História Estrelas do Céu de Abraão - Desaparecido.

— Não adianta tia Adele, eu queria fazer meu próprio enxoval, mas tecer é algo que realmente não tenho o menor talento. — Esther riu. — Deixo isso para Nira.

— Pelo menos, você cozinha muito bem. — reconheceu Adele, elogiando a sobrinha. — Tenho certeza que Otniel, vai gostar quando você cozinhar para ele.

— Ainda bem, pelo menos isso, mas também com uma avó cozinheira eu tinha que aprender, não é mesmo?

— Isso é verdade, bem, até eu aprendi com a senhora Martha. — depois de uma pausa, ela prosseguiu: — Quenaz está preocupado, ele está começando a achar que Otniel já deveria ter voltado. — Adele mudou de assunto.

— Ele deve ter ido para Efraim. Ele planejava falar com Eleazar sobre o nosso casamento. — Esther falou tentando convencer a si mesma de que era apenas isso. 

Estava fazendo de tudo para manter a calma. E tentar tecer era uma maneira de se distrair, mas estava preocupada.

— Quenaz foi até a casa de Salmon,  saber se ele voltou a Judá.  Salmon  ficou de ir até Rúben saber como foi o acordo.

Quenaz entrou em casa, aquela tarde com uma expressão preocupada no rosto. 

— Eu estive com Salmon, agora. Ele esteve em Rubén, eu resolveu pacificamente com o problema com os eremitas. — contou. — Mas os Rubenitas afirmaram que Otniel não chegou até lá.                

                 ***

Esther pegou um cavalo e foi para a casa de Otniel, não era como cavalgar em Estrela, mas ela precisava de velocidade naquele momento. A primeira coisa que Esther fez ao chegar na casa de Otniel, foi subir as escadas da casa e encontrou a avó Martha.

— Shalom, minha avó.— Esther. — falou surpresa e feliz. — Shalom. 

Em seguida perguntou:

— Otniel não veio com você?

Esther fez que não, e explicou a situação para a avó:

— Tem alguma coisa muito séria acontecendo. Ele deveria ter voltado no entanto Salmon foi até o local da missão, voltou e descobriu que Otniel nem chegou até Rúben.

— Hatate está perguntando pelo pai, desde ontem. Pobrezinho, o que eu faço?

— Acho que Hatate se sentirá melhor na casa de Calebe. — sugeriu Esther.     

                 ***              

  Dias Depois

Desaparecido. Era exatamente isso que estava acontecendo. Otniel estava desaparecido, Esther se sentia incapaz de esperar, ela precisava fazer alguma coisa.

— Obrigada por ter vindo me acompanhar, Nobá. — agradeceu a ele.

Ele havia concordado, em sair por Hebron, nas redondezas , à procura de Otniel, junto de Esther. Outros hebreus haviam saído por sua procura também. 

— Podemos parar naquela caverna, um pouco. — sugeriu Nobá. 

— É o certo parar, estamos cavalgando à horas. — Esther concordou com ele. 

Sentaram em umas rochas, e começaram a conversar. 

— Eu quero ser útil, não aguento ficar parada esperando por notícias. Sabe que uma vez, quando criança, eu me perdi... Otniel me encontrou. — recordou Esther.

Pela primeira vez, não haviam muralhas, portões ou guardas.  

Caminhou demais e acabou se afastando demais. E quando se deu conta não sabia mais como voltar para a tenda do acampamento. 

— Esther! Esther! — uma voz familiar a chamou.

Então, ela viu Otniel. O guerreiro atrapalhado, que havia se tornado seu amigo.

— Otniel. — ela disse, alegre.

Ele sorriu.

 — Esther, aqui está você.

— Otniel, eu me perdi... 

— Está tudo bem, vamos voltar para o acampamento. Sua tia está muito preocupada.

Otniel a pegou no colo. E a levou de volta para Gilgal.

