História Eu conheci o amor - Destino meu caro Renan

Cheguei na classe, primeiro andar do enorme prédio do ensino médio, portas antigas, janelas do século passado, o setor mais antigo do colégio, escolhi uma carteira na frente da Lu, mas no fundão, "altas no fundo" como diz a Dona Márcia, professora de português, por uma terrível coincidência os professores do 9° também são professores do 1° colegial, mas nunca tive problemas com nenhum deles. Olhei pela janela, uma vista maravilhosa para o jardim do colégio, mas só conseguia pensar em uma coisa: no aluno novo, Renan, aqueles olhos, aquele jeito, ai meu Deus Juliana! você não pode estar apaixonada por ele, não deu tempo nem de concluir meu pensamento, senti dois fortes cutucoes e em seguida percebi que era a Lu me avisando  o que ia sentar na minha frente: isso mesmo, Renan, meu Deus, como isso era bom, o que ele estava fazendo comigo?
                -Oi moça dos olhos azuis- ele disse com aquela voz maravilhosamente grave, mas não muito grossa, perfeita, e aquelas simples palavras foram suficientes para me fazer sorrir pelo resto do dia.
                -Oi moço dos olhos castanhos, você por aqui- eu estava muito nervosa, mas se tem uma coisa que aprendi na vida é que com um bom papo se conquista tudo.
                 -E não é? Grande coincidência
                 -Não acho que seja coincidência
                  -O que seria então?
                  -Destino meu caro Renan
                   -Uau que profundo, Ju- e virou para frente.
               Naquela hora eu senti meu rosto corar, meu coração acelerar, minhas mãos suarem, tudo isso por causa de um simples apelido, afinal, quem não me chamava de Ju?
               Não importa o que fosse aquilo, amor, paixão, encanto, carência, loucura, eu iria dar corda para ver até onde vai.
                -Sua nuca é maravilhosa- me inclinei para frente e sussurrei no ouvido dele, e de fato, ela era maravilhosa mesmo, ele não tinha muito cabelo, só um topete, e usava um par de óculos que o deixava ainda mais lindo, não que isso tenha alguma coisa a ver com a nuca, mas achei importante mencionar.
                 -Você é maravilhosa- disse se virando para trás e me encarando e deixando um sorriso tímido se formar nos seus lábios, enquanto isso eu estava sorrindo como uma boba-, seu sorriso também é incrível.- e se virou para frente, percebi que ele pegou um papel e uma caneta preta e escreveu rapidamente alguma coisa e em seguida deixou no meu estojo, que estava aberto.
"Aquele sorriso poderia acabar com todas as guerras e o câncer. O teorema Katherine"
             -Amo esse livro.-sussurrei ao seu lado e entrelacei meus dedos naquele cabelo maravilhoso. Meu Deus, como as coisas podem acontecer rápido assim?
               Não importa o que eu estivesse sentindo por ele, sabia que não era banal, mesmo em tão pouco tempo, que confusão. Nunca fui muito fã desse tal de "amor a primeira vista", mas sabia, desde a primeira vez que vi ele, olhei no fundo daqueles olhos incrivelmente enigmáticos e com aquele toque de melancolia, que ele não seria uma pessoa qualquer que cruza minha vida e vai embora sem deixar alguma marca. eu sabia que naquele jeito enigmático, naquele olhar, naquele sorriso, naquele corpo estaria muito mais que um colega de classe, pode parecer estranho dizer isso, mas eu via minha felicidade naqueles olhos.
              As três primeiras aulas foram incrivelmente rápidas, nem vi o tempo passar, quando o sinal tocou foi como se eu tivesse sido tirada de um transe, mas também veio acompanhado com um tapa da infeliz da Luísa.
             -NOOOSSA MANO, que que foi?
             -Ta surda ou é o que? o sinal bateu, boooora- peguei meu celular, dinheiro e desci as escadas com ela.
               -Nem vi o tempo passar, acreditam?
                -Claro que acredito, você ficou todas as aulas escrevendo né linda. Você ta apaixonada pelo Renan né?
                  -Ta tão óbvio assim?
                  -Tão óbvio que você nem percebeu que na aula da Márcia ela te flagrou olhando que nem uma idiota pra nuca do moleque e todo mundo parou pra te observar.
                   -porra mano! serio?- estávamos na cantina, pedi um sanduíche de peito de peru e um suco natural.
                   -É Juliana, sério
                    -Acho que é muito cedo pra falar que eu to apaixonada por ele, porque tipo, a gente se conheceu hoje cara.
