Enquanto caminhava pelas ruas do Norte de Israel, Iru pensava em seu primo, Otniel. Por anos, ele o invejou. Simplesmente porque não podia mais zombar dele, porque tudo o que dizia antes, não era mais verdade.
Ele achava que a vida de Otniel era perfeita, simplesmente porque ele era um guerreiro acima da média. Ele nunca soube, o quão ele havia passado, quanto sofrimento havia passado, até sentir algo parecido.
Quando sua irmã Acsa morreu, parecia um pesadelo mas não tinha fim. Ele tinha dimensão de perder a irmã, mas não à esposa. Sequer se colocou no lugar do primo, apenas pensou que mesmo viúvo, Otniel continuava sendo mais privilegiado que ele. Porque tinha as melhores terras e um filho. Ele sempre quis um filho, mas Jéssica não engravidava nunca.
Mas agora ele conseguia compreender. Ou melhor, se deu conta de que perder alguém que ama é terrível, ela amava Jéssica, à sua maneira, mas amava.
Jéssica sempre pareceu tão saudável, até que uma tosse começou. A cada dia se tornava mais frequente.
Os curandeiros diziam ser uma doença incurável, mas não contagiosa. Pelo menos isso. Assim pode cuidar dela.
E quando aconteceu, Otniel mostrou-se tão compreensivo, deu tanto apoio, que ele sentiu culpa.
Pediu perdão à Otniel, e foi perdoado. Esquecer os erros do passado, era o primeiro passo, para ser feliz, ser um bom homem, pediu perdão também a sua esposa, Esther, havia sido preconceituoso com ela, por ser cananéia.
Foi Jéssica que disse que ele tinha que ir em busca da felicidade.
Ela tossia muito, deitada em sua cama no último dia de sua vida.
— Vá chamar Raabe e Salmon. — pediu desesperada.
— Como? — questionou Iru.
— Vá logo, Iru. — insistiu sem explicar o motivo. — Antes que seja tarde demais, não tenho muito tempo...
O casal chegou junto, para vê-la.
— Eu fiz tanto mal a vocês. — falou Jéssica, arrependida. — Deus é misericordioso. Sei que ele vai me perdoar, mas preciso do perdão de vocês.
— Fui eu quem colocou o ouro para te incriminar, eu planejei tudo, junto de Melquias. Ninguém nunca soube, mas eu sabia... E eu sabia que foi a Mara quem convenceu aquele leproso ir na tenda de vocês.
— Minha mãe se tornou leprosa, eu jamais me esqueceria. — Raabe recordou.
— Meu erro foi ter me calado, eu achei aquilo muito errado. Mara foi longe demais, mas eu tive muito medo, medo de contar é ter uma punição. — confessou Jéssica. — Eu achava que essa punição nunca viria, mas veio. Vou morrer jovem, e seca, pois não tive um único filho.
— Eu a perdoo. — Raabe foi a primeira a dizer.
— Eu também te perdoo, Jéssica. — Salmon disse em seguida.
— Inveja, ódio, intrigas, desentendimentos. Coisas que fazem tão mal, fez mal a mim também, já o amor prevalece. Como o de vocês.
— Auxilem Iru, sei que ele precisará de amigos por perto.
— Faremos sim. — Salmon a tranquilizou.
Mais tarde, sozinho com a esposa, percebeu que ela ficou agitada, enquanto ele lia o Torá, perto da cama.
— Iru. — mumurrou baixinho. — Venha até aqui.
Se aproximou o mais rápido que pode.
— O que você está sentindo? — quis saber, preocupado.
— Nada, quero apenas conversar com você. —falou com a voz baixa, e colocou a mão em cima da dele.
Iru percebeu o quanto ela estava gelada.
— Pode dizer. — sussurrou para ela.
— Iru, você não foi o grande amor da minha vida, mas foi muito mais do que isso, foi meu companheiro.
— E sempre serei.
Ela balançou a cabeça.
— Não mais. Eu estou indo embora... Me perdoa por não ter te dado filhos, como você sempre sonhou?
