História Estrelas do Céu de Abraão - A fé vacila com o tempo.

Muitos anos se passaram, anos suficientes para que os anciões e o líder dos hebreus, Josué tivesse falecido.

Algo que preocupou muitos hebreus sensatos e de fé, dessa vez, ao contrário do que fez com Moisés, o Senhor não deixou um sucessor, nem tão pouco Josué disse algo sobre isso, antes de morrer. E a falta de um líder, poderia fazer o povo voltar a pecar como fez no deserto, com o bezerro de ouro.

Muitos de Efraim, sugeriram que Ezequiel, o primogênito de Josué, deveria ser o novo líder, já outros disseram que ele era jovem demais, que era uma responsabilidade muito grande.

Contudo, Ezequiel, assumirá a liderança de sua tribo, era o chefe tribal de Efraim, e não tinha essa ambição, nao queria poder, não seria ser líder de Israel, caso Deus não se comunicasse diretamente com ele. Se assim Deus não determinasse.

Havia se casado com Nira, e sua vida e de seus filhos, eram felizes.

Mas Ezequiel assim, como muitos outros hebreus, se preocupava era com a guerra que eles certamente teriam te enfrentar concomoos Assírios, como era de se esperar não demorou muito para os Nortistas começarem a se envolver e casarem com estrangeiras idólatras, e consequentemente servindo os seus ídolos, infligindo assim o primeiro mandamento.

Gael e Ezequiel, se tornaram os chefes tribais mais jovens de Israel, mas ambos mostraram sua aptidão, e liderança, rapidamente.

Salmon que chefiava Judá, com excelência, depois das guerras, a tribo, se tornou uma das tribos mais fortes de toda Israel.

No entanto, Otniel sentia como se todo aquele esforço estivesse sendo desperdiçado. Tantas batalhas, tantas vidas perdidas, para conquistar aquela terra, e agora, uma nova escravidão estava sob Israel, como havia sido no Egito. Não podia ser!

Havia um certo fascínio naquela cena que Otniel gostaria de congelá-la para sempre. Estava voltando de uma cansativa quando se deparou com tal momento. 

Esther havia mudado em todos os sentidos. Era uma mudança para melhor, era amadureceu, ela havia se tornado mãe. Elias. O fruto do amor deles.

Mesmo com todos os problemas, ao ver aquela cena,  Otniel soube que sempre lutaria para nunca perder o que mais importava em sua vida. Sua família.

— Eu adoro cavalgar com a Estrela. — Elias, comentou com a mãe.

Aos oitos anos, o primeiro filho de Esther, se parecia com pai ao extremo. Nem mesmo, Hatate era tão parecido, porque apesar dos olhos serem verdes, seus cabelos eram escuros, o que era  natural entre os hebreus. Enquanto o cabelo de Elias era o mesmo loiro raro de Otniel.

Estava montado sobre a Estrela, a égua marrom egípcia de sua mãe.

— Você está se saindo muito bem. — Esther comentou.

— O papai! — exclamou Elias.

Era mesmo Otniel que estava chegando de Jerusalém.

— Calma que eu vou de ajudar a descer, meu amor. — Esther avisou.

Assim que desceu da égua, o menino correu em direção de Otniel.

— Pai, papai!

O pai por sua vez, sorriu e o pegou no colo.

— Senti sua falta, papai. Pelo menos o senhor voltou, já o vó Quenaz...

— Mas você não precisa ficar triste, ele está junto de nosso Deus, agora. — disse suavemente, e sorriu para o filho. — Vejo que tem se tornado um cavalheiro melhor a cada dia.

Elias assentiu rapidamente.

— Estou sim, papai. Por isso, quero ter meu próprio cavalo.

— Irei providenciar isso, em breve. — garantiu ao filho.

Esther, depois de deixar sua égua, nos cuidados de um dos criados, caminhou em direção ao filho e ao marido.

— Meu amor. — falou ele.

— Como foi de viagem? — ela quis saber.

— Foi tudo certo, pelo menos no caminho.... — iniciou e deixou a frase no ar, mas mudando de assunto, rapidamente. — Bem, mas onde está Hatate?

— Com Seraías, na oficina. — respondeu Esther. — Pode entrar com Elias, eu vou chamá-los.

— Está certo, meu amor. Vamos filho.

Esther olhou para a cena de marido e do filho juntos conversando, indo em direção a casa.  Amava sua família mais que qualquer outra coisa em sua vida.

