Os dias passavam com uns lentidão angustiante. Os homens que haviam ido a procura de Otniel voltaram.
— Nada. — Quenaz falou, ao entrar em casa com cansaço e decepção na voz. —Mas eu não vou desistir de encontrar o meu filho.
Esther chorou muito naquele dia, e quis ficar sozinha. Com uma angústia, ela conseguiu dormir um pouco naquela noite, e sonhou;
Deitado sobre uma cama, encontrava-se Otniel.
Balbuciava um nome. O seu nome:
— Esther, Esther.
Duas mulheres, o observavam, e ele estava bastante ferido, embora suas feridas, haviam sido tratadas.
— Fizemos o possível, agora é entregar nas mãos do Senhor. — disse a senhora para a mais jovem. — Mas temos que ter fé de que ele ficará bem.
Esther despertou , sorriu e sentou em sua cama. Seu sonho parecia tão real.
E se fosse mesmo real? Se Otniel tivesse sido encontrado por uma família hebreia?
— Tive um sonho que me trouxe uma paz temporária, tia. — contou Esther, ao sentar-se na mesa para o desejujum.
Apenas Adele e Seraías estão ali, e a mesa do café da manhã, não era a mesma sem Quenaz. Era ele quem fazia as orações agradecendo ao Senhor, sua ausência, mas ele resolveu seguir com as buscas, junto de Salmon, Iru, e outros homens de Judá.
Esther contou seu sonho, para a tia e o primo, explicando dos outros sonhos, duas mulheres haviam cuidado dele.
— Isso quer dizer que meu irmão, vai voltar para casa? — Seraías perguntou.
— Nunca devemos perder a nossa fé, meu filho. — Adele respondeu a ele. — Ele voltará sim. E por falar em seu irmão? E o Marduk? Será que ele está bem? — indagou preocupada com o filho.
***
Só podia ser intuição de mãe, pensou Adele ao ver o filho chegando em seu cavalo branco.
— Minha mãe, saudades. — disse ao se aproximar.
— Eu também, filho.
Adele o abraçou com carinho.
— E como foi no palácio do reino Filisteu?— ela quis saber.
— Tudo certo, o soberano gostou muito de minhas habilidades como guerreiro. — contou ele.
— Ainda bem, fiquei tão preocupada com você depois do que aconteceu com Otniel.
— Como assim!? O que houve com Otniel?
— Ele desapareceu. — falou ela.
— Pelos Deuses! — Marduk olhou para Esther que vinha em direção a eles. — Como isso aconteceu?
— No mesmo dia que você partiu, ele ia até Rúben para uma missão, mas no entanto, nunca chegou até lá. Está desaparecido desde então.
— Então fazem duas luas?
— Exatamente.
— Esther. — Marduk sorriu para ela. — É muito bom reencontrá-lá, prima.
Ao chegar mais perto, Esther indagou:
— Marduk será que podemos conversar?
Ele assentiu.
***
— Eu estou aqui, pode contar comigo, para o que você precisar. Você sabe disso, não é?
— Sim. — ela disse. — Mas ele vai voltar, Otniel não esta morto, não o encontram, ele está apenas desparecido. Então ele será encontrado bem, com vida. — Esther falou, confiante.
Marduk segurou na mão dela.
— Ele disse que não levaria mais de três dias. No entanto, duas luas se passaram. E que me preocupa é Hatate. Ele é uma criança. E o tio Quenaz, também.
— O que me surpreende é a sua esperança. Otniel está morto, ele não vai voltar. O sonho de ser casar com o homem que ama não existe mais.
— Minha esperança, e minha fé permanecem em mim.
— Esther, eu sinto muito, mas como um guerreiro, eu aprendi que todas as hipóteses devem ser consideradas. Vocês estavam noivos, cheios de plano, mas... mas minha mãe contou que procuramos por dias e dias e nada.
Marduk poderia não acreditar, mas Esther acreditava. Ela tinha fé.
— Existem coisas que você precisa me explicar. — Esther disse, a lembrar das confissões de Rebeca. — Eu sei de tudo.
—De tudo o quê? — questionou Marduk.
— Foi você quem armou para me separar de Otniel.
— Aquela maldita da Rebeca te contou? — perguntou, com raiva. — Eu não deveria mesmo confiar em uma hebreia.
— Rebeca não tem nada a ver com isso. Ela se arrependeu, mas você parece que não.
