Sempre que Jéssica ia até a casa de Calebe e Noemi, ela renovava a esperança dos pais de Iru de terem mais um neto, além de Hatate.
— Vocês tem alguma coisa para dizer para gente? — perguntou Noemi, como sempre fazia.
— Ainda não, mas tenho fé minha sogra, ainda teremos nosso filho.
— É isso mesmo, nunca perca sua fé. Lembre-se sempre de Sara. — Noemi disse a Jéssica.
Gostava de nora, e entendia o drama e o sofrimento que ela passava. Por isso, preferia apoiá-la ao invés de criticar.
— Se Jéssica vai ter um filho ou não, eu não sei, mas eu terei de qualquer jeito, posso ter outra esposa. — pronunciou-se Iru.
— Não fale assim, meu filho. — pediu Calebe. — Jéssica quer esse filho, tanto quanto você. Vocês dois ainda são jovens. Ainda não está na hora de pensar em ter outra esposa, não.
— Mais o Otniel pode se casar de novo, não é? — perguntou Iru, frustrado. — Daqui a pouco terá até outros filhos.
— O Otniel casar!? — Calebe riu. — De onde você tirou uma coisa dessas?
— O senhor ainda não sabe, meu pai? Não sabe que Otniel assumiu comprimisso com uma canenéia? — questionou ele, como quem não queria nada.
Calebe ficou perplexo. Sem saber o que dizer.
Foi então que Noemi se pronunciou:
— Isso é mesmo verdade? — perguntou ela.
— Claro que é. Ele assumiu os compromisso dando um anel para ela. Se for falar com o meu tio Quenaz, ele irá confirmar tudo.
— Mas é uma boa moça. Ela vive entre a gente desde criança. E praticamente filha de Quenaz, é a Esther. — interveio Jéssica, explicando.
— Mas mesmo assim, eu acho um desrepeito com a memória da irmã. — continuou Iru. — Se ainda fosse uma hebreia, agora uma cananéia...
***
Estavam voltando para casa, Jéssica ia na frente decepcionada como o marido.
— O que aconteceu, Jéssica? questionou Iru. — Porque você está agindo assim?
Ela parou de andar e virou-se para o marido.
— Você não tinha nada que falar para Calebe, que Otniel e Esther, estão juntos. — repreendeu Jéssica ao marido.
— E por quê não? — Iru se fez de desentendido. — Eu posso saber? Por acaso é mentira?
— Acontece que Calebe não esperava, Otniel iria contar para ele, da maneira correta. — ela suspirou balançando a cabeça. — Eu não devia ter falado nada para você. Rebeca me contou e eu iludida achando que você iria ficar feliz pelo seu primo, fez foi intriga entre ele e seu pai.
— Meu pai tem que saber que Otniel não é tudo isso que ele pensa. — disse Iru. — Porque eu não o decepcionei dessa forma.
— Ou será que isso tudo é frustação? Porque você não ficou com sua amada princesa canenéia? E Otniel se casará com Esther, que foi uma princesa canenéia?
— Se for também? Estou cansado de Otniel ter tudo o que quer, tantos privilégios. E sem cobranças Jéssica, porque você tambem não é capaz de monte de coisas. Como por exemplo, me dar um filho.
Jessica desistiu de tentar. Iru não tinha jeito. Cada dia mais petulante e a humilhando mais.
Seguiu caminhando na frente, e encontrou Rebeca vindo em sua direção.
— Rebeca, onde você estava?
— Eu!? Eu estava... Com as meninas. É isso. — respondeu, nervosa.
Jessica a olhou com desconfiança.
— Que meninas? E porque está nervosa desse jeito? Você não está fazendo nada de errado não, está? — indagou Jéssica a prima. — Olha, eu já tenho problemas demais em minha vida e...
Rebeca a interrompeu, respondendo:
— Estava com Nira, Lila e Esther. E eu não estou nervosa, prima. Nem fiz nada de errado. Já a senhora parece decepcionada.
Jéssica ficou cabisbaixa.
— Como sempre o Iru. Me humilhando, eu estou cansada disso. Cansada!
— Talvez a senhora deveria aceitar que ele tenha uma segunda esposa. Assim ele a deixaria em paz, não é?