                    -Pro amor não tem tempo minha cara Juliana, alguns  cultivam por anos para poder florescer. Outros o fazem nascer instantaneamente.
                    -Ela é poética, ela. A gente vai pro lugar de sempre?- eu a lu sempre lanchavamos no jardim, um dos melhores lugares do colégio, depois da biblioteca, é claro.
                    -Pode ser, mas e ai, onde esta seu amor?
                     -Também queria saber.
               Terminei meu sanduíche e meu suco e nós duas fomos andar pelo colégio, que é enorme, mais de 3.000 alunos, 4 setores, mais de 8 prédios, fora o poliesportivo, tem um bosque e duas bibliotecas, assustadoramente grande, mas eu já estava acostumada.
                 -NOSSA JU, olha que menina linda! ela é nova?
                 -Porra Juliana, tu não perde uma ein! ela é professora de português do 6° e do 8°- disse, olhando para a morena baixinha, com os cabelos longos, me arrisco até a dizer que ela é parecida com a Pocahontas.
                 -Vo chega nela!
                 -Ta doida linda? perdeu o juízo? hello, ela é professora e nem toda menina que você conhece é lésbica também. ela pode ser hétero sua doida.
                 -Você ta certa, mas um dia ela cai no meu charme, pode ter certeza.
                Nesse momento ouvi uns barulhos estranhos vindo de trás da cantina, socos, anceas e pedidos de socorro, quando cheguei até lá me deparei com a pior cena da minha vida: Renan jogado no chão com um bando de babacas em volta dele dizendo:
"babaca, nerd nojento, acha que é bonito e vai chegar arrasando tudo, seu merda, merece morrer".
         Naquele momento eu não aguentei, tive que me meter no meio, distribuindo socos e chutes.
           -Ihhhh a princess vai se meter é?
          -VOU, VOU SIM, E SE NÃO VAZAREM AGORA EU CONTO PRA TODO MUNDO O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO, OU ACHA QUE EU NÃO SEI SEU NOME TALES? E VOCÊ RODRIGO? VÃO EMBORA AGORA E DEIXEM ELE EM PAZ!
            Assim que eles correram eu ajoelhei do lado do meu anjinho e envolvi ele em um abraço, mesmo com algumas costelas doloridas ele se agarrou a mim com uma força incrível.
              -Não se preocupa, eu to aqui, e vou te ajudar, cuidar de você- sussurrei no ouvido dele, em meio aos soluços de choro, para tentar acalmá-lo.
              Passe boa parte da quarta aula na secretaria, passando gelo nos machucados dele e o acalmando.
             -Talvez seja verdade, eu sou um merda mesmo.
             -Não Renan, você não é, para de achar que o que aqueles dois acéfalos falaram é verdade, por favor.
             -Ai, essa merda dói- ele praticamente gritou assim que eu passei remédio em um machucado na perna.
             -Fica calmo, eu sei que dói.
             -Ju, posso te perguntar uma coisa?
             -Claro que pode.
             -Aquilo que você disse aquela hora, sobre cuidar de mim, é verdade?- nessa hora meu coração acelerou, e eu senti borboletas  não só no estômago, mas no meu corpo todo, olhei para baixo e comecei a falar.
              -Olha Renan, desde a hora que a gente trombou na entrada, eu senti alguma coisa diferente, o dia todo eu só consegui olhar para você, pensar em você e em mil maneiras de te conquistar. você é lindo, seu sorriso é lindo, sua nuca é linda, seus olhos me encantaram desde que eu olhei para eles, parece bobo ou doidera, mas eu vi a felicidade, ela tem olhos castanhos, usa óculos grandes e é a pessoa mais linda que eu já vi.
              -eu também já vi a minha felicidade, e ela tem olhos extremamente azuis, um sorriso maravilhoso e cheiro delicioso doce. você me faz querer gritar pra todo mundo que eu encontrei alguem, de novo, mas que dessa vez vai ser diferente- não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas também não perguntei, nem deu tempo, ele se levantou, me puxou pelo braço, ergueu os pés, pôs a mão já minha nuca, e aquele foi o melhor beijo da minha vida, calmo, um toque de línguas no começo, que aos poucos foi se transformando em uma árdua batalha enquanto suas mãos desciam ate minha cintura e meus dedos se entrelaçavam no seu cabelo. eu poderia ficar ali por horas, anos até.
              mas agora eu posso afirmar: "eu vi a felicidade e ela tem olhos castanhos"