— Ele sempre se preocupou comigo, desde a primeira vez que me viu. Ele era atrapalhado, distraído,  engraçado,  mas sempre teve um coração de ouro.

— Ele mudou bastante, ficou forte, destemido, mas não perdeu a essência, não. — Nobá concordou. 

— Como Lila diz um novo Otniel, mas suas qualidades permaceram.

Nobá não respondeu nada e ficou cabisbaixo.

— Desculpa, eu não deveria ter falado sobre ela —desculpou-se Esther,  ao perceber que havia falado sobre Lila.

— Pelo visto, Kalu te contou. Tudo bem, pode falar sobre eles, afinal são meus melhores amigos. ele suspirou, pensativo. — Eu estava muito infeliz, mas são em momentos assim que me dou conta do meu egoísmo.

Esther não compreendeu.

— Egoísmo!?

— É, por causa de Lila, por ela não me amar, não como homem. Porque como amigo eu sei que ela ama. E olha só o que você está passando. Impedida de ficar com Otniel, porque não se sabe onde ele estar.

— Eu estou muito angustiada, mas a sua presença me fez bem, eu  gosto de estar com você, com Kalu, Nira.  Meus conterrâneos.

— Isso mesmo, todos nós natural da cidade das palmeiras: Jericó.

Dessa vez, foi Esther que se fechou.

— Eu disse alguma coisa errada?—  questionou Nobá, só perceber que Esther havia se calado.

— Não, são meus pais, eu sempre me emociono quando me lembro, e Jericó é o que mais me faz lembrar. Ainda que fossem muito ocupados, e colocassem o assuntos do reino em primeiro lugar, eu os amava muito e era amada também.

— Eram distantes de você. — disse ele. — Imaginei mesmo que fossem.

Esther suspirou.

— Sim, eles tinham a cidade das fortificadas muralhas para governar. Minha mãe era conhecida como Senhora das Serpentes e também Senhora da Luz e da Sombras. E meu pai era o Rei de Jericó. Mesmo sendo a única filha, eles não tinham muito tempo.

— Rainha Kalési. — suspirou, com pesar. — Eu ainda me lembro do dia em que estive frente a frente com ela...

Esther não de lembrava de Nobá ter contado à ela que conheceu a mãe dela.

— Espera aí. Por quê nunca me contou isso? Conheceu minha mãe?

Só então Nobá, se deu conta do que havia falado sem querer e se arrependeu de suas palavras e lamentava que Esther quisesse falar sobre isso, mas infelizmente não iria mentir para ela, porque não conseguia.

— Agora conta Nobá, por favor. — pediu ela.

— Infelizmente sim. E foram os piores dias de toda minha vida. Não gosto nem de me lembrar. — completou.

Esther o observava em silêncio.

"Eu ia ser oferecido aos Deuses. A rainha fazia o ritual antes do sacrifício. Tinha umas danças, umas tintas colocadas no corpo, até serpente tinha."Na hora da minha morte, que seria na praça central de Jericó, diante dos súditos do rei, a comitiva de um rei, chegou. Meu pesadelo foi apenas adiado. Me colocaram ns masmorra novamente, e depois disso, eu fui para o Templo dos Deuses, lá era ainda pior. E Galimedes foi essencial também. Um herói me salvou.

— Galimedes, mas por quê? Kalu sempre falou dele como um herói que nunca deveria ser esquecido — Esther recordou.

"Kalu sempre quis te poupar, por isso contava apenas parcialmente, ele achava que era eu, quem tinha que dizer, a vítima. Galimedes estava muito doente, e ele teve um plano. Mesmo entre a vida e a morte. E me salvou com um plano perfeito, que era que eu me passasse por morto, só assim o exército do rei, parou de me procurar."

— E por quê você?    

