olhar meu travesseiro, é esse o momento. Seja lá o que estiver alí, passo meus dedos no tecido confuso do colchão a ponto de sentir algo gelado, reconheço facilmente o que tem alí. Meu celular.

Como o hyung conseguiu encontrá-lo e ainda me trazer? Seguro o aparelho em mãos sem saber o que fazer, por algum motivo diminuo o volume e penso em ouvir alguma música, mas a 12.3 bagunça minha mente e sou obrigado a procurar a frequência. Mesmo sabendo que o horário não é propício, ouço o chiado por alguns minutos até que a voz leve do locutor pergunta se tinha alguém com ele.

Seria o motivo para algum sorriso?

 

— Como vocês estão hoje? A transmissão foi inesperada no meio da madrugada e o restante do dia deixei somente as músicas que todos já conheciam a tocar. — Ele pausa por um momento de falar. Sinto que sua voz está diferente, mas ignoro todo e qualquer pensamento. — É engraçado como a companhia de algumas pessoas nos fazem completamente bem e nos alegram, mas é triste quando descobrimos algo que não esperávamos e nem desejávamos. Acho que me sinto um pouco melancólico e vou acabar passando isso para vocês com a música de hoje. Me desculpem por isso.

 

A voz masculina inicia a música sem qualquer toque nos primeiros segundos, sendo acompanhada em seguida pelo violão solitário que transborda os sentimentos tácitos da música. Não entendo a necessidade que meus olhos tem em brincar comigo e com minha má sorte para resolverem transbordar lágrimas que não deviam existir, que seque deviam molhar meu rosto.

Quando me ver, fuja
Deixe-me de lado, pise em mim


Se é isso que você quer
Eu não vou aparecer na sua janela
Ou na sua casa


Às vezes falta amor nesse mundo
Não há tempo para sentar e compartilhar momentos juntos
A idade é a única coisa que aumenta
Amor é a única coisa diminuindo


Eu tinha medo do amor
Embora eu sempre o tivesse
Eu sou como um deserto que não diminui
Embora a lua esteja ao meu lado
Ainda é difícil dormir confortavelmente

 

Quando toco meu rosto noto que é inevitável tentar parar o choro estúpido e me contento em virar de costas para onde Song dorme. Logo uma voz feminina dá a música mais sentimentos, a parte em inglês pode ser entendida até mesmo por mim e sinto que as palavras me atingem de uma forma direta e dolorosa.


Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

 

Como uma música pode fazer isso? Quero voltar no tempo e reproduzir essa mesma música incontáveis vezes, refletir em sua melodia calma e apaziguadora, mesmo que ela sequer tenha chegado ao fim.

 

No oceano, eu sou uma ilha solitária que está afundando
Enquanto tenta se segurar desesperadamente
Eu não posso ser machucado mais
Não há motivo para chorar
É meramente um som


Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes


Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes


Não brilhe, garota
Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

Não brilhe, garota

Não brilhe, mundo
Não brilhem, lua e estrelas cadentes

 

Os zumbidos no final da música logo invadem meus ouvidos e eu busco rapidamente pelo nome antes que ele desapareça, memorizando o nome do cantor e da composição. Seco as lágrimas antes de me virar novamente para Song que permanece a dormir, a boca entreaberta e os braços por cima da barriga.

Fungo, meu nariz irritado pelo choro bobo e meus olhos inchados. Jeongguk seu palerma de primeira classe! Preciso me acalmar, não pensar demais, parar de me torturar com todas as frases negativas que meu namorado me disse desde que Taehyung foi embora.

Busco meu celular rapidamente, digitando o nome que decorei poucos segundos atrás. Meu peito se aquece um pouquinho quando novamente ouço a voz calma e, sem saber o porque, me lembro do sorriso de Taehyung.

 

Roach, MoonMoon.

Salvo.


Notas Finais


E olá! Dia de Enem né? Larita participou da prova tbem, e assim como ela, sei que todos devem ter ido muito bem!! E olha lá, mas uma att gostosinha para vocês. Queria dizer aqui que estamos tão bobas com os comentários, ficamos relendo e relendo eles por que perceber que estão sentindo o que sentimos quando escrevemos, torna tudo ainda mais lindo, queremos agradecer muito pelo apoio.

Agora, os links das playlist do Jeon para vocês, escutem, aproveitam e essas coisas:
SPOTIFY> https://open.spotify.com/user/misskookie37/playlist/0JwlVfRSCZRLMKrK04nSmp
YOUTUBE> https://www.youtube.com/playlist?list=PLw0M2hgjW3LRdUtOIVz8JoWFXh8UUxkxW

(iremos att elas logo, logo! <3)

De novo, obrigadinha por tudo e eu amo muito a Larita (e a minha Moonmoon). Beijos, beijos.


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