Esther sorriu saindo de seu pequeno transe, e foi até a oficina chamar os meninos.

Agora havia um lugar para o filho mais novo de Quenaz, fazer seus trabalhos de artesanatos, pelo que tudo indicava, ele seria mesmo um artesão.

Aquela noite, depois de Hatate e Elias ter dormido, Esther preparava um chá na cozinha.

Otniel foi até ela e deu um beijo.

— Você precisa beber esse chá e se acalmar, eu sei que você esta nada bem, ate tentou disfarcar perto dos meninos, mas eu podia ver a preoucupação nos seus olhos.

Ele se sentou em um banco, enquanto Esther terminava de preparar a bebida.

— Eu não poderia ficar bem, Esther. Se as coisas em Israel, sairam completamente do controle. Na verdade, elas saíram há muito tempo, quando essa idolatria desenfreada começou.

— Com a morte de Josué, e os anciões, tudo se complicou. — ela concordou. 

— Nos últimos três anos, mais de vinte mil hebreus foram exilados para Nívine,  pelo Império Assírio. As tribos atingidas foram as do Norte, Gad, Dã e a meia tribo de Manassés.

— O nosso povo está regredindo, depois de mais de quatro décadas de escravidão no Egito, agora estão uma nova escravidão.

Esther sentou ao lado dele e entregou uma das xícaras de chá. Estava tentando abosrver aquelas palavras.

— Não consigo compreender, Israel já se esqueceu da promessa que fez a Josué de que nunca se desviaria do único e verdadeiro Deus. — comentou Esther, recordando-se daquele dia em Siquem.

— Josué sabia que deixaria esse mundo quando discursou daquela maneira. De todo seu coração.

“ ... temam ao Senhor, servindo-o com integridade e fidelidade. Tirem do meio de vocês os deuses, a quem os seus antepassados serviram... Sirvam a Deus, escolham hoje quem vocês querem servir: aos deuses que seus antepasados serviram, ou aos deuses dos amorreus, na terra dos quais  agora vocês habitam. Eu e minha familia serviremos ao Deus de Israel...”

— Quando eu era mais jovem, eu achava que estava no lugar errado, viver junto de hebreus, porque tenho sangue caneneu. — recordou Esther. — Mas, quando nos aproximamos, eu descobri  que estava errada, e nada me deixa mais completa que servir ao Deus de Israel.

Otniel sorriu, e a beijou com carinho, depois a olhou nos olhos.

— Você se transformou uma mulher de tanta fé.  Tantos duvidaram quanto nos casamos, bem meu falecido tio Calebe,  concordou, no início, depois se redimiu com você. Mas você prova meu amor, todos os dias, que eu fiz a escolha certa. Tenho uma mulher de fé, ao meu lado.

— Falecido Calebe. — repetiu Esther, ainda parecia irreal a perda do chefe tribal de Judá, porém faziam dois anos. Ele e Noemi partiram juntos, enquanto dormiam.

Isso fez com que Iru não se sentisse tão mal. Apesar do luto, se sentiu bem, porque seus pais partiram juntos, comprovando com seu amor era eterno.

Pouco tempo depois, morreram Josué, Eleazar, e há seis meses Quenaz.

— Quantas perdas de homens e mulheres de fé grandiosa não tivemos? — Esther indagou.

Otniel recordou-se da morte do pai. Ele foi em paz, grato ao Senhor, por toda sua vida.

— Adele, minha querida. Eu a amo tanto. Trouxe tanta felicidade, quando eu esperava mais. Me deu um presente, Seraías  — disse, segurando a mão da esposa, então olhou para seu filho mais moço.

— Cuide de sua mãe, Seraías. —  pediu. —  Ela terá uma importante missão, mas antes disso, cuide dela. Venha até aqui.

Seraías se aproximou do pai. E o ouviu dizer:

— Seraías, meu filho mais novo, meu deu a alegria de ser pai novamente, já em minha velhice. Seu talento é especial,  e poderá seguir para outra gerações. Ensine ao seu filho, e ele ensinará ao filho dele.

Depois olhou para Otniel, seu primogênito, e ele se aproximou.

— Otniel, meu primogênito, você me mostrou a alegria de ter netos: dois netos, assim estou certo que minha descendência seguirá. Você, meu filho, grande guerreiro de Judá, os inimigos caíram diante de ti, pois é forte, e destemido. É o leão de Deus.

Naquele mesmo dia, Quenaz se Foi para junto de Deus.

