História Estrelas do Céu de Abraão - A fuga é a melhor saída.

— O nosso amigo hebreu está cada dia melhor. — comentou Elimeleque, contente ao lado da esposa Noemi.

Noemi concorda:

— Ainda bem, Deus protegeu a vida desse rapaz. Tentaram matá-lo brutalmente.

— No entanto, ele está muito inquieto, preocupado com a noiva. — disse o hebreu. — Também com o que aconteceu.

— Se for da vontade de Deus que eles se casem, não existe mal que impedirá isso. — falou Noemi com convicção.

Noemi e Elimeleque era um casal de muita fé, apesar das dificuldades e terem que ter deixado Israel, eles nunca perderam a fé.

— Tem razão, meu amor. — Elimeleque que concordou com a esposa dessa vez.

Enquanto isso, Orfa que havia ido buscar água em uma mina, encontrou com Otniel.

Era uma mulher casada, mas havia achado Otniel um homem muito atraente.

— Shalom. — disse Otniel,  ao vê- la se aproximar dele.

— Você tem um jeito diferente de falar,  além de ser educado e muito bem apessoado. Um cavalheiro. Diferentes do homens moabitas.

— Seu marido também é hebreu. — disse ele.

— É, mas você é diferente. É um guerreiro, forte. Isso Quiliom nunca será.

Orfa ficou observando Otniel, loiro,  olhos verdes, corpo forte. Orfa estava muito atraída pelo hebreu.

Ela passou a mão pelos cabelos castanhos.

— Quer me dizer alguma coisa, Orfa? — percebeu ele.

— É... e que eu fico sem jeito...  Quem é a Esther? Quando estava ardendo em febre assim que os resgatamos, você dizia esse nome, várias vezes.  É sua esposa?

— Não, eu sou viúvo. Esther é...

— Esther é... ? — ela repetiu curiosa.

Otniel sorriu antes de dizer.

— É a mulher que eu amo. E eu vou me casar com ela, asssim voltar para Judá.

             ***

Otniel acordou cedo, e encontrou Orfa sovando uma massa de pão.

— Shalom.

— Shalom, Otniel.

Ao perceber que só os dois estavam sozinhos, ele quis saber:

— Onde estão todos dessa casa?

—Saíram para seus afazares. 

— Sabe, eu quero muito voltar à Israel, mas ainda sinto dores, mas se for para ficar aqui, eu quero ajudar à vocês com algum trabalho.

Ela o observou por alguns segundos e caminhou até ficar de frente para ele

— Seria maravilhoso que você ficasse definitivamente aqui. —sussurou, no ouvido dele.

Otniel negou.

— Isso é impossível, eu não vejo  hora de voltar para Israel.

— Já que não tem jeito, e que você vai partir mesmo, então, vamos aproveitar que estamos aqui, sozinhos.

— O que está fazendo?

— Apenas tocando esse corpo forte. Você é um homem tão bonito, belo físico!

Otniel a olhou.  Orpa era uma mulher linda, atraente, mas nunca faria o que ela estava desejando.

— A senhora é casada, não deveria dizer essas coisas para outro homem que não seja seu marido. — ele a reeprendeu.

— Por quê não? É como eu me sinto. — ela se aproximou ainda mais dele. — Vou ser direta, eu quero você. Deite-se comigo.

— Eu não farei isso. — Otniel foi incisivo.

Orfa o olhou incrédula.

— E quem  você acha que é para me rejeitar? — questionou, com raiva.

— Eu sou um homem que respeito  o casamento, e sou totalmente contra o adultério. Em Israel, aos adúlteros devem ser apedrejados até a morte.

Orfa riu.

— Acontece que nós não estamos em Israel, estamos em Moabe. E meu marido não precisa saber. Vai ser um segredo nosso.  — insistiu ela.

— Não importa.  Seguirei as leis de Moisés aonde eu estiver.

— E não venha me dizer que não gosta de estrangeiras.  Vai ser casar com uma cananéia.

— Exatamente, não acha que eu tenho que respeitar minha prometida?

Uma lágrima desceu pelo rosto de Orfa. Ódio é o que estava sentindo. Como aquele hebreu tinha a ousadia de dizer que não a queria?

Em um ato impulsivo, a moabita começou a rasgar as suas vestes.

— Socorro. — gritou. — Socorro,  alguém,  por favor!