— Isso nunca! — exclamou Jéssica. — Agora, vamos embora para casa.
Jéssica jamais permitiria que ela fosse a segunda esposa de seu marido. Rebeca tinha certeza, mas não se importava mais. Os planos dela, agora eram outros. Conquistar Otniel.
E ela duvidava que depois do que havia feito, ele ainda iria querer casar com Esther.
Riu com o pensamento, e seguiu a prima.
***
— Esse anel era bonito quando eu comprei, mas agora em você, ficou ainda mais bonito. — disse Otniel.
Em seguida, ele beijou a mão da noiva.
— Mal posso esperar para me casar com você. — Esther falou, sorrindo.
— Eu também não. É muito ruim não de ver todos os dias.
Eles trocaram um beijo lento e apaixonado. Ele a beijou poucas vezes, mas sempre assim que ele a beijava, com respeito. Esther percebia que Otniel fazia tudo para as coisas não ficarem muito quentes, antes da hora.
Nunca imaginou que encontraria un homem que a respeitasse tanto assim.
— Vou conversar com Eleazar, amanhã. Sobre a nosso casamento. — avisou Otniel.
Calebe entrou e os fitou de mãos dadas.
— Shalom, Calebe. — disseram juntos.
— Shalom. — disse ele.
— É, eu queria ter uma conversa com você, Otniel. — disse ao sobrinho.
— Bem, eu vou deixar vocês a vontade. — avisou Esther.
Mais uma vez, Esther sentiu o desconforto em Calebe, antes de sair. Como sempre que a via. Esther não tinha certeza, mas acreditava que o motivo fosse que por algum motivo por causa de seus pais.
— Então, é mesmo verdade. — começou Calebe.
Otniel sorriu.
— O senhor já está sabendo de meu compromisso com Esther, as notícias correm rápido aqui em Judá.
— Pois é. — começou Calebe, sem saber como iniciaria o assunto. Como diria o que queria dizer.
— Sente-se, Calebe. — disse Otniel.
— Bom, vou ser direto. — disse o líder. — Otniel, eu dei a minha filha, Acsa, por mulher. E também, aquele campo fertil em Debir, onde você continua vivendo. E agora,você pretende se casar com uma canenéia? Sabe que as pessoas vão comentar... O ideal é que se case com uma moça de nosso povo, uma hebreia.
— Meu pai se casou com uma canenéia, e deu tão certo. — Otniel citou Adele.
— As coisas não são iguais, as pessoas não são iguais. Adele e Esther podem ser parentes, mas são diferentes.
— Se é por causa das terras, eu a entrego a você. O pouco tempo que vivi com Acsa, naquele lugar, eu fui muito feliz, desde que ela se foi, eu não fui mais feliz. Nem por um dia, me sentia imcompleto. E quando finalmente, uma moça de bom coração consegue despertar de mim, coisas boas, me traz a vontade de voltar a viver, o senhor, meu tio, vem dizer que acha que não e boa opção?
— Não se trata das terras, você guerreou bravamente por aquela cidade. — reconheceu Calebe. — Tinha direito a parte dela, Acsa, fez apenas que eu reconhecesse isso, me pedindo as fontes de água, de presente. E você cuida tão bem daquelas terras.
— O fato é que eu me preocupo com Hatate, Esther ainda é muito jovem. Será que ela está pronta para assumir a responsabilidade de criar Hatate?
— Esther ama Hatate, e seu neto também gosta muito dela. E eu a amo. Isso é o suficiente. — Otniel o respondeu. — Tio, Acsa nunca será esquecida. Ela estará sempre em meu coração. A primeira mulher que eu amei. E não a perdemos completamente, uma parte dela estará sempre presente conosco: Hatate.
Dificilmente Calebe chorava, mas quando falava de sua filha Acsa, era impossível conter as lagrimas.
— Ele se parece tanto com Acsa. — falou ele.
— É, e antes eu via isso como um problema, mas não mais. E eu me sinto pronto para recomeçar a minha vida ao lado de Esther.
— Você sabe que um homem importante para Israel. E muito em breve, vai assumir um lugar importante, talvez de líder tribal de Judá, depois que eu partir.