— Jéssica. — murmurou ele. — Não tem que pedi perdão, eu sou péssimo marido...
— Então me prometa, outra coisa. — ela o interrompeu. — Prometa que será feliz, para que eu possa ir em paz. Não se entregue ao luto como fez seu primo Otniel.
Iru suspirou fundo, antes de dizer:
— Eu serei.
Ela deu uma leve sorriso, e agradeceu:
— Obrigada, Iru.
Depois disso, Jéssica fechou seus olhos, para sempre.
Seis meses haviam se passado, desde a morte de Jéssica, Iru ainda chorava como se estivesse acabado de acontecer.
Apesar de tudo, ela o impediu que ele desmoronasse, quando ambos estavam sem esperança no amor, se encontraram. Ela disse obrigada, mas gostaria te dito obrigada Jéssica, de volta, mas cumpria sua promessa.
Por isso ele estava no Norte. Sabia que é onde encontraria Melina.
Melina, partiu para o Norte assim que soube, que sua mãe estava lá. Quinze anos depois de espera o reencontro.
Quando disse a mãe, "em breve estaremos juntas" não imaginava quando tempo levaria. Encontrou a mãe com sua vida renovada. Casada com um bom homem, Mireu, que também era um cananeu, General de Jerusalém, que se converteu. E tiveram um filha, Melina tinha uma irmã, Tamar.
Caminhava pelas ruas, radiante, voltando da rua da comércio com a irmã. Estava sendo aceita por todos, e estava feliz, plena.
Paralisou quando viu Iru perto de sua casa.
— Shalom. — disse se aproximando delas.
— Shalom. — Foi a irmã mais nova quem respondeu.
Depois de alguns minutos olhando para o hebreu, Melina finalmente se pronunciou:
— Entre Tamar, eu já estou indo.
A menina obedeceu e entrou. Iru sorriu a observando.
— Ela se parece com você, tão linda quanto você.
Melina ignorou o comentário.
— O que faz aqui, Iru? — indagou.
—Vim atrás da mulher que eu amo. — ele foi direto. — Você, Melina.
— Como pode deixar sua mulher doente, lá no Sul, para vir atrás de mim!? — perguntou, decepcionada.
Havia conversado com ele, em Judá. E eles se beijaram. Melina no entanto, se afastou. Aquilo era errado.
— Nunca ficaremos juntos, continua sendo tão proibido quanto antes. Agora é ainda pior, é pecado.
— Melina, não me pede para me afastar de você, todos esses anos, achei que estivesse morta...
— Eu estou bem, já a sua esposa, eu soube que está doente. Não me procura mais. Nunca mais.
Logo descobriu que Ula estava no Norte, e tinha que admitir partir para o Norte, também foi uma fuga, havia acabado de aceitar o Deus de Israel, jamais infligiria uma de suas leis.
— Jéssica não resistiu a doença. — contou Iru com a voz embargada. — Ela faleceu, fazem seis meses.
Melina não soube o que dizer.
— Melina... Eu nunca te esqueci, amo você. Agora, nada mais nos impede, de vivermos nosso amor.
Melina sorriu, mas balançou a cabeça em seguida.
— Não. — falou. — Mesmo assim, o que vão dizer, sobre mim? Sobre você? Que estávamos esperando a Jéssica morrer para ficarmos juntos!?
— Ninguém sabe, a forma cruel que fomos separados, mas Deus sabe. — os olhos dele, estavam marejados, enquanto falava. — Além do mais, eu vivia falando que teria uma segunda esposa, mas com você é diferente, eu quero me casar por amor. Casa comigo, Melina?
Como poderia dizer não para o homem que amava? Se nada mais poderia impedir que eles ficassem juntos. Finalmente os obstáculos acabaram.
— Eu aceito. — Iru sorriu, e ela prosseguiu. — Mas com uma condição...
— Pode dizer.
— Não quero festa, o que importa e estarmos casados, diante de Deus.