— O meu pai, Esther... — começou Otniel, para Esther.

Por mais que doesse, ela já sabia o que se tratava.

— O meu pai faleceu. — completou, e a abraçou, e se entregaram as lágrimas juntos

—  Nosso pai... — sussurrou ela.

Esther nunca pensou que sentiria aquilo novamente, mas sentiu a dor de perder o pai pela segunda vez na vida.

Quenaz foi seu pai durante todos aqueles anos, desde se uniu ao povo hebreu.

Assim como havia sido com Calebe, muitos foram no enterro de Quenaz, era conhecido por muitos. Foi um grande guerreiro de Israel, e homem de muita fé.

— Tia Adele, a senhora quer que fique e te faça companhia? — Esther perguntou a tia.

— Não. Vá ficar com seu marido e seus filhos.

Seraías que estava abraçado a mãe, garantiu a prima:

— Farei companhia para ela, Esther. Serei o homem da casa agora, e cuidarei de minha mãe. Já ganho alguma coisa com o meu artesanato que fabrico na oficina. Aumentarei a produção, ensinarei a outros jovens, para que possam trabalhar comigo.  — explicou Seraías. — Não nos faltará nada.

— Mas você sabe que se precisar de qualquer coisa, pode contar comigo, meu irmão.

— Foram grandes perdas, primeiro meu tio Calebe, depois nosso líder Josué, o sumo sacerdote Eleazar, e...meu pai.

A morte deles, parecia ter sido um estopim para a idolatria.

— Eu realmente fico surpresa, como essa opressão aconteceu. — comentou Esther. — Nunca houve algo tão grandioso, como a tomada de Canaã; em poucas décadas Israel derrotou trinta e um reinos poderosos e como podem se desviar de Deus tão rapidamente?

— A idolatria. Um povo abençoado, Esther, privilegiado, agora virou idólatra como os povos que estão a nosso redor, mas não é nenhuma supresa. Eu conheci Moisés, e me lembro dele. Meu pai, e o tio Calebe viveram diretamente com ele. A questão e que ainda na época dele, haviam os murmurradores, os que duvidavam do poder de Deus, mesmo presenciando tantos milagres. Não é uma tarefa fácil, manter a memória. Afinal somos livres para decidir como iremos viver. — falou Otniel. — Acredito que Deus esteja testando a fé de seu povo, assim como fez com Abraão, por isso,  permitiu que alguns dos caneneus, politeístas, idólatras, vivessem em nosso meio.

— Mas ao contrario, de Abraão, Israel está falhando em sua fé. — ela completou.

—  Teremos de lutar, contra o rei Assírio. Para permanecermos um povo livre. — admitiu Otniel. — Foi isso que os chefes tribais conversaram em nossa reunião

Otniel viu que Esther estava muito estristecida.

— O que foi, meu amor? — perguntou à ela.

— Eu me lembrei Kalu e todos os meninos de Jericó, que vivem no Norte, e tantos outros que conhecemos... Existem  grandes riscos para as demais tribos do Norte, não é? — Esther perguntou, já sabendo a resposta.

— Sinceramente existe. Afinal, porque os Assírios, parariam? O risco existem para todos, todas as tribos. — falou Otniel, mas suas próximas palavras, trouxe esperança. — Mas Deus não irá abandonar quem não o abandonou. Nunca.

O povo do Sul era quem mais seguia as leis, se houvesse alguma libertação aos hebreus que foram escravizaram, essa libertação viria do Sul.

                                ***

— Passa tão rápido. — comentou Melina com Esther, enquanto observava os filhos.

Brincavam com suas espadas de madeira, na área de treinamento da aldeia de Hebrom.

— Engravidamos na mesma época. — Esther falou nostálgica. — Eu lembro de nós quatro, compartilhando a alegria juntas.

— E agora, eles estão assim, crescendo tão rapidamente, e tão próximos.

Elias, e os gêmeos Esaú e Jacó, eram muito amigos. Sempre que olhava para os meninos, se recordava de Seraías, Hatate e Boaz, que eram próximos, durante a infância.  Agora eram rapazes. 

— Filhos é muito bom, se eu pudesse, com certeza teria outros, mas a parteira foi muito clara, eu não suportaria outra gravidez. — falou entristecida. — Mas nem seria justo reclamar, eu fui muito agraciada com Esaú e Jacó.

— Mas e você, Esther? É bem  mais jovem que eu. Pensa em ter outros filhos?

A pergunta de Melina, fez Esther ficar pensativa.