— Diziam que eu era o escolhido, é como eu havia sido apresentado, não poderia ser substituído, por isso, o rei mandou prender na masmorra todos os meninos da minha idade de Jericó.— Eu sinto muito, sei que eram  seus pais, mas eles foi muito ruim para mim. — finalizou. — E para o povo de Jericó.

— Acho que quem deve desculpas, sou eu. Não precisava se lembrar de algo que faz tão mal a você. Eu sinto muito mesmo.

— Isso é algo muito doloroso para nós dois.

— Eu nunca ia imaginar que você passou por algo assim. Porque nunca me contou?

— Como? Você chegou aqui tão frágil, vulnerável. Eu não me senti no direto de aumentar sua dor. Seria a minha dor também, porque me lembrar de tudo isso, é doloroso.

— E por isso que você me olhava como se tivesse medo de mim, quando cheguei em Gilgal?

— Sim, exatamente por isso.

Esther acabou com o silêncio, que havia se instalado entre eles,  com uma pergunta:

— Eu só queria entender, se estava preso na masmorra, como conseguiu escapar?

— Essa é a parte mais surpreendente e é o que me faz ter tanta fé nesse Deus de Israel. — completou. — Foi o verdadeiro Deus, o Deus de Israel, eu pedi a ele, em oração, percebi que Baal só queria meu sangue. Só o verdadeiro Deus poderia me salvar. Só ele salva. — Nobá estava emocionado. — Enquanto eu pedia, todos os presos da masmorra foram soltos. Então, eu fugi.

"Tive que ne esconder por vários dias, dos Oficias que vieram atrás de mim. Galimedes salvou minha vida. Desde então, sou grato à ele.

— Nada. Não é culpa sua. É que falando desse jeito, ela era distante e não má. Comigo não era má.

— Às vezes eu fico pensando sobre os meus pais. Eles eram pessoas ruins, perversas, algo comum entre os monarcas caneneus, mas eles me amavam. Disso eu tenho certeza. Na noite que antecedeu a morte deles, ambos olharam nos meus olhos e disseram que me amavam.

— A única coisa que eu lamento de verdade, é o fato de eles terem morrido sem nunca conhecerem a fé verdadeira. — completou, triste. 

— Pelo menos, nós tivemos essa chance. — Nobá tentou animá-la.

— Pois é caneneus de Jericó, vivendo como hebreus. 

— Compreendo que não seja fácil, Esther. É uma falta que não pode ser preenchida. Mas eu não quis fazer com que você se sentisse mal.

— Não fez, pode ter certeza.

— Deus a abençoou muito. Ser criada por Quenaz, deve ter sido decisivo para essa Esther de hoje. 

— Sim, ele tem sido como um pai para mim todos esses anos. —concordou Esther.  — É um homem de muita fé,  e foi essencial sim para quem eu sou. 

— No início, eu achava que não deveria me aproximar de você. — Nobá confessou a ela. — Se eu não tivesse ouvido Kalu, nunca descobria o seu nobre coração. Ainda bem que eu estava errado.

— Devemos voltar, Esther. Você procurou, pelo menos, e eu posso continuar com a equipe de buscas. Será melhor que você fique em casa em segurança,  sem preocupar ainda mais Adele. 

— Tudo bem. concordou ela. — Você tem razão, é melhor mesmo que eu fique com minha tia e meu primo Seraías. 

— Tenha esperanças,  Esther.  — Nobá a encorajou.  — Tenha fé,  ele vai voltar para Israel vocês vão se casar e eu estarei lá desejando toda felicidade disso. 

           ***

Enquanto Nobá e Esther retornavam em seus cavalos, Rebeca se aproximou correndo, em direção a eles.

— Ainda bem que vocês voltaram. — falou aliviada. 

Esther e Nobá trocaram um olhar. Aquela reação era atípica em Rebeca. 

Temos que conversar. — Rebeca disse a Esther.   

   Esther assentiu.                         

             ***

— Me sinto péssima. — confessou Rebeca.

Esther notou que ela parecia aflita. 