— Eu não me arrependo mesmo. E do que isso importa? Será que nem mesmo se Otniel estiver morto, você ainda assim não me daria uma chance?
— Eu não acredito que estou ouvindo de você, e só isso que você pensa? Em você mesmo? Como você pode?
— Eu venho tentando te esquecer — admitiu ele. — Prova disso é que fui até para outro reino, mas eu não consigo, e algo muito mais forte do que eu. Eu amo você, Esther. Assim como seu pai amou sua mãe, eu amo você.
— E é impossível não pensar na possibilidade de ficarmos juntos, agora.
— Você diz que é diferente de Kalési, mas será mesmo? Está fazendo o mesmo que ela. — acusou ele.
— Pelo que eu entendi, minha mãe se casou com o meu pai, por interesse. Eu estou fazendo exatamente o contrário, eu quero me casar por amor.
— Mas ela partiu o coração de meu pai, exatamente como você está fazendo comigo.
— Ainda bem que ela fez isso, eles eram irmãos, só não sabiam disso. Adon estava confundido os sentimentos.
— Não é o nosso caso, somos primos, sei que comum casamentos entre primos, por aqui.
— Isso você fez questão de saber.
— Claro, é o que eu mais desejo. E eu não estou pedindo para você me amar, estou pedindo apenas que permita que eu ame você. Me deixa?
— Não seria justo com você em circunstância alguma. Então pare de dizer essas coisas para mim. Ainda mais num momento como esse. Eu vou entrar, porque tudo o que eu quero é ficar sozinha.
— Tem certeza? Eu queria que você fosse a um lugar comigo. —
— Não posso, vou para casa de Otniel daqui a pouco, ver o Hatate.
— E outro dia? —insistiu. — É muito importante, Esther. Tudo o que eu quero é fazer o bem, e quero que você veja que eu sou capaz de coisas boas.
—Eu fico feliz em perceber que você está se preocupando com o próximo.— Esther disse a ele.
— Claro, até porque minha vida não foi das melhores. Meus pais de criações não eram nobres, eram plebeus.
— Eu cresci em Assur, meus pais eram pessoas simples. Às vezes, meu pai ficava muitos dias fora, e eu e minha mãe passávamos fome.
— Eu queria fazer diferente, dar uma vida melhor para eles. Então, aos dezenove anos, eu me alistei ao Exército.
— Todo homem na Assíria tem que se alistar, querendo ou não. E eu queria. E sendo um guerreiro, minha vida mudou. — contou ele, um pouco de sua história.
— Eu sinto muito, que tenha sido afastado de sua mãe ao nascer. Adele teria feito tudo para proteger, e certamente você teria vindo para junto de Israel, com ela, comigo e com o Kalu.
— Você pode até não admitir Esther, mas eu sei que você gosta de poder. Senão não estaria noiva de um homem importante em Israel.
— Se é que pensa sobre mim, não posso mudar isso. As pessoas se enganam. Eu me enganei com você, pensei que fosse como sua mãe. É ambioso demais, e capaz de fazer o mal a favor de seus interesses.
Ele deu de ombros.
— Só fiz o que fiz porque eu sei que esse casamento não vai se bom para sua vida.
— Eu não vou discutir com você sobre isso. — interveio Esther.
— Agora, sobre a ambição eu tenho que concordar que tenho mesmo.— Marduk admitiu. — E fique sabendo, que muito em breve, as coisas vão mudar. Eu serei um homem poderoso.
— Essa sua sede de poder, pode ser perigosa.
— Na verdade é apenas o meu sangue nobre, falando mais alto.
— Eu não acredito que chegamos no mesmo ponto de sempre. Você dizendo que somos nobres, e que temos que sentar em um trono. — falou Esther. — Marduk, esquecer o passado, esse é o primeiro passado é o primeiro passo para uma nova vida.
Marduk fez que não.
— Jamais esquecerei o passado. O que esses ex escravos fizeram com Canaã. Destruíram grandes reinados.
— Então você nunca terá um futuro. É melhor você voltar logo para a Assíria. — disse ela, e o viu ficar sério.
Esther olhou para o primo, tentando procurar por algum requisio de culpa, remorso, mas não havia nada disso em seu olhar.
— Me diz que você não tem nada à ver com o desaparecimento de Otniel. — as palavras saíram sem que ela conseguisse evitar.