Iru riu não imaginava que fosse apenas isso.
— Só isso!?
Ela assentiu.
— Eu também não me importo com nada disso. Só quero que seja minha, para o resto da vida.
Melina sorriu, e disse por fim:
— Se é assim, eu aceito, meu amor. Aceito ser sua esposa.
***
Esther não pensava que poderia haver uma felicidade maior, do quando descobriu que esperava um filho. Estava gerando uma nova vida dentro de si, um verdadeiro milagre de Deus.
Felicidade e ansiedade se misturaram porque ela precisava contar para Otniel.
Olhava nos olhos verdes, de Otniel, quando contou da gravidez.
— Tenho uma coisa muito importante para dizer,algo mudará nossas vidas, meu amor. — começou.
Colocou a mão dele, em seu ventre, Otniel sorriu esperando que ela dizesse.
— Eu estou grávida, você será pai, novamente. — falou com emoção, apenas para confirmar.
— Um filho? Um irmão para Hatate. Eu te amo tanto. — disse, a abraçando, a cobrindo seu rosto de beijos.
Dentro de si, sentiu certa insegurança, mas não deixava isso claro para Esther. Temia perdê-la, mas não queria preocupá-la. Não podia.
A cada dia que se passava, as felicidade se tornou maior quando dois meses depois, Melina soube que também estava grávida.
Ou seja, tanto Quenaz quanto Calebe, teriam mais um neto, além de Hatate. E Hatate... Estava radiante, ganharia um irmão e um primo.
Ela e Iru se casaram em uma cerimônia, bem discreta, à pedido dela. Ula viajou do Norte, junto de seu marido e a filha para o casamento.
Depois de ter visto, a filha se casar forçada com Yussuf, se sentiu realizada, porque agora ela finalmente seria feliz, depois de tudo.
Desde o casamento, Melina e Esther ficaram mais próximas. Sempre conversando, falando sobre a vida.
— Você deve estar grávida de gêmeos. — comentou Esther, olhando a barriga de Melina, maior que a dela.
Ela riu nervosa, colocando a mão em seu ventre pensativa.
— Será mesmo!?
— Eu não duvido! Olha o tamanho dessa barriga! — respondeu Esther. — Sendo que eu estou com dois meses à frente de gravidez.
— Tem razão. — Melina suspirou. — Mas será um árduo trabalho, duas crianças, eu não sei se vou conseguir ser uma boa mãe... — admitiu com preocupação, e insegurança.
— Você será uma boa mãe, nós seremos. Deus nos dará sabedoria necessária para criar nossos filhos. Além do mais, Noemi com certeza, vai te apoiar nesse momento.
— Você falou de Noemi, meus sogros estão tão felizes. Calebe é só alegria.
— Com certeza, sempre sonharam em ter outro neto, além do Hatate. — Esther contou.
Confirmando as suspeitas, Melina esperava gêmeos: Esaú e Jacó que nasceram antes do filho de Esther, ela e Otniel foram visitar os recém nascidos, imaginando que muito em breve seria a vez filho deles, chegar a esse mundo.
Esther, ela estava em casa, com Martha, sabendo que seu filho nasceria a qualquer momento, Otniel até mesmo pediu que a parteira ficasse na casa,
Sentiu um forte dor na barriga, em seguida, um líquido escorreu de suas pernas, molhando o vestido verde.
— Meu filho vai nascer... — ela sussurrou, ofegante.
— Acalme-se, minha neta. — pediu Martha, em vão, se aproximando dela.
— Aonde está Otniel? — perguntou nervosa. Não sabia explicar, mas sentiu a necessidade de tê-lo perto dela, naquele momento. — Aonde está o meu marido?
— Está trabalhando, e ele não será de muita ajuda agora, Esther. — Martha disse a ela. —De qualquer forma, pedirei para um lacaio avisá-lo.
Esther concordou, sentindo outra pontada, mais forte dessa vez. Martha chamou a parteira, e saiu do quarto apenas para pedir que alguém avisasse à Otniel, a presença da avó, fazia ela se sentir mais segura.