— Existem muitos homens que podem assumir essa liderança, Salmon e um deles, além do mais, o senhor ainda vai viver muitos anos.
— Que você esteja certo, mas você também está pronto para um líder tribal. Mas quanto a moça...
— Eu gostaria mesmo de saber, onde Esther entra nessa história? — perguntou Otniel, tentando entender.
— No fato de ser canenéia...
— Não acredito, até o senhor?
— Não sou eu, e você sabe disso. Se você se casar com uma canenéia, pode perder a confiança do nosso povo, que levou tanto tempo para conquistar. Ainda teremos que lutar contra os caneneus. Expulsar os que ainda vivem nessa terra.
— Não devo me casar, porque as pessoas acham que ela não boa o bastante para mim? Essa escolha não deveria ser minha? Afinal é de minha vida que se trata, do meu futuro. Isso é um absurdo! Esther vive como hebreia, não a motivos para julgamentos em minha união com ela.
— Mas você sabe que os murmurradores não perdem a oportunidade. Sempre foi assim, desde a época de Moisés. — Calebe o lembrou.
— Eles sempre encontrarão algum motivo, não posso desistir de Esther, por isso.
— Pretende ter filhos com ela? — Calebe perguntou.
A simples pergunta fez Otniel perder o rumo.
— Eu nem pensei sobre isso. — disse ele, abalado.
— Deveria, ela é jovem, e vai acontecer antes do que você espera. Talvez na primeira noite.
Esse era um ponto que mudava tudo.
Embora Otniel não tivesse respondido nada, tudo o que pensava que nunca poderia dar um filho para Esther, porque só a pequena ideia de perdê-la no parto como havia sido com sua mãe Yarin, e com Acsa, o destruia.
***
— Eu nem deveria ter vindo. Jéssica e Iru podem dar por minha falta. — disse Rebeca, olhando para os lados, afim de se certificar que ninguém a seguiu.
Marduk já a esperava em um lugar mais
afastado das casas. Ele sorriu quando a viu.
— E então? Fez o que combinamos? —
— foi logo perguntando.
Rebeca assentiu.
— Eu fiz, e ninguém me viu entrar na casa de Quenaz, pode ficar tranquilo. Vai dar certo.
— Tem certeza? Sem chances de dar errado? — perguntou, incerto.
— Sem chances, ele não vai acreditar nela. Com o Otniel aquela sonsa da Esther não se casa. — garantiu a hebreia.
Marduk riu.
— Quem dera ela fosse sonsa. É certinha demais. Se fosse sonsa, minha vida seria muito mais fácil.
— Eu estava disposta a ser segunda esposa de Iru, mas teria que dividi-lo com a Jéssica. — contou ela.— E eu quero um marido só meu, eu mereço. E pensando bem, Otniel é ainda melhor do que Iru, um guerreiro ainda mais competente.
— Senti firmeza. Você sabe exatamente o que quer. Tão competente que merece até uma recompensa.
— Que recompensa? — quis saber ela.
A resposta de Marduk foi um beijo, do qual Rebeca retribui de bom agrado.
***
— Tia, a senhora viu o Otniel? — Esther perguntou a Adele.
Horas haviam se passado, desde que ela o deixou conversando com o tio.
— Ele não se despediu de você? — indagou a tia.
— Não, porque ele já foi embora?
— Sim.
Esther ficou preocupada.
— Aconteceu alguma coisa? Vocês brigaram? — questionou Adele.
— Não, nunca discutimos. Estava tudo até bem demais. Então ele foi conversar com o tio, e eu os deixei à sós.
Adele ficou pensativa.
— Bem estranho.
— A única coisa que aconteceu foi o Calebe, nos encontramos e ele me olhou com aquele olhar de sempre...
Eu queria entender o porque, acredito que exista algum motivo, e um pouco de pena, eu acho, mas também receio.
— Esther, não fique pensando nisso. E quanto à Otniel deve haver alguma explicação.
— Tem que existir uma explicação, tia. — falou Esther. — Tem que existir.
Esther estava intrigada. Queria entender o porque de Otniel ter ido embora sem se despedir dela.