— Depois de Elias, eu não engravidei, admito que sempre quis outro filho, mas não aconteceu ainda. Eu acho que se eu tiver que ter outro, ainda terei, tudo de depende de Deus, se ele assim desejar...

— Imagina uma menininha ruiva igual à você, por aí? — indagou Melina.

Esther sorriu com a ideia. Até mesmo Otniel que temia tanto uma gravidez, falou uma vez, que amaria ter uma menininha parecida com ela. E Elias, sempre quis uma irmã.

— Elias sempre diz que quer uma irmã. — ela contou seu pensamento para Melina. — Mas sabe, eu não queria que meus filhos crescessem num mundo de guerra, porque a guerra se aproxima. Não queria que fosse assim.

— Eu também não gostaria, mas é isso que a idolatria faz. Desde criança, eu escuto sobre os Assírios. Meu tio Durgal sempre os temeu.

— O que eu não tenho dúvidas, é de que seu marido e o meu, estão prontos para defender nossa tribo. — disse Esther, confiante.

Podia parecer impossível, mas Otniel se tornava um guerreiro melhor a cada dia, pensava Esther, ao ver treinando, com Iru.

— Há quem diga que são novos Calebe e Josué. — comentou Melina, como se soubesse dos pensamentos de Esther.— E eu acho que estamos perdendo muito tempo aqui, só olhando.

Confusa, Esther disse:

— Eu pensei que você gostasse de assistir os treinamentos, assim como eu.

— Por isso mesmo, eu amo, sempre amei. Temos esse área de treinamento e não aproveitamos... Para treinar também. — completou.

— Eu sempre desejei uma espadachim, quando era mais jovem, depois de casamento, eu deixei esse desejo de lado. Me preocupei em ser uma boa esposa, uma boa mãe.

— Eu também, mas e o desejo de ser uma espadachim? Ainda vive em você? Porque em mim, sim. — admitiu Melina.

Esther sorriu.

— Sempre existirá.

Elas permaneceram ali, fascinadas,  imaginando se algum dia, seriam espadachins em uma batalha, como sempre sonharam.

                              ***

O dia estava no fim, e havia sido  Shabat, o dia em que os hebreus guardavam e passavam com suas famílias.

Esther, Otniel, Hatate, Elias foram passar o Shabat na casa de Iru e Melina.

— Melina sua comida estava deliciosa, como sempre. Os pães trançados estavam deliciosos. — elogiou Esther.

— Nem sempre foi assim. No início eu era um desastre cozinhando. — ela relembra. — Coitado do Iru!

— Mas aprendeu, e hoje é una excelente cozinheira. — falou Iru, então beijou a cabeça da esposa.

— Eu aprendi muito com a senhora Noemi. — ela relembra sua sogra.

— E eu aprendi com minha avó, ainda bem. — Esther falou. — Mas acho que o mais importante é o amor.

— Sim, eu cozinho com muito amor. — concorda Melina.

— Querem nos acompanhar numa viagem até o Norte? — perguntou Iru.

— Norte? — questinou Otniel, seu tom era de reprovação. — Temos que treinar, nos preparar para a guerra. 

— É exatamente o que Iru vem dizendo para mim, há meses. — Melina suspirou.

— Otniel certamente entende meus motivos. — interveio Iru. — O Norte não é mais um lugar seguro, é muito perto da Mesopotâmia.

Melina ficou cabisbaixa e preocupada.

— Me dói cada vez que você, ou qualquer outra pessoa, me diz isso, afinal minha mãe, minha irmã, vivem lá.

Esther não se lembrava da última vez que fez uma viagem ao Norte, era longa e cansativa, mas sempre valia a pena. Mas na maioria das vezes, eles vinham até o Sul, já que o Norte, não era mais considerado um lugar seguro.

— Está certo, meu amor partirmos para o Norte, ficaremos uma semana lá, então voltamos.— avisou Iru. — Infelizmente terei que dar uma pausa nos treinos, primo. — ele diz a Otniel.

— Uma semana é pouco, mas melhor do que nada perto da saudade que eu sinto. — Melina falou, dessa vez, mais alegre.

Otniel olhou para Esther, e para as crianças, perto deles. Ela e os filhos sempre falavam sobre o Norte, ele  acreditava que uma breve viagem até lá, de uma semana não era um risco tão grande assim, então ele anunciou, surpreendendo e alegrando à todos:

—  Nós iremos com vocês para o Norte.