Não seria prudente a presença de Otniel, num momento, todo passado poderia vir a tona. Então, está ao lado de alguém que amava, que reconfortante.
Deitou na cama, com o pensamento de que seu filho nasceria na mesma cama onde foi concebido.
Ela ouviu a voz de Otniel lá fora, tentando entrar. Estava desesperado.
— Esther! Eu preciso entrar, tenho que está ao lado dela. — dizia em voz alta para alguém — Esther!
— Não, você não pode. — Esther identificou como a voz de Joel, tentando acalmá-lo.
Cada contração vinha ainda mais forte, mais intensa. A parteira disse que seria preciso esperar, nada poderia ser feito. Depois de quase uma hora, sentindo fortes dores, estava na hora. Otniel ainda estava lá fora, mas estava em silêncio, provavelmente andando de um lado para outro.
— Faça força. — pediu a parteira.
Esther fez, só ela podia acabar com o desespero dele, e assim faria. Traria o filho deles ao mundo, iria mostrar que seria capaz, que conseguia.
Apesar da dor, se sentia feliz, como nunca. Fez ainda mais força, até que toda a dor que havia sentido até aquele momento, foi esquecida, quando ela ouviu o som era mais belo que qualquer melodia. O choro de seu filho.
— É um menino. — anunciou Martha, com lágrimas nos olhos, emocionada com o bisneto. — Um belo menino, tão saudável, tão forte.
Era uma criança realmente graúda, forte. Um hebreu de Judá. Martha logo entregou o bebê para a mãe.
Nervosa, emocionada e meio trêmula, ela segurou o filho nos braços pela primeira vez. Seu filho.
Não existiam palavras que podia descrever aquilo, ser mãe, ter seu filho nos braços. A pele suave, o corpo frágil, o cheiro, tudo.
Os cabelos eram claros, loiros, exatamente como o do pai. Ele tinha todos os traços de Otniel, e os olhos? Ainda não sabia, mas estava ansiosa para descobrir.
— Como meu bisneto vai se chamar? — Martha quis saber.
Lembrou da conversa que teve com Otniel o nome tanto para menina, quanto para menino, estava decidido. Se fosse menina chamaria Yarin, uma homenagem a mãe de Otniel. E se fosse um menino, o nome escolhido significava "Deus é a salvação"
— Elias. — disse ela, olhando para o filho encantada. — Meu Elias.
Otniel logo entrou no quarto, e sorriu. O desespero que estava sentindo, foi substituído pela paz.
Esther estava deitada na cama, visilmente fraca, pelo esforço, mas estava bem, só exausta.
— Nosso filho, meu amor. — sussurrou. — Nosso Elias.
***
Dois anos depois
A chegada de Elias trouxe ainda mais alegria para a vida de Esther, Otniel e Hatate. Cada dia um acontecimento, um simples sorriso, um som, para eles, eram especial. E houve também os momentos marcantes. A primeira vez que falou, que andou. Seraías também estava muito presente na vida do sobrinho, e dos primos.
— Quero muito ouvir o que Josué tem a dizer. — comentou com Otniel. — Nem lembro a última vez que todo o nosso povo esteve reunido assim.
Ele contou para ela, que viajariam para Siquém, pois Josué, queria reunir todo o povo para falar sobre um compromisso.
— Desde que deixamos Gilgal, nunca aconteceu. — Otniel respondeu à ela.
— Tem razão.
— Mas antes de partimos, quero que venha comigo até o jardim secreto.
Esther viu que Hatate segurava Elias em seu colo, e Martha estava perto, mesmo depois de se casar com Joel, ela permaneceu junto da família.
— Faz muito tempo que não te dou um presente. — comentou, enquanto caminhava para o jardim.
— Isso não é verdade. — Esther falou sorrindo. — São tantos presentes...
Otniel balançou a cabeça.
— Mas eu falo de um presente original, tão original quanto a Estrela.
— Eu demorei muito tempo, mas aqui está.
Era uma rosa de saron nunca vista antes. Pelo menos, Esther nunca tinha visto daquela cor.
— A-azul? —gaguejou ela. — É tão bonita.
— Queria uma cor diferente... e azul é a cor dos seus olhos. —disse a olhando nos olhos.
—A minha cor preferida. Eu amei, obrigada. — agradeceu com uma das rosas, na mão.
— Gosto se presentear, ainda depois do presente maravilhoso que você me deu.
— Presente!? — indagou Esther, querendo saber do que se tratava.
— O Elias. — ele disse, simplesmente.
Esther sorriu.
— Elias foi um presente de Deus em nossa vida.
***
Siquém
O líder de Israel, Josué, decidiu que reuniria toda Israel para uma discurso. Com a terra toda dividida entre as tribos, a promessa feita a Abraão à séculos atrás foi cumprida.
Não só há de que a descendência seria numerosa como as estrelas, assim como a de Canaã seria deles novamente.
Agora, estava na hora do povo de Deus fazer uma promessa à esse Deus.
— Eu quero agradecer principalmente aos chefes tribais, anciões, e todos que saíram de suas casas, para vir até aqui.
Muitas palmas e aplausos, todos eram gratos a Josué, por ter sido um líder que
Prosseguiu quando as palmas cessaram.
— E quero agradecer, à dois guerreiros de Judá, em especial. Salmon, Otniel, juntem-se a nós.
Recebendo muitos aplausos, os guerreiros da tribo de Judá.
— Vai lá, meu primo. — incentivou Iru.
Estava junto de Melina, e dos gêmeos. Antes, Esther estranharia com a atitude de Iru, à anos atrás, mas ele havia mudado, sua relação com Otniel.
— Claro que todos os soldados tem sua importância, mas estes dois foram essenciais para a grande conquista de Judá.
— Viva à Judá! Viva à Israel. — brandaram todos.
Esther observava com o filho nos braços, emocionada. E Hatate ao seu lado.
— "Assim disse o Senhor, Deus de Israel
— Josué começou — ... seus antepassados habitavam do outro lado do rio Eufrates, e serviam a outros deuses. Eu porém tomei Abraão, e o fiz percorrer toda Canaã, multipliquei sua descendência.... Jacó e seus filhos desceram para Egito, tirei do Egito seus antepassados. Isso não foi feito com a espada ou com o arco de vocês. Eu dei à vocês uma terra que não lhes custou nada cidades que vocês não construíram e onde agora vivem...
Por isso, temam ao Senhor, servindo-o com integridade e fidelidade. Tirem do meio de vocês os deuses, a quem os seus antepassados serviram... Sirvam a Deus, escolham hoje quem vocês querem servir: aos deuses que seus antepasados serviram, ou aos deuses dos amorreus, na terra dos quais agora vocês habitam. Eu e minha familia serviremos ao Deus de Israel...”
O povo começou a dizer, que não se afastaria de Deus, e de suas leis.
— Vocês não poderão servir à Adonai, porque ele é um Deus Santo, um Deus ciumento. Ele não permitirá suas transgressões e pecados. Se vocês o abandonarem para servir Aos deuses estrangeiros, ele se voltará de novo contra vocês, e os maltratara e destruirá, apesar de lhes ter feito o bem.
Naquele dia Josué, escreveu em uma pedra as palavras da promessa.*
***
— Shalom, Elias. — Gael falou para o pequeno. — A cada dia que passa ele parece mais com Otniel. — observou.
— Sim, ele é todo o pai dele. — Esther admitiu, com o filho no colo. Até mesmo os olhos eram verdes.
— Os gêmeos também estão lindos ! — exclamou Ana, ao ver Melina e Iru se aproximarem deles.
— Shalom. — disseram.
— Mas Esaú e Jacó, são idênticos, ao contrário do filhos de Isaque. — observou Gael risonho, citando a história de seu povo, que ouvia desde criança. — Como vocês sabem quem é quem?