Noemi entrou em casa correndo, e Orfa começou a dizer desesperada:

— Minha sogra, ainda que a senhora está aqui. Esse homem é um mostro, ele estava tentando me forçar a deitar com ele.

Otniel permanecia impassível. Como alguém tinha coragem de tamanha difamação!? Infligindo o nono  mandamento de Deus, depois de tentar adulterar. 

Noemi que ouvia em silêncio, questionou  a Otniel:

— O que tem para me dizer, rapaz? É mesmo verdade?

Otniel soube que Deus estava com ele. Até mesmo,  permitindo que Noemi fosse justa e o desse a chance de dizer,  de se defender.

— A senhora crer no mesmo Deus que eu, sabe que uma ação como essa, ocasionaria em minha morte. Eu contei para a senhora sobre a moça que eu  amo, que desejo me casar. Chama-se Esther, eu também tenho um filho pequeno, acha que eu colocaria tudo isso a perder, forçando a sua nora a se deitar comigo?

— Eu não toquei em Orfa. — finalizou.  — Isso é tudo o que tenho a dizer.

— Ele está mentindo! — gritou a moabita.  Noemi nada disse.  — Minha sogra, a senhora está desconfiando de mim?

— Orfa, você se recusa a aceitar nosso Deus. Outro dia mesmo, encontrei uma imagem de um desses Deuses falsos em meio as suas coisas.

— Será a minha palavra quanto a dele. Pois veremos em quem Quiliom e Elimeleque acreditarão.

Em seguida, ela saiu do quarto, com raiva.

— Rapaz, fuja. — disse Noemi. — Eu sei o que minha nora planeja. Se meus filhos e meu marido chegarem, eles matarão você.

Otniel olhava para a senhora a sua frente incrédulo.

— E porque está me ajudando? Acredita mais em mim, um desconhecido, do que em sua nora? — perguntou Otniel, impressionado.

— Eu sou mulher, sei quando uma mulher, deseja um outro homem, Quiliom e Elimeleque podem não perceber, mas eu via os olhares dela para você, desde primeiro dia. Orpa é perversa, tem maldade no coração, assim como seu povo, ela te desejou, como foi rejeitada, quis se vingar.

— Por mim, eu teria ido, mas a senhora insistiu que eu ficasse alguns dias à mais.

— Eu disse, mas agora, corre risco aqui também, será melhor que parta logo.

— Que Deus a abençoe, obrigada por tudo, senhora Noemi. Eu queria ajudar a senhora, não gostaria de viver nas aldeias de Hebrom? — perguntou.  — Tenho certeza de que Calebe  o receberia muito bem. E Salmon, ficaria feliz em revê-los.

Noemi balançou a cabeça. 

— Eu tenho que está junto de meu marido, e ele quis assim. Se for da vontade de Deus, eu voltarei a Judá, algum dia. — disse esperançosa.  — E você Deus abençoe muito também, rapaz. Que ele esteja sempre com você. Espero que consiga se casar e ser feliz com sua Esther.

Otniel sorriu, também esperançoso.  Era o que mais queria.  Casar-se com Esther e ter uma vida ao lado dela. 

                  ***

Às vezes as pessoas não tem noção de quanto uma unica pessoa significa para ela; Otniel se sentia assim. Agora que estava tão longe de Esther se deu conta do quanto ela significava para ele.

Como podia ter se deixar levar uma intriga, estava claro para ele, que Esther não era idolatra. Ele sabia.

No começo ela era apenas uma menininha assustada, que perdeu tudo. Aos poucos ela foi deixando ele se aproximar e mostrou que era uma menininha doce, gentil.

—Eu quero ser seu amigo. Posso? — perguntou a Esther. 

— Pode sim. 

Otniel acabou se tornando amigo de Esther,  assim como era de Gael e Lila.

— Eu tive uma ideia. — disse certa vez,  enquanto voltava de uma pescaria.  — O que acha de ir viver em minha tenda e de meu pai? 

Esther sorriu.

— Eu ia gostar muito.  Gosto da sua companhia. 

Pouco tempo depois,  Adele e Esther estavam instaladas a tenda de Quenaz.

— Bem vindas a sua nova casa.

E agora, ela cresceu. E ele sabia que seu lugar era ao lado dela.

Estava disposto a passar o resto da vida ao lado de Esther, mas para isso precisava voltar para sua casa,  para Israel.