— Está suspeitando de mim!? Logo você, Esther?
— Marduk, você odeia Otniel, disse que o considera um inimigo, chamou ele para um duelo... E essa sua segurança ao dizer que ele está... morto.
— São situações completamente diferentes. Ele desapareceu e eu não tenho nada à ver com isso, é apenas o mais provável. Eu estava no palácio Filisteus.
***
Horas mais tarde, depois da conversa com Marduk, que não mudou nada as dúvidas que ela estava sentindo, Esther estava na casa de Otniel.
— Eu fui até a casa de Calebe, e Noemi me disse que Hatate quis voltar para cá. — falou com a avó.
— Sim, ele quis. Quer dizer então que não o acharam? — perguntou Martha.
Esther balançou a cabeça.
— Eu fico me perguntando quando essa angústia vai acabar.
— É muito difícil para mim ver você assim, eu sonhei por tanto tempo que você se cassase e fosse feliz, de um jeito que eu Kalési nunca fomos.
— Se for dos planos que a gente se case e fique junto, vai acontecer.
— Você está diferente, Esther. — reconheceu Martha. — Tão bonito vê-la falando assim.
— E Hatate? Onde está?
— Lá no jardim secreto, inconsolável. Não sei mais o que fazer.
— Posso falar com ele?
— Claro. Você sabe o caminho, já faz um tempo que o jardim secreto não é segredo para você.
***
Esther se sentia com sete anos de novo, assim que avistou Hatate no jardim. Era fascinada pelas flores.
— Esther. — disse ao notá-la.
— Hatate, shalom.
— Shalom.
— Você me fez lembrar de quando tinha sua idade. Eu gostava tantos das flores, não que isso tenha mudado. — disse ela.
Hatate permaneceu em silêncio, olhando para as flores por um tempo. E depois pronunciou-se
—Eu achei que eu ia ter uma família, como meus amigos, agora que papai te pediu em casamento, mas agora eu não sei o que pensar...
— Eu queria saber dizer palavras que o deixassem mais tranquilo, mas eu realmente não sei, meu menino. — confessou. — Vamos confiar em Deus, porque ele sabe o que é melhor para nossas vidas.
— Como foi, Esther? Quando você soube que seus pais haviam morrido? — perguntou Hatate, com tristeza na voz.
Esther refletiu.
— Não é possível dizer com palavras, eu me lembro que eu pensava que ficaria sozinha, mas não fiquei.
—E se o meu pai não aparecer?
— Ele vai, mas enquanto não aparece você não vai ficar sozinho, meu amor. Sabe porque? Você tem seus avós e a tia Adele, você nunca vai ficar sozinho. E tem também a mim. E eu tenho certeza que seu pai vai voltar.
Hatate abraçou Esther.
***
Moabe
Noemi era uma hebreia casada, como um hebreu de Judá, sua tribo. Foram viver em Belém de Judá, assim que houve a partilha das tribos, porém alguns anos depois, a fome se espalhou por aquela terra.
Por isso, Elimeleque, que era primo de Salmon, partiu de Belém para os campos de Moabe, junto da esposa Noemi e os dois filhos, Quiliom e Malom.
Noemi foi lavar roupa no rio, junto de sua nora Orfa, naquela tarde.
— Eu vou colocar essas roupas de cama, para quarar naquelas rochas, senhora Noemi. Estão com bastante sol e secará rápido. — Orfa avisou a sogra.
— Faça isso, minha filha. Eu vou terminar de ensaboar essas roupas aqui. — Noemi respondeu a ela.
Orfa se afastou de Noemi, e caminhou até as rochas. Então o viu.
Foi até a sogra correndo.
— Pelos Deuses! — exclamou Orfa.
— Deus. É apenas um Deus, Orfa. — Noemi a repreendeu.
Noemi era uma mulher de muita fé no Deus de Israel, no entanto Orfa era moabita, e não se esqueceu totalmente dos deuses que seu povo idolatra.
— Às vezes, eu acabando esquecendo, minha sogra, mas olha o que eu estou vendo ali. — apontou para as águas do rio. — Tem alguém ferido. É um homem.
— Vá chamar seu marido, e Malom para nos ajudar aqui. — Noemi pediu.
— Sim. — concordou ela, e correu para casa.
O homem ferido, era nada mais nada menos do que Otniel.
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