— Eu soube o que aconteceu com Otniel.

— Não aconteceu nada com Otniel, ele vai voltar, eu acredito. Eu tenho pedido a Deus para protegê-lo.

— Admiro sua fé, mesmo sendo canenéia, você demonstra mais fé que muito hebreus que eu conheço. Inclusive eu, estou fraca em minha fé. — ela suspirou. — Tão fraca que me permitir fazer uma coisa horrível.

Esther a olhou surpresa.

— O que aconteceu, o que você fez para está assim, desse jeito? — questionou.

— Até minha prima Jéssica, desconfiou que eu havia feito algo de errado. Porque eu não tive mais em paz desde o dia em que... Primeiro, eu estava pensando em ser a segunda esposa de Iru, ele estava a procura de uma esposa.

Esther assentiu. Claro que se lembrava de Lila ter falado sobre isso com Rebeca. De tê-la aconselhado com suas sábias palavras.

— E fui eu, Esther. Estava óbvio para mim de que o Otniel estava apaixonado por você, então eu soube do noivado de vocês.

— E porque você faria algo, para nos separar?

— Porque eu o queria para mim. — falou Rebeca com sinceridade. — E eu percebi que ele era ainda melhor que Iru, ele é o melhor partido da tribo de Judá, senão de Israel.

— Eu senti inveja, e também tive medo de ficar sozinha, ainda mais agora estou órfã e preciso me casar o mais rápido possível.

— Você acha que eu nunca senti esse medo? — questionou lembrando de quando ficou órfã. A época mais difícil de sua vida. — Eu tinha apenas sete anos, senti muito medo, mas Deus é misericordioso. É nisso que se deve acreditar, ainda vai acontecer de você conhecer um homem maravilhoso, enviado por Deus para mudar sua vida.

— Assim eu espero.  Tem mais uma coisa. — começou hesitante. — O seu primo...

— O que tem o Marduk? — Esther perguntou com receio. A cada dia se decepcionava mais com o primo.

 — Foi ele que me convenceu a separar você de Otniel. Foi ele que me entregou a estátua para colocar no meio de suas coisas. Marduk me convenceu de que me casar com Otniel seria bom para minha vida.

— Eu sempre o achei ele lindo, ficava olhando, admirando de longe. Até que um dia ele retribui o olhar, e se aproximou. 

— Então foram vocês?

Rebeca afirmou cabisbaixa.

— Depois disso, ele me beijou, mas só que ele queria mais, queria me ter como mulher.

— E aconteceu? Você se entregou para ele, Rebeca? — perguntou Esther novamente, ainda surpresa, com tudo o que estava ouvindo.

— Não. — ela negou rapidamente. — Posso ter sido inconsequente, mas só entregarei minha pureza, ao homem que eu me casar. Mas ele queria. Só não aconteceu porque eu disse não! E então ele disse que não se importava, porque afinal, eu não era você.

— Otniel estava certo. Eu realmente não conheço o meu primo. 

— E do jeito que ele estava disposto a separar vocês... Eu não duvido que ele pode está envolvido no desaparecimento de Otniel. — Rebeca completou deixando Esther ainda mais assustada. 

— É muito grave o que está dizendo. — Esther falou a ela. 

— Mas você deveria considerar. O ódio faz pessoa perder todos os limites. E para mim, Marduk parecia muito empenhado em separar vocês, capaz de qualquer coisa. — contou Rebeca, a fazendo refletir. 

Receba levantou-se para ir embora. 

— Bem,  eu viu indo.  Eu sei precisava desabafar, para ficar em paz comigo mesmo. Sei, que isso não pode mudar nada, mas eu estou me sentindo bem melhor.                        

                   ***

A conversa com Rebeca, deixou Esther pensativa.

Será que Marduk teria sido capaz de fazer mal algum  mal  à Otniel ? Tudo porque a desejava para ele?

Não podia ser.  Simplesmente não podia.