— Este que eu estou segurando é Jacó, aquele com Melina, é Jacó.
— Dessa vez o Iru acertou.
—Eu sempre confundo. — Iru confessou, fazendo todos rirem. — É Melina quem sabe. Sempre.
— Sei bem como é isso. — comentou Ana.
— Soube que estava grávida, Ana. Também foram gêmeos?
— Sim — Gael respondeu referindo a ele e Ana. — mas no nosso caso, são duas meninas.
— Duas meninas? Daqui a pouco, completam cinco, igual à Zelofeade. — brincou Iru.
Gael sorriu.
— Eu adoraria. Ser pai é maravilhoso!
— Onde estão as gêmeas? — perguntou Melina.
— Em casa, moramos perto daqui, achamos melhor que ficassem. — contou Ana. — Tirda está amando ser avó.
Nobá se aproximou deles.
— Nobá. Meu amigo, Nobá. — disse Gael o abraçando.— E Lila, onde está?
—Ficou em casa, lá em Jerusalém. É que ela está grávida.
Gael simplesmente sorriu. Verdadeiramente feliz. O dia havia chegado.
— Como é viver em Jerusalém? — quis saber Esther.
— Maravilhoso.
***
Gael e Nobá, ficaram e uma longa conversa, e Ana e Melina também, conversavam sobre a tarefa de ser mãe de gêmeos.
Esther foi até os tios. Adele segurava Elias em seu colo, com carinho.
— Meu neto é o não lindo? — Quenaz perguntou, todo alegre, com o segundo neto.
— Elias é sim. Esther Otniel, Hatate e esse pequeno aqui, são uma família linda.
Depois de dizer isso, Adele ficou pensativa.
— O que foi? A senhora de repente ficou pensativa. — percebeu Esther.
— É que especialmente hoje, um dia em que as tribos se reuniram, um dia de reencontros... — falou entristecida. — Eu me lembrei ainda mais de meu filho, Marduk. Sinceramente, tenho pensado nele todos os dias de minha vida. Espero que tenha encontrado sua redenção, que esteja bem...
***
Nínive
Nina observava o filho, encantada. O belo menino de cabelos escuros, e olhos castanhos.
— Ele se parece tanto com você, Marduk. Tão bonito quanto você!
Irritou-se quando o príncipe, começou a chorar e bufou.
— Onde está a ama? — indagou, nervosa.
Tocou o sino, até que ama entrasse, correndo.
— Sim, senhora. — fez uma reverência. — O bebê, é claro. — disse, já o tirando do como da princesa.
— Porque demorou tanto!? Sua incompetente. Leve-o daqui.
A ama a obedeceu e saiu.
Ela se virou para o esposo. Conseguiu se casar com Marduk, como tanto desejou.
— Amo Alec, é o bebê mais lindo que já vi, mas não suporto ouvir choro de criança.
Marduk sorriu para a esposa, e se aproximou mais dela.
— Tenha um pouco mais de paciência com Alexander, afinal ele é o futuro herdeiro do trono da Mesopotâmia, Nina. — pediu, calmamente.
Nina não entendeu o que ele quis dizer com aquele comentário.
— Como assim!? Alec não é herdeiro, nós não somos os monarcas.
Marduk riu.
— Ainda não. — disse ele. — Ainda. Venha aqui comigo. — chamou ele, caminhando até a janela.
Admiraram a cidade de Nivine, as grandiosas muralhas.
— Já pensou em ser rainha? Disso tudo aqui e muito mais? Rainha das duas províncias, Alta e Baixa Mesopotâmia. Reinar sobre a Assíria e a Babilônia? — sussurrou, para ela.
— Pensei algumas vezes, mas isso não acontecerá. — respondeu entristecida.
— Seu pai não era o Grande soberano de toda Mesopotâmia?
—Sim, mas morreu jovem, eu ainda era a menina, na época. E eu acredito que mesmo que ele não tivesse falecido, teria um filho homem, eu não seria rainha.
—Quem foi o culpado? — perguntou a ela.
— O copeiro, que serviu o vinho à ele,
ele foi enforcado em praça pública.
— E você acha mesmo que um copeiro mataria o soberano? O que ele ganharia com isso? Herdaria o trono? — perguntou Marduk, fazendo Nina refletir.
— Pensando bem, seria burrice da parte dele, mesmo que ninguém desconfiasse, nunca sentaria no trono. — ela respondeu. —Marduk, meu amor, acha que não foi o copeiro?
— Não sei, Nina. As pessoas capazes de tudo por poder, principalmente quanto se trata do maior império da terra.
— Está insinuando que meu tio tenha matado o próprio irmão, para usuprar do trono?
— Não existem provas, mas eu particularmente seria capaz de tudo. Para ser rei de toda Mesopotâmia, das duas terras, do maior império da terra, não há limites.
— Tem razão. — Nina concordou com ele.
— Alexander pode ser um rei. E nós também podemos, mas para isso teríamos que matar o rei e o seu herdeiro. — falou de uma vez.
— Matar o meu tio e o meu primo? — falou chocada. — Marduk, você está indo longe demais. Você seria morto se o que disse agora, chegar aos ouvidos do rei.
— Apenas se você contar. O fato, meu amor é que eles são os únicos que nos impedem de sentar naquele trono.
— Eu não sei... Eu gostaria de ser rainha, mas usurpar do trono, seria ir longe demais. — reconheceu a princesa.
— Deixa comigo, eu vou pensar em algo, algo perfeito. — Marduk falou calmamente.
Nina ficou pensativa. Ser rainha poderosa, é claro que ela desejava, mais que isso, era um direito dela. Seu pai havia sido rei. Mas usurpar do trono era ultrapassar os limites.
— Um brinde aos futuros monarcas da Mesopotâmia. — Marduk quis brindar. Nina pegou sua taça de vinho, e brindaram. Mas a princesa não tinha certeza, de que era exatamente o que queria.
***
Raabe se aproximou de Esther, sorridente. — Shalom. —disse ela.
— Quanto tempo, Raabe! — exclamou Esther.
Era verdade, desde que ela, Salmon e toda sua família mudaram de Hebrom, para Jerusalém.
— Como está todo mundo? Estive com Nobá, agora a pouco.
— Estamos todos bem, graças à Deus. E vocês? Otniel, os filhos?
— Nós também, estamos bem. Hatate e Seraías devem ter encontrado Boaz, e estão por aí. —Esther disse sugestiva.
— Boaz sente muita falta deles. — contou Raabe.
— E eu de todos vocês.
— Eu tenho um presente para você.
Era um Torá, dourado e preto.
— É lindo. Obrigada, Raabe. — agradeceu Esther.
— Eu vi no comércio de Jerusalém, e pensei em você.
— Eu sempre vou ler com muito carinho, e me lembrar de você.
— Faça isso, sim. — ela sorriu de repente, ao olhar para onde Raabe olhava entendeu o porquê.
Salmon e Otniel, se aproximavam de ambas, conversando.
— Temos que nos orgulhar muitos de nossos maridos. — disse a Esther, que concordou dizendo:
— Sim, são homens guerreiros em todos os sentidos. Ótimos pais.
Depois de mais algum tempo de conversa, se despediram.
— Eu quero que venham comigo. — Otniel disse a esposa. — É só por alguns minutos, até um lago que existe aqui perto. Um lugar tão bonito!
Sentaram a beira do lago, toda família, Otniel, Hatate, Esther, e o pequeno Elias em seu colo.
Era um belo lugar, com uma bela visão do céu estrelado.
Elias se distraiu com o Torá, encantado com o livro nas mãos da mãe.
— O que é isso? — Hatate perguntou. — Um Torá?
— Sim, foi presente de Raabe, ela é sempre tão cordial, comigo, conosco.
Esther começou a ler o Torá em voz alta. Estava completamente realizada. Tinha a família que amava, e Israel estava em paz. Esperava que assim fosse por muito, muito tempo.
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