História Estrelas do Céu de Abraão - Capítulo LVIII

Maya estava no terraço da casa de Otniel, quando Israel se aproximou.

— Shalom. — ele disse.

Ao virar-se, o viu e sorriu para ele.

— Shalom. Você não parece feliz, Israel, quer dizer Miguel. Vai conhecer sua família, finalmente. Não é o que sempre quis, meu amigo?

— Sim, é o que eu sempre quis. — falou pensativo. — E pensar que eu recusei entrar no palácio...  Minha mãe, estava lá. Como eu ia imaginar, sempre pensei que fosse uma pessoa humilde, mas não vou julgar, primeiro vou escutar o que ela tem para me dizer.

— Isso mesmo Miguel, não devemos julgar.

— Ela não me abandonou, a senhora  Esther deixou isso bem claro.

Maya assentiu, não sabia o que ao certo o que a mãe de Elias havia contado à Israel, mas achava melhor assim, era pessoal, era a história dele, achava melhor não saber.

— Por isso, eu estou radiante, mas... Maya, eu sou apaixonado por você, você sempre soube disso. E agora, somos livres, e você fica noiva de Elias?

— Eu nunca te dei esperanças, sempre disse que você era um amigo, mas eu sempre soube, mas acreditava que se a gente fosse livre algum dia, você mudaria de ideia.

Por mais que temesse a resposta, ele perguntou.

 — Você o ama?

— Sim, eu amo Elias. Você precisa entender uma coisa, não é mais escravo, agora você é um homem livre para viver sua vida. Conhecerá muitas pessoas, e um amor de verdade.

Miguel meneou a cabeça.

— O amor não é para mim.

— Você duvidava que seria livre, que a liberdade não era para você, no entanto, hoje é livre, então não diga nunca. O amor é para todos. 

— Obrigada por sua amizade, eu sempre senti muito sozinho,  até você aparecer.  

Maya o abraçou, estava ainda mais feliz do que pensou que poderia ser.  Pois até a compreensão de Miguel, ela tinha.

 ***

Zuma e Mandisa estavam vivendo Efraim, Otniel e Elias acompanharam Maya, até lá, na casa deles. 

Não foi preciso palavras quando a viram, entrar a porta de sua casa, souberam que era mesmo a filha deles. Aquela que eles nunca deixaram de ter esperança de que a encontrariam, de que pediam em oração por esee reencontro. E finalmente se realizou. 

Maya estava mesmo viva. E já era uma bela moça, de sorriso extraordinário. Abraçaram a filha, emocionados,  e assim ficaram por um bom tempo. 

— Finalmente cumpriu sua promessa, juiz. — Zuma disse, emocionado à Otniel.  — Mas nunca deixei de acreditar que conseguiria. 

— Não fui eu que a encontrei, foi Elias, meu filho.

Ouviram atentamente tudo o que aconteceu nos últimos anos, e se lamentam de que nunca poderiam agradecer a Selima. E se alegraram a saber que a filha estava noiva de Elias. 

***

Caminhando pelo jardim secreto naquele dia, Yarin se deparou com um hebreu que havia chegado da Mesopotâmia com seu irmão, Elias. Maya havia contado muitas coisas sobre ele.

— Shalom.

— Shalom Yarin.

Miguel decidiu ir para um lugar que o fazia se sentir muito bem, junto das flores.

— Gosta de flores!? — perguntou ela.

— Sim, lá na Babilônia eu cuidava do jardim da dona Selima, e a noite era Gladiador.

— Gladiador!?

— É, o filho da dona Selima me colocou num torneio de lutas, ele ganhava muito dinheiro comigo.

— Não me conformo, essas pessoas acham que as pessoas são objetos.

— Infelizmente existe quem acha. — falou, e ficou olhando para ela. —  Seu irmão falou muito sobre você. — quebrou o silêncio.

— É bom mesmo que ele não tenha me esquecido enquanto esteve longe.

"Acho impossível esquecer alguém como você", ele pensou em dizer, porém não disse. Mas que Yarin havia chamado sua atenção, isso tinha.

— É mesmo muito bonito, esse jardim. — elogiou Miguel.

— Sim, sabe aqui em Israel, é ótimo lugar para um jardineiro, não acha?

— Sim. — Miguel concordou sorrindo. — E tem uma terra fértil, boa para plantar.

— Está vendo só? Não será difícil para você conseguir um emprego. E o melhor, você será renumerado por seu trabalho.

— Agradeço por sua preocupação, mas... Eu pretendo ir embora, Yarin. Vou para Assíria, quero conhecer minha família. — Miguel falou para a ruiva.

— É claro que depois de tanto tempo sendo escravo, agora que pode escolher viver num campo ou num palácio, irá escolher a segunda opção.— Não é nada disso, eu sempre quis conhecer minha família.

— Depois você pode voltar. Parte da sua família, vive em Judá. Seus tios, avôs. — Yarin sorriu com a ideia que teve.  — Pensando bem... Você será minha salvação, Miguel... Ou te chamo Israel?

— Miguel. — falou. — Me colocaram esse nome, disse que era ideal para um hebreu, mas agora eu sei que me chamo Miguel, que sou filho de Gabriel. Mas porque disse que sou sua salvação?

— Porque quero voltar a Mesopotâmia.

— Voltar, já esteve lá?

— É uma longa história, vivi lá por um longo período, e gostaria de fazer a visita a minha ama de leite, Rebeca

.— Ah sim,  que cabeça a minha, Elias me contou que você viveu na Mesopotâmia na sua infância, mas jamais ia imaginar que sua ama de leite era minha mãe.

— Eu gostaria de reencontrar Rebeca. Você deveria ficar para o páscoa. — Yarin falou. — É uma festa muito importante para o nosso povo.

— E vai demorar muito, essa festa?

— Não, é daqui há uma lua.

— Se é assim, ficarei. Estou curioso para conhecer mais sobre a cultura hebraica, ter vindo ainda criança, foi bom, você aprendeu sobre o único Deus. Já eu, tenho muito o que aprender ainda.

— Quando partir para Mesopotâmia, Miguel, irei com você. — Yarin falou, deixando Miguel muito surpreso.

— E o juiz Otniel já sabe disso? Que pretende ir? 

— Estou cansada das pessoas sempre perguntarem a opinião de meus pais.

— Mas são os responsáveis por você, enquanto ainda não se casar. 

— Pois não deveria ser assim, mulheres serem tão submissas, primeiro tem que obedecer os pais,  depois o marido. Acontece que eu posso tomar minhas próprias decisões.

— Você pensa a frente de seu tempo, Yarin. E isso é bom. 

— Shalom.

— Shalom. — repetiu ele.      

***        

             Uma lua depois

Em Belém

Noemi estava contente, sempre amou a páscoa, seus avós, bisavós, e outras gerações anteriores, foram escravos no Egito, e contavam a vida dura que levavam o Egito, quando a libertação finalmente chegou, era um sonho antigo se realizando, a páscoa era uma festa para comemorar essa libertação, e que sempre devia ser lembrada. Até mesmo em Moabe, relembrava e seguia as tradições hebraicas  mas nada como está de volta à Terra Prometida.Nunca achou que fosse amar tanto uma criança, como amava Obede, mas Jônatas, também era como um neto para ela. E ainda tinha Simone. E Rute e Boaz, era um casal que se amavam tanto, e en breve teria mais um neto. Noemi agradecia por ter fazer parte de uma família abençoada por Deus.    

***

Em Hebrom

Esther sorriu, ao ver a casa tão cheia para a festa da páscoa. Por tanto tempo, achou que estava sozinha após perder os pais, e hoje tinha uma família grandiosa. Todos estavam ali. Seus filhos,  a até a "neta" Eliseba.

— Aonde está Yarin? — Hatate perguntou à ela.Seu enteado, também estava construindo uma linda familia ao lado da Deborah, e a forma como ele olhava para Esther, enchia seu coração de alegria. Ele, até mesmo disse à ela o quanto era grato por seu carinho por ele, certa vez: 

— Nunca houve distinção entre mim e seus filhos, você me mostrou o que era ter uma mãe, muito obrigado, por me amar, mãe.

Hatate, era pai de uma filha linda, Eliseba, a Lis, o nome foi uma homanagem à Eliseba, que foi esposa de Arão, e tia-avó de Deborah, esposa de Hatate.

— Ela disse que ia sair, mas que já voltava. — Esther respondeu. — Deveria está aqui.

— Você sabe dela, Naomi? — Melina perguntou a filha, já que as duas primas,  eram também melhores amigas.

— Não, mas ela deve estar chegando...— Naomi respondeu, ao lado de Hamurabi. — Sabem como ela é. Todos sabiam, Yarin não gostava muito de regras,

A pequena Hadassa correu até a varanda, e os viu chegando.

— Yalin está vindo com o Miguel. — disse a menina.

— Você vai amar passar a páscoa aqui em casa tem muita receptividade. — comentou Yarin, com Miguel.

—Não tenho dúvidas, amo muito sua família.

— Miguel, pensei que passaria a páscoa com a sua família. — comentou Elias, assim que o viu entrar, junto da irmã. 

— Eu faria isso, mas como poderia recusar o convite de vir para cá?  Vocês são uma família muito bonita. — elogiou Miguel.  — Tem uma fé linda!

— Seja bem vindo, Miguel. — Otniel falou